segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

FACÇÃO PAULISTA GERENCIA NEGÓCIOS DO CRIME NO RIO


FOLHA.COM 30/12/2013 - 03h00

Facção criminosa paulista gerencia negócios do crime no Rio


MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO
JOSMAR JOZINO
DO "AGORA"


O PCC (Primeiro Comando da Capital) chegou ao Rio. A facção criminosa paulista, que já montou bases em 13 Estados e até no exterior, se aproximou das três facções cariocas e passou a cuidar de negócios do crime no Estado.

A colaboração entre quadrilhas dos dois Estados ocorre eventualmente há anos, mas agora os criminosos de São Paulo são presença constante em reuniões do CV (Comando Vermelho), da ADA (Amigos dos Amigos) e do TC (Terceiro Comando) no Rio.


Nelas, definem o envio de armas, dinheiro e drogas.

A influência cresceu tanto que os paulistas conseguiram convencer os cariocas a vender crack, droga que sempre evitaram nas favelas do Rio.

Em dificuldades financeiras desde os ataques de 2006, quando passou a ser estrangulado pela polícia, o PCC diversificou sua atuação.

No Rio, a ação mais efetiva vem sendo feita junto ao CV. A facção carioca teve dívidas de R$ 7 milhões perdoadas e alguns já batizam essa união de CV-Primeiro Comando.

Levantamento do Ministério Público paulista no sistema carcerário do Rio mostra que 38 internos cariocas já foram "batizados" pelo PCC -ou seja, passaram a integrar a facção. Há ainda 15 presos de São Paulo, ligados à quadrilha, cumprindo pena no Rio.

A preocupação de policiais e promotores dos dois Estados é que a parceria cresça.

A Secretaria de Segurança do Rio disse que "não comenta ou divulga informações sobre investigações". A de São Paulo não se pronunciou.

Até os criminosos do Rio estão preocupados com a presença do PCC. Os investigadores flagraram um recado do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar, pedindo aos chefes do PCC que não "convertessem" os traficantes cariocas.

A partir do cruzamento de dados obtidos por promotores e policiais foi possível descobrir planos do PCC no Rio.

Do presídio de Presidente Venceslau (611 km de SP), chefes da facção decidiram, em conferências por celular, os caminhos da ação no Rio.

Em 2010, o PCC tinha dívida de R$ 4,5 milhões devido a apreensões de armas e drogas pela polícia. A facção decidiu então que era preciso criar uma base no Rio.

Assim, chefes ficariam escondidos no Estado e poderiam, das ruas, decidir os rumos da quadrilha, retirando o foco dos comparsas presos. Falam até em investir R$ 1 milhão na compra de uma casa.

Os planos para o Rio foram definidos em conversas de até duas horas que mostram Marcos Herbas Camacho, o Marcola, e Roberto Soriano, o Tiriça, dois dos chefes que estão presos, iniciando os contatos com ADA e CV.

Tiriça chega sugerir a paz entre as facções do Rio. Os traficantes do TC resistem à união das facções, mas sugerem uma "trégua" nas invasões de territórios.

Em um dos contatos, em outubro de 2010, Tiriça conversa do presídio com o traficante Antonio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, na época em liberdade -hoje está na prisão federal de Campo Grande (MS). Eles acertam a ida ao Rio de emissários do PCC.

Após a visita, em novembro, um traficante conversa por telefone com Soriano e outros três do PCC sobre a ida ao Rio. "O negócio é fora do comum. O bagulho é chique, é chapa quente. É um país. Não consegui nem contar [os fuzis] do tanto que tem."

Não demorou para que, mensalmente, oito criminosos do PCC passassem a ir ao Rio para treinamentos de tiro com a ADA.


Em conjunto, facções criminosas criam base fora do Rio
MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO


Com apoio do PCC, o Comando Vermelho montou uma base em Itaboraí, na região metropolitana do Rio. De lá, distribui cocaína e crack para diferentes partes do Rio.

Em depoimento em setembro no Rio, o traficante Rodrigo Prudêncio Barbosa contou que a facção paulista fornece cocaína para a carioca.

Parte é enviada a um laboratório clandestino num sítio na favela da Reta, em Itaboraí -a 5 km do Comperj, o complexo petroquímico que está sendo construído pela Petrobras com investimento estimado em R$ 20 bilhões.

Lá, uma quantidade é preparada para ser vendida como pó; o restante vira pedras de crack. Ainda conforme o depoimento, a proprietária do sítio foi expulsa dali pelo CV.

Documentos da contabilidade do tráfico apreendidos registram a movimentação de R$ 1 milhão por mês nas bocas de fumo da favela da Reta, que tem 25 mil habitantes.

"A facção transformou aquele local em sua base. Abrigam fugitivos dos morros ocupados na capital e distribuem drogas", afirma o delegado Wellington Vieira, da Divisão de Homicídios.

O local pode ter sido escolhido por ficar longe do projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que já se instalou em 34 favelas no Rio, mas não tem previsão de ser implantado fora da capital.

Na favela, os traficantes montaram barreiras para dificultar o acesso. Armados, patrulham a área em motos.

Em julho, tentaram resgatar um de seus chefes, que está num presídio federal e era levado para depor na Justiça. Um agente penitenciário acabou morto por tiros de fuzil.

"A violência em Itaboraí cresceu bastante com as armas que chegaram na favela", disse o juiz Marcelo Villas, que atuou na cidade.


sábado, 21 de dezembro de 2013

65 QUILOS DE COCAÍNA TRANSITANDO NO CENTRO DE POA

21 de dezembro de 2013 | N° 17651

TRÁFICO NA CAPITAL

PF apreende 65 quilos de coca no Centro



Seguindo informações de que uma quadrilha receberia um carregamento de cocaína no começo da tarde, no centro de Porto Alegre, a Polícia Federal apreendeu 65 quilos da droga, que estavam em um carro abordado pelos agentes. Outro veículo, que servia como batedor do carregamento, também foi apreendido.

