domingo, 29 de abril de 2012

OS NARCOSSUBMARINOS

Os narcossubmarinos. Crime organizado investe em embarcações de alta tecnologia para driblar órgãos de segurança e transportar toneladas de cocaína pelos mares - REVISTA ISTO É Comportamento. N° Edição: 2216, 29.Abr.12 - 11:24

Os traficantes de drogas descobriram, e aperfeiçoaram ao longo das duas últimas décadas, um trunfo para levar toneladas de cocaína aos Estados Unidos e México, driblando a rigorosa fiscalização nos portos e aeroportos. Eles optaram por submergir a droga e levá-la dentro de submarinos fabricados em estaleiros artesanais, localizados principalmente no Equador e na Colômbia.

Na semana passada, a Guarda Costeira dos EUA divulgou a apreensão, e posterior afundamento, de um narcossubmarino no Mar do Caribe, em fins de março. Os quatro tripulantes foram levados presos para Miami, no Estado da Flórida. É a trigésima captura em seis anos. “Não estamos falando de submarinos militares, mas de submersíveis menores, que podem ser comprados livremente no mercado internacional por qualquer um que tenha alguns milhões de dólares”, alertou Alexandre Schmidt, diretor do ramo africano da Agência das Nações Unidas de Combate às Drogas e ao Crime Organizado.

Informes da Inteligência da Colômbia dão conta de que o primeiro grupo criminoso a usar tal artimanha foi o cartel de Medellín. Os narcoterroristas das Farcs possuem estaleiros onde fabricam as embarcações, cujos preços podem chegar a US$ 2 milhões. Os narcossubmarinos evoluíram desde que um pequeno semissubmersível com capacidade para duas toneladas foi encontrado na costa do Pacífico pela Guarda Costeira americana no ano de 1993.

Em outubro de 2011, no Caribe colombiano, policiais encontraram uma embarcação capaz de carregar até dez toneladas. Pintada de azul, para dificultar ainda mais os radares, era feita de madeira reforçada com fibra de vidro sustentada por aço e possuía os instrumentos sofisticados: GPS para navegação submersa, computador de ponta e usina de energia. Os traficantes dividem espaço exíguo com a droga, em condições precárias. Ao final da travessia, o barco é afundado.

“Esses artefatos são câmaras mortuárias genuínas pelo alto risco que representam para a tripulação, mas não são facilmente detectados pelo radar porque eles usam fibra de vidro, que os torna quase invisíveis”, afirmou o diretor da Polícia Antinarcóticos da Colômbia, general Luis Alberto Pérez. Mas, para os traficantes, o lucro compensa o risco.

CONEXÃO HAWALA

Este é o nome do esquema clandestino que o bicheiro Carlinhos Cachoeira utilizava para lavar milhões de dólares do seu grupo criminoso. O método é usado por grupos terroristas como a Al-Qaeda de Bin Laden. Saiba como ele funciona. Alan Rodrigues e Pedro Marcondes de Moura - REVISTA ISTO É N° Edição: 2216, 29.Abr.12 - 11:13

Nos próximos dias, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários receberá do Supremo Tribunal Federal (STF) os dados da Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal, que apurou a jogatina no Brasil e seus tentáculos com o poder. Os parlamentares terão acesso a informações que revelam como o contraventor operava para lavar o dinheiro sujo do jogo do bicho e da corrupção. Segundo o inquérito da PF, Cachoeira utiliza um dos mais sofisticados e eficientes modelos de lavagem de dinheiro do mundo, conhecido como Operação Hawala. Trata-se, segundo a PF, do mesmo esquema utilizado pela rede terrorista Al-Qaeda, criada por Osama bin Laden para financiar atentados. Documentos que fazem parte do inquérito mostram que, a partir da Operação Hawala, o grupo de Cachoeira conseguiu movimentar mais de US$ 400 milhões em três continentes e oito países – Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Antilhas Holandesas, China, Coreia do Sul, Irlanda e Reino Unido.

A grande artimanha do sistema adotado por Cachoeira e terroristas internacionais é que ele não envolve remessas físicas de capital, tampouco documentos escritos. O que existem são trocas de créditos lastreadas na palavra – no estilo “eu confio em você”, o popular “fio do bigode”. O objetivo é não deixar rastros. Por isso ele é considerado um inferno para quem investiga crimes de lavagem e evasão de divisas. Com base nos preceitos da Hawala, que em árabe significa “transferência de significados”, o esquema de Cachoeira de lavagem de dinheiro, segundo as interceptações da PF, funcionava da seguinte maneira: os operadores do bicheiro, incluindo um doleiro, pediam verbalmente para outro doleiro no Exterior que determinado pagamento fosse efetuado. No Exterior, o doleiro pagava o receptor. Para receber o dinheiro, no entanto, o receptor era obrigado a dizer uma senha, previamente combinada com o grupo de Cachoeira. O operador Hawala no Exterior ficava com o crédito no Brasil que poderia ser pago não só em espécie, mas em imóveis, carros, entre outros bens (ver quadro).

O relatório 163/2011 da Polícia Federal, parte integrante do processo que está no STF, apresenta com riqueza de detalhes o esquema de evasão de divisas montado por Cachoeira. Nele aparecem o ex-cunhado do contraventor, Adriano Conrado Caiado Viana Feitosa, Wesley José Carneiro e Geovani Pereira da Silva, segundo a PF, respectivamente, o doleiro e o contador do bicheiro, além de Lenine Araújo de Souza, gerente-geral de Cachoeira. Entre os milhares de e-mails interceptados – só de Pereira da Silva foram 15 mil e-mails –, a PF conseguiu constatar quem é quem no esquema Hawala. Às 0h14 do dia 5 de agosto de 2011, por exemplo, Conrado envia uma correspondência eletrônica para Lenine na qual deixa claro que o responsável do esquema para a Operação Hawala era o doleiro Wesley, preso na tarde da quarta-feira 25 em Goiás. “Não há necessidade de copiar Wesley nos e-mails, ele foi contratado somente para fazer a remessa de dinheiro”, disse Lenine. Em outros diálogos interceptados em maio de 2011 entre Gleib Ferreira da Cruz, segundo a PF, “o braço direito de Cachoeira para qualquer assunto na organização criminosa”, e Leide, irmã de Gleib, a quadrilha fornece mais elementos sobre o funcionamento do esquema: “O negócio é fazer a transferência sem causar problema. Precisa colocar o dólar aí no Brasil em real e você por aqui em dólar. Só trocando moeda, sem problema.” De acordo com o relatório da PF, “Gleib auxilia diretamente Carlos Augusto na alocação de recursos de suas atividades ilícitas na aquisição de bens, circulação de valores, no pagamento de terceiros, comparsas e/ou prestadores de serviços, na aquisição de telefones no Exterior; imóveis, de veículos e também nas operações não autorizadas de câmbio e na remessa de valores para fora do país”.

