Escândalo das apostas se espalha pela Europa
Investigações mostram que o crime organizado atua em vários países, cooptando jogadores, árbitros e treinadores
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo - 07/06/2012
Às vésperas da Eurocopa, a eclosão de mais um escândalo na Itália abalou o continente. Mas os documentos das investigações, conduzidas por diferentes organismos, revelam que o fenômeno não está restrito à máfia italiana e envolve centenas de atletas e técnicos.
Investigações abertas em 2009 na Alemanha já constataram que o problema é generalizado pela Europa. No ano passado, a Justiça da cidade de Bochum condenou os primeiros envolvidos, que compravam resultados de jogos e ganhavam em casas de apostas.
Uma importante rede foi desmantelada. Mas o processo continua e, segundo o detetive-chefe de Bochum, Friedhelm Althans, a investigação revelará que o fenômeno é mais amplo do que se imaginava. Pelo menos quatro outras redes foram detectadas atuando pelo continente.
O que já se sabe é que 323 jogos em 25 países europeus tiveram seus resultados manipulados desde 2009, 75 deles na Turquia, outros 69 na Alemanha e 40 na Suíça.
O maior processo relativo à corrupção no futebol revela, ainda, que 327 pessoas são suspeitas de fazer parte do esquema e continuam sob investigação.
O que os documentos revelam é que jogadores, árbitros e técnicos são remunerados quase que de forma regular por esses grupos, com altos valores, para garantir um resultado no qual os criminosos apostariam. A investigação também constata que a prática do suborno é conhecida por grande parte dos jogadores.
SALÁRIOS
Segundo o levantamento de Althans, já se pode confirmar que o crime organizado repassou a atletas e árbitros mais de 12 milhões (cerca de R$ 30,5 milhões) desde 2009 em suborno, para garantir resultados de partidas. Outro 1,75 milhão (R$ 4,45 milhões) foi pago a jogadores como prêmio por suas "atuações'' depois das partidas. "Isso é o que pudemos confirmar como pagamentos efetivos'', estimou o detetive. "O valor real (dos subornos) pode, e deve, ser bem maior'', escreveu.
Apesar dos valores elevados do suborno, as investigações mostram que o pagamento compensava. Por jogo, os grupos criminosos poderiam lucrar mais de 200 mil (R$ 509,6 mil).
Outra investigação a que o Estado teve acesso foi conduzida pelo Conselho da Europa e revelou que, no Leste Europeu, 25% dos jogadores reconheceram que sabiam de esquemas de corrupção e 12% deles admitiram que foram procurados e receberam ofertas para manipular resultados.
Em grande parte, o esquema de corrupção envolve clubes mais modestos, que pagam salários baixos aos atletas. Mas a investigação concluiu que as suspeitas não se limitam a essas agremiações, muitas delas ainda mantidas em sigilo por conta do processo.
Um jogo válido pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2008 passou a fazer parte da lista dos suspeitos, envolvendo Noruega e Malta. Além disso, a investigação suspeita de dois jogos válidos pelas Eliminatórias da Copa de 2010.
TENTÁCULOS
Em outros países, investigações também apontam para o mesmo fenômeno. Só entre janeiro e abril de 2011, o Sistema de Monitoramento de Loterias da Europa lançou um alerta sobre 93 resultados de jogos.
Além da Itália, Turquia e Grécia vivem o trauma da revelação de esquemas de corrupção no futebol. No ano passado, a polícia turca prendeu os presidentes dos clubes Fenerbahçe e Trabzonspor. Na Grécia, 68 foram detidos também em 2011 por conta de irregularidades em jogos na temporada de 2010. O presidente da Liga do país, Vangelis Marinakis, foi um deles.