domingo, 23 de dezembro de 2012

A DISCRETA VIDA DE UM PASTOR DE ARMAS



ZERO HORA 23 de dezembro de 2012 | N° 17292

CRIME ORGANIZADO

FRANCISCO AMORIM

Pastor das igrejas Rosa de Sarom e Assembleia de Deus, Clóvis Ribeiro, 41 anos, gasta horas do dia pregando a Bíblia pela periferia de cidades serranas. É respeitado e querido entre os evangélicos.

– Ele sempre fala com emoção que devemos seguir o caminho do bem – diz um amigo.

Há quatro anos, Ribeiro, que é paulista de Santos, vinha levando uma vida sem sobressaltos com a mulher e as duas filhas – uma adolescente de 14 anos e uma jovem de 18 anos – em uma cobertura no centro de Gramado, avaliada pelo mercado local em cerca de R$ 1,2 milhão.

No início da manhã de sexta-feira, porém, uma outra face do pastor Clóvis tornou-se pública. Com um mandado de prisão nas mãos, investigadores da Polícia Civil prenderam Nai, como Clóvis é conhecido no mundo do crime. Ele é definido pelo delegado paulista Ivaney Carlos de Souza como um dos “maiores traficantes de São Paulo”. Uma das suspeitas alimentadas há anos contra Nai é de que lave dinheiro obtido com o tráfico de armas para a guerrilha colombiana Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a mais antiga guerrilha da América em atividade. Em 1º de setembro de 2005, foi interrogado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Armas da Câmara Federal. Ele negou, mas a suspeita é de que remetesse armas para os guerrilheiros colombianos em troca de droga.

A prisão de Nai deixou incrédula uma comunidade.

– Eu o conheci há cerca de quatro anos, mas há pouco mais de um ano nos aproximamos mais e ele começou a participar das nossas atividades. Ajudava como todos aqui, fazia as contribuições – surpreendeu-se Osvaldir Santos, pastor da Rosa de Sarom em Canela.

A associação com a imagem do bom pastor é a mais comum feita entre comerciantes das redondezas do prédio onde Nai morava. Era comum vê-lo dentro de lojas tentando angariar fiéis.

Pastor com sotaque paulista, Nai apreciava passear com a família na Rua Coberta, comia em bons restaurantes, mas sem ostentação. Apesar de discreto, revelava a vizinhos que tinha negócios em São Paulo – mas nunca os detalhava. Para os pastores mais chegados, confidenciava alugar lojas em Gramado. Quando não estava em viagem, Nai era visto com frequência no estacionamento do prédio onde reside falando ao telefone.

– Ele parecia dar ordens e falava em cidades de fora daqui – conta um vizinho.

À noite, saía com bastante frequência. Segundo informava aos vizinhos, ia participar de cultos. Na maioria das vezes, saía e retornava sozinho.

Imagens encontradas em seu iPad indicam que Nai estava adaptado ao Sul. Havia trocado a moranga com camarão, seu prato preferido no litoral paulista, pelo churrasco de rês. Para matar a saudade da culinária da terra de origem, a receita com frutos do mar era preparada em casa, como revelam alguns vídeos.

O material apreendido pela Polícia Civil ainda sugere que Nai parecia feliz com a nova vida. Fotos localizadas em pastas do mesmo iPad mostram que ele não se incomodava em ser fotografado em sua rotina de pastor ao lado de fiéis e outros ministros.

– Ele vivia uma vida normal, sem despertar atenções – resume o delegado Gustavo Barcellos, que foi o responsável pela captura de Nai.

No entardecer de sexta-feira, Nai trocou o cenário de Gramado por uma cela na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

Um homem metódico

O traficante Clóvis Ribeiro é um homem organizado. Os documentos apreendidos pela polícia estavam guardados em caixas, sacos plásticos ou pastas. Tudo etiquetado e separado por data. Alguns, com mais de de uma década, sequer estão amarelados. Até uma foto 3x4 sua, encontrada dentro da carteira que portava, estava protegida por um pequeno pedaço de papel, cuidadosamente cortado e dobrado.

Tanta disciplina pode acabar ajudando a investigação policial a encontrar pistas de supostos crimes cometidos por Nai. O material será encaminhado ao Ministério Público de São Paulo, que denunciou o traficante.

Antes, porém, cada folha será analisada pela equipe de policiais da Serra.

– Vamos verificar também, a partir desse material apreendido no apartamento, se ele contava com ajuda de outras pessoas aqui na região – diz a delgada regional Elisangela Reghelin.

Apesar de contar a pessoas próximas que era proprietário do imóvel em que residia, documentos indicam que ele paga R$ 4 mil pelo aluguel para uma imobiliária de Santos.

Entre os documentos recolhidos pelos agentes na manhã de sexta-feira, estão cópias de cartas manuscritas, possivelmente escritas por ele, em que trechos de processos contra o traficante são analisados em detalhe. As cartas afirmam que teriam ocorrido distorções entre o que ele falava ao telefone e o que havia sido transcrito para o papel pelas autoridades policiais na época das investigações.



Viagens de negócio e amigos paulistas

Sem esconder o sotaque paulista, Nai optou por tornar pública parte da vida que deixou para trás no centro do país.

Aos amigos mais próximos, dizia-se empreendedor e dono de alguns negócios em Santos (SP), para onde viajava com frequência. Com a estratégia, tentava escapar de olhares desconfiados. Apesar disso, suas viagens rotineiras chamavam a atenção de muitos vizinhos.

– Ele pegava o transfer até Porto Alegre. Sempre com uma maletinha e sempre sozinho – conta um morador das redondezas.

As visitas rápidas de gente de fora aguçam, agora, a curiosidade de quem nunca desconfiou do pastor.

– Era comum placas de fora, de São Paulo. O pessoal ficava uma, duas horas. A gente nunca desconfia – conta outro vizinho.

As atividades de Nai em São Paulo ainda são desconhecidas da polícia gaúcha. Informalmente ao delegado que o prendeu, ele teria dito que seriam 11 as suas empresas.

– Pelos documentos apreendidos, parece que ele é proprietário de um galpão onde funcionava uma igreja e um estacionamento na zona portuária. Mas só uma análise detalhada vai nos revelar mais – conta o delegado Gustavo Barcellos, da Delegacia da Polícia Civil de Gramado.

Cópias de declarações feitas à Receita Federal entre 2002 e 2004 indicam renda anual entre R$ 54 mil e R$ 150 mil e a posse de pelos menos sete imóveis.

No material apreendido, estavam cópias de livros-caixas e milhares de boletos de um estacionamento que seria de propriedade de Nai na zona portuária de Santos.

– Vamos analisar essas anotações financeiras para descobrir do que se trata – conta o delegado.

Junto à documentação apreendida, estavam ainda outras provas de uma relação estreita de Nai com o porto de Santos, que podia estar sendo usado por ele para seus negócios ilegais. Entre elas, cópias de documentos que revelam que Nai chegou a ser, por muitos anos, um estivador sindicalizado. Ou seja, tinha acesso liberado à área interna do maior porto da América Latina.

Com extratos financeiros que indicam saldos superiores a R$ 70 mil, Nai mantinha pouco dinheiro vivo em casa, mas portava em sua carteira de couro preta vários cartões de crédito, que dividiam espaço com as credencias de ministro das igrejas Rosa de Sarom e da Assembleia de Deus, ambas expedidas em 2005 e que facilitam o acesso ao pastor ao interior dos presídios.

Recentemente, tirou nova carteira de identidade no Rio Grande do Sul – como o banco de dados dos Estados não se relacionam, não encontrou dificuldades. Em setembro, renovou a habilitação em solo gaúcho.

sábado, 1 de dezembro de 2012

PC AVANÇA NO RS


ZERO HORA 01 de dezembro de 2012 | N° 17270




PCC cobra dívida do tráfico internacional
Grupo prestaria serviços a quadrilha para se infiltrar em cadeias gaúchas

JOSÉ LUÍS COSTA

A maior facção criminal do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), lançou uma nova estratégia para se infiltrar nas cadeias gaúchas: prestação de serviços a uma quadrilha internacional de entorpecentes. Na última semana foi descoberto que integrantes do grupo paulista estariam intermediando a cobrança de R$ 120 mil de um traficante gaúcho. O credor seria um distribuidor de drogas de um país vizinho, provavelmente, o Paraguai.

Por celular, o PCC teria cooptado apenados de Charqueadas para fazer “contato” com um traficante, recolhido na mesma cadeia e na mesma galeria (o nome da penitenciária não foi informado). À medida que a conta fosse paga, os executores da dívida ganhariam uma comissão em dinheiro ou, simplesmente, prestígio dentro da organização criminosa para eventuais novos “serviços”.

O episódio chegou ao conhecimento de autoridades da segurança pública, que decidiram transferir o traficante – o nome é mantido em sigilo –, para uma outra cadeia, mas o apenado teria negado a dívida e rejeitado a remoção. A preocupação se deve a dois motivos em especial: sufocar uma tentativa de o PCC se fixar no Rio Grande do Sul e também impedir um eventual assassinato do traficante – o que poderia representar a primeira morte dentro de um cadeia gaúcha por ordem da facção paulista.

A tática do PCC é mais um sinal da tentativa de expansão no Estado neste ano. Em abril, foram apreendidos no Presídio Central de Porto Alegre manuscritos contendo a cartilha com as regras e mandamentos da facção e anotações de rifas para captar dinheiro para o bando.

Um levantamento divulgado pelo jornal jornal O Globo mostra que o PCC já se espalhou por 21 estados, além do Distrito Federal. O dado faz parte de estudo da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) que identificou, nos primeiros nove meses do ano passado, “430 batismos” de novos seguidores do PCC pelo país. Os recordistas são Minas Gerais (90) e Bahia (56). No Rio Grande do Sul, seriam só seis novos adeptos. Detalhes do levantamento, como nomes dos presos e as cadeias, são mantidos em sigilo pela Senasp, que prefere não comentar o assunto.

114 paulistas estão hoje trancafiados no Estado

Ex-juiz da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre e juiz-auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Luciano Losekann lembra que o PCC já tentou uma aproximação com o grupo Os Manos, do traficante Paulo Márcio Duarte da Silva, o Maradona (recolhido hoje à Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná), mas os contatos não teriam passado de planos para assaltos e contratação dos mesmos advogados.

De acordo com levantamento da Susepe, existem 114 criminosos paulistas trancafiados no Estado. Mas a maioria deles não estaria articulada e não teria poder de arregimentar adeptos para a facção paulista.

– Os bandidos gaúchos ainda pensam em fazer um pé de meia e largar o crime, enquanto o lema do PCC é até a morte – diz uma autoridade que investiga as quadrilhas.


A facção no Estado

- Não existe um levantamento preciso sobre o número de presos ligados ao PCC no Estado. Segundo investigações da Polícia Civil, do Ministério Público e do Judiciário, a facção não ocuparia espaço dentro das cadeias e não teria domínio sobre criminosos nas ruas.