Três pessoas foram presas no local, um estacionamento situado próximo à Estação Rodoviária. Conforme a polícia, a droga era proveniente do Paraguai e estava escondida debaixo do assoalho do veículo.

Com a apreensão, o departamento estadual da Polícia Federal chegou a uma marca histórica de 1,02 tonelada de cocaína apreendida neste ano no Rio Grande do Sul. Há pelo menos 10 anos esta quantidade não era registrada pela PF.

Também ontem, o tráfico recebeu outro duro golpe na região metropolitana de Porto Alegre. Um dos principais fornecedores de crack da região, de acordo com a polícia, Jonas Rocha Pereira foi preso pelo Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), no bairro Piratini, em Alvorada.

Pereira, 37 anos, já havia sido alvo de investigação da Polícia Federal no ano passado e tinha um mandado de prisão contra si.

Na madrugada de ontem, Pereira foi capturado por agentes da 4ª Delegacia do Denarc, na companhia de um comparsa, que seria seu distribuidor de drogas. Além de dois veículos, foram apreendidos com a dupla 11 quilos de crack.

POLÍCIA URUGUAIA EXTRADITA TRAFICANTE BRASILEIRO


ZERO HORA 21 de dezembro de 2013 | N° 17651

NA LISTA DA INTERPOL

Polícia uruguaia extradita o traficante Paulo Seco. Antes de ser capturado, bandido chegou a ficar foragido durante 14 anos



A polícia do Uruguai extraditou ontem o narcotraficante gaúcho Paulo Vieira de Mello, o Paulo Seco, preso no país vizinho ao Brasil desde 2010. O nome de Paulo Seco constava em um alerta de captura internacional enviado pela Interpol para cerca de 130 países, chamado Difusão Vermelha.

Antes de ser capturado, o traficante ficou foragido durante 14 anos e já havia sido condenado pela Justiça Federal por tráfico de drogas. Entregue às autoridades brasileiras na cidade de Santana do Livramento, ele foi conduzido à Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

A organização comandada por Paulo Seco teria atuação na Bolívia, no Paraguai e no Brasil e seria vinculada ao criminoso Fernandinho Beira-Mar, do Comando Vermelho. No Rio Grande do Sul, o grupo estaria ligado aos traficantes gaúchos Ney Machado e Juraci Oliveira da Silva, o Jura.

De acordo com a polícia, caberia ao grupo de Paulo Seco a operação de transporte da droga até o território gaúcho, geralmente com a utilização de aviões. Na época da prisão, mesmo com a suspeita de que ele pretendia abandonar o país com destino desconhecido, as pesquisas policiais apontaram que o narcotraficante iria comprar uma luxuosa propriedade usando como nome o seu próprio apelido – Paulo Seco.

Além dele, a polícia uruguaia extraditou outro criminoso, que não teve o nome divulgado. O homem é suspeito de tráfico de drogas e estava na lista de detidos da Operação Ibéria, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 2012.



ZERO HORA 08/06/2010 | 17h57

Começa processo de extradição de Paulo Seco. Solicitação será encaminhada ao Ministério da Justiça depois de tradução de documentos para o espanhol


Traficante estava foragido desde 2000 (foto de arquivo)Foto: Dilvugação


Justiça Federal de Passo Fundo decidiu, no fim da tarde desta segunda-feira, começar o processo de extradição do traficante Paulo Seco, que foi encontrado no Uruguai. O juiz federal Eduardo Gomes Philippsen solicitou ao diretor da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul a urgência na tradução dos processos envolvendo o criminoso para o espanhol, passo necessário para dar continuidade aos trâmites.

Quando os documentos forem traduzidos, será encaminhada imediatamente ao Ministério de Justiça, em Brasília, uma solicitação para que o pedido de extradição seja feito à instituição uruguaia responsável. A expectativa da Justiça Federal de Passo Fundo é que as traduções fiquem prontas até a semana que vem.

De acordo com informações da Justiça, a extradição de Paulo Seco pode demorar para acontecer. A Justiça uruguaia não tem prazo para tomar a decisão. Como o traficante utilizava identidade falsa no país vizinho, é possível que as autoridades do Uruguai só o deportem após a conclusão do processo movido contra ele.

Em gráfico, veja as conexões de Seco na América Latina:




Paulo Seco, de 41 anos, foi preso durante o final de semana no Uruguai. Ele é acusado de ser chefe de uma organização que fornece drogas ao Comando Vermelho (facção carioca) e para o Estado. A especialidade do bando é lançar cargas de cocaína e maconha, por meio de aviões, em lavouras, onde o produto é levado a pontos de distribuição. Foi por um desses lançamentos que Paulo Seco foi condenado, em 2006, a 11 anos de reclusão. Ele estava foragido desde 2000.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

MULTINACIONAL DO CRIME

ZERO HORA 19 de dezembro de 2013 | N° 17649


Polícia no rastro dos bens de organização


Depois de prender os principais líderes de uma organização com conexões no Paraguai e no Uruguai, na última terça-feira, agora o Departarmento Estadual de Invegestigações do Narcotráfico (Denarc) pretende seguir o rastro do dinheiro dos traficantes.

Ontem, foi aberto o inquérito por crime de lavagem de dinheiro. Também já foram pedidos à Justiça os bloqueios de seis contas bancárias vinculadas aos líderes ou a “laranjas” já identificados. De acordo com o delegado Mario Souza, apenas durante a ação de terça foram apreendidos em torno de R$ 200 mil entre notas de reais, dólares e euros. Oito veículos foram apreendidos. Em dois anos de investigação, 56 pessoas foram presas.

ZERO HORA 18 de dezembro de 2013 | N° 17648

THIAGO TIEZE

Quadrilha agia no Uruguai e no Paraguai

Organizado em uma espécie de consórcio, bando desarticulado ontem era especializado em roubo e clonagem de veículos, tráfico de drogas e de armamento pesado e assaltos a bancos na serra gaúcha



Após dois anos de investigações, a Polícia Civil conseguiu desarticular uma quadrilha que agia em pelo menos 19 cidades do Rio Grande do Sul. Responsáveis por traficar armas e drogas em quase todas as regiões do Estado, os criminosos chegavam a movimentar R$ 2 milhões em um mês.