De acordo com as apurações da PF, para lavar o dinheiro irrigado pelo bingo e pela corrupção, a organização criminosa montada pelo bicheiro construiu uma rede criminosa que envolve 38 empresas ativas. Muitas delas no Exterior, como a offshore uruguaia Raxfell Corp., com conta-corrente na Argentina e fundada no paraíso fiscal de Curaçao, nas Antilhas Holandesas. Mas os grampos telefônicos mostram que os negócios de Cachoeira não se resumem a um só continente. Passam também pela Ásia e Europa. Na Coreia do Sul, por exemplo, o contraventor é acionista da Bet Co, na província de Kyunggi. Na Irlanda, Cachoeira comprou por um R$ 1 milhão um site de apostas, o Brazilbingo. A compra do site de apostas pelo contraventor fica clara na documentação apreendida pela PF. Os documentos mostram que Cachoeira creditou o dinheiro no Bank of Ireland via Estados Unidos. “O contato de 06/07/2011 às 11:24:21, entre Lenine, Estados Unidos e Reino Unido, confirmam essa dinâmica”, diz o inquérito.

Outra interceptação telefônica mostra que, por meio da Operação Hawala, Cachoeira celebrou negócios na China. Numa das conversas gravadas pela PF, Gleib conversa com Ananias, um policial militar de Goiás e segurança dos cassinos de Cachoeira, sobre as transações no continente asiático.

Ananias – Eu preciso fazer um pagamento na China, de duzentos mil dólares, sem declarar. Quanto cê cobra para pôr esse dinheiro lá pra mim?

Gleib – Vou ver. Duzentos mil?

Ananias – Duzentos mil. A máquina custa duzentos mil dólares. É um amigo meu, só que ele não quer para não declarar aqui pra eles. Cê me fala quanto cê cobra pra nós pôr esse dinheiro lá pro cara?

Gleib – Tá.

A partir desta conversa, a PF concluiu que “o uso extensivo de conexões, como relações familiares e societárias, é o componente que a distingue de outras formas de remessas. As regularizações de dívidas entre corretores Hawala podem tomar uma variedade de formas (como bens, serviços e propriedades)”. É com base nesses novos trechos do inquérito da PF que os parlamentares indicados para a CPI do Cachoeira pretendem dar a dimensão do esquema e chegar aos responsáveis pela lavagem do dinheiro sujo do jogo do bicho e da corrupção.

Antes mesmo de os trabalhos começarem, as investigações já causam desdobramentos. Na quarta-feira 25, Fernando Cavendish, presidente do conselho diretor da Delta, e Carlos Pacheco, diretor da construtora, pediram afastamento da empresa após as investigações indicarem elo entre eles e o pagamento de propina para autoridades de diversos escalões. No meio político, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), passou a ser alvo de investigações da Procuradoria-Geral da República, junto com os deputados federais Carlos Leréia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ), por suspeitas de ter se beneficiado do esquema criminoso, que a cada dia revela novos tentáculos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

JOGOS CLANDESTINOS

BEATRIZ FAGUNDES, O SUL
Porto Alegre, Quarta-feira, 25 de Abril de 2012.


A violência e o uso de drogas são os piores problemas que afetam a população gaúcha. E a polícia ocupada em fechar por algumas horas antros frequentados por cidadãos comuns, que poderiam estar jogando tranquilos em casas legalizadas.

Em meio ao farto noticiário sobre as futuras investigações quanto ao tamanho dos tentáculos do suposto poderoso chefão Carlinhos Cachoeira uma notícia policial envolvendo cassinos clandestinos na Capital merece destaque. Na noite da última segunda-feira, a Polícia Civil estourou uma dessas pocilgas revelando uma novíssima (seria mesmo?) forma dos operadores tentarem fugir do flagrante. Segundo revelação do responsável pela operação, o delegado Tiago Baldin, os operadores passaram a trancar os jogadores, desligando a energia elétrica e exigindo silêncio absoluto dos clientes. Na sexta-feira, dia 20, em outra operação, os clientes chegaram a ficar três horas trancados, no escuro e sem ar-condicionado, claro, obrigados a manter silêncio. Alguns desmaiaram. "Eles estão usando de coação e cárcere privado na falsa ilusão de que a polícia não vá constatar e não vá ingressar no local" - explicou o delegado. Como diz a máxima: "Seria trágico, se não fosse cômico".

Trágico por sermos obrigados a conviver com essa triste obrigação da polícia; caçar e prender operadores de caça-níqueis, sabendo que em poucas horas os presos serão liberados, pagando fiança, e que a cada um preso surgem outros dois para ocupar a vaga. Cômico na medida em que qual seria a reação dos criminosos senão a de tentar driblar o flagrante desligando tudo para parecer que nada esteja ocorrendo no local investigado? Cômica igualmente a reação dos clientes, algumas vítimas chegando a desmaiar diante da exigência feita pelos bandidos de permanecerem em silêncio e no escuro. Esperavam o quê? Que os "funcionários" das casas de jogos as quais, todos os que ali sabem serem clandestinas, ilegais e gerenciadas pelo crime organizado deixariam que seus clientes cantassem "até que enfim, até que enfim, chegaram os bobos que cuidam de mim"! É muito desperdício de energia, tempo e dinheiro, além dos riscos físicos a que os agentes policiais são expostos. Igual a secar gelo e escrever sonetos inesquecíveis na água. Até quando a sociedade será exposta de forma ridícula a histórias como as ocorridas na famosíssima rua Azenha (endereço conhecido de espeluncas de jogos clandestinos)? E, até quando os políticos de Brasília continuarão a fazer papel de ingênuos defensores da moral sem voltar a aprovar a abertura dos chamados Bingos?

Cachoeira, que poderá fazer tremer a república está enredado, com negócios suspeitos envolvendo laboratórios e empreiteiras, mas foi uma investigação da Polícia Federal sobre jogos clandestinos denominada Operação Monte Carlo que o transformou em celebridade da hora. É piada. Enquanto choramos de tanto rir, aos policiais resta engolir em seco a acusação de não investigarem com a devida competência os milhares de assassinatos, cujos inquéritos mofam nas delegacias mal equipadas e sem número suficiente de agentes. De cada 10 pessoas assassinadas em 2011, cinco foram executadas por causa do tráfico de entorpecentes. Levantamento feito com base em 1.644 ocorrências policiais, só no ano passado, sobre 1.736 mortes, revela que 68% dos crimes ocorreram em via pública, evidenciando execução. A violência e o uso de drogas são os piores problemas que afetam a população gaúcha. E a polícia ocupada em fechar por algumas horas antros frequentados por cidadãos comuns, que poderiam estar jogando tranquilos em casas legalizadas sendo roubados pelo crime organizado. Não pode dar certo!

JOGO REPRIMIDO

Cresce cerco a contraventores. Com ações para coibir atividade ilegal, apreensões de caça-níqueis na Capital subiram 83% nos três primeiros meses do ano - CARLOS ETCHICHURY, ZERO HORA 25/04/2012

A Polícia Civil está fechando o cerco aos contraventores na Capital. Nos três primeiros meses do ano, uma equipe composta por seis investigadores e um delegado, vinculados à Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, apreendeu 2.563 máquinas em casas clandestinas de jogos – número 83% superior ao registrado em igual período do ano passado, que finalizou o trimestre com 1.399 equipamentos apreendidos.

O incremento das apreensões coincide com a criação de um grupo, coordenado pelo delegado Tiago Baldin, que tem a função exclusiva de reprimir a contravenção.

– Desde outubro, quando assumimos esta função, realizamos operações todos os dias – diz Baldin.

É consenso entre investigadores, delegados e promotores do Ministério Público que atuam na área criminal que a sensação de impunidade colabora para que jogo se revigore no país. Como se trata de um delito de menor potencial, ninguém vai preso operando uma casa de jogo.