- Dos presos, apenas dois nomes são conhecidos como integrantes do PCC: o traficante de drogas Fabrísio Oliveira Santos, o Boy, 27 anos, e o assaltante Oséas Cardoso, o Português, 62 anos, ambos recolhidos na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

- Boy estava no grupo de 27 presos em flagrante cavando um túnel para furtar R$ 200 milhões de dois bancos Banrisul e Caixa Econômica Federal, há seis anos, em Porto Alegre. Fugiu para São Paulo enquanto cumpria pena por tentativa de furto, foi preso na capital paulista por envolvimento com tráfico de drogas e mandado de volta para a Pasc

- Envolvido em assaltos, em 2001, Português foi preso com 12 homens que pretendiam roubar R$ 5 milhões de um banco próximo ao aeroporto Salgado Filho, na Capital. Cinco anos depois, foi acusado do roubo de R$ 30 milhões de um banco, em São Paulo, e voltou a ser preso em Porto Alegre. Fugiu da cadeia em 2009, mas foi recapturado em 2010.

CARTAS APREENDIDAS NO PRESÍDIO CENTRAL

- No dia 5 de novembro, ZH divulgou o conteúdo de cartas apreendidas após buscas em celas no Presídio Central de Porto Alegre, que mostram a tentativa do PCC se estabelecer no Estado.

- Encontrada em abril após rastreamento de telefonemas de um paulista encarcerado na unidade e suspeito de extorsões fora da cadeia, a papelada revela o Estatuto do PCC, com regras estabelecidas pela facção aos criminosos. Entre os mandamentos, está a ameaça de que o bandido que estiver em liberdade e “bem estruturado”, não podem esquecer de contribuir com “os irmãos que estão na cadeia”, sob pena de ser “condenado à morte, sem perdão”.

- Um segundo documento apreendido no Presídio Central mostra como o PCC tenta arrecadar dinheiro. Uma das maneiras é por meio de rifas, usadas para custear despesas. Entre elas, pagamento de advogados, de cestas básicas para famílias de presos, transporte para familiares visitarem as cadeias e auxílio para doentes.

domingo, 18 de novembro de 2012

INFILTRADOS EM CURSOS DE EXPLOSIVOS


FOLHA.COM 18/11/2012 - 06h30

Facção infiltra criminosos em curso de explosivos em SP


MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO


O PCC (Primeiro Comando da Capital) infiltrou integrantes em cursos que ensinam a manusear explosivos, realizados em pedreiras do Estado de São Paulo. A informação consta de investigações da Polícia Federal e do setor de inteligência do Exército.

Os documentos, sigilosos, informam que o objetivo da facção é aumentar a eficácia de suas ações em explosões de caixas eletrônicos.

Suspeita-se, no entanto, que a técnica também possa ser usada pelos criminosos para atacar policiais.

O treinamento para o uso de explosivos pode estar sendo feito por membros do PCC há, pelo menos, quatro anos.

HISTÓRICO

A Polícia Civil de São Paulo chegou a investigar, em 2008, essa prática da facção.

A apuração parou porque, na época, os policiais não tinham o acesso ao sistema que permite a pesquisa sobre os sócios das empresas que ministram os cursos -chamados de "blasters" ou de "cabo de fogo".

A equipe de policiais produziu, então, um documento e encaminhou à Secretaria da Segurança Pública do governo de São Paulo.

O relatório mostra que de 145 inscritos nos cursos de manipulação de explosivos em pedreiras 13 tinham ficha na polícia por tráfico de drogas e por roubo.

A Polícia Federal retomou o levantamento e trocou informações com o Exército.

ROUBOS

A preocupação cresceu com os constantes roubos de explosivos no Estado.

Neste ano, pouco mais de uma tonelada de dinamite foi levada por assaltantes em São Paulo.

Não há notícias de que esses explosivos tenham sido recuperados.

Em 2010, mais uma tonelada foi roubada, além de 11 quilômetros de pavio e 568 espoletas, responsáveis por acionar a detonação da dinamite em gel.

A suspeita é de que os explosivos estejam sendo enviados também para outros Estados do país.

Nos cursos, os criminosos se aproveitariam da falta de controle das pedreiras que permitem a inscrição de qualquer pessoa.

FALTA DE CONTROLE

Das 160 pedreiras que existem em São Paulo, só metade segue uma série de determinações do Exército.

Entre as exigências estão o controle sobre quem são os alunos que se inscrevem.

"Temos um controle sobre nossos associados, mas há outras pedreiras, menores, que podem não estar seguindo essas regras de segurança. Aí, a gente não pode fazer muita coisa", afirmou Osni de Mello, assessor técnico do Sindipedras (Sindicato de Indústria de Mineração e Pedra Britada de São Paulo).

Oficialmente, a Comunicação Social da Região Militar, responsável pelo Estado de São Paulo, informou não possuir informação de que o PCC infiltre pessoas em cursos de explosivos em pedreiras.

Declarou ainda que a Polícia Federal levanta a ficha criminal das pessoas inscritas nestes cursos.

A Polícia Federal não comentou o assunto.

SUL DE MINAS

Analistas da PF investigam o ataque ao Batalhão da Polícia Militar, na semana passada, em Campo Belo, sul de Minas Gerais.

As informações indicam que a facção recrutou jovens para atacar a PM.

Vários carros de policiais, estacionados no pátio do batalhão, foram atingidos.

A Polícia Militar de Minas Gerais se referiu à ação em Campo Belo como "ataque do tráfico", mas não citou o Primeiro Comando da Capital.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

MILÍCIAS MUDAM ESTRATÉGIA PARA NÃO CHAMAR ATENÇÃO


Milícias mudam de estratégia para não chamar atenção, mostra estudo da Uerj

CORREIO BRAZILIENSE, Agência Brasil 11/10/2012 10:37


Rio de Janeiro – Os grupos de milicianos estão reinventando o modo de agir para não chamar a atenção do Estado e poder continuar a operar negócios criminosos altamente lucrativos. A conclusão é parte do estudo No Sapatinho – Evolução das Milícias no Rio de Janeiro (2008-2011), lançado nessa quarta-feira (10/10) à noite na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

A pesquisa coordenada por Ignacio Cano e Thais Duarte, do Laboratório de Análise da Violência (LAV-Uerj), teve o patrocínio da Fundação Heinrich Böll, da Alemanha. O resultado foi transformado em um livro de 150 páginas, com textos sobre a origem das milícias no Rio, depoimentos, gráficos, tabelas e mapas que traduzem a atuação desses grupos armados no estado, principalmente na região metropolitana.

Cano explicou que as milícias foram enfraquecidas pela ação do Estado e por problemas internos de disputas, mas continuam operando nos mesmos territórios que tinham há quatro anos, só que de forma menos ostensiva.
“O esforço do Estado foi muito importante para cortar o avanço desses grupos e sua expansão, mas não conseguiu erradicar o problema. A nova milícia é muito mais discreta que a antiga. Não tem mais 50 homens armados andando por aí, não marcam mais as casas, mas é igualmente violenta e intimidadora. É um fenômeno mais sutil, eles não se candidatam na proporção que faziam antes aos cargos públicos, mas o terror e a extorsão continuam da mesma forma”, apontou o pesquisador.

Ele destacou que as evidências mostram que os grupos milicianos têm menos força do que antes, controlam menos atividades econômicas, mas continuam matando com frequência. Só que de forma dissimulada, para não chamar a atenção. Se anteriormente fazia questão de matar desafetos à luz do dia, como exemplo, agora a tendência é assassinar as vítimas e fazer desaparecer seus corpos.

Os pesquisadores constataram, observando as estatísticas oficiais, que há um aumento no número de desaparecidos, ao mesmo tempo em que se observa um declínio no de mortes violentas, em áreas de milícia.
“Há muitos assassinatos, torturas e o clima de terror nas comunidades é ainda mais alto do que anos atrás. É um sinal de alarme comprovar que a razão entre mortes violentas e desaparecidos aumenta justamente nas áreas onde a milícia atua. É um sinal sobre a possibilidade de que as milícias estejam desaparecendo com os corpos das vítimas em vez de matá-las publicamente.”

O pesquisador destacou que o apogeu de expansão das milícias foi o período 2006-2007 e que, atualmente, a repressão do Estado, inclusive com a prisão dos principais líderes, mudou sua forma de agir. “Em 2008, começou a repressão a elas e hoje em dia são muito mais tímidas em sua exposição pública. Estão se afastando do modelo do tráfico, de controle de entrada e saída [do território], de ter alguém sempre presente e indo mais na direção de grupos de extermínio ou da máfia, de forma mais sigilosa, para manter os lucros, com uma exposição menor. Os grupos não estão mais se exibindo, como eles faziam antes. Hoje, a investigação ficou mais complicada, justamente em função da discrição dessas milícias.”

Cano alerta que ao mesmo tempo em que há certa diminuição do poder miliciano no Rio, em outras partes do país novos grupos estão se organizando, nos mesmos moldes. São igualmente formados por militares, ex-militares e policiais que oferecem serviços de combate ao crime, aliados à exploração clandestina de produtos e serviços, incluindo a venda de botijões de gás, comercialização de sinal de televisão a cabo e o transporte de vans.

“Temos informações de outros estados de que fenômenos semelhantes estão começando a ocorrer. Então, o Brasil como um todo tem que começar a olhar para este problema, porque daqui a pouco não será exclusivo do Rio de Janeiro. Milícia é um negócio, você tem que conseguir pegar o dinheiro ou, pelo menos, aumentar os custos desse negócio. Prender pessoas é importante mas, em sua grande maioria, são descartáveis e acabam substituídas. Atacar o coração do negócio é essencial para poder desarticular esses grupos.”

terça-feira, 2 de outubro de 2012

HISTÓRIA E MANUAL DO PCC

 Brasil Style Of Life Rp
http://www.styleofliferp.com.br/t9276-manual-do-pcc



Requisitos

Ser ativo
Saber todo o Manual
Ser bom de x1
Ser nivel 3 ou mais

Historia completa do P.C.C



PCC foi fundado em 31 de agosto de 1993 por oito presidiários, no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté (130 quilômetros da cidade de São Paulo), chamada de “Piranhão“, até então a prisão mais segura do estado de São Paulo.

Durante uma partida de futebol, quando alguns detentos brigaram e como forma de escapar da punição – pois várias pessoas haviam morrido – resolveram iniciar um pacto de confiança.

Era constituído por Misael Aparecido da Silva, vulgo “Misa“, Wander Eduardo Ferreira, vulgo “Eduardo Gordo“, António Carlos Roberto da Paixão, vulgo “Paixão“, Isaías Moreira do Nascimento, vulgo “Isaías”, Ademar dos Santos, vulgo “Dafé“, António Carlos dos Santos, vulgo “Bicho Feio“, César Augusto Roris da Silva, vulgo “Cesinha“, e José Márcio Felício, vulgo “Geleião“.

O PCC, que foi também chamado no início como Partido do Crime, a rumores tambem que tenha se chamado Partido Comunista Carcerario, afirmava que pretendia “combater a opressão dentro do sistema prisional paulista” e “vingar a morte dos cento e onze presos”, em 2 de outubro de 1992, no “massacre do Carandiru“, quando a Polícia Militar matou presidiários no pavilhão 9 da extinta Casa de Detenção de São Paulo. O grupo usava o símbolo chinês do equilíbrio yin-yang em preto e branco, considerando que era “uma maneira de equilibrar o bem e o mal com sabedoria”.

