Das bancas do bicho à elite social goiana - FÁBIO SCHAFFNER | BRASÍLIA, ZERO HORA, 22/04/2012
Nascido em Anapólis, cidade mais próspera do interior de Goiás, Carlinhos Cachoeira fez fama e fortuna gerenciando as bancas de jogo do bicho herdadas do pai. Rico, baixinho e gordinho, o jovem Cachoeira era rejeitado pela elite local por causa da origem duvidosa de sua ascensão social.
Com o passar do tempo e o dinheiro gerado pela jogatina, passou a angariar prestígio de uma forma que se tornaria seu modus operandi: comprando amizades e corrompendo o poder político da região. O jogo do bicho foi introduzido em Goiás nos anos 1980, período áureo do reis da contravenção no Rio.
À época, o bicheiro carioca Castor de Andrade procurou o pai de Cachoeira, Sebastião Ramos, para comandar as apostas na região. O filho – que ganhou o apelido por causa de uma propriedades de Ramos, a Fazenda Cachoeira – tratou de estender o mercado familiar de apostas ilegais.
Aos 48 anos, o homem que hoje se tornou o inimigo público nº 1 do país atua em pelo menos cinco Estados do Centro-Oeste, controla uma fábrica de medicamentos, construtoras, shopping centers e fazendas. Nas investigações da Operação Monte Carlo, a Polícia Federal identificou pelo menos 17 contas-correntes movimentadas pelo bicheiro em seis bancos diferentes.
Embora tenha ampliado suas atividades econômicas, Cachoeira jamais abandonou a jogatina e trabalhou para legalizar a exploração de bingos e caça-níqueis no país. O verniz empresarial abriu-lhe as portas da sociedade goiana. Em Anápolis, é raro encontrar quem fale mal do bicheiro. Seu primeiro casamento teve como padrinho o ex-governador Maguito Vilella.
Atualmente, Cachoeira é casado com Andressa Alves Mendonça, uma mulher de 30 anos que até pouco tempo era esposa do empreiteiro Wilder de Morais, suplente do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), e que mantém uma loja de lingerie em Goiânia.
Diploma teria sido fraudado
Apesar da rede de amigos influentes e do patrimônio milionário, Cachoeira caiu em desgraça. Nem mesmo os R$ 15 milhões cobrados pelo seu advogado, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, facilitaram sua vida na prisão.
O bicheiro teve negado o pedido de uma cela especial por suspeita de que comprou até mesmo o diploma de formação superior em Administração de Empresas, fornecido por uma faculdade de Londrina (PR) e assinado por dois diretores que já foram presos pela Polícia Federal.
Diante de um cenário em que ambições políticas, chicanas jurídicas e interesses empresariais se entrelaçam à crônica policial de um milionário esquema criminoso, Carlinhos Cachoeira está preso com mais dois detentos em uma cela de 12 metros quadrados no presídio da Papuda, em Brasília. Teve o cabelo raspado, perdeu 16 quilos e ficou sabendo da morte da mãe, sepultada segunda-feira, pelos advogados.
Nas asas
Os jatinhos fazem parte da vida de Carlinhos Cachoeira e de sua mulher, Andressa Alves Mendonça. Ao visitar o marido no presídio de Mossoró (RN), no início do mês, a goiana alugou um jatinho particular. O custo do frete é de R$ 60 mil pelo trajeto de ida e volta.
Em outras oportunidades, ela viajou em jatos sem gastos. Em uma conversa gravada em junho de 2011, Cachoeira combina uma viagem com a mulher e deixa claro que pode usar o avião da construtora Delta na hora que quiser.
– Amor, pede o Seneca do Claudio da Delta – diz Andressa, em relação a Claudio Abreu, diretor da empresa na Região Centro-Oeste.
Cachoeira responde:
– Ué, é só pegar.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O ato de corromper para fazer valer seus interesses e objetivos é ação típica das organizações mafiosas. Por este motivo, inseri esta matéria neste blog.