Com a ação policial mais intensa, os contraventores têm cometido um outro crime para evitar prejuízos: cárcere privado.

Em duas recentes operações, uma realizada no final da noite de segunda-feira e outra na sexta-feira da semana passada, a polícia localizou 16 pessoas presas dentro das casas durante a abordagem.

– Os contraventores apagam as luzes, desligam o ar-condicionado e mantêm pessoas presas esperando que a polícia não entre nas casas clandestinas. Mas nós vamos continuar fazendo as operações e apreendendo máquinas – avisa o delegado.

No submundo da jogatina, é comum apostadores, muitos viciados, colaborarem com os donos de casas nas batidas policiais mantendo-se em silêncio e até deitando no chão.

– Como as pessoas não querem que as casas sejam fechadas, acabam se prestando a este tipo de coisa – detalha uma promotora com larga atuação na repressão o jogo no Estado.

Na última sexta-feira, porém, a polícia descobriu a presença de 12 pessoas – a maioria idosas, algumas doentes – detidas num ambiente escuro e insalubre durante três horas.

A nova tática dos criminosos também foi flagrada na segunda-feira, num estabelecimento clandestino da Avenida Azenha. Ao entrarem no local, os policiais depararam com quatro clientes em uma peça.

domingo, 22 de abril de 2012

UMA REDE CRIMINOSA CORROMPE O BRASIL


Uma rede criminosa que corrompe o País. Como o bicheiro montou um verdadeiro império empresarial para desviar verbas, fraudar licitações, lavar dinheiro e se infiltrar no poder público. Esse bilionário esquema de corrupção funciona há 16 anos e se espalha por todo o Brasil - Claudio Dantas Sequeira - REVISTA ISTO É N° Edição: 2215 | 22.Abr.12 - 11:45


Na semana passada, ISTOÉ obteve a íntegra do inquérito da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. São quase 15 mil páginas, reunidas em 40 volumes e duas dezenas de apensos, além de 11 mil horas de gravações. Na análise do processo, do qual apenas alguns trechos eram conhecidos até então, a Polícia Federal não só traz à tona as relações promíscuas do esquema do bicheiro com autoridades nos três níveis de poder como esmiúça um império de empresas criadas com a finalidade de corromper em todo o País, desviar verbas, fraudar licitações e lavar o dinheiro ilegal. O levantamento também deixa claro que o grupo de Cachoeira vem agindo há pelo menos 16 anos e foi capaz de ultrapassar diversos governos e tonalidades partidárias. “Aqui come todo mundo, cara. Se não pagar pra todo mundo não funciona. Eu tô nisso há 16 anos!”, sintetiza Lenine Araújo de Souza, o braço direito de Cachoeira, em diálogo gravado pela Polícia Federal.

A descentralização dos negócios e o uso extensivo de laranjas deram capilaridade nacional à atuação de Cachoeira. Embora o bicheiro mantenha o controle das empresas por meio de um núcleo formado por parentes e amigos próximos, a PF identificou pelo menos 149 pessoas que em algum momento estiveram ou ainda estão associadas à quadrilha. Normalmente, a máfia de Cachoeira participa de licitações que já consideram ganhas, à base, é claro, de pagamentos de propina para autoridades e servidores estratégicos. A análise desse império de dimensões bilionárias indica que Cachoeira, nos últimos anos, usou especialmente empresas ligadas à área de medicamentos para se aproximar de governos em, no mínimo, nove Estados. O objetivo do empresário-bicheiro era abocanhar uma bilionária fatia da verba pública destinada à compra de medicamentos genéricos. Para isso, criou o laboratório Vitapan, com sede em Anápolis (GO), que rapidamente se tornou um dos principais fornecedores nacionais de genéricos. O laboratório foi uma espécie de cartão de visitas de Cachoeira para se infiltrar em governos estaduais e municipais. Hoje, a empresa está avaliada em R$ 100 milhões, tem convênios até com a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e está associada a outros grandes do setor, como a Neo Química e o laboratório Teuto Brasileiro. A Neo Química está hoje nas mãos do grupo Hypermarcas do empresário Marcelo Henrique Limírio, sócio de Cachoeira no Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), que produz testes laboratoriais e faturou R$ 10 milhões em 2010, segundo a PF. Limírio também é sócio do senador Demóstenes Torres no Instituto de Nova Educação, faculdade criada em Contagem, e doou R$ 2,2 milhões para as campanhas de Demóstenes e do governador de Goiás, Marconi Perillo.

Ao longo dos últimos 16 anos, Cachoeira aprimorou e diversificou esse esquema. Mas, no início de suas atividades, ele usava empresas de gestão de loterias, seu core business, para fazer a aproximação com o poder público. Com a empresa Capital Bet, ele venceu sozinho a concorrência para a distribuição de bilhetes de loterias no Rio Grande do Sul, em 2001, na gestão Olívio Dutra. Com a Gerplan, que controlava a loteria em Goiás, entrou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. O modus operandi incluía fraudes nos prêmios das loterias e suborno de autoridades, como foi revelado no escândalo Waldomiro Diniz, que desembocaria na CPI dos Bingos.

Hoje as organizações de Cachoeira possuem tentáculos que vão muito além da loteria e do jogo do bicho. Entre os negócios com fachada legal mais lucrativos de Cachoeira, está a construção civil. Até aqui desconhecida do mercado, a Mapa Construtora firmou contratos com prefeituras do Ceará e de São Paulo. Na capital paulista, a empreiteira é a responsável pela construção do edifício que vai abrigar o arquivo geral da USP – contrato de R$ 2,1 milhões. Na cidade cearense de Vartoja, firmou convênios de R$ 1,8 milhão para a construção de uma escola infantil e uma quadra esportiva, que ainda não saíram do papel. Outra empresa do grupo do bicheiro, a Trade Construtora, obteve contrato de obras públicas em Anápolis, na atual gestão do petista Antônio Gomide. A Trade foi condenada pela Controladoria do Estado a devolver R$ 360 mil por irregularidades. Esses contratos, no entanto, representam uma pequena parcela do lucro de Cachoeira no setor.

A partir de rastreamentos bancários feitos pela PF, sabe-se agora que boa parte dos recursos públicos que irrigaram o esquema do bicheiro saiu de contratos da Construtora Delta, líder de repasses do governo na área do Ministério dos Transportes. Segundo a PF, Cachoeira seria “sócio oculto” da Delta, articulando negócios conjuntos com a empreiteira, discutindo planilhas de obras, compartilhando funcionários e, inclusive, despachando da própria sede da empresa. Um dos diálogos interceptados pela PF mostra como Cachoeira e a Delta fizeram um consórcio para a compra da empresa Ideal Segurança, responsável pela segurança de aterros sanitários controlados pela Delta, por R$ 199 milhões. Em outro grampo revelador, até agora inédito, descobre-se que o ex-diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) Luiz Antônio Pagot foi monitorado clandestinamente por pelo menos dois anos. “Tem mais de um ano que o tal do Pagot tá no grampo, entendeu?”, conta o espião Dadá ao bicheiro, em 11 de julho de 2011. Questionado por ISTOÉ, Pagot confirmou que, quando estava no comando do Dnit, foi informado por um delegado amigo sobre a existência de grampos no gabinete em Brasília e em seu escritório em Cuiabá (MT). A deflagração da Operação Monte Carlo indica que Cachoeira trabalhou pela demissão de Pagot e da cúpula do Ministério dos Transportes. Agora, suspeita-se que a Delta pode ter tido acesso a informações privilegiadas de dentro do Dnit, responsável pelas maiores obras da empreiteira.