Em fevereiro de 2001, Sombra tornou-se o líder mais expressivo da organização ao coordenar, por telefone celular, rebeliões simultâneas em 29 presídios paulistas, que se saldaram em dezesseis presos mortos. Idemir Carlos Ambrósio, o “Sombra“, também chamado de “pai”, foi espancado até a morte no Piranhão cinco meses depois por cinco membros da facção numa luta interna pelo comando geral do PCC.

O PCC começou então a ser liderado por “Geleião” e “Cesinha“, responsáveis pela aliança do grupo com a facção criminosa Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. “Geleião” e “Cesinha” passaram a coordenar atentados violentos contra prédios públicos, a partir do Complexo Penitenciário de Bangu, onde se encontravam detidos.
Marcola

Marcola

Considerados “radicais” por uma outra corrente do PCC, mais “moderada”, Geleião e Cesinha usavam atentados para intimidar as autoridades do sistema prisional e foram depostos da liderança em Novembro de 2002, quando o grupo foi assumido por Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola“. Além de depostos, foram jurados de morte sob a alegação de terem feito denúncias à polícia e criaram o Terceiro Comando da Capital (TCC).

Cesinha foi assassinado em presídio de Avaré, São Paulo.

Sob a liderança de Marcola, também conhecido como “Playboy“, atualmente detido por assalto a bancos, o PCC teria participado no assassinato, em Março de 2003, do juiz-corregedor António José Machado Dias, o “Machadinho”, EX-JUIZ DA VARA DE EXECUÇÕES DE PRESIDENTE PRUDENTE, Que por aplicar a lei corretamente, não abrindo exceções, como regalia e visitas intimas ao presos que se encontravam no CRP de Presidente Bernades, cumprindo interdição por liderarem mortes dentro das prisões, rebeliões, sequestros e controlar o crime organizado, foi morto covardemente por membros do PCC, a mando de Marcola e Gege do Mangue.

A facção tinha recentemente apresentado como uma das suas principais metas promover uma rebelião de forma a “desmoralizar” o governo e destruir o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), onde os detidos passam vinte e três horas confinados às celas, sem acesso a jornais, revistas, rádios ou televisão por apresentarem alto risco a sociedade.

Com o objetivo de conseguir dinheiro para financiar o grupo, os membros do PCC exigem que os “irmãos” (os sócios) paguem uma taxa mensal de cinquenta reais, se estiverem detidos, e de Mil reais, se estiverem em liberdade. O dinheiro é usado para comprar armas e drogas, além de financiar acções de resgate de presos ligados ao grupo.

Para se tornar membro do PCC, o criminoso precisa ser, apresentado por um outro que já faça parte da organização e ser “batizado” tendo como padrinho 3 “irmãos”, um “irmão” só pode batizar outro membro 120 dias após ele ter sido batizado e o novo “irmão” tem de cumprir um estatuto de dezesseis itens, redigido pelos fundadores e atualizado pelo Marcos Camacho.

Diante do enfraquecimento do Comando Vermelho do Rio de Janeiro, que tem perdido vários pontos de venda de droga no Rio, o PCC aproveitou para ganhar campo comercialmente e chegar à atual posição de maior facção criminosa do país, com ramificações em presídios de vários estados do Brasil como Mato Grosso do Sul, Paraná, Bahia, Minas Gerais e outros mais.
Estatuto

O estatuto do Primeiro Comando da Capital foi divulgado em jornais brasileiros no ano de 2001. É uma lista de princípios da organização. O item 7 do documento prevê que os membros “estruturados” e livres devem contribuir com os demais membros presos sob a pena de “serem condenados à morte, sem perdão”. Leia o Estatuto
Movimentos

Em 2001, ocorreu em todo o estado de São Paulo a maior rebelião generalizada de presos da história do Brasil até então, através do uso de telefones celulares presos se organizaram e promoveram a rebelião. Vários presídios daquele estado, inclusive os do interior se rebelaram.

Anos depois, entre os dias 21 e 28 de março de 2006, diversas unidades prisionais do estado de São Paulo foram tomadas por revolta de seus internos, inaugurando uma série de atos de violência organizada no país.

Os centros de detenção provisória (CDP) de Mauá, Mogi das Cruzes, Franco da Rocha, Caiuá e Iperó, foram os primeiros a serem tomados pelas rebeliões (21 de março de 2006). Durante aquele período, outras unidades também foram palco de rebeliões (Cadeia Pública de Jundiaí- 22 de março de 2006, e os “CDP” de Diadema, Taubaté, Pinheiros e Osasco - 27 de março de 2006).

Como reivindicações apresentadas, reclamavam os amotinados da superpopulação carcerária, buscando transferência de presos com condenações definitivas para penitenciárias, bem como o aumento no número de visitantes e a modificação da cor dos seus uniformes. Estavam descontentes com a cor amarela e postulavam o retorno para a cor bege de seus uniformes. As rebeliões, algumas com reféns, foram contidas, mas os danos provocados nas unidades comprometeram gravemente a normal utilização.

Os ataques do Primeiro Comando da Capital continuaram acontecendo com certa constância, em meio a uma onda de violência e diversos outros atos (nem todos comprovadamente originados da organização) no ano de 2006, nas primeiras horas do dia 13 de agosto, aproximadamente a meia noite e meia, um vídeo enviado para a Rede Globo de televisão, gravado em um DVD, foi transmitido, no plantão daemissora, para todo o Brasil.

Dois funcionários, o técnico Alexandre Coelho Calado e o repórter Guilherme Portanova, haviam sido sequestrados na manhã do dia anterior. Alexandre foi solto, encarregado de entregar o DVD para a Rede Globo. Colocada sob chantagem, a emissora transmitiu o vídeo, com teor de manifesto, após se aconselhar com especialistas e representantes de órgãos internacionais.

O repórter Guilherme Portanova foi solto 40 horas após a divulgação do vídeo, à 0h30 do dia 14 de agosto, numa rua do bairro do Morumbi.

A mensagem, lido pelo integrante do PCC, fazia críticas ao sistema penitenciário, pedindo revisão de penas, melhoria nas condições carcerárias, e posicionando-se contra o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

Alguns trechos foram plagiados de um parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária de 14 de abril de 2003.

Regras




Não Fazer DM/DB
Não Fazer Flood em /f(amilia) /ga(ngues)
Não Sequestrar Sozinho Sempre Com 3 Pessoas + -
Não Assaltar Sozinho Sem Estar Acompanhado com 2+
Não Sequestrar Pessoas com Nivel 2
Não Invadir HQ's Sozinho e ser Autorização
Não Usar o Helicoptero ser Permição de um Sub ou Superior
Não Deixar Carros Expalhados nas Ruas
Não Ficar Parado na HQ Domine e Roube
Não Troque de Carro Frequentemente
Não Deixar Carros sem Gasolina
Sempre usar o /g ao Roubar Alguem
Ser RP
Saiba usar o Bug Eagle Corretamente
Não Equipe em Batalha
Não Matar Membros da Mesma GG
Não Use Joypad ou Cheaters
Não Ajudar Membros de Organizações Inimigas
Não Entrar em G Com Uma Desert Eagle Na Mão
Não Pegar Carro de 4 Portas se estiver Sozinho
Não floode /do nas GZ's



Regras de Sequestro


Nunca sequestrar um novato level 2
Nunca se esquecer de /passarfita na vítima
Sempre sequestrar com no mínimo mais 2 companheiros
Valor de Sequestro:
Civil: Máximo - 30k
Membro de Gangue - Máximo 50k
Membro de Organizações Governamentais - Máximo 100k
Líderes de Gangues: Máximo 150k
Líderes de Organizações Governamentais - Máximo 170k
Presidente: Máximo 300k

Comandos



/f - Para falar no radio da GG.
/ga - Para falar com as outras gangs.
/do - Para dominar territórios.
/roubar... - Para roubar o local escolhido - EX: /roubarbanco, /roubarloterica
/infoorg - Para ver a lista de todos os membros da GG.
/membros - Para ver os membros online.
/gf - Para pedir reforço.
/rgf - Cancelar o pedido de Reforço.
/assaltar ID - Para assaltar um player.
/sequestrar ID - Para sequestrar um player Só sequestrar Level 3+

Regras de Assalto

Não assaltar novatos - Level 2.
Não assaltar na cadeia.
Não assaltar sem a voz de assalto /g

Armamentos







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LENDA?

 
FOLHA.COM 01/10/2012 - 13h52

Alckmin diz que há muita lenda sobre facções criminosas em SP


O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou nesta segunda-feira que há muita lenda sobre facções criminosas em São Paulo. A afirmação foi feita após documentos revelarem que o PCC possui ramificações em 123 das 645 cidades do Estado, como revelou a Folha hoje.


Os cerca de 400 documentos foram apreendidos em operações policiais e apontam também que há nas ruas um total de 1.343 bandidos ligados a facção criminosa. O número é quase o dobro do total de homens da Rota --considerada a tropa de elite da polícia paulista.

"O secretário de Segurança Pública já respondeu que há muita lenda. Crime organizado, desorganizado, ele é enfrentado. Todo dia policia vai pra cima de bandido, todo dia os criminosos são presos. Aqui bandido não cria nome. Temos prisões de segurança máxima para lideranças do crime organizado. São Paulo tem sistema penitenciário forte, polícia trabalhando", disse Alckmin.

O PCC é hoje o principal suspeito de cometer uma série de ataques contra as forças policiais do Estado. Desde o começo do ano, 73 PMs foram assassinados.

Os documentos revelados pela Folha mostram que a capital é o principal reduto do grupo, com 689 integrantes, mas regiões como Campinas (a 93 km de São Paulo) e Santos (no litoral) também têm grande contingente. A facção chega até à cidades pequenas, como Rifaina (464 km de São Paulo), que tem 3.400 habitantes.

Os arquivos apreendidos eram destinados aos chefes da organização como uma forma de prestar contas. Os documentos são salvos em pen drives ou chips de celular e entregues semanalmente por motoboys nas principais prisões do Estado, onde entram clandestinamente.


Editoria de arte/Folhapress


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Governantes que não enxergam e nem acreditam no crime organizado não investem em segurança pública. Eles desconhecem a importância vital da segurança pública, já que envolve vida e morte e afeta o patrimônio das pessoas. Quem não conhece a sí mesmo (o Estado) e nem ao ambiente (insegurança) e nem ao inimigos (facções criminosas) está fadado a derrotas em todas as batalhas.

"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...Sun Tzu

PAGAMENTOS A POLICIAIS

 FOLHA.COM 02/10/2012 - 06h00
 
Livro-caixa de facção registra pagamentos a policiais de SP


AFONSO BENITES e ROGÉRIO PAGNAN DE SÃO PAULO

JOSMAR JOZINO DO "AGORA"


Os arquivos da facção criminosa PCC, apreendidos pela polícia, registram que a organização faz pagamentos sistemáticos para policiais civis, além de supostos acordos feitos com PMs para atuarem juntos em assaltos.


Identificadas como "percas", as informações constam de parte dos 400 documentos que já estão com a polícia e o Ministério Público, conforme revelou ontem a Folha. Uma espécie de livro-caixa do crime, os arquivos mostram que a facção atua em 123 das 645 cidades do Estado e tem nas ruas 1.343 bandidos.

Essa documentação já embasou ao menos duas denúncias judiciais de promotores e norteiam a atuação da polícia contra o crime organizado.