Oritual do bando, de comprar drogas no Paraguai e armas no Uruguai, não é novidade, mas a distribuição dos bandidos e o alcance da quadrilha chamaram a atenção da polícia.

– Atingimos o primeiro e o segundo escalões do bando. Acreditamos ter dado um duro golpe numa cadeia de crimes – afirma o delegado Mário Souza, da 1ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (DIN) do Departamento Estadual de Investigaçõs do Narcotráfico (Denarc).

A Operação Expansão, realizada na manhã de ontem, conseguiu prender 42 pessoas, ao longo da investigação outras 14 já haviam sido presas. Nesse período, segundo Souza, o grupo criminoso teria participado do assalto a uma fábrica de joias em Cotiporã, na serra gaúcha, no final de dezembro do ano passado, quando três bandidos acabaram morrendo em confronto com a Brigada Militar.

O mesmo bando ainda teria participado do assalto a agências do Banrisul e do Sicredi em Pedras Altas, na Região Sul, realizado em abril deste ano, além de tentar sequestrar um empresário em Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo. Considerado um grupo grande, a quadrilha contava com pelo menos 11 líderes, que negociavam as ações criminosas. De acordo com a investigação, o grupo mantinha contatos com organizações criminosas de fora do Estado.

Segundo apontou a investigação, os bandidos clonavam carros que, por meio de uma duas revendas no Vale do Sinos, eram trocados por drogas no Paraguai. Com o dinheiro adquirido no tráfico de entorpecentes, eles compravam armas pesadas no Uruguai (fuzis, rifles e pistolas) e distribuíam para os integrantes da quadrilha no Estado, ou ainda, alugavam e revendiam para outros bandos.

– A especialização dos líderes, que respondiam ou pelas armas, ou pelas drogas, ou ainda pela contabilidade, demonstra a organização de uma grande rede de crimes, alimentados, de uma forma ou de outra, pelo tráfico – define o delegado Heliomar Franco, diretor do Denarc.


Executivos do tráfico

CARLOS WAGNER

A paciência é o pilar da investigação. A Operação Expansão é uma das raras ocasiões em que a polícia consegue derrubar os cabeças, como são definidos os donos do capital, das armas e das estratégias que determinam os alvos a serem atacados pelas quadrilhas.

Esses homens presos operam nas sombras. Os chamados “capangas” (ou “operacionais”) são os bandidos que atacam os alvos, geralmente jovens em busca de aventura e de dinheiro fácil. É muito comum ouvir, pelos corredores das delegacias, a expressão “enxugar gelo” para descrever a continuidade dos crimes, que é creditada às leis que tratam com pouca severidade os criminosos. Eis um lado da questão.

O outro é que as pessoas presas simplesmente já haviam substituído os capangas que foram presos durante assaltos anteriores e assim por diante. Desta forma, foram precisos dois anos, e muita paciência, para a polícia conseguir desarticular esse grupo. Mas o trabalho ainda não está completo. Será preciso mais uma dose de paciência para conhecer e esmiuçar o sistema de lavagem de dinheiro que eles montaram.

Se esse sistema não for destruído, o dinheiro continuará abastecendo esses criminosos. E mesmo na cadeia eles continuarão financiando o crime. Aliás, o sistema de comprar armas no Uruguai e drogas no Paraguai, usando como moeda de troca carros clonados, não é novo. Seguindo a lógica do crime, um outro grupo de financiadores de criminosos deve substituir o que foi preso. Destruir esse sistema é o sonho de consumo dos policiais. A Operação Expansão foi uma pedrada bem dada nos “cabeções”.


Investigação durou dois anos

As investigações da 1ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (DIN) do Departamento Estadual do Narcotráfico (Denarc) apontaram que a quadrilha lavava o dinheiro do crime em uma rede de lojas administras por comparsas.

Conforme a polícia, o lucro resultante do tráfico e de assaltos era investido em revendas de carros no Vale do Sinos, padarias, confeitarias, cafeterias e lojas de roupas na Capital, Região Metropolitana e Vale do Taquari. Somente em um mês, com esse sistema, os traficantes teriam movimentado R$ 2 milhões.

De acordo com o delegado Mário Souza, da 1ª DIN do Denarc, a investigação começou após a prisão de um traficante em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana. A partir desta prisão, o esquema começou a ser mapeado pelos agentes.

Ao longo do monitoramento, a polícia conseguiu identificar pelo menos 11 líderes na quadrilha, sendo três responsáveis individualmente pelas armas, drogas e contabilidade, e outros oito chefes regionais do bando, que somente não atuava na Fronteira Oeste e região Norte.

Comando Vermelho e PCC auxiliavam grupo no Estado

Na ação, a polícia conseguiu prender criminosos suspeitos de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), criada a partir dos presídios de São Paulo, e com o Comando Vermelho (CV), que atua no Rio de Janeiro e controla o tráfico de drogas as favelas cariocas. Eles também teriam participado de ações como o assalto em Cotiporã, no final de 2012.

– Essa quadrilha mantinha contato com outras organizações criminosas, mas aparentemente não era auxiliada por elas – afirma o delegado Souza.

O próximo passo é identificar as contas bancárias do bando e todas as empresas utilizadas pela quadrilha para lavar dinheiro. Até o momento, já foram mapeadas seis contas, mas a polícia acredita que haja outras. Ao todo, a Operação Expansão, realizada na manhã de ontem em 16 municípios, resultou na prisão de 56 pessoas ao longo de dois anos. Sessenta quilos de maconha, 5,5 quilos de crack e 2,5 quilos de cocaína, além de espingarda, pistola 9 milímetros, munição, dinheiro e carros foram apreendidos.

