quarta-feira, 25 de abril de 2012

JOGOS CLANDESTINOS

BEATRIZ FAGUNDES, O SUL
Porto Alegre, Quarta-feira, 25 de Abril de 2012.


A violência e o uso de drogas são os piores problemas que afetam a população gaúcha. E a polícia ocupada em fechar por algumas horas antros frequentados por cidadãos comuns, que poderiam estar jogando tranquilos em casas legalizadas.

Em meio ao farto noticiário sobre as futuras investigações quanto ao tamanho dos tentáculos do suposto poderoso chefão Carlinhos Cachoeira uma notícia policial envolvendo cassinos clandestinos na Capital merece destaque. Na noite da última segunda-feira, a Polícia Civil estourou uma dessas pocilgas revelando uma novíssima (seria mesmo?) forma dos operadores tentarem fugir do flagrante. Segundo revelação do responsável pela operação, o delegado Tiago Baldin, os operadores passaram a trancar os jogadores, desligando a energia elétrica e exigindo silêncio absoluto dos clientes. Na sexta-feira, dia 20, em outra operação, os clientes chegaram a ficar três horas trancados, no escuro e sem ar-condicionado, claro, obrigados a manter silêncio. Alguns desmaiaram. "Eles estão usando de coação e cárcere privado na falsa ilusão de que a polícia não vá constatar e não vá ingressar no local" - explicou o delegado. Como diz a máxima: "Seria trágico, se não fosse cômico".

Trágico por sermos obrigados a conviver com essa triste obrigação da polícia; caçar e prender operadores de caça-níqueis, sabendo que em poucas horas os presos serão liberados, pagando fiança, e que a cada um preso surgem outros dois para ocupar a vaga. Cômico na medida em que qual seria a reação dos criminosos senão a de tentar driblar o flagrante desligando tudo para parecer que nada esteja ocorrendo no local investigado? Cômica igualmente a reação dos clientes, algumas vítimas chegando a desmaiar diante da exigência feita pelos bandidos de permanecerem em silêncio e no escuro. Esperavam o quê? Que os "funcionários" das casas de jogos as quais, todos os que ali sabem serem clandestinas, ilegais e gerenciadas pelo crime organizado deixariam que seus clientes cantassem "até que enfim, até que enfim, chegaram os bobos que cuidam de mim"! É muito desperdício de energia, tempo e dinheiro, além dos riscos físicos a que os agentes policiais são expostos. Igual a secar gelo e escrever sonetos inesquecíveis na água. Até quando a sociedade será exposta de forma ridícula a histórias como as ocorridas na famosíssima rua Azenha (endereço conhecido de espeluncas de jogos clandestinos)? E, até quando os políticos de Brasília continuarão a fazer papel de ingênuos defensores da moral sem voltar a aprovar a abertura dos chamados Bingos?

Cachoeira, que poderá fazer tremer a república está enredado, com negócios suspeitos envolvendo laboratórios e empreiteiras, mas foi uma investigação da Polícia Federal sobre jogos clandestinos denominada Operação Monte Carlo que o transformou em celebridade da hora. É piada. Enquanto choramos de tanto rir, aos policiais resta engolir em seco a acusação de não investigarem com a devida competência os milhares de assassinatos, cujos inquéritos mofam nas delegacias mal equipadas e sem número suficiente de agentes. De cada 10 pessoas assassinadas em 2011, cinco foram executadas por causa do tráfico de entorpecentes. Levantamento feito com base em 1.644 ocorrências policiais, só no ano passado, sobre 1.736 mortes, revela que 68% dos crimes ocorreram em via pública, evidenciando execução. A violência e o uso de drogas são os piores problemas que afetam a população gaúcha. E a polícia ocupada em fechar por algumas horas antros frequentados por cidadãos comuns, que poderiam estar jogando tranquilos em casas legalizadas sendo roubados pelo crime organizado. Não pode dar certo!