Nas planilhas, não há nome de policiais. Só são citadas a cidade ou a delegacia em que eles atuam e a situação em que a extorsão ocorreu.

As informações também aparecem quando a organização lista os devedores do mês. Em um dos registros, de 2011, um dos criminosos, identificado como Tucano, aparece com uma dívida de R$ 615 mil. O motivo: perdeu o valor para a polícia. Essa é a expressão usada pelos criminosos para dinheiro gasto em extorsão.

R$ 10 MIL POR SEMANA

Em um dos documentos, de 9 de agosto, apreendido na Baixada Santista, os criminosos afirmam que policiais de Mauá (Grande São Paulo), que já recebiam cerca de R$ 10 mil por semana, foram para Santo André e, se passando por policiais do Denarc (narcóticos), pediram mais dinheiro para não impedir o tráfico no local.

Nesse arquivo, os bandidos também relatam que outros policiais, dessa vez da 4ª delegacia do Patrimônio do Deic, prenderam, em 8 de agosto, uma traficante e exigiram R$ 100 mil para liberá-la.

Em negociação com os advogados, o valor caiu para R$ 10 mil em dinheiro, mais a droga apreendida e o carro.

Pelo relatório, o acerto caminhava para não ser fechado porque os policiais queriam ainda manter o flagrante da mulher, embora com o registro de uma quantidade menor de droga. O documento, porém, não revela o desfecho do caso.

"Resumindo: os policiais ficaram com o carro, com as drogas, com dinheiro do acerto se nós pagássemos e a menina ficaria presa do mesmo jeito. Olha as ideias desses policiais. Estão é tirando e subestimando a nossa inteligência", diz trecho.

Os papéis revelam ainda um caso, de junho de 2011, de um criminoso identificado como Maguegui que diz ter pago R$ 150 mil para ser libertado por policiais do Deic.

"Eles falaram ainda que nós estávamos no lucro porque estava na mão deles. Porque se fosse a Rota nos matariam", diz trecho do relatório.

Um arquivo de agosto do ano passado diz que os bandidos precisam levantar informações junto a policiais que roubam com eles, "principalmente PM".

Os promotores responsáveis pelo caso dizem que somente uma investigação aprofundada poderá concluir se houve, de fato, propina. Mas não descartam a possibilidade de algum criminoso ter inventado a propina nos relatórios para justificar desvio de dinheiro da própria facção criminosa.

Editoria de Arte/Folhapress





segunda-feira, 1 de outubro de 2012

FUNCIONÁRIOS EM 123 CIDADES

FOLHA.COM. 30/09/2012 - 20h00

PCC tem 1.343 funcionários em 123 cidades


Cerca de 400 documentos apreendidos em operações policiais obtidos pela Folha revelam que a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) possui ramificações em 123 das 645 cidades do Estado.

A facção tem nas ruas um total de 1.343 bandidos, número equivalente ao dobro do número de homens da Rota --considerada a tropa de elite da polícia paulista.

O PCC é hoje o principal suspeito de cometer uma série de ataques contra as forças policiais do Estado. Desde o começo do ano, 73 PMs foram assassinados.

Conforme a documentação, cada um dos 1.343 criminosos é obrigado a pagar à organização uma mensalidade de R$ 600, o que dá uma renda mínima de R$ 805 mil para o PCC. Em troca da mensalidade, o criminoso obtém benefícios no caso de ser preso (advogado, ajuda financeira para a família) e o direito de se identificar entre criminosos como membro da organização.

A organização conta ainda com o lucro obtido com a venda de drogas, cigarros contrabandeados para os presídios e assaltos. Segundo é possível aferir nos documentos, o PCC arrecada por mês cerca de R$ 6 milhões.

Nos arquivos constam ainda informações sobre parte do patrimônio do grupo: 13 imóveis, 88 fuzis, 63 pistolas, 11 revólveres, 8 dinamites, 67 carros (sendo três blindados), sete motos e um caminhão. Nessa relação não estão os bens dos bandidos, como armas e carros pessoais.

Leia a reportagem completa de Rogério Pagnan, Afonso Benites e Josmar Jozino no caderno "Cotidiano" desta segunda-feira.

PCC: CHEFES RECEBEM ARQUIVOS NA PRISÃO POR PEN-DRIVE

FOLHA.COM 01/10/2012 - 05h00

Arquivos de facção criminosa chegam a 'chefes' na prisão por pen drive


ROGÉRIO PAGNAN
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO
JOSMAR JOZINO
DO "AGORA"

Cerca de 400 documentos apreendidos em operações policiais obtidos pela Folha revelam que a organização criminosa PCC possui ramificações em 123 das 645 cidades do Estado e tem nas ruas um total de 1.343 bandidos.

Esse número equivale ao contingente de dois batalhões da Polícia Militar e é quase o dobro do número de homens da Rota -considerada a tropa de elite da polícia paulista.

A facção, que está espalhada por todas as regiões do Estado, é hoje a principal suspeita de cometer uma série de ataques contra as forças policiais do Estado. Até ontem, desde o começo do ano, 73 PMs foram assassinados.

Conforme a vasta documentação que está em um banco de dados do Ministério Público, cada um dos 1.343 criminosos é obrigado a pagar à organização uma mensalidade de R$ 600, o que dá uma renda mínima de R$ 805 mil para o PCC.

Em troca da mensalidade, o criminoso obtém benefícios no caso de ser preso (advogado, ajuda financeira para a família) e o direito de se identificar entre criminosos como integrante do PCC.

A organização conta ainda com o lucro obtido com a venda de drogas, cigarros contrabandeados para os presídios e assaltos. Segundo é possível aferir nos documentos, o PCC arrecada por mês cerca de R$ 6 milhões.

Os arquivos, elaborados pelos próprios bandidos, foram apreendidos em três grandes operações policiais, já embasaram o Ministério Público em duas denúncias judiciais e norteiam a polícia na desarticulação da facção.

Nas acusações formais, promotores de Santos pediram a prisão de 16 suspeitos de tráfico de drogas e de formação de quadrilha.

Essa documentação mostra que os criminosos se instalaram até em cidades pequenas, como Rifaina (na região de Ribeirão Preto), que tem 3.400 habitantes.

A capital paulista é o principal reduto do grupo, com 689 integrantes. As regiões de Campinas, com 230 membros, e de Santos, com 136, são outras em que o PCC tem um grande contingente.

Os arquivos revelam ainda o controle empresarial da facção, que cobra metas até na venda de drogas. Há dezenas de funcionários que embalam os entorpecentes, e uma série de "diretores" que são responsáveis por gerenciar a contratação dos advogados, a comercialização de rifas e a venda dos produtos ilícitos.

Editoria de arte/Folhapress




PEN DRIVE

Os arquivos apreendidos eram destinados aos chefes da organização como uma forma de prestar contas. Os documentos são salvos em pen drives ou chips de celular e entregues semanalmente por motoboys nas principais prisões do Estado, onde entram clandestinamente.

"Referente às planilhas, toda semana devem mandar para o 4º, 6º PV [pavilhões da penitenciária Presidente Venceslau], as listas de empréstimos e a lista de dívidas gerais", afirma trecho do relatório assinado por um "diretor" que se identifica como Judeu, o responsável pela área financeira.

Nos arquivos constam ainda informações sobre parte do patrimônio do grupo: 13 imóveis, 88 fuzis, 63 pistolas, 11 revólveres, oito dinamites, 67 carros (sendo três blindados), sete motos e um caminhão. Nessa relação não estão os bens dos bandidos, como armas e carros pessoais.

O armamento que está nas planilhas fica sob a responsabilidade de alguns integrantes. Por exemplo, quando é necessário cometer um roubo, um criminoso pega um fuzil emprestado para o crime e depois o devolve. Se perder a arma, contrai uma dívida com a facção no valor do equipamento perdido.

Em março do ano passado, um criminoso identificado como XT foi preso pela Rota sob suspeita de planejar a morte de um policial. Dias depois, na casa dele a polícia apreendeu um fuzil. Como a arma era do PCC, consta em uma das planilhas que ele contraiu uma dívida de R$ 35 mil com a facção.

Editoria de arte/Folhapress




NECESSIDADE

Para o procurador Márcio Sérgio Christino (especialista em crime organizado), embora haja o risco de apreensão por parte da polícia, o registro e controle de informações por parte dos criminosos do PCC é uma necessidade até para a subsistência da facção criminosa.

"Não é questão de vaidade ou outra coisa. Eles precisam disso para manter o controle. O líder que está preso hoje busca o controle total do que acontece do lado de fora. Para isso, ele precisa necessariamente de uma forma de comunicação. Quanto maior a organização, maior a necessidade de informação. A comunicação é uma necessidade e, ao mesmo tempo, o ponto fraco das organizações criminosas", disse Christino.




quinta-feira, 7 de junho de 2012

CRIME ORGANIZADO ATUA NO FUTEBOL EUROPEU

Escândalo das apostas se espalha pela Europa

Investigações mostram que o crime organizado atua em vários países, cooptando jogadores, árbitros e treinadores



Jamil Chade - O Estado de S.Paulo - 07/06/2012
 
GENEBRA - Na aparência, um futebol organizado e exemplar. Nos bastidores, um esporte que está sendo alvo de corrupção e abalado pelo crime, principalmente em suas divisões inferiores. O Estado teve acesso a investigações conduzidas pela Justiça da Alemanha e pelo Conselho da Europa, que mostram que o crime organizado instalou seus tentáculos pelo futebol europeu, pagando verdadeiros salários paralelos a jogadores e árbitros.

Às vésperas da Eurocopa, a eclosão de mais um escândalo na Itália abalou o continente. Mas os documentos das investigações, conduzidas por diferentes organismos, revelam que o fenômeno não está restrito à máfia italiana e envolve centenas de atletas e técnicos.

Investigações abertas em 2009 na Alemanha já constataram que o problema é generalizado pela Europa. No ano passado, a Justiça da cidade de Bochum condenou os primeiros envolvidos, que compravam resultados de jogos e ganhavam em casas de apostas.

Uma importante rede foi desmantelada. Mas o processo continua e, segundo o detetive-chefe de Bochum, Friedhelm Althans, a investigação revelará que o fenômeno é mais amplo do que se imaginava. Pelo menos quatro outras redes foram detectadas atuando pelo continente.

O que já se sabe é que 323 jogos em 25 países europeus tiveram seus resultados manipulados desde 2009, 75 deles na Turquia, outros 69 na Alemanha e 40 na Suíça.

O maior processo relativo à corrupção no futebol revela, ainda, que 327 pessoas são suspeitas de fazer parte do esquema e continuam sob investigação.

O que os documentos revelam é que jogadores, árbitros e técnicos são remunerados quase que de forma regular por esses grupos, com altos valores, para garantir um resultado no qual os criminosos apostariam. A investigação também constata que a prática do suborno é conhecida por grande parte dos jogadores.

SALÁRIOS

Segundo o levantamento de Althans, já se pode confirmar que o crime organizado repassou a atletas e árbitros mais de 12 milhões (cerca de R$ 30,5 milhões) desde 2009 em suborno, para garantir resultados de partidas. Outro 1,75 milhão (R$ 4,45 milhões) foi pago a jogadores como prêmio por suas "atuações'' depois das partidas. "Isso é o que pudemos confirmar como pagamentos efetivos'', estimou o detetive. "O valor real (dos subornos) pode, e deve, ser bem maior'', escreveu.