Pouco antes da operação ter iniciado, os policiais realizaram um minuto de silêncio em homenagem a dois colegas mortos recentemente: Carlos Heitor Bossler, 58 anos, assassinado ao reagir a um assalto no bairro Santo Antônio, e Marcos Kaefer, 43 anos, morto após ser atingido, em frente a um hospital, por um tiro disparado por um PM em Alvorada.


sábado, 7 de dezembro de 2013

O BRASIL, UMA NARCOCRACIA

 PORTAL BRASIL 247 - 30 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 06:10
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/122488/O-Brasil-uma-narcocracia.htm


CHIQUI AVALOS

Os brasileiros vão descobrir que não são diferentes da Colômbia, do Paraguai, da Argentina, do Peru, do Panamá. Quem sabe, o Brasil seja até pior, bem pior, com uma narcocracia reinante na política, na economia, na imprensa. Silenciosamente reinante

A história da América Latina, lamentavelmente, se confunde com a do narcotráfico. Rios de dinheiro irrigaram (e irrigam) campanhas eleitorais, corrompem governos, compram a imprensa e desgraçam a sociedade dando vazão as suas piores facetas e práticas.

Na velha e sofrida Bolívia os produtores e traficantes foram tão longe que financiaram um sangrento golpe de estado, mataram dezenas de lideranças políticas, sindicais e populares e – incrivelmente – entronizaram um bandido fardado, o coronel Alberto Natush Bush, como primeiro mandatário do país. O célebre "narco-presidente", um homem estúpido e militar caricato conhecido por sua declarada admiração a Hitler, passou rápido pelo Palácio Quemado: foram 16 breves e tormentosos dias em que os chefões do tráfico e da produção de cocaína manejaram um país só para eles. Natush terminou defenestrado e preso. Mal poderia imaginar que quase três décadas depois um indígena ocuparia o mesmo lugar e defenderia o plantio das folhas de coca – matéria básica do fabrico da cocaína – como sendo uma "questão cultural". Evo Morales chega a dizer que a Coca-Cola produzida pelos americanos é tão nociva quanto a coca plantada e colhida por seus compatriotas.

No Peru de Fujimori, seu homem-forte fez uma ponte segura com o narcotráfico. Em seu bunker no comando do exército, o coronel Vlademiro Montesinos protegeu um dos maiores narcotraficantes de que se tem notícia, Demetrio Chávez Peñaherrera, o famosíssimo "Vaticano", nos tempos em que exerceu o poder numa espécie de co-presidência. "Vaticano" inundou o mercado norte-americano com milhares de toneladas de cocaína de alta pureza, transportando-as com a cobertura das próprias forças armadas peruanas e dos organismos policiais que tinham a função de reprimir os traficantes. Boa parte das dezenas de jornais que brotaram como cogumelos nos anos da ditadura fujimorista, caluniando impiedosamente os inimigos do regime em manchetes amorais, eram pagos com maços de dólares entregues por Montesinos e vindos do tráfico internacional de drogas. Vídeos que provocaram a queda do então presidente, mostravam a desenvoltura de jornalistas, deputados, empresários e artistas que iam receber – pessoal e alegremente – a mesada paga pelo apoio recebido. Hoje são escassos os metros que separam as duas celas, de insuportável calor e de concreto-armado, ocupadas no inexpugnável complexo penitenciário de Callao pelo ambicioso Montesinos e seu sócio, o frio e deplorável Alberto Fujimori, o "Chino".

Um cunhada de Carlos Menem, sua poderosa secretaria pessoal na Casa Rosada durante os anos áureos do poder e queridinha da irmã e então primeira-dama Zulema Yoma, envolveu-se com o tráfico internacional. Amira Yoma, arrogante e certa da impunidade, nomeou o marido para a chefia da fiscalização da aduana do aeroporto de Ezeiza, o mais importante da Argentina. E assim, o sírio Ibrahim Al Ibrahim, que não falava uma única palavra de espanhol, garantiu a passagem de centenas ou milhares de malas contendo dólares, armas, jóias e – principalmente – cocaína. A prisão preventina de Amira, decretada por uma desavisada juíza portenha, durou pouco; o maridão voltou para Damasco numa fuga organizada pelo próprio governo Menem e, pouco tempo depois, apesar da estrondosa repercussão do "Narcogate" (um dos maiores escândalos das centenas que espoucaram na década do mafioso neo-liberal), Amira estava de volta aos círculos mais íntimos do poder, com a mesma arrogância e a mesma força de antes.

Um dos estratagemas do governo menemista para abafar o escândalo, foi uma calculada operação policial contra Diego Maradona, que cheirava cocaína com amigos em um apartamento. Ironia das ironias, o craque havia sido um gratuito e entusiasmado cabo-eleitoral do gatuno peronista. Anos depois, os filhos do brigadeiro chefe da Casa Militar do mesmo Carlos Saul Menem, foram detidos no aeroporto de Barajas, em Madri, com mais de uma tonelada de cocaína escondida na estrutura de um jatinho particular, pilotado por um deles. Menem nada pode fazer para ajudá-los, já que recolhido em prisão domiciliar em sua La Rioja, uma das províncias mais pobres e calorentas do pobre e calorento norte argentino.

Dino Bouterse, filho do ditador Desi Bouterse, do Suriname, foi preso em agosto passado pelas autoridades do Panamá. Acusação: chefia de uma quadrilha internacional de traficantes de drogas. Dois dias depois, um juiz de Manhattan pedia sua extradição para os EUA, prontamente concedida. Dino, um sujeito arrogante de apenas 40 anos, amante de Ferraris potentes e lindas mulheres, já havia sido condenado a oito anos de prisão no próprio Suriname em 2005, por liderar uma gang de tráfico de armas e drogas, mesmo com papai sendo o ditador. Saiu da cadeia em 2008 por bom comportamento, e logo depois, o atlético e vaidoso jovem foi nomeado pelo generoso genitor para a chefia de uma poderosa e violenta Unidade Antiterrorista. Herança genética: nos anos 80 o presidente brasileiro João Figueiredo, a pedido dos EUA, enviara o general Danilo Venturini, seu homem de confiança, para enquadrar Bouterse pela conhecida operação de laboratórios de refino de cocaína nas selvas surinamesas em conjunto com os cartéis colombianos. Não obteve nenhum sucesso, pois não? Hoje, como naqueles já distantes anos, Bouterse manda no Suriname. Nada indica que continue aliado aos traficantes, mas seu filho está numa jaula na Ilha de Manhattan e é muito provável que de lá não saia jamais. C'est la vie...