Sócio ou não da Delta, está cada vez mais claro que a empreiteira fazia a ponte com outras empresas do grupo de Cachoeira para facilitar o toma lá dá cá com o mundo político. A Delta também tem contratos em Anápolis, que abrangem obras rodoviárias e coleta de lixo. Nos contratos das duas empresas a PF vê o dedo do deputado federal Rubens Otoni (PT), flagrado em vídeo negociando com Carlinhos doação de R$ 100 mil para o caixa 2 de sua campanha eleitoral. Otoni, aliás, está na lista da PF de beneficiários do jogo do bicho. Foi denunciado que o senador Demóstenes Torres recebia 30% do faturamento da jogatina comandada por Cachoeira. Só que esse montante, na verdade, era repartido entre os deputados Leréia (PSDB), Jovair Arantes (DEM) e o próprio Rubens Otoni, segundo as investigações.

DAS BANCAS DO BICHO À ELITE SOCIAL

Das bancas do bicho à elite social goiana - FÁBIO SCHAFFNER | BRASÍLIA, ZERO HORA, 22/04/2012

Nascido em Anapólis, cidade mais próspera do interior de Goiás, Carlinhos Cachoeira fez fama e fortuna gerenciando as bancas de jogo do bicho herdadas do pai. Rico, baixinho e gordinho, o jovem Cachoeira era rejeitado pela elite local por causa da origem duvidosa de sua ascensão social.

Com o passar do tempo e o dinheiro gerado pela jogatina, passou a angariar prestígio de uma forma que se tornaria seu modus operandi: comprando amizades e corrompendo o poder político da região. O jogo do bicho foi introduzido em Goiás nos anos 1980, período áureo do reis da contravenção no Rio.

À época, o bicheiro carioca Castor de Andrade procurou o pai de Cachoeira, Sebastião Ramos, para comandar as apostas na região. O filho – que ganhou o apelido por causa de uma propriedades de Ramos, a Fazenda Cachoeira – tratou de estender o mercado familiar de apostas ilegais.

Aos 48 anos, o homem que hoje se tornou o inimigo público nº 1 do país atua em pelo menos cinco Estados do Centro-Oeste, controla uma fábrica de medicamentos, construtoras, shopping centers e fazendas. Nas investigações da Operação Monte Carlo, a Polícia Federal identificou pelo menos 17 contas-correntes movimentadas pelo bicheiro em seis bancos diferentes.

Embora tenha ampliado suas atividades econômicas, Cachoeira jamais abandonou a jogatina e trabalhou para legalizar a exploração de bingos e caça-níqueis no país. O verniz empresarial abriu-lhe as portas da sociedade goiana. Em Anápolis, é raro encontrar quem fale mal do bicheiro. Seu primeiro casamento teve como padrinho o ex-governador Maguito Vilella.

Atualmente, Cachoeira é casado com Andressa Alves Mendonça, uma mulher de 30 anos que até pouco tempo era esposa do empreiteiro Wilder de Morais, suplente do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), e que mantém uma loja de lingerie em Goiânia.

Diploma teria sido fraudado

Apesar da rede de amigos influentes e do patrimônio milionário, Cachoeira caiu em desgraça. Nem mesmo os R$ 15 milhões cobrados pelo seu advogado, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, facilitaram sua vida na prisão.

O bicheiro teve negado o pedido de uma cela especial por suspeita de que comprou até mesmo o diploma de formação superior em Administração de Empresas, fornecido por uma faculdade de Londrina (PR) e assinado por dois diretores que já foram presos pela Polícia Federal.

Diante de um cenário em que ambições políticas, chicanas jurídicas e interesses empresariais se entrelaçam à crônica policial de um milionário esquema criminoso, Carlinhos Cachoeira está preso com mais dois detentos em uma cela de 12 metros quadrados no presídio da Papuda, em Brasília. Teve o cabelo raspado, perdeu 16 quilos e ficou sabendo da morte da mãe, sepultada segunda-feira, pelos advogados.

Nas asas

Os jatinhos fazem parte da vida de Carlinhos Cachoeira e de sua mulher, Andressa Alves Mendonça. Ao visitar o marido no presídio de Mossoró (RN), no início do mês, a goiana alugou um jatinho particular. O custo do frete é de R$ 60 mil pelo trajeto de ida e volta.

Em outras oportunidades, ela viajou em jatos sem gastos. Em uma conversa gravada em junho de 2011, Cachoeira combina uma viagem com a mulher e deixa claro que pode usar o avião da construtora Delta na hora que quiser.

– Amor, pede o Seneca do Claudio da Delta – diz Andressa, em relação a Claudio Abreu, diretor da empresa na Região Centro-Oeste.

Cachoeira responde:

– Ué, é só pegar.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O ato de corromper para fazer valer seus interesses e objetivos é ação típica das organizações mafiosas. Por este motivo, inseri esta matéria neste blog.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

BRASIL E O CRIME INTERNACIONAL

OPINIÃO O Estado de S.Paulo - 16/04/2012

As avaliações periódicas sobre a aplicação das leis destinadas a combater a corrupção e a coibir lavagem de dinheiro, feitas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), continuam sendo negativas para o Brasil. No relatório de 2000, por exemplo, a entidade elogiou a edição da Lei 9.513, que tipificou o crime de lavagem de dinheiro, relacionando-o ao narcotráfico, sequestros e corrupção, mas criticou a morosidade da reforma da legislação processual penal, que entrou em vigor em 1941, quando não se cogitava, por exemplo, que a tecnologia permitiria a transferência de recursos ilícitos para o exterior em questão de segundos. No relatório de 2005, a OCDE elogiou o Brasil por ter criado varas federais especializadas em crime financeiro e criado mecanismos de recuperação de ativos, mas considerou ínfimo o número de sentenças condenatórias. O relatório também criticou o País por dificultar o trabalho de autoridades estrangeiras que investigam crimes cometidos por quadrilhas internacionais e por demorar para ratificar resoluções da ONU que tratam do tema.

Na última avaliação, que acaba de ser divulgada, a OCDE voltou a criticar o Brasil, desta vez por não reformar as leis penais e financeiras, e por não implementar acordos firmados com outros países e organismos multilaterais. Com base em dados do Conselho de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda (Coaf), o relatório informa que, em 2010, cerca de 24,1 mil pessoas estiveram sob suspeita de terem feito operações irregulares - um aumento de 153% em relação ao ano anterior. A OCDE e o Coaf estimam que, por causa da Copa do Mundo e da Olimpíada, o crime organizado internacional tentará ampliar suas atividades no Brasil.

Segundo a OCDE, quase metade dos acordos assinados pelo Brasil com outros países para cooperar no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro jamais entrou em vigor ou não atende aos padrões técnicos internacionais. Desde 1998, a OCDE abriga o Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), com 34 países-membros. O órgão foi criado pelo G-7 para propor leis de alcance transnacional, estimular os governos a aplicá-las, divulgar recomendações para adoção de medidas administrativas - como rastreamento de movimentações financeiras suspeitas - e centralizar informações estatísticas sobre investigações, condenações, confiscos, valores apreendidos e sanções aplicadas.