Apesar dos valores elevados do suborno, as investigações mostram que o pagamento compensava. Por jogo, os grupos criminosos poderiam lucrar mais de 200 mil (R$ 509,6 mil).

Outra investigação a que o Estado teve acesso foi conduzida pelo Conselho da Europa e revelou que, no Leste Europeu, 25% dos jogadores reconheceram que sabiam de esquemas de corrupção e 12% deles admitiram que foram procurados e receberam ofertas para manipular resultados.

Em grande parte, o esquema de corrupção envolve clubes mais modestos, que pagam salários baixos aos atletas. Mas a investigação concluiu que as suspeitas não se limitam a essas agremiações, muitas delas ainda mantidas em sigilo por conta do processo.

Um jogo válido pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2008 passou a fazer parte da lista dos suspeitos, envolvendo Noruega e Malta. Além disso, a investigação suspeita de dois jogos válidos pelas Eliminatórias da Copa de 2010.

TENTÁCULOS

Em outros países, investigações também apontam para o mesmo fenômeno. Só entre janeiro e abril de 2011, o Sistema de Monitoramento de Loterias da Europa lançou um alerta sobre 93 resultados de jogos.
Além da Itália, Turquia e Grécia vivem o trauma da revelação de esquemas de corrupção no futebol. No ano passado, a polícia turca prendeu os presidentes dos clubes Fenerbahçe e Trabzonspor. Na Grécia, 68 foram detidos também em 2011 por conta de irregularidades em jogos na temporada de 2010. O presidente da Liga do país, Vangelis Marinakis, foi um deles.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

CRIME ORGANIZADO CORROMPEU O VATICANO

REVISTA ISTO É N° Edição:  2219, 21.Mai.12 - 17:56

Como o crime organizado corrompeu o Vaticano

Mafioso sepultado ao lado do corpo de papas lavava dinheiro com auxiliares de João Paulo II e é acusado de sequestrar e matar a mando de um cardeal

Flávio Costa

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INVESTIGAÇÃO
Corpo do criminoso Enrico De Pedis, chefe de uma das quadrilhas mais
poderosas de Roma, é retirado da Basílica de Santo Apolinário

O desaparecimento da adolescente Emanuela Orlandi, ocorrido há quase três décadas, está obrigando a Itália a desenterrar a incômoda relação entre o crime organizado e a Santa Sé. O caso lança luz sobre a história da Banda della Magliana, quadrilha que comandou, durante duas décadas (1970-1990), o crime organizado de Roma por meio de uma intrincada rede que envolvia tráfico de drogas, prostituição, sequestros, homicídios e atentados políticos. O lucro das atividades ilegais era lavado em bancos ligados à Santa Madre Igreja. O desenrolar desse novelo promíscuo começou, na semana passada, com a exumação do corpo de Enrico ‘Renatino’ De Pedis, ex-capo da Magliana, enterrado “com honras de benfeitor dos pobres” na Basílica de Santo Apolinário, ao lado de papas e cardeais. A retirada do cadáver da sacrossanta sepultura vem no bojo da investigação da polícia e do Ministério Público da Itália sobre o paradeiro de Emanuela. Filha de um alto funcionário do Vaticano, a garota teria sido sequestrada pelo gângster, a mando do controverso cardeal americano Paul Marcinkus (1922-2006), conhecido em vida como o “banqueiro de Deus”, e assessor direto do papa João Paulo II.

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Em 22 de junho de 1983, Emanuela, então com 15 anos, desapareceu após sair de uma aula de música, na praça Navona, a poucos metros da igreja que abrigaria anos depois os restos mortais de Enrico De Pedis – assassinado a tiros em 1990, em uma emboscada. O terceiro protagonista dessa história, o arcebispo Marcinkus, foi o pivô do maior escândalo financeiro do Vaticano: a quebra do banco Ambrosiano, então maior entidade privada do país, no início dos anos 1980. À época, o religioso presidia o Instituto para as Obras da Religião (IOR), o chamado Banco do Vaticano, que possuía 16% do capital do Ambrosiano. A Justiça italiana descobriu um complexo esquema de corrupção, que incluía pagamentos ilegais e desvio dos fundos para enriquecimento particular. Há provas, ainda, de que a Magliana injetava dinheiro no banco controlado pela Igreja Católica. Marcinkus foi afastado de Roma e morreu no ostracismo em Phoenix (EUA).

A trama que liga os destinos da adolescente, do mafioso e do cardeal começou a ser desvendada somente em julho de 2005, por meio de um telefonema anônimo ao programa de TV RAI-3 “Chi l’ha visto?” (Quem a viu?): “Se quer saber mais sobre Emanuela, olhe no túmulo de De Pedis...”, dizia a voz masculina, nunca identificada. Para espanto geral, a polícia descobriu que o criminoso estava enterrado na Basílica de Santo Apolinário. Um documento oficial do Vaticano afirmava que o criminoso, responsável por diversos assassinatos, realizou “contribuições particulares para jovens, interessado, sobretudo, em sua formação cristã e humana”. Descobriu-se também que ele pagou pela sepultura um milhão de liras (450 mil euros) ao cardeal Ugo Poletti, então vigário-geral de Roma.


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PERDA
Pietro Orlandi espera há 29 anos pelo esclarecimento do sumiço da irmã Emanuela:

“Ela sofreu uma injustiça que não lhe permitiu viver a vida”

Os investigadores italianos chegaram à figura da prostituta Sabrina Minardi. Ex-amante de Enrico De Pedis, Sabrina afirmou, em juízo, que Emanuela Orlandi foi assassinada por ele e seu corpo foi envolto em um saco e jogado em uma betoneira em Torvaianica, uma província de Roma. Sabrina declarou, ainda, que o sequestro da adolescente foi executado por ordem do arcebispo Paul Marcinkus “como se quisessem dar uma mensagem para alguém acima deles”. O pai da garota, Ercole Orlandi, teve acesso a papéis comprometedores sobre a relação entre o crime organizado e a Igreja. Por sua vez, o criminoso queria reaver o dinheiro investido por sua gangue nos bancos papais. “São acusações infames, sem provas, sobre o monsenhor Marcinkus, morto há vários anos e impossibilitado de se defender”, afirmou o Vaticano, após a divulgação do depoimento de Sabrina.

Começou-se então a se especular que os restos mortais da adolescente estavam escondidos junto à cripta do criminoso. Só agora, porém, anos depois do depoimento de Sabrina, o Ministério Público italiano conseguiu a autorização para abrir a sepultura. A identificação foi confirmada, por meio da verificação das impressões digitais, graças ao alto nível de preservação do cadáver, guardado em três caixões de zinco, cobre e madeira, e envolto em um sarcófago de mármore. Outras dezenas de caixas com ossos encontrados nas proximidades do caixão serão periciadas. Por enquanto, nada foi encontrado que possa esclarecer o que aconteceu a Emanuela. Após os exames finais, o corpo de De Pedis será enterrado em um cemitério comum de Roma. A família de Emanuela espera, um dia, ter a mesma oportunidade.

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domingo, 6 de maio de 2012

CONSPIRANDO PARA TIRAR MINISTRO

Para tirar o ministro. Como a turma de Carlinhos Cachoeira queria usar uma suspeita de corrupção no Amazonas para varrer Alfredo Nascimento do Ministério dos Transportes. MURILO RAMOS - REVISTA ÉPOCA, 05/05/2012 09h33

Políticos acusados de corrupção costumam atribuir as suspeitas a invenções de adversários. Apresentam-se como inabaláveis e acima do que chamam de “ilações fantasiosas” de quem tenta prejudicá-los. Quem quiser ganhar com a fragilidade de um homem público, especialmente em benefício próprio, precisa ter certeza de que ela existe. Esse raciocínio leva organizações criminosas a se empenhar em descobrir casos concretos para passar rasteiras no submundo da política. As investigações da Polícia Federal (PF) sobre a atuação da organização do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, mostram que a equipe investigava a carreira de desafetos até identificar um ponto fraco. Com ele nas mãos, chegava o momento de buscar seu objetivo. Foi o que tentaram fazer com o então ministro dos Transportes, o senador Alfredo Nascimento (PR). De acordo com os áudios captados pela PF, Cachoeira e seu sócio, o então diretor da Delta Construções, Cláudio Abreu, planejaram usar uma suspeita de corrupção para derrubá-lo do cargo.

Numa gravação do dia 5 de julho do ano passado, Cachoeira sugeriu a Abreu procurar o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Goiás, Alfredo Soubihe Neto, para obter histó-rias desabonadoras a respeito de Nascimento. Soubihe Neto é apadrinhado do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), a quem Cachoeira queria pedir informações sobre irregularidades na gestão de Nascimento. “Senta com o Alfredo (Soubihe). Fala com ele que precisa tirar o ministro”, diz Cachoeira. “O Sandro é quem sabe. O Sandro pode falar... que tem donativo, entendeu?” Em outra ligação no mesmo dia, Abreu diz a Cachoeira que a queda de Nascimento favoreceria o próprio Sandro Mabel. “O bom seria se valorizasse até pro Sandro ser o ministro. Aí era ótimo”, afirma Cachoeira. Há duas semanas, ÉPOCA revelou que Cachoeira e Abreu tramaram, em maio do ano passado, contra o então diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot. Depois, eles comemoram a decisão do governo de afastar Pagot, acusado de corrupção.

Pagot e Nascimento acumulavam acusações de irregularidades nos Transportes. Cientes de que Nascimento era visto com desconfiança, Cachoeira e Abreu pretendiam estimular Mabel a delatá-lo. A dupla aproveitava também as disputas internas no PR. Mabel tivera desentendimentos com o presidente de honra do PR, o deputado federal Valdemar Costa Neto (SP). Mabel insistira em se candidatar à presidência da Câmara – contra a vontade de Valdemar, comprometido com o PT. Nascimento era ministro graças à sustentação política de Valdemar. No começo de 2011, Cachoeira enxergou que era hora de “Sandro dar o troco nesse povo”.

Cachoeira e Abreu defendiam os interesses da empreiteira Delta Construções. Apesar dos riscos para os negócios, Cachoeira e Abreu se empenharam em afastar Nascimento. Para Cachoeira, o melhor caminho era Mabel contar o que sabia sobre ligações de Nascimento com o Estaleiro Rio Amazonas (Eram). “O estaleiro chama Eram. Manda o Xavier descobrir qual é o rolo que tem por trás. Era construção de balsas, em Manaus. Não construiu nenhuma e levou o dinheiro”, afirma Cachoeira a Abreu. O Xavier citado na gravação é Clodoaldo Xavier, lobista da Delta e frequentador do Dnit.