Na rica Colômbia, terra de grandes valores culturais, de abundantes riquezas naturais e de uma sólida democracia, nada disso conseguiu superar a má fama alcançada pela verdadeira simbiose que existiu entre o país e a cocaína. Os cartéis de bandidos das ricas cidades de Medellín e de Cali reinaram por décadas, incrustrados no tecido social, financiando presidentes, governadores, senadores, deputados, prefeitos, artistas, clubes esportivos, equipes de futebol, sindicatos de trabalhadores, chefes militares, policiais, igrejas, rainhas da beleza, grêmios estudantis, toureiros... Ufa! Pablo Escobar, do violento Cartel de Medellín, e os irmãos Rodriguez Orejuela, do sofisticado Cartel de Cali, enfim, financiaram a Colômbia inteira. Até que o governo começasse a deportá-los para os EUA (com cadeias perpétuas mais que certas), debaixo de pressão direta da Casa Branca através de duros embaixadores que constituíram autênticos governos paralelos na fria e cinzenta Bogotá, os marginais da droga mandavam e desmandavam numa Colômbia intranquila, amedrontada e banhada em sangue. Um senador, Alberto Santofimio, era conselheiro oficial de Escobar. E um presidente democraticamente eleito, Ernesto Samper, foi vitorioso numa dura disputa em segundo turno por conta de um avião cheio de caixas de dinheiro que lhe enviaram os de Cali, no famoso "vuelo de la plata" que quase lhe causou um impeachment através do rumoroso "Processo 8.000". Foi preciso um homem duro e sem medo, o antipático e competente Alvaro Uribe, para (e apenas em meados da década passada) acabar definitivamente com os grandes cartéis e, de quebra, cortar a cabeça da guerrilha das FARC. Os sanguinários bandoleiros foram caçados como ratos, embrenhando-se na selva da Amazônia equatoriana e na rica fronteira nos Andes venezuelanos. Descobriu-se após um bombardeio ao acampamento das FARC no Equador, com a captura do laptop de um dos chefões mortos, estreitos laços com o regime bolivariano do falecido Hugo Chávez e comunicação direta com próceres do governo de Rafael Correa. Os cartéis financiavam o terrorismo, que era protegido pelos presidentes da Venezuela e do Equador. Que tal?

Nos anos 80 os barões da droga colombiana operavam fortemente com o regime sandinista. Aviões saiam do interior da Colômbia e faziam escala na Nicarágua, onde o próprio Pablo Escobar supervisionava o transbordo das cargas de toneladas de coca com destino ao mercado norte-americano. Tudo documentado em fotos pela DEA, o organismo anti-drogas dos EUA. E dentro de bases da Força Aérea sandinista!

Os barões da droga colombiana teriam celebrado um pacto comercial com o regime dos irmãos Castro, na mesma época, e a ilha de Cuba passou a ser um porta-aviões dos cartéis. Toneladas de pó passaram por aeroportos secundários, em Varadero, Santiago de Cuba e Piñar del Rio. No amanhecer de 13 de julho de 1989, o corpo de Arnaldo Ochoa, o mais condecorado dos generais de Fidel, caiu crivado por balas diante de um pelotão de fuzilamento. Herói da campanha em Angola, Ochoa foi eliminado pela nomenclatura cubana sob a acusação de tráfico de drogas. Para a DEA foi uma maneira de Fidel eliminar um aliado popular e respeitado que poderia lhe trazer problemas num futuro não muito distante, disputando sua sucessão com seu irmão Raul Castro, um homem despojado do carisma que transbordava em Ochoa. E, sobretudo, a queima de um arquivo importantíssimo: o general teria, realmente, participado das operações dos traficantes, mas como representante da ditadura, organizando embarques e desembarques como uma "missão militar". Ao matá-lo o eterno ditador sinalizou ao mundo exatamente o contrário da realidade.

Meu Paraguai não fica longe ou fora de tão tristes realidades. Na tríplice fronteira, entre nossa Ciudad de Leste, Foz do Iguaçu e a cidade argentina de Iguazú, existiria um mundo paralelo, bilionário e perigoso, com bases dos terroristas árabes e de narcotraficantes internacionais. Só as autoridades dos três países parecem não saber ou acreditar nessa dura realidade. Até as águas que rolam na bela cachoeira estão cansadas de saber que aquela é uma das esquinas mais perigosas do mundo do crime.

Poucos dias depois da posse do industrial, banqueiro e dirigente esportivo Horácio Cartes na presidência da República, em agosto passado, o Paraguai foi sacudido com uma informação até então guardada debaixo de sete chaves: o tio do novo ocupante do Palácio de Lopez, eleito numa campanha milionária e bem-sucedida, foi preso no Uruguai pilotando um pequeno avião. A carga de mais de 400 kg de maconha foi descoberta quando caças da Força Aérea o obrigaram a pousar numa base próxima à Montevideo. Juan Domingo Viveros Cartes já havia cumprido pena como traficante, só que transportando grandes partidas de cocaína. Sua história se confunde com a do general Andrés Rodriguez, comandante do exército durante a ditadura de Alfredo Stroessner. Viveros Cartes foi o fiel piloto particular de Rodriguez, que viria a ser presidente ao derrubar Strossner. Só como presidente do Paraguay e aceitando aderir às duras políticas anti-droga da DEA, o general teve um visto para entrar nos EUA: os ianques o apontaram durante toda a vida como o cabeça do narcotráfico naquele velho Paraguay, onde Stroessner dividia os setores da economia entre sua camarilha para poder reinar. A droga ficou estabelecida como um mercado exclusivo do general Andrés Rodriguez.