Atualmente, o Brasil mantém 34 acordos de cooperação para troca de informação sobre lavagem de dinheiro com outros países - inclusive com paraísos fiscais. Desse total, porém, 4 ainda não foram analisados pelo Congresso. Doze estão em tramitação há anos e não há previsão de que venham a ser submetidos à votação em plenário. E 9 acordos, além de estarem em descompasso com as diretrizes e recomendações do Gafi, não preveem troca de informações entre tribunais nem entrega de dados financeiros.

Entre os tratados que estão fora de padrão se destaca o que foi firmado pelo Brasil com a Itália. Os órgãos policiais da União Europeia já informaram às autoridades brasileiras que, aproveitando-se das falhas do tratado, a máfia italiana vem usando a expansão imobiliária nas praias do Nordeste para lavar dinheiro. Os acordos assinados com Japão e Holanda também estão fora das recomendações, por não preverem mecanismos de troca de informações entre as Justiças brasileira e as desses países. Os tratados com paraísos fiscais, como Luxemburgo e Trinidad e Tobago, foram considerados inadequados pela OCDE. Em resposta, o Brasil informou que está negociando oito novos tratados, mas a entidade alegou que não basta assinar acordos - é preciso cumpri-los. "O Brasil deveria garantir rapidamente a ratificação de seus tratados", diz o relatório.

A legislação para coibir lavagem de dinheiro foi implantada pelo governo Fernando Henrique e aperfeiçoada pelo governo Lula. A OCDE elogia os avanços na área, mas cobra o muito que ainda tem de ser feito - e que deveria ser prioridade do governo Dilma.

PCC COMANDA REBELIÃO PRISIONAL COM 131 REFÉNS


PCC comanda rebelião em Aracaju, afirma secretaria de Justiça do SE. Três agentes penitenciários e 128 familiares são mantidos reféns por 476 presidiários desde domingo - 16 de abril de 2012 | 9h 04. Angela Lacerda - estadão.com.br


RECIFE - O Primeiro Comando da Capital (PCC) comanda a rebelião iniciada no início da tarde de ontem (15), no Complexo Penitenciário Advogado Antonio Jacinto Filho, em Aracaju (SE), de acordo com a assessoria da secretaria estadual de Justiça. Os presos reclamam de maus tratos, querem o fim do isolamento - área para onde vão estupradores - e a mudança da direção do presídio. Eles estão armados com escopetas calibre 12 que conseguiram retirar da sala de armas do presídio.

Todos os 476 presos participam da rebelião. Eles mantêm três agentes penitenciários como reféns e impedem a saída dos 128 familiares de presos - inclusive crianças - que estavam em visita. Um dos reféns quebrou o pé em uma queda e não tem permissão para sair e ser medicado.

Uma comissão, com a participação de representante da Secretaria de Justiça e da Polícia Militar, mantém negociações com os líderes da rebelião.

A secretaria de Justiça assegura que situação está sob controle e não houve nenhuma fuga nem atos de violência. Não faltam comida e água para os rebelados e todos que eles mantêm dentro do presídio. Além de terem acesso à cozinha e despensa, alimentação e água foram entregues pelo governo estadual.

Do lado de fora do presídio se encontram homens do Batalhão de Choque da PM, Grupo de Operações Especiais, grupo de Operações Penitenciárias, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e uma ambulância. Não há previsão para o término das negociações.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

JOGO ILEGAL


Diferenças entre "Cachoeira" e "Carlos Augusto Ramos" - Magnho José, jornalista especializado em loterias e jogos, editor do site BNLData e professor do curso de pós-graduação em Comunicação Empresarial da UCAM. Revista Consultor Jurídico, 11 de abril de 2012


Apesar de ser apenas uma pessoa, entendemos que “Carlinhos Cachoeira” e “Carlos Augusto Ramos” são personagens completamente diferentes, principalmente frente ao mercado de jogos no Brasil. Mesmo com a insistência da mídia em conceder a liderança deste mercado ao “Cachoeira”, o personagem está longe de ser o símbolo, representante ou garoto-propaganda do setor de jogos no Brasil. Dentro deste contexto, o contraventor Carlinhos Cachoeira — como admitido pelo seu advogado —, é apenas um operador de jogos clandestinos em Goiás e arredores de Brasília. Nada mais!

Para surpresa do setor de jogos e do país, o verdadeiro “Carlinhos Cachoeira” está sendo revelado e desconstruído nos últimos dias graças à Sprint Nextel (já que acreditava que os aparelhos habilitados nos EUA eram à prova de grampos) e à Operação Monte Carlo. Segundo a Polícia Federal, o contraventor tinha ligações com uma bancada multipartidária no Congresso, além de manter vínculos com pelo menos dois governadores. Além do senador Demóstenes Torres, o contraventor tinha a simpatia de mais seis partidos: DEM, PT, PSDB, PP, PTB e PPS, que formavam a bancada suprapartidária do “Partido do Carlinhos Cachoeira”, além disso, desejava abrir uma interlocução com a presidente Dilma Rousseff. Ou seja, um projeto de poder com vários tentáculos. Como a grande mídia está exaurindo o assunto dentro do conceito “bad news, good news” (más notícias são boas notícias), vamos nos concentrar no empresário.

O personagem Carlos Augusto Ramos é um conhecido empresário do setor de loterias, que operou modalidades lotéricas em cinco estados brasileiros através das empresas Jogobrás do Brasil Ltda — com a Loteria do Estado de Minas Gerais (LEMG) —, Gerplan Gerenciamento e Planejamento Ltda — com a Loteria do Estado de Goiás (LEG) —, consórcio Larami Diversões e Entretenimentos Ltda, formado pelas empresas argentinas Boldt S.A. e BGP Administração e Participações Ltda — com a autarquia de Serviço de Loteria do Paraná (Serlopar) —, Capital Construtora e Limpeza Ltda — com a Loteria do Estado do Rio Grande do Sul (Lotergs) — e o consórcio Companhia Brasileira de Loterias Governamentais - Combralog, formado pelas empresas Capital e a sul-coreana PicoSoft Company — com a Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj). Além disso, o empresário também tem participações em empresas operadoras de jogo em países onde esta atividade é legalizada e regulamentada pelo Estado.

A curiosidade destas cinco operações, conquistadas através de licitações públicas entre os anos de 1999 e 2003 junto às loterias estaduais, foi que nenhum desses contratos chegou ao final do prazo estipulado. Todos foram cancelados pelas autarquias estaduais e transformados em ações judiciais pelo empresário, como o da Ação Cível Originária 767, que tem como réus a empresa Gerplan e o estado de Goiás, que está sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes.

Uma ironia do destino marcaria o lançamento do jogo “Sonho Premiado”, da Loteria de Goiás, no dia 21 de dezembro de 2001. O então secretário de Segurança Pública e Justiça de Goiás, Demóstenes Torres, afirmou ao jornal O Popular e ao Diário da Manhã, que a nova loteria não tinha o objetivo de legalizar o jogo do bicho. “O jogo do bicho traz sérios problemas para a segurança pública, principalmente pela relação promíscua que tem com policiais corruptos. As vantagens para quem aderir ao Sonho Premiado são muitas, entre elas o fato de passar a ter direitos reconhecidos pela Justiça do Trabalho”, ilustrou.