O Eram é um foco de problemas, sobretudo para Nascimento. Em 2010, a então ministra Dilma Rousseff esteve com Nascimento na inauguração do Porto de Humaitá, no Amazonas. A obra, executada pelo Eram, custou R$ 12,8 milhões. Mais de um ano depois, o porto afundou parcialmente, antes de entrar em funcionamento. Até 2006, o Eram fazia pequenos reparos em embarcações no Amazonas. Tornou-se um fenômeno da construção de portos fluviais. A maior parte dos contratos do Eram é com a Companhia Docas do Maranhão (Codomar), ligada ao Ministério dos Transportes e responsável por investimentos milionários em hidrovias. Essa particularidade – uma companhia com sede no Maranhão para administrar todos os portos fluviais do país – é fruto de um acerto de Nascimento e Valdemar com o grupo do PMDB ligado ao senador José Sarney (AP). Na gestão do PR no Ministério dos Transportes, o Eram ganhou 12 contratos com a Codomar. Os compromissos somam quase R$ 100 milhões. O Eram foi favorecido com convênios firmados entre o Dnit e prefeituras do Amazonas. Os sucessivos atrasos na entrega de portos e balsas obrigaram o Eram a assinar aditivos com a Codomar para adiar os serviços. Um dos contratos está na 13ª alteração. Alguns desses aditivos foram assinados pela Codomar mesmo após o Dnit ter alertado, em abril de 2011, para a situação irregular do Eram. Pouco antes, o Estado do Amazonas declarara o Eram “inidôneo”. Em 2010, mesmo com os atrasos já caracterizados, o Eram conseguiu dois novos contratos com a Codomar – são mais R$ 16 milhões. O Ministério Público Federal no Amazonas abriu três investigações sobre o Eram em contratos de construção de portos. A empresa não se manifestou.

Em 6 de julho, um dia após Cachoeira e Abreu falarem sobre a obtenção de informações sobre Nascimento, o ministro deixou o cargo. No dia 7, a dupla comenta que o senador Demóstenes Torres espalhava a informação de que o deputado federal Sandro Mabel fora o responsável por passar à imprensa informações que resultaram na queda. A aposta de Cachoeira em Mabel fazia sentido. “O Sandro sempre ia ao Dnit pressionar para que obras de rodovias em Goiás saíssem logo. Entre elas a BR-060”, disse a ÉPOCA o ex-diretor-geral do Dnit Luiz Antonio Pagot. Procurado por ÉPOCA, o deputado Sandro Mabel não quis se pronunciar sobre o caso.

Nascimento diz não saber os motivos que levaram Cachoeira e Abreu a tentar desestabilizá-lo. Ele afirma não ter relação pessoal ou comercial com o Eram e que solicitou à Codomar que encontrasse solução para os atrasos das obras. “Vários projetos apresentaram problemas na execução, muitos dos quais não foram entregues até hoje”, diz Nascimento. O atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, disse ter se reunido com representantes do Eram para cobrar “eficiência e agilidade nos trabalhos”.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ARTICULANDO A COMPRA DE UM PARTIDO

Cachoeira articulou compra de partido. Por intermédio de araponga, contraventor ofereceu R$ 200 mil pelo PRTB de Goiás. 30 de abril de 2012 | 22h 40. Alana Rizzo e Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Definido pela mulher como "preso político", o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preparava uma ofensiva política em Goiás. Conversas interceptadas pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo mostram Cachoeira negociando a compra de um partido.

Os áudios da PF indicam que seria a seção goiana do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), cujo presidente nacional Levy Fidelix é citado em diversas escutas.

As conversas sobre a compra do partido começam em maio de 2011, quando Cachoeira questiona um aliado sobre a direção da legenda em Goiás. A ideia era tirar do cargo Santana Pires, presidente regional da sigla. Dois dias depois, o contraventor pede a Wladimir Garcêz que envie uma mensagem para alguém, cujo codinome entre o grupo é "nosso maior", questionando se valia a pena "pegar" o PRTB.

A PF identificou que o sargento aposentado da Aeronáutica, Idalberto Matias Araújo, o Dadá, também fazia parte da negociação. Em um grampo, Dadá diz a Cachoeira que falou com o advogado (possivelmente do partido) e que ele teria pedido R$ 300 mil. "Já aumentou aquele valor que falei para você. Falou que era R$ 200 mil, passou para R$ 300 mil", diz Dadá. "Tá roubando. Que garantia que tem?", pergunta Cachoeira. "Disse que faz na hora. O presidente vem e faz tudo e vai para o TRE. Resolve tudo", explica o araponga.

Cachoeira então quer saber quanto custa a manutenção anual do partido e Dadá diz que ele não falou sobre o assunto. "Falou que fica com o Estado todo na mão e nomeia os municípios." Cachoeira anima-se e diz que é para fechar o negócio por R$ 150 mil: "Até R$ 200 mil dá para fazer. Fecha logo, mas tem que ter garantia".

Segundo a PF, em agosto o grupo continuava discutindo o assunto. No início do mês, Dadá liga para Cachoeira perguntando se ele ainda estava interessado "naquele negócio do partido?" Ele confirma e pergunta qual era a legenda. Dadá responde que é o mesmo partido do Levy, o PRTB.

No dia 11, Cachoeira liga para Dadá e questiona: "E o negócio do partido lá, o que deu?". O araponga responde: "Uai, tá naquele lenga, lenga, o cara quer, tá lá em São Paulo, hoje mesmo ligou, querendo os nomes, mas eu sugeri aquilo que você me falou, ‘ó meu irmão, é, vamos visitar lá o 01 do Estado’, aí ele falou ‘não’, que ele ficou de ver com o cara o seguinte: se a gente mandasse um emissário nosso com os nome e se lá o cara quiser trazer a nominata, beleza, entendeu?. Agora entregar os nomes e pegar a nominata no outro dia, eu falei que não tava certo. Aí ele ficou de ver lá com o Levy Fidelix, pra ver se fazia assim, pra mim te falar e mandar mensageiro lá, mandar o negão lá com esses nomes".

Cachoeira mostra-se satisfeito com a resposta e pede que Dadá verifique o andamento das negociações. Três dias depois, Dadá informa que levaria os nomes para o pessoal do partido. Cachoeira insiste para que o araponga marque uma conversa com Fidelix para "desenrolar" o assunto. As investigações não revelam se a negociação prosperou.

O Estado tentou falar com o Levy Fidelix, ontem. Porém, ele não foi localizado.

QUADRILHA ARMAVA O CRIME ORGANIZADO

PARCERIA DESFEITA. Denunciada quadrilha que armava crime organizado. Entre as 20 pessoas investigadas pelo Ministério Público estão um policial militar e um da Civil - CARLOS ETCHICHURY, ZERO HORA 01/05/2012

O Ministério Público denunciou 20 pessoas, entre elas dois policiais, por formação de quadrilha e comércio ilegal de armas na Região Metropolitana. Composta por apenados, comerciantes, um investigador da Polícia Civil e um PM, a quadrilha agia como uma agência especializada em revender pistolas, revólveres, espingardas e munição de diferentes calibres para o crime organizado.

Promotores constataram que armas eram roubadas de empresas de segurança, furtadas de fábricas e desviadas de delegacias da Polícia Civil e de apreensões da Brigada Militar. Parte do armamento também era adquirida em países como Paraguai, Argentina e Uruguai.

A quadrilha funcionava como uma terceirizada do crime: fornecia chips e celulares para presidiários, falsificava documentos e placas de veículos e, principalmente, negociava armas ilegais e munições. Entre os líderes do grupo há detentos que cumprem pena no Presídio Central, na Penitenciária Estadual do Jacuí e até na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas.

– As investigações revelaram que o policial civil repassava à quadrilha armas apreendidas pela equipe da DP. Também fazia isso com armas que eram recolhidas e não eram registradas – explica o promotor André Luís Dal Molin Flores, que assina a denúncia formalizada à Justiça.

O descontrole de armas em DPs foi abordado em ZH nove dias atrás. Um relatório do Controle Externo da Atividade Policial, feito pelo Ministério Público e obtido com exclusividade pelo jornal, revela que, em 2010, havia 870 armas nas delegacias de Porto Alegre.

Pelo menos duas centenas delas eram mantidas “no interior de um baú de madeira trancado com um cadeado”. Os promotores identificaram 102 “sem vínculo a inquéritos ou ocorrências policiais” (não era possível saber por que estavam lá) e 106 que “não tinham destino conhecido” (podem ter desaparecido, portanto).

Soldado e inspetor chegaram a ser presos

Denunciados por Dal Molin, o soldado Cledson Roberto Peixoto da Silva, lotado no 26º BPM de Cachoeirinha, e o inspetor Jorge Luís Machado Ferreira, da 3ª DP de Viamão, tinham sido presos em março pelas respectivas corregedorias. Com Ferreira foram encontrados quatro revólveres e uma espingarda sem procedência.

Segundo o MP, Cledson fazia uso da função de policial para comprar legalmente armas e munições, revendidas à quadrilha. Além dos dois servidores, foram denunciadas 10 pessoas envolvidas diretamente na organização do bando, cinco presidiários que foram flagrados contratando os serviços ilegais do bando e três outras pessoas encarregadas de fazer o meio de campo entre a quadrilha e os detentos.


ENTENDA O ESQUEMA

1) Como as armas chegavam a Gravataí - O grupo atacava empresas de vigilância, trazia armamentos do Paraguai e tinha ramificação em delegacias e batalhões policiais e em indústria de armas.

2) Desvio da polícia - Um PM lotado no 26º Batalhão de Polícia Militar de Cachoeirinha e um agente da 2ª Delegacia da Polícia Civil de Gravataí repassavam “armas de fogo, acessórios e munições ilícitas, usando de suas atividades para desviarem armamento, bem como utilizando da condição funcional para comprar munições...”.

3) Fábricas de armas - Foram identificadas armas da quadrilha sem o número de série, o que sugere envolvimento de criminosos dentro de fábrica de armas.

4) Empresas de segurança - O grupo era especializado em assaltos e arrombamentos de empresas de vigilância e segurança.

5) Contrabando - A investigação apurou que armas também vinham do Uruguai, da Argentina e do Paraguai.

6) O depósito - A quadrilha utilizava-se de comércios em Gravataí e Cachoeirinha para armazenar as armas – duas lancherias e uma tele-entrega.

7) Quem eram os clientes - As armas eram negociadas e revendidas para traficantes, assaltantes e homicidas, muitos deles presos em locais como o Presídio Central, a Penitenciária Estadual do Jacuí e a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

8) Onde eram usadas - De acordo com a denúncia, criminosos utilizavam as armas para “realização de roubos, guarnecer pontos de tráfico, em confrontos com facções rivais, bem como para praticar outros delitos”.

9) As apreensões - Em pelo menos nove operações foram apreendidas centenas de munições além das seguintes armas: três espingardas, cinco pistolas e 10 revólveres.

Contrapontos -

O que diz Jorge Luís Machado Ferreira - ZH ligou para a 2ª DP de Gravataí, onde Jorge Luís Machado Ferreira estava lotado. Lá, informaram que ele foi transferido para a 3ª DP de Viamão. Ontem ele não estava trabalhando e seus colegas não souberam informar o telefone celular do policial.

O que diz Cledson Roberto Peixoto da Silva, lotado do 26º BPM de Cachoeirinha - “Não estou sabendo da denúncia do Ministério Público e prefiro não me manifestar”.

domingo, 29 de abril de 2012

OS NARCOSSUBMARINOS

Os narcossubmarinos. Crime organizado investe em embarcações de alta tecnologia para driblar órgãos de segurança e transportar toneladas de cocaína pelos mares - REVISTA ISTO É Comportamento. N° Edição: 2216, 29.Abr.12 - 11:24

Os traficantes de drogas descobriram, e aperfeiçoaram ao longo das duas últimas décadas, um trunfo para levar toneladas de cocaína aos Estados Unidos e México, driblando a rigorosa fiscalização nos portos e aeroportos. Eles optaram por submergir a droga e levá-la dentro de submarinos fabricados em estaleiros artesanais, localizados principalmente no Equador e na Colômbia.