Escrevi um livro sobre o atual presidente paraguaio Horácio Cartes. Sem uma única acusação, apenas recordando fatos acontecidos, republicando documentos propositadamente esquecidos, jogando luz sobre a obscuridade de informações mal divulgadas ou cometendo a temeridade de dizer em voz alta o que todos os que fingem desconhecer a realidade, porém, comentam em voz baixa, recolhidos ao medo ou a covardia pura e simples. "La Otra Cara de HC" foi um dos livros mais vendidos na história do Paraguai. Poucas livrarias tiveram a audácia de expô-lo em suas vitrines e estantes. As que o fizeram ganharam um bom dinheiro com as filas que se formaram para comprar os exemplares disputados por cidadãs e cidadãos que, impedidos de derrotar Cartes tanto pelo poder do seu dinheiro quanto pela máquina azeitada do secular Partido Colorado, buscaram conhecer o que viria pela frente...

O delegado Romeu Tuma, o velho e saudoso amigo a quem dedico meu livro, ajudou-me em seus tempos de diretor da Polícia Federal brasileira a desvendar os mistérios que cercavam (e ainda cercam) o atual presidente Horácio Cartes e seu envolvimento com a lavagem de dinheiro através de sua casa de câmbio, a Amambay, hoje transformada em um poderoso banco comercial. Percorri os caminhos que me levaram a esclarecer os laços que o uniram a personagens inequivocamente relacionados ao submundo do contrabando e da lavagem de dinheiro dos traficantes. Relacionar o atual presidente diretamente ao narcotráfico não o fiz, mas desvendei os mistérios que o cercam e as personagens que, essas sim, deveriam estar atrás das grades. O respeitado presidente uruguaio Pepe Mujica, conhecido pela sinceridade desconcertante, chegou a disparou durante a campanha eleitoral uma frase reveladora: "O Partido Colorado é um narcopartido".

Agora o Brasil se vê às voltas com um escândalo de dimensões internacionais: um helicóptero de propriedade de uma empresa, cujo dono é um deputado filho de um senador, comandado pelo piloto que é funcionário do gabinete do deputado e abastecido com combustível pago por verbas oficiais do filho deputado e do pai senador, foi surpreendido pela polícia numa fazenda de propriedade do senador pai e do filho deputado, descarregando quase meia tonelada de cocaína. E a grande mídia brasileira, num silêncio gritante, sequer noticia com destaque o claro envolvimento de ambos – direta ou indiretamente, pouco importa! – com o tráfico de cocaína. O culpado será o mordomo aéreo? Claro que não.

Se em todos os países citados – e mais alguns outros, como no caso do prefeito de Toronto, surpreendido usando crack, ou o ex-prefeito negro de Washington, filmado cheirando com uma prostituta em uma suíte de hotel cinco estrelas – há o envolvimento de políticos, viciados ou traficantes, por qual razão no Brasil seria diferente? Os principais suspeitos, com claros e veementes indícios de envolvimento direto, são o papai senador e seu filhote deputado. E mais suspeita é a imprensa que se cala, não investiga, tergiversa e mente.

No Brasil de 1989 falava-se em voz baixa de uma provável ligação do então candidato presidencial Fernando Collor com as drogas. Ele seria um usuário. Ninguém o confrontou ou, ao menos, pediu-lhe esclarecimentos. Fez um governo controverso, comportou-se como um louco, caiu debaixo de um escândalo de grandes proporções depois de denúncias (comprovadas, aliás) feitas pelo próprio irmão. E foi Pedro Collor quem disse o que o Brasil não teve coragem de lhe perguntar, chegando ao detalhe sórdido: o irmão presidente usaria supositórios de cocaína. Quem quiser usá-los que os use, mas não pode ser presidente, ok? Todo e qualquer político sob o qual pairar a suspeita de ser usuário e adicto de drogas, está impedido de ser presidente de seu país. Alguém ouviu falar que Mandela, Roosevelt, Getúlio ou Perón cafungavam carreiras?

Já se passou muito tempo e ninguém mais se lembra de que Rondônia é ou foi uma narco-província, onde o falecido senador Olavo Pires foi executado por pistoleiros profissionais, com o corpo partido ao meio por tiros de submetralhadora, num aparente acerto de contas dos cartéis colombianos com alguém que, ao que tudo indica, lavava dinheiro do tráfico internacional em empresas de sua propriedade. Sua fortuna (aviões, fazendas, revendas de automóveis e máquinas pesadas) brotou de um dia para o outro e todos acharam muito normal isso, inclusive dando ao pilantra um mandato no Senado da República.

O mais competente senador paraguaio, o colorado Kalé Galaverna, político corajoso que rompeu com Stroessner quando o ditador ainda era o dono de nosso país, subiu à tribuna do senado e acusou o falecido general Lino Oviedo de ser ligado ao narcotráfico. De quebra, envolveu o então governador do Paraná Roberto Requião, amigo pessoal de Oviedo e que seria seu sócio nas atividades ilícitas. O general, tão belicoso quanto Galaverna, não respondeu e fingiu não ser com ele. Requião, idem. Todo e qualquer homem público acusado de ligação com o tráfico ou de usuário de drogas tem o dever de esclarecer a situação e processar os acusadores. O silêncio é, em tese, uma confissão de culpa.

Há no interior do Brasil (como da Argentina e do Paraguai) uma infinidade de novos ricos, de potentados donos das cidades onde vivem, com carrões luxuosos, grandes fazendas e empresas prósperas, aviões e helicópteros (sempre, sempre!), e ninguém lhes pergunta a origem de fortunas tão grandes e constituídas tão rapidamente. Ao contrário, são festejados. Pois vieram do pó e ao pó sempre voltarão. Só as autoridades, o governo, a imprensa e a sociedade não sabem, ou fingem não saber.