Em fevereiro de 2004, a revista Época publicou uma reportagem sobre uma fita que mostrava o assessor do ministro da Casa Civil, Waldomiro Diniz, cobrando propina do empresário Carlos Augusto Ramos. A gravação teria sido feita em 2002, quando Waldomiro presidia a Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), durante o governo de Benedita da Silva (PT-RJ). Waldomiro teria cobrado dinheiro para campanhas eleitorais de candidatos a governadores do Distrito Federal e do Rio de Janeiro. Para dar uma satisfação à sociedade e reduzir a pressão da mídia, o presidente Lula editou, no dia 20 de fevereiro, uma medida provisória (MP 168), que proibia a operação dos bingos e videobingos em todo o Brasil. Depois de aprovada pela Câmara dos Deputados, o plenário do Senado a rejeitou, no dia 5 de maio, por 32 votos a 31. Com isso, os bingos voltaram a funcionar. Depois desse imbróglio, começou uma batalha de ações judiciais entre as casas de bingo, Ministério Público e o governo federal, até o STF editar a Sumula Vinculante 2 com o enunciado: “É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias”.

Em junho de 2005, foi instalada a CPI dos Bingos do Senado Federal, proposta pelo senador Magno Malta (PL-ES), com o objetivo de investigar o primeiro escândalo de importância do governo Lula: a atuação do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado em vídeo negociando com o empresário Carlos Augusto Ramos. Apelidada de "CPI do Fim do Mundo", a Comissão passou a investigar todo tipo de denúncia que surgiu contra o governo, como a suposta ligação entre o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT) e o esquema de financiamento de campanhas (Mensalão); as possíveis irregularidades na Prefeitura de Ribeirão Preto durante a gestão de Antonio Palocci; a suposta doação de casas de bingo ou a remessa de dólares vindos de Cuba para a campanha de Lula, entre outros temas explosivos.

Depois que cumpriu seu objetivo de desgastar o governo, a CPI tinha que produzir um relatório final com as conclusões. O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator da CPI, se valeu de antigas informações sobre o setor e recomendou várias ações ao final, como a investigação de vários empresários do setor e prazo para o encerramento do contrato da Caixa Econômica Federal com a Gtech. Além disso, a CPI apresentou uma Indicação Legislativa para a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado Federal e a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania com “Proposta de estudo de Projeto de Lei para regulamentar os bingos no Brasil”. A CPI também apresentou o PLS 278/2006, que autoriza os estados federados e o Distrito Federal a explorar loterias. A proposta foi aprovada pelo Senado e encaminhada para a Câmara e virou o PL 472/2007. O projeto ainda está tramitando na Câmara, já tendo sido aprovado na Comissão de Defesa do Consumidor (CDC). Atualmente, está na Comissão de Finanças e Tributação (CFT), com a relatoria do deputado Pedro Eugênio (PT-PE).

Mas dez anos antes da CPI do Senado, em fevereiro de 1995, a Câmara dos Deputados também teve a sua CPI dos Bingos, que acabou em escândalo. Proposta pelo deputado Marquinho Chedid, o parlamentar foi acusado e denunciado como líder de um esquema que extorquia empresários do ramo e cobrava propinas para não convocá-los a depor. Em dezembro do mesmo ano, a CPI foi extinta e uma Comissão Especial (CESP) assumiu os trabalhos para encaminhar uma proposta através da apresentação do PL 1.417/1996, propondo modificações na legislação que autorizava a operação de bingos. O PL foi aprovado pela Câmara dos Deputados e remetido ao Senado. Como não foi apreciado, a Câmara arquivou a proposta em fevereiro de 2003. A Comissão de Ética da Câmara investigou as denúncias de irregularidades na extinta CPI dos Bingos e o relatório da comissão concluiu que Chedid teria recebido propina para favorecer um bicheiro. O plenário entendeu que ele era inocente e o absolveu por 274 votos a favor e 74 contra da acusação de "falta de decoro parlamentar".

Nesta terça-feira, 10 de abril, o Congresso Nacional decidiu instalar uma CPI Mista, a “CPI do Cachoeira”, para investigar as denúncias de envolvimento de parlamentares com o contraventor. Esta será a quarta Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o setor de jogos no Brasil, pois a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro também realizou a “CPI da Loterj”, que resultou na condenação de Waldomiro Diniz e Carlos Augusto Ramos.

Não foi a primeira e nem será a última vez que a relação entre um operador de jogo ilegal e um político/parlamentar será transformada em escândalo. Esta relação sempre será tratada pela mídia e pela sociedade dentro deste contexto. O problema é que entidades como a Associação Brasileira de Bingos (Abrabin) e a Associação Brasileira de Loterias Estaduais (Able) e os defensores da legalização dos jogos no país necessitam do acesso aos parlamentares para, legitimamente, defender junto ao Congresso Nacional a legalização e regulamentação deste setor.

No próximo dia 3 de julho, o jogo do bicho completará 120 anos de operação e, no dia 3 de outubro, serão 71 anos de proibição pela Lei de Contravenções Penais. A legislação proibitiva não alterou o cenário de ilegalidade do jogo no Brasil, que movimenta mais de R$ 17,5 bilhões anualmente em apostas clandestinas. Além disso, o país tem uma das legislações mais atrasadas na área de jogos e loterias do mundo. É totalmente equivocada a tese de que a legalização do jogo acabaria favorecendo o crime organizado. Na verdade, ambiente propício às máfias é o atual, com o jogo ilegal movimentando mais que os R$ 9,73 bilhões das loterias da Caixa Econômica Federal, sem nenhuma contrapartida para Estado e sociedade. Discursos que usam patologia, lavagem de dinheiro e ausência de controle como argumentos contrários é parte do lobby dos que pretendem manter o jogo na ilegalidade, principalmente alguns veículos de comunicação de massa.

No último dia 30 de março, a comissão de juristas que estuda mudanças no Código Penal decidiu propor, no anteprojeto que apresentará ao Senado, que os jogos de azar sejam tipificados nessa lei como crime. Nessa reunião, apenas o advogado e jurista Luiz Flávio Gomes foi contrário à criminalização de qualquer tipo de jogo. "Criminalizar o jogo é o maior retrocesso que vamos cometer nos últimos tempos. Ou regula ou paga imposto ou pega (o crime) pela lavagem (de dinheiro). Estamos sucumbindo a uma manifestação midiática que associa o jogo ao crime organizado e ao tráfico de drogas. Há mil formas de ‘pegar’ o dono do jogo, pois ele comete crimes tributários e de lavagem de dinheiro, por exemplo. Jogo é jogo, deixem o povo jogar”, declarou Gomes.

Os membros da comissão estão querendo revogar a lei da oferta e da procura. Como se isso fosse possível. O poder público poderá estar criando uma nova anomalia ao criminalizar esta atividade sem antes criar um marco regulatório para o setor, pois vai empurrar o jogo ilegal para estruturas “verdadeiramente” mafiosas. Além disso, deixo a pergunta: haverá espaço nas cadeias e presídios para os operadores ilegais e os cerca de 600 mil apontadores do jogo do bicho espalhados pelo país?

Não dá mais para governo, parlamento e sociedade se omitirem na questão da legalização dos jogos no país. Mas, pelo visto, o lobby dos que pretendem manter o jogo na ilegalidade está vencendo, pois em nenhum momento Executivo, Legislativo e Judiciário discutiram a possibilidade de enfrentar a questão da criação de um marco regulatório para esta atividade no Brasil, a exemplo de outros países, que acolheram o jogo no seu sistema jurídico, porque perceberam que, existindo demanda, “alguém” vai prestar o serviço. Em todas as Américas (Norte, Central e Sul) só não tem jogo legalizado em Cuba, Guiana Francesa, Equador e Brasil. Será que só estes quatro países estão certos?