Na semana passada, a Guarda Costeira dos EUA divulgou a apreensão, e posterior afundamento, de um narcossubmarino no Mar do Caribe, em fins de março. Os quatro tripulantes foram levados presos para Miami, no Estado da Flórida. É a trigésima captura em seis anos. “Não estamos falando de submarinos militares, mas de submersíveis menores, que podem ser comprados livremente no mercado internacional por qualquer um que tenha alguns milhões de dólares”, alertou Alexandre Schmidt, diretor do ramo africano da Agência das Nações Unidas de Combate às Drogas e ao Crime Organizado.

Informes da Inteligência da Colômbia dão conta de que o primeiro grupo criminoso a usar tal artimanha foi o cartel de Medellín. Os narcoterroristas das Farcs possuem estaleiros onde fabricam as embarcações, cujos preços podem chegar a US$ 2 milhões. Os narcossubmarinos evoluíram desde que um pequeno semissubmersível com capacidade para duas toneladas foi encontrado na costa do Pacífico pela Guarda Costeira americana no ano de 1993.

Em outubro de 2011, no Caribe colombiano, policiais encontraram uma embarcação capaz de carregar até dez toneladas. Pintada de azul, para dificultar ainda mais os radares, era feita de madeira reforçada com fibra de vidro sustentada por aço e possuía os instrumentos sofisticados: GPS para navegação submersa, computador de ponta e usina de energia. Os traficantes dividem espaço exíguo com a droga, em condições precárias. Ao final da travessia, o barco é afundado.

“Esses artefatos são câmaras mortuárias genuínas pelo alto risco que representam para a tripulação, mas não são facilmente detectados pelo radar porque eles usam fibra de vidro, que os torna quase invisíveis”, afirmou o diretor da Polícia Antinarcóticos da Colômbia, general Luis Alberto Pérez. Mas, para os traficantes, o lucro compensa o risco.

CONEXÃO HAWALA

Este é o nome do esquema clandestino que o bicheiro Carlinhos Cachoeira utilizava para lavar milhões de dólares do seu grupo criminoso. O método é usado por grupos terroristas como a Al-Qaeda de Bin Laden. Saiba como ele funciona. Alan Rodrigues e Pedro Marcondes de Moura - REVISTA ISTO É N° Edição: 2216, 29.Abr.12 - 11:13

Nos próximos dias, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários receberá do Supremo Tribunal Federal (STF) os dados da Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal, que apurou a jogatina no Brasil e seus tentáculos com o poder. Os parlamentares terão acesso a informações que revelam como o contraventor operava para lavar o dinheiro sujo do jogo do bicho e da corrupção. Segundo o inquérito da PF, Cachoeira utiliza um dos mais sofisticados e eficientes modelos de lavagem de dinheiro do mundo, conhecido como Operação Hawala. Trata-se, segundo a PF, do mesmo esquema utilizado pela rede terrorista Al-Qaeda, criada por Osama bin Laden para financiar atentados. Documentos que fazem parte do inquérito mostram que, a partir da Operação Hawala, o grupo de Cachoeira conseguiu movimentar mais de US$ 400 milhões em três continentes e oito países – Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Antilhas Holandesas, China, Coreia do Sul, Irlanda e Reino Unido.

A grande artimanha do sistema adotado por Cachoeira e terroristas internacionais é que ele não envolve remessas físicas de capital, tampouco documentos escritos. O que existem são trocas de créditos lastreadas na palavra – no estilo “eu confio em você”, o popular “fio do bigode”. O objetivo é não deixar rastros. Por isso ele é considerado um inferno para quem investiga crimes de lavagem e evasão de divisas. Com base nos preceitos da Hawala, que em árabe significa “transferência de significados”, o esquema de Cachoeira de lavagem de dinheiro, segundo as interceptações da PF, funcionava da seguinte maneira: os operadores do bicheiro, incluindo um doleiro, pediam verbalmente para outro doleiro no Exterior que determinado pagamento fosse efetuado. No Exterior, o doleiro pagava o receptor. Para receber o dinheiro, no entanto, o receptor era obrigado a dizer uma senha, previamente combinada com o grupo de Cachoeira. O operador Hawala no Exterior ficava com o crédito no Brasil que poderia ser pago não só em espécie, mas em imóveis, carros, entre outros bens (ver quadro).

O relatório 163/2011 da Polícia Federal, parte integrante do processo que está no STF, apresenta com riqueza de detalhes o esquema de evasão de divisas montado por Cachoeira. Nele aparecem o ex-cunhado do contraventor, Adriano Conrado Caiado Viana Feitosa, Wesley José Carneiro e Geovani Pereira da Silva, segundo a PF, respectivamente, o doleiro e o contador do bicheiro, além de Lenine Araújo de Souza, gerente-geral de Cachoeira. Entre os milhares de e-mails interceptados – só de Pereira da Silva foram 15 mil e-mails –, a PF conseguiu constatar quem é quem no esquema Hawala. Às 0h14 do dia 5 de agosto de 2011, por exemplo, Conrado envia uma correspondência eletrônica para Lenine na qual deixa claro que o responsável do esquema para a Operação Hawala era o doleiro Wesley, preso na tarde da quarta-feira 25 em Goiás. “Não há necessidade de copiar Wesley nos e-mails, ele foi contratado somente para fazer a remessa de dinheiro”, disse Lenine. Em outros diálogos interceptados em maio de 2011 entre Gleib Ferreira da Cruz, segundo a PF, “o braço direito de Cachoeira para qualquer assunto na organização criminosa”, e Leide, irmã de Gleib, a quadrilha fornece mais elementos sobre o funcionamento do esquema: “O negócio é fazer a transferência sem causar problema. Precisa colocar o dólar aí no Brasil em real e você por aqui em dólar. Só trocando moeda, sem problema.” De acordo com o relatório da PF, “Gleib auxilia diretamente Carlos Augusto na alocação de recursos de suas atividades ilícitas na aquisição de bens, circulação de valores, no pagamento de terceiros, comparsas e/ou prestadores de serviços, na aquisição de telefones no Exterior; imóveis, de veículos e também nas operações não autorizadas de câmbio e na remessa de valores para fora do país”.

De acordo com as apurações da PF, para lavar o dinheiro irrigado pelo bingo e pela corrupção, a organização criminosa montada pelo bicheiro construiu uma rede criminosa que envolve 38 empresas ativas. Muitas delas no Exterior, como a offshore uruguaia Raxfell Corp., com conta-corrente na Argentina e fundada no paraíso fiscal de Curaçao, nas Antilhas Holandesas. Mas os grampos telefônicos mostram que os negócios de Cachoeira não se resumem a um só continente. Passam também pela Ásia e Europa. Na Coreia do Sul, por exemplo, o contraventor é acionista da Bet Co, na província de Kyunggi. Na Irlanda, Cachoeira comprou por um R$ 1 milhão um site de apostas, o Brazilbingo. A compra do site de apostas pelo contraventor fica clara na documentação apreendida pela PF. Os documentos mostram que Cachoeira creditou o dinheiro no Bank of Ireland via Estados Unidos. “O contato de 06/07/2011 às 11:24:21, entre Lenine, Estados Unidos e Reino Unido, confirmam essa dinâmica”, diz o inquérito.

Outra interceptação telefônica mostra que, por meio da Operação Hawala, Cachoeira celebrou negócios na China. Numa das conversas gravadas pela PF, Gleib conversa com Ananias, um policial militar de Goiás e segurança dos cassinos de Cachoeira, sobre as transações no continente asiático.

Ananias – Eu preciso fazer um pagamento na China, de duzentos mil dólares, sem declarar. Quanto cê cobra para pôr esse dinheiro lá pra mim?

Gleib – Vou ver. Duzentos mil?

Ananias – Duzentos mil. A máquina custa duzentos mil dólares. É um amigo meu, só que ele não quer para não declarar aqui pra eles. Cê me fala quanto cê cobra pra nós pôr esse dinheiro lá pro cara?

Gleib – Tá.

A partir desta conversa, a PF concluiu que “o uso extensivo de conexões, como relações familiares e societárias, é o componente que a distingue de outras formas de remessas. As regularizações de dívidas entre corretores Hawala podem tomar uma variedade de formas (como bens, serviços e propriedades)”. É com base nesses novos trechos do inquérito da PF que os parlamentares indicados para a CPI do Cachoeira pretendem dar a dimensão do esquema e chegar aos responsáveis pela lavagem do dinheiro sujo do jogo do bicho e da corrupção.

Antes mesmo de os trabalhos começarem, as investigações já causam desdobramentos. Na quarta-feira 25, Fernando Cavendish, presidente do conselho diretor da Delta, e Carlos Pacheco, diretor da construtora, pediram afastamento da empresa após as investigações indicarem elo entre eles e o pagamento de propina para autoridades de diversos escalões. No meio político, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), passou a ser alvo de investigações da Procuradoria-Geral da República, junto com os deputados federais Carlos Leréia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ), por suspeitas de ter se beneficiado do esquema criminoso, que a cada dia revela novos tentáculos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

JOGOS CLANDESTINOS

BEATRIZ FAGUNDES, O SUL
Porto Alegre, Quarta-feira, 25 de Abril de 2012.


A violência e o uso de drogas são os piores problemas que afetam a população gaúcha. E a polícia ocupada em fechar por algumas horas antros frequentados por cidadãos comuns, que poderiam estar jogando tranquilos em casas legalizadas.

Em meio ao farto noticiário sobre as futuras investigações quanto ao tamanho dos tentáculos do suposto poderoso chefão Carlinhos Cachoeira uma notícia policial envolvendo cassinos clandestinos na Capital merece destaque. Na noite da última segunda-feira, a Polícia Civil estourou uma dessas pocilgas revelando uma novíssima (seria mesmo?) forma dos operadores tentarem fugir do flagrante. Segundo revelação do responsável pela operação, o delegado Tiago Baldin, os operadores passaram a trancar os jogadores, desligando a energia elétrica e exigindo silêncio absoluto dos clientes. Na sexta-feira, dia 20, em outra operação, os clientes chegaram a ficar três horas trancados, no escuro e sem ar-condicionado, claro, obrigados a manter silêncio. Alguns desmaiaram. "Eles estão usando de coação e cárcere privado na falsa ilusão de que a polícia não vá constatar e não vá ingressar no local" - explicou o delegado. Como diz a máxima: "Seria trágico, se não fosse cômico".