A queda do narco-helicóptero em mãos das autoridades policiais, a descoberta de meia tonelada de pó, a estranha situação funcional do piloto da família, a origem nebulosa da imensa fortuna do senador Perella (dirigente mafioso de um time de futebol, o Cruzeiro), o combustível pago com dinheiro público, o silêncio indecente da grande mídia brasileira, tudo isso, tudo, tudo mesmo, é apenas a confirmação de que o caso precisa ser investigado, e bem investigado. Aí, então, os brasileiros vão descobrir que não são diferentes da Colômbia, do Paraguai, da Argentina, do Peru, do Panamá. Quem sabe, o Brasil seja até pior, bem pior, com uma narcocracia reinante na política, na economia, na imprensa. Silenciosamente reinante.

(*) Chiqui Avalos é jornalista e escritor paraguaio, correspondente do Brasil247 no Mercosul.

CHEFE DE QUADRILHA, FUGITIVO E 20 ASSASSINATOS


Preso homem acusado de 20 assassinatos. Suspeito chefiava quadrilha e mandava matar de dentro do presídio, em Trindade

CEJANE PUPULIN
Em 11/01/2013, 16:43



Marcone, Tatiane, Paulo, Nilson, Fernando, Odair, Claiton e Ricardo. Esses são alguns nomes de pessoas mortas por uma quadrilha que atuava em Trindade. O suspeito pelos assassinatos é Romerson Jorge da Silva, de 29 anos, que também pode ser o mandante de alguns crimes. A polícia soma na ficha do suspeito mais de 20 homicídios desde 2010.

Romerson chegou a ser preso em 2011, mas fugiu da Casa de Prisão Provisória (CPP) em agosto de 2012. Mesmo no sistema prisional, ele encomendava mortes. Em 2011, Romerson foi detido com dez quilos de pasta base.

Ele e outras cinco pessoas foram detidos na manhã desta sexta-feira (11) pela Operação Gaia, deflagrada pela Polícia Civil de Trindade em parceria com as delegacias especializadas de Goiânia. Outros cinco suspeitos eram procurados na manhã de hoje pela polícia. Também foram cumpridos 12 mandatos de busca e apreensão.

Segundo a delegada de Trindade, Sabrina Leles de Lima Miranda, inicialmente as mortes foram causadas pelo tráfico de drogas, mas com o tempo os homicídios começaram a acontecer sem motivo aparente ou por uma simples desavença. “A quadrilha começou a se sentir forte e por qualquer futilidade matava”, explica a delegada.

Banalidade

Os últimos quatro homicídios aconteceram no fim do mês de dezembro do ano passado. No dia 27, Bruno Siqueira da Silva e Winder Nascimento Arrais foram as penúltimas vítimas da quadrilha. Segundo a delegada, Bruno foi assassinado porque começou a ter um relacionamento com uma mulher que se envolveu no passado com Romerson.

Dois dias depois, Debe Rodrigues Calixto e Maurílio Rodrigues de Lima foram mortos em via pública porque afirmaram que não aceitariam a morte de alguns amigos. Nesse dia, outras duas pessoas também foram alvejadas, mas resistiram aos ferimentos.

A quadrilha é dividida em duas ramificações. E em ambas Romerson era o mandante. Uma parte do bando, identificado como Trindade Centro, era sub-chefiada por Raphael Valério Laureano. O suspeito foi detido hoje no setor Bueno, em Goiânia. Na rede social Facebook, Raphael expõem o poder da quadrilha. Ele postou fotos com armas e muitas notas de R$ 100.

Desse braço da quadrilha ainda são procurados pela polícia Victor Hugo Xavier de Souza Pereira e Carlos Adriano Souza Costa.

Outra parte do bando, chamado de Trindade 2, é chefiado por Júlio Flávio Moreira da Silva, mais conhecido como “Fá”, que está foragido. Dessa vertente também está foragido Fabrício Moreira da Silva, o “Bricó” – que é irmão de Júlio - e Wanderson o “Bafo”.

O modo de ação da quadrilha era sempre o mesmo. Em uma motocicleta com duas pessoas de capacete, o garupa atirava contra a vítima.

Prisões

Durante execução da operação Gaia, na manhã de hoje, seis pessoas foram detidas. Ente eles, Romerson e Raphael. A dupla foi localizada no setor Bueno, em Goiânia. Em Trindade foi detido Júlio Cesar Moreira da Silva, o “Jubinha” – irmão de Júlio, além de Matheus da Silva Ferreira de Sousa, 18, Diogo Oliveira de Sousa e em flagrante por tentativa de homicídio dos policiais, Élcio Divino de Souza.

Na casa de Matheus, foram encontradas porções de crack, maconha e cocaína, 14 aparelhos celulares, seis relógios e R$ 831,30 em espécie. A polícia acredita que os objetos localizados são de roubo.

COCAÍNA PAGA COM CARTÃO

ZERO HORA 07 de dezembro de 2013 | N° 17637


PORTO ALEGRE - Polícia prende dono de restaurante


O Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc) prendeu em flagrante, na manhã de ontem, o dono de um restaurante próximo à rodoviária de Porto Alegre. Ele vendia cocaína para clientes e aceitava cartão de crédito como forma de pagamento.

Após três semanas de investigação, policiais que cumpriam o mandado de busca e apreensão entraram no estabelecimento, localizado na Rua Ernesto Alves, esquina com a Avenida Farrapos, no momento em que o homem de 41 anos entregava a droga para dois usuários – um havia efetuado a compra com cartão de crédito.

De acordo com o delegado Mario Souza, foram apreendidos canhotos de valores de R$ 60, máquinas de cartão de crédito de diversas bandeiras, material para embalar a droga, uma nota de cinco euros, R$ 700 em espécie e máquinas de jogo de azar.