Afirmar que o Estado não tem condições de controlar e fiscalizar estas operações é uma falácia. A Caixa controla de forma online mais de 33 mil terminais instalados em 11 mil lotéricas de 4.437 municípios. A Receita Federal tem um dos sistemas de controle do Imposto de Renda mais competentes do mundo e a Justiça Eleitoral controla 420 mil urnas eletrônicas com resultado em apenas cinco horas. Com toda tecnologia disponível, chega a ser risível o argumento que essas atividades são propícias à lavagem de dinheiro.

Toda proibição é discutível e às vezes inútil. A Lei Seca nos Estados Unidos é um exemplo a ser observado. A proibição do jogo no Brasil também não resolveu a ilegalidade do centenário jogo do bicho. Deve-se pensar bem antes de transformar as boas intenções em novos negócios para o crime organizado. Quem quiser jogar e não puder fazê-lo de acordo com a lei irá buscá-lo no mercado negro, pois sempre haverá um “empreendedor” para dar à sociedade o que a sociedade deseja.

terça-feira, 10 de abril de 2012

BANDO "BALA NA CARA" É SUSPEITO DE INTIMIDAR JUÍZA


Facção violenta é suspeita de ameaças a magistrada. Bando Bala na Cara estaria forçando juíza a decretar liberdade de um preso envolvido em homicídio - JOSÉ LUÍS COSTA, ZERO HORA 10/04/2012

Integrantes da facção Bala na Cara são suspeitos de intimidar a juíza Elaine Maria Canto da Fonseca, que vive sob proteção de seguranças do Tribunal de Justiça do Estado (TJ) em razão de ameaças de morte contra ela e a família. Uma das linhas de investigações do Ministério Público (MP) converge para o grupo criminoso que teria interesse em forçar a magistrada a decretar a liberdade de um preso envolvido em processo de homicídio que tramita na 2ª Vara do Júri de Porto Alegre, onde a juíza trabalhava até ser transferida por determinação do TJ.

Detalhes das buscas aos autores das ameaças são mantidos em sigilo. A suspeita contra os Bala na Cara cresceram após um criminoso ligado ao bando alardear que tinha encomendado a morte do promotor de Justiça Eugênio Amorim, que atua na 1ª Vara do Júri da Capital. O episódio foi descoberto há cerca de 20 dias. Investigações indicaram que a ameaça a Amorim seria infundada, e ele dispensou o serviço de escolta com segurança especial que lhe foi oferecido.

– Já recebi várias ameaças veladas. Inclusive, na semana passada, num intervalo de julgamento, um réu apontou dois dedos para mim, simulando o disparo de um tiro. Mas essa (ameaça) dos Bala na Cara foi uma das mais sérias, porque a informação veio de um advogado. Ao longo dos tempos, as instituições não têm tido o devido cuidado com os profissionais do júri, que merecem um tratamento diferenciado, pelo embate frente a frente, olho no olho – afirma o promotor.

Embora não tenham surgido pistas concretas de que Amorim corria risco de morrer, os telefonemas intimidatórios recebidos pela juíza Elaine despertaram atenção sobre a facção. O bando tem perfil para cometer esse tipo de crime (veja quadro ao lado).

– A juíza é linha dura, e eles seriam capazes disso (matar a magistrada). Basta ver o nome da gangue – comentou uma autoridade ligada ao Ministério Público que pediu para o ter o nome preservado.

O objetivo dos criminosos seria de intimidar a magistrada para que ela soltasse um preso. Para que não ficasse claro qual era o detento, a juíza deveria aceitar o pedido de soltura de todas as solicitações encaminhadas a ela em um determinado espaço de tempo.

Há duas versões sobre o interesse do bando na liberdade do detento. A primeira: o desejo puro e simples de um aliado ganhar a liberdade. E a segunda, mais cruel: o homem seria inimigo dos Bala na Cara e deveria chegar às ruas para ser assassinado.


GRUPO DO JOGO ONLINE CONTINUA ATIVA

Mesmo após prisão, grupo de Cachoeira continua na ativa. Investigação da Polícia Federal mostra que Cachoeira comprou site de jogos e apostas online por R$ 1 milhão - 10 de abril de 2012 | 3h 06. Ricardo Brito, da Agência Estado

O esquema de jogos ilegais comandado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, continua a pleno vapor na internet, mesmo com a prisão dele há mais de 40 dias. Relatório da Polícia Federal aponta que integrantes do grupo de Cachoeira compraram um site de bingos online hospedado atualmente na Irlanda, mas voltado para apostadores brasileiros.

Com base em quebras de sigilo telefônico, bancário e de e-mails feitas com autorização judicial, a PF descobriu que o grupo havia adquirido a página eletrônica do Brazil Bingo por R$ 1 milhão. Segundo a polícia, para concretizar a transação, eles se utilizaram de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas usando contas bancárias sediadas em Curaçau, paraíso fiscal localizado no mar caribenho.

Investigações revelaram que Cachoeira delegou a Lenine Araújo, o segundo homem na hierarquia do grupo, poderes para contratar os serviços de tecnologia de informação e dos desenvolvedores do site. O pagamento teria envolvido operações "dólar-cabo", uma transação ilegal de câmbio - muito utilizada por doleiros - em que o dinheiro é remetido por meio de compensação, sem repasse físico ou controle de órgãos do governo.

Jogo virtual. Pelo site, que se intitula o "primeiro e único bingo ao vivo do mundo", o internauta é convidado a conhecer e apostar em jogos "realizados em tempo real". Há partidas de pôquer, mesa de cartas e caça-níqueis, especialidade do grupo de Cachoeira em Goiás e no entorno do Distrito Federal, até a deflagração da operação policial. Os prêmios, segundo a investigação, eram controlados pelo esquema.

O site permite aos visitantes que façam suas apostas por meio de cartões de débito e de crédito e emissão de boleto bancário. Nessa última modalidade, a polícia descobriu que o boleto é emitido em favor de uma empresa sediada em São Paulo, a Tinkey Serviços de Cobrança Ltda.

"No que toca à exploração transnacional do jogo, merece destaque que os pagamentos para jogar no site e os prêmios em caso de êxito (cujas margens, conforme se vê dos diálogos degravados, são controladas pela organização) são pagos no Brasil", destacou o Ministério Público Federal, em parecer enviado à Justiça Federal de Goiás antes de deflagrada a operação policial.

O juiz Paulo Augusto Moreira Lima autorizou o bloqueio dos recursos da conta da Tinkey e dos seus sócios, Sandro e Christian Uema.

O advogado de Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos, disse que não iria se pronunciar sobre as investigações da PF porque o inquérito está sob segredo de Justiça. A reportagem não localizou os representantes dos demais citados.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

NORDESTINOS NA MIRA

Achaque a operários mobiliza investigação - EDUARDO TORRES,

Um esquema que envolveria agiotagem, pistolagem e mortes entre nordestinos trabalhadores da construção civil na Região Metropolitana veio à tona na manhã de ontem. Durante uma ação conjunta entre 1ª DP de São Leopoldo e a 15ª DP de Porto Alegre, um homem conhecido como Ceará, 27 anos, foi preso temporariamente no bairro Bom Jesus. Um comparsa dele – também cearense – tem prisão decretada, mas está foragido.