Trágico por sermos obrigados a conviver com essa triste obrigação da polícia; caçar e prender operadores de caça-níqueis, sabendo que em poucas horas os presos serão liberados, pagando fiança, e que a cada um preso surgem outros dois para ocupar a vaga. Cômico na medida em que qual seria a reação dos criminosos senão a de tentar driblar o flagrante desligando tudo para parecer que nada esteja ocorrendo no local investigado? Cômica igualmente a reação dos clientes, algumas vítimas chegando a desmaiar diante da exigência feita pelos bandidos de permanecerem em silêncio e no escuro. Esperavam o quê? Que os "funcionários" das casas de jogos as quais, todos os que ali sabem serem clandestinas, ilegais e gerenciadas pelo crime organizado deixariam que seus clientes cantassem "até que enfim, até que enfim, chegaram os bobos que cuidam de mim"! É muito desperdício de energia, tempo e dinheiro, além dos riscos físicos a que os agentes policiais são expostos. Igual a secar gelo e escrever sonetos inesquecíveis na água. Até quando a sociedade será exposta de forma ridícula a histórias como as ocorridas na famosíssima rua Azenha (endereço conhecido de espeluncas de jogos clandestinos)? E, até quando os políticos de Brasília continuarão a fazer papel de ingênuos defensores da moral sem voltar a aprovar a abertura dos chamados Bingos?

Cachoeira, que poderá fazer tremer a república está enredado, com negócios suspeitos envolvendo laboratórios e empreiteiras, mas foi uma investigação da Polícia Federal sobre jogos clandestinos denominada Operação Monte Carlo que o transformou em celebridade da hora. É piada. Enquanto choramos de tanto rir, aos policiais resta engolir em seco a acusação de não investigarem com a devida competência os milhares de assassinatos, cujos inquéritos mofam nas delegacias mal equipadas e sem número suficiente de agentes. De cada 10 pessoas assassinadas em 2011, cinco foram executadas por causa do tráfico de entorpecentes. Levantamento feito com base em 1.644 ocorrências policiais, só no ano passado, sobre 1.736 mortes, revela que 68% dos crimes ocorreram em via pública, evidenciando execução. A violência e o uso de drogas são os piores problemas que afetam a população gaúcha. E a polícia ocupada em fechar por algumas horas antros frequentados por cidadãos comuns, que poderiam estar jogando tranquilos em casas legalizadas sendo roubados pelo crime organizado. Não pode dar certo!

JOGO REPRIMIDO

Cresce cerco a contraventores. Com ações para coibir atividade ilegal, apreensões de caça-níqueis na Capital subiram 83% nos três primeiros meses do ano - CARLOS ETCHICHURY, ZERO HORA 25/04/2012

A Polícia Civil está fechando o cerco aos contraventores na Capital. Nos três primeiros meses do ano, uma equipe composta por seis investigadores e um delegado, vinculados à Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, apreendeu 2.563 máquinas em casas clandestinas de jogos – número 83% superior ao registrado em igual período do ano passado, que finalizou o trimestre com 1.399 equipamentos apreendidos.

O incremento das apreensões coincide com a criação de um grupo, coordenado pelo delegado Tiago Baldin, que tem a função exclusiva de reprimir a contravenção.

– Desde outubro, quando assumimos esta função, realizamos operações todos os dias – diz Baldin.

É consenso entre investigadores, delegados e promotores do Ministério Público que atuam na área criminal que a sensação de impunidade colabora para que jogo se revigore no país. Como se trata de um delito de menor potencial, ninguém vai preso operando uma casa de jogo.

Com a ação policial mais intensa, os contraventores têm cometido um outro crime para evitar prejuízos: cárcere privado.

Em duas recentes operações, uma realizada no final da noite de segunda-feira e outra na sexta-feira da semana passada, a polícia localizou 16 pessoas presas dentro das casas durante a abordagem.

– Os contraventores apagam as luzes, desligam o ar-condicionado e mantêm pessoas presas esperando que a polícia não entre nas casas clandestinas. Mas nós vamos continuar fazendo as operações e apreendendo máquinas – avisa o delegado.

No submundo da jogatina, é comum apostadores, muitos viciados, colaborarem com os donos de casas nas batidas policiais mantendo-se em silêncio e até deitando no chão.

– Como as pessoas não querem que as casas sejam fechadas, acabam se prestando a este tipo de coisa – detalha uma promotora com larga atuação na repressão o jogo no Estado.

Na última sexta-feira, porém, a polícia descobriu a presença de 12 pessoas – a maioria idosas, algumas doentes – detidas num ambiente escuro e insalubre durante três horas.

A nova tática dos criminosos também foi flagrada na segunda-feira, num estabelecimento clandestino da Avenida Azenha. Ao entrarem no local, os policiais depararam com quatro clientes em uma peça.

domingo, 22 de abril de 2012

UMA REDE CRIMINOSA CORROMPE O BRASIL


Uma rede criminosa que corrompe o País. Como o bicheiro montou um verdadeiro império empresarial para desviar verbas, fraudar licitações, lavar dinheiro e se infiltrar no poder público. Esse bilionário esquema de corrupção funciona há 16 anos e se espalha por todo o Brasil - Claudio Dantas Sequeira - REVISTA ISTO É N° Edição: 2215 | 22.Abr.12 - 11:45


Na semana passada, ISTOÉ obteve a íntegra do inquérito da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. São quase 15 mil páginas, reunidas em 40 volumes e duas dezenas de apensos, além de 11 mil horas de gravações. Na análise do processo, do qual apenas alguns trechos eram conhecidos até então, a Polícia Federal não só traz à tona as relações promíscuas do esquema do bicheiro com autoridades nos três níveis de poder como esmiúça um império de empresas criadas com a finalidade de corromper em todo o País, desviar verbas, fraudar licitações e lavar o dinheiro ilegal. O levantamento também deixa claro que o grupo de Cachoeira vem agindo há pelo menos 16 anos e foi capaz de ultrapassar diversos governos e tonalidades partidárias. “Aqui come todo mundo, cara. Se não pagar pra todo mundo não funciona. Eu tô nisso há 16 anos!”, sintetiza Lenine Araújo de Souza, o braço direito de Cachoeira, em diálogo gravado pela Polícia Federal.

A descentralização dos negócios e o uso extensivo de laranjas deram capilaridade nacional à atuação de Cachoeira. Embora o bicheiro mantenha o controle das empresas por meio de um núcleo formado por parentes e amigos próximos, a PF identificou pelo menos 149 pessoas que em algum momento estiveram ou ainda estão associadas à quadrilha. Normalmente, a máfia de Cachoeira participa de licitações que já consideram ganhas, à base, é claro, de pagamentos de propina para autoridades e servidores estratégicos. A análise desse império de dimensões bilionárias indica que Cachoeira, nos últimos anos, usou especialmente empresas ligadas à área de medicamentos para se aproximar de governos em, no mínimo, nove Estados. O objetivo do empresário-bicheiro era abocanhar uma bilionária fatia da verba pública destinada à compra de medicamentos genéricos. Para isso, criou o laboratório Vitapan, com sede em Anápolis (GO), que rapidamente se tornou um dos principais fornecedores nacionais de genéricos. O laboratório foi uma espécie de cartão de visitas de Cachoeira para se infiltrar em governos estaduais e municipais. Hoje, a empresa está avaliada em R$ 100 milhões, tem convênios até com a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e está associada a outros grandes do setor, como a Neo Química e o laboratório Teuto Brasileiro. A Neo Química está hoje nas mãos do grupo Hypermarcas do empresário Marcelo Henrique Limírio, sócio de Cachoeira no Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), que produz testes laboratoriais e faturou R$ 10 milhões em 2010, segundo a PF. Limírio também é sócio do senador Demóstenes Torres no Instituto de Nova Educação, faculdade criada em Contagem, e doou R$ 2,2 milhões para as campanhas de Demóstenes e do governador de Goiás, Marconi Perillo.

Ao longo dos últimos 16 anos, Cachoeira aprimorou e diversificou esse esquema. Mas, no início de suas atividades, ele usava empresas de gestão de loterias, seu core business, para fazer a aproximação com o poder público. Com a empresa Capital Bet, ele venceu sozinho a concorrência para a distribuição de bilhetes de loterias no Rio Grande do Sul, em 2001, na gestão Olívio Dutra. Com a Gerplan, que controlava a loteria em Goiás, entrou no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. O modus operandi incluía fraudes nos prêmios das loterias e suborno de autoridades, como foi revelado no escândalo Waldomiro Diniz, que desembocaria na CPI dos Bingos.

Hoje as organizações de Cachoeira possuem tentáculos que vão muito além da loteria e do jogo do bicho. Entre os negócios com fachada legal mais lucrativos de Cachoeira, está a construção civil. Até aqui desconhecida do mercado, a Mapa Construtora firmou contratos com prefeituras do Ceará e de São Paulo. Na capital paulista, a empreiteira é a responsável pela construção do edifício que vai abrigar o arquivo geral da USP – contrato de R$ 2,1 milhões. Na cidade cearense de Vartoja, firmou convênios de R$ 1,8 milhão para a construção de uma escola infantil e uma quadra esportiva, que ainda não saíram do papel. Outra empresa do grupo do bicheiro, a Trade Construtora, obteve contrato de obras públicas em Anápolis, na atual gestão do petista Antônio Gomide. A Trade foi condenada pela Controladoria do Estado a devolver R$ 360 mil por irregularidades. Esses contratos, no entanto, representam uma pequena parcela do lucro de Cachoeira no setor.

A partir de rastreamentos bancários feitos pela PF, sabe-se agora que boa parte dos recursos públicos que irrigaram o esquema do bicheiro saiu de contratos da Construtora Delta, líder de repasses do governo na área do Ministério dos Transportes. Segundo a PF, Cachoeira seria “sócio oculto” da Delta, articulando negócios conjuntos com a empreiteira, discutindo planilhas de obras, compartilhando funcionários e, inclusive, despachando da própria sede da empresa. Um dos diálogos interceptados pela PF mostra como Cachoeira e a Delta fizeram um consórcio para a compra da empresa Ideal Segurança, responsável pela segurança de aterros sanitários controlados pela Delta, por R$ 199 milhões. Em outro grampo revelador, até agora inédito, descobre-se que o ex-diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) Luiz Antônio Pagot foi monitorado clandestinamente por pelo menos dois anos. “Tem mais de um ano que o tal do Pagot tá no grampo, entendeu?”, conta o espião Dadá ao bicheiro, em 11 de julho de 2011. Questionado por ISTOÉ, Pagot confirmou que, quando estava no comando do Dnit, foi informado por um delegado amigo sobre a existência de grampos no gabinete em Brasília e em seu escritório em Cuiabá (MT). A deflagração da Operação Monte Carlo indica que Cachoeira trabalhou pela demissão de Pagot e da cúpula do Ministério dos Transportes. Agora, suspeita-se que a Delta pode ter tido acesso a informações privilegiadas de dentro do Dnit, responsável pelas maiores obras da empreiteira.

Sócio ou não da Delta, está cada vez mais claro que a empreiteira fazia a ponte com outras empresas do grupo de Cachoeira para facilitar o toma lá dá cá com o mundo político. A Delta também tem contratos em Anápolis, que abrangem obras rodoviárias e coleta de lixo. Nos contratos das duas empresas a PF vê o dedo do deputado federal Rubens Otoni (PT), flagrado em vídeo negociando com Carlinhos doação de R$ 100 mil para o caixa 2 de sua campanha eleitoral. Otoni, aliás, está na lista da PF de beneficiários do jogo do bicho. Foi denunciado que o senador Demóstenes Torres recebia 30% do faturamento da jogatina comandada por Cachoeira. Só que esse montante, na verdade, era repartido entre os deputados Leréia (PSDB), Jovair Arantes (DEM) e o próprio Rubens Otoni, segundo as investigações.