Os dois são apontados pela polícia como matadores em investigações que se iniciaram há dois meses. A ação de ontem teria evitado a fuga do suspeito, que já estava pronto para deixar o Rio Grande do Sul.

– Eles mantinham um esquema de agiotagem entre os operários que vêm do Nordeste e ficam em alojamentos. Quando alguém ficava devendo, cobravam como pistoleiros – afirmou o delegado Marco Antônio Duarte de Souza, de São Leopoldo.

As suspeitas teriam começado no dia 30 de janeiro, com o assassinato do piauiense Reginaldo Lopes Rodrigues, 37 anos, com um tiro no pescoço, no bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha. Ele teria ficado devendo dinheiro aos colegas.

Bala encontrada junto ao corpo pode revelar matador

Na ocasião da morte de Reginaldo, os peritos recolheram uma bala de calibre 32 junto ao corpo. Incomum, ela seria compatível a duas armas apreendidas durante a investigação.

Em 14 de março, outro crime mobilizou a polícia. Dessa vez em São Leopoldo. Um colega de Reginaldo, natural do Maranhão, teria sido levado do seu trabalho até o município no Vale do Sinos para ser executado. Ele foi alvejado sete vezes, mas sobreviveu e corre o risco de ficar paraplégico.

– Este rapaz teria testemunhado o primeiro homicídio, então tentaram calá-lo – explicou o delegado de São Leopoldo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

ENFRENTAR A QUESTÃO

TEMA EM DISCUSSÃO: LEGALIZAÇÃO DO JOGO

OPINIÃO - MAGNHO JOSÉ é jornalista. 22/01/12 - 5h00


No dia 3 de julho, o jogo do bicho completará 120 anos de operação e, no dia 3 de outubro, serão 71 anos de proibição pela Lei de Contravenções Penais. A legislação proibitiva não alterou o cenário de ilegalidade do jogo no Brasil, que movimenta mais de R$ 12 bilhões anualmente em apostas clandestinas. Além disso, o país tem uma das legislações mais atrasadas do mundo na área de jogos e loterias.

É equivocada a tese de que a legalização de bingos, cassinos e jogo do bicho acabaria favorecendo o crime organizado. Na verdade, ambiente propício às máfias é o atual, com o jogo ilegal movimentando mais que os R$ 9,73 bilhões das loterias da Caixa Econômica Federal, sem nenhuma contrapartida para Estado e sociedade.

Se o governo controlasse, certamente os recursos do jogo clandestino não seriam caso de polícia, mas sim significativa fonte de receita para investimentos sociais, bem como importante instrumento de geração de empregos, como registrado nos países que acolheram o jogo no seu sistema jurídico, porque perceberam que existindo demanda um “empreendedor” vai prestar o serviço.

Discursos que usam patologia, lavagem de dinheiro e ausência de controle como argumentos contrários são parte do lobby dos que pretendem manter o jogo na ilegalidade.

Afirmar que o Estado não tem condições de controlar e fiscalizar estas operações é uma falácia. A Caixa controla on-line mais de 33 mil terminais instalados em 11 mil lotéricas de 4.437 municípios. A Receita Federal tem um dos sistemas de controle do Imposto de Renda mais competentes do mundo e a Justiça Eleitoral controla 420 mil urnas eletrônicas com resultado em apenas cinco horas. Com toda tecnologia disponível, chega a ser risível o argumento de que estas atividades são propícias a lavagem de dinheiro.

Já o comportamento patológico não é privilégio dos jogos de azar, podendo ser observado em várias outras atividades. Pesquisadores estimam que de 1% a 4% da população têm uma relação doentia com o jogo. No Brasil não existem dados seguros sobre a situação devido à clandestinidade, mas o conceito mundial de ludopatia vem mudando com a introdução do sistema de “autoexclusão”, que pode ser requerido pelo apostador ou por um familiar.

Em entrevista ao GLOBO, o presidente da comissão instalada pelo Senado para reforma do Código Penal, ministro Gilson Dipp, informou que a comissão pretende criminalizar os jogos de azar. O poder público poderá criar uma nova anomalia ao criminalizar esta atividade, sem antes criar um marco regulatório para este setor.

Toda proibição é discutível e às vezes inútil. A Lei Seca nos Estados Unidos é um exemplo a ser observado. A proibição do jogo no Brasil também não resolveu a ilegalidade do centenário jogo do bicho. Deve-se pensar bem antes de transformar as boas intenções em novos negócios para o crime organizado. Quem quiser jogar e não puder fazê-lo de acordo com a lei, irá buscá-lo no mercado negro, pois sempre haverá um “empreendedor” para dar à sociedade o que a sociedade deseja.

CARTEL AGE NO LEITE


SOB SUSPEITA. Governo investiga cartel no leite - ROBERTO WITTER, ZERO HORA, 03/04/2012

Empresas de laticínios do sul do Estado estão no alvo de processo administrativo aberto pelo Ministério da Justiça para investigar supostos crimes de cartel e prática de preços predatórios. O esquema teria funcionado entre outubro de 2003 e janeiro de 2004, para regular o valor do leite tipo C.

Uma investigação foi feita na época pela Polícia Federal (PF) e, agora, serviu de base para a Secretaria de Direito Econômico, órgão do ministério, iniciar a investigação. À época, o inquérito apontou cartel e identificou dumping, prática de preços cobrados abaixo do custo de produção, no caso, por mais de 75 dias.

O caso foi descoberto por meio de denúncia de pequenas usinas beneficiadoras de leite da região, que teriam sido prejudicadas. A conclusão foi de que a proposta partiu da Cosulati e da Elegê, hoje BRF Brasil Foods.

A Cooperativa dos Pequenos Agricultores e Produtores de Leite da Região Sul (Coopal), a Indústria de Laticínios Santa Silvana, a Thurmer & Leitzke e o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado também foram citados. Todos terão 30 dias, a contar de ontem, para apresentar sua defesa no ministério.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

MÁFIA NO ESPAÇO DE BANCOS

A VOLTA DO MEDO - ZERO HORA 03/04/2012

Na Itália, a máfia faz o papel de bancos – que hesitam em voltar a emprestar – e fornece créditos a empresários. Na Grécia, associações criam moedas paralelas ao euro, enquanto em Portugal a informalidade aumenta e, na Espanha, o número de trabalhadores sem carteira assinada bate recordes.

Segundo levantamento realizado pela organização italiana SOS Impresa, com sede em Palermo, os diferentes grupos mafiosos italianos movimentam hoje cerca de 140 bilhões de euros na economia local.

A máfia se transformou no maior financiador da Itália, estima a instituição, criada para denunciar práticas de grupos criminosos. Conforme a entidade, antes mesmo da crise de 2008/2009, grupos como Cosa Nostra, Camorra e ‘Ndrangheta controlavam 7% do Produto Interno Bruto (PIB) italiano.

Com a crise e a decisão dos bancos tradicionais de fechar torneiras, pequenos empresários estão frágeis, o que permite à máfia oferecer crédito e ajuda, em troca de favores e do silêncio. “As vítimas são pessoas que trabalham no comércio, seja com alimentos, roupas, floriculturas ou lojas de móveis”, afirma o relatório.