Quase no fim de seu expediente, o dono do restaurante ainda tinha cerca de 30 gramas de cocaína, quantidade que renderia até 100 doses e sairia pelo valor de R$ 3 mil.

– O estabelecimento está localizado em uma região próxima a um shopping e a instituições de ensino. É um local frequentado por trabalhadores noturnos, não é um inferninho. Chama atenção para o fato de que o tráfico de cocaína se expandiu para restaurantes, que aceitam, inclusive, cartão de crédito – afirma o delegado.

O comerciante foi autuado por tráfico de drogas e exploração de jogos de azar e será encaminhado ao Presídio Central. Ele tem antecedentes criminais por jogos de azar, posse de drogas, receptação, porte ilegal de arma, ameaças e lesão corporal.


PORTO ALEGRE, FLAGRANTE. Apreensão de drogas na Capital

Um homem de 23 anos foi preso no começo da tarde de ontem quando entregava cocaína no bairro Jardim Carvalho, na Zona Leste.

No veículo em que o suspeito foi flagrado, policiais militares da Patrulhas Especiais, do BOE, encontraram pelo menos 4kg da droga e uma pequena quantidade de crack.

Drogas também foram apreendidas, e uma pessoa foi presa, em operação na zona norte de Porto Alegre e em Alvorada, na manhã de ontem.

A 22ª Delegacia de Polícia Civil da Capital apreendeu 80,2kg de maconha e 1,7kg de crack em duas casas, uma no bairro Rubem Berta, na Capital, e outra na Vila Americana, em Alvorada.





quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

NOVA FACÇÃO MAIS VIOLENTA SE ORGANIZA EM PRESÍDIOS DE SP


FOLHA.COM 05/12/2013 - 03h15

JOSMAR JOZINO
DO "AGORA"



Uma nova facção criminosa tem atuado nos presídios de São Paulo sob a marca de ações violentas, como a decapitação de inimigos.

A organização chamada de Cerol Fino já foi responsável pela morte de pelo menos sete detentos neste ano em penitenciárias paulistas.

O nome do grupo, segundo agentes penitenciários, é uma alusão às linhas de pipa feitas com cola de madeira e caco de vidro moído, que cortam como navalha.

O preso Anderson de Castro Moraes Borges, 28, da Penitenciária de Andradina (627 km de SP), foi a última vítima da facção criminosa.

Borges dividia uma cela com outros dois detentos no setor disciplinar. Ele foi decapitado no último dia 28. O coração foi arrancado. A barriga foi cortada e a cabeça, colocada dentro dela.

Os dois presos acusados pelo crime foram transferidos para a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (611 km de SP). O presídio abriga, em setores separados, integrantes de diversas facções que cometeram falta grave no sistema prisional. Ao menos 50 deles são do Cerol Fino.

Segundo agentes penitenciários, detentos da facção também já mataram neste ano dois rivais na Penitenciária 1 de Itirapina (212 km de SP), um na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, dois na Penitenciária de Presidente Prudente (558 km de SP) e um em Sorocaba (99 km de SP).

INQUÉRITO

A Secretaria da Administração Penitenciária não comentou a existência da facção, mas informou que abriu procedimento disciplinar para apurar a morte do preso e que foi instaurado inquérito.

Segundo a pasta, também será solicitada a internação em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) dos presos envolvidos na morte de Borges.

A pasta informou ainda que os presos já estão cumprindo sanção disciplinar.


JORNAL O SÃO GONÇALO, Redação 21/5/2012 10:16:35


'Cerol fino' leva oito em São Gonçalo


Parece ‘trabalho’ da ‘Besta’, do ‘Capeta’, ‘Belzebu’, ‘Coisa Ruim’ ou coisa parecida. Mas foram ações de bandidos de carne e osso mesmo. Uma série de oito assassinatos em sete bairros aterrorizou São Gonçalo neste final de semana. O ‘cerol’ passou ‘fino’ no Barro Vermelho, Colubandê, Venda da Cruz, Laranjal, Neves, Bairro Almerinda e Jardim Catarina. Nos sete casos nenhum criminoso foi identificado e preso pela polícia.

Somente na madrugada de sábado, a polícia registrou três homicídios em apenas três horas no município. Os crimes confirmam os dados do Instituto de Segurança pública (ISP) que mostram que, nos quatro primeiros meses deste ano, o número de homicídios dolosos - ou intencionais - na cidade, aumentou 7,62%, somando uma média de 1,8 pessoas assassinadas a cada dois dias no município.

Às 4h de ontem, alertada por uma denúncia anônima, uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) encontrou corpos de dois homens no interior de um Fiesta vermelho, placa KOY-0704, na Rodovia Niterói-Manilha (BR-101), Km 319, em Neves. Segundo a polícia, um dos rapazes é Rogério Miranda da Silva Júnior, 17 anos, que estava no banco de trás do carro vestindo bermuda e uma meia branca. Ele tinha marca de tiro no tórax. O outro jovem foi encontrado na mala do veículo, trajando apenas bermuda e com ferimentos na cabeça.

Os corpos foram removidos para o Instituto Médico legal (IML) de Tribobó, no início da manhã. A investigação sobre os homicídios será feita por policiais da 73ª DP (Neves), responsáveis pelo registro do caso.

Laranjal - Às 20h de ontem, o corpo de um homem, aparentando ter entre 25 a 30 anos, foi encontrado jogado numa rua deserta, no Laranjal, por moradores que ouviram os tiros e, em seguida, acioram policiais do 7º BPM (São Gonçalo). A vítima, que foi executada de joelhos e baleada na nuca, não era conhecida no local. O caso está sendo investigado pela 74ª DP (Alcântara).

Almerinda - Alfredo Fernandes de Melo, 30, morador do Bairro Almerinda, foi morto com tiros na cabeça e no tórax, na Estrada do Anaia, por volta das 16h30 de ontem. Segundo testemunhas, um Monza com três pessoas parou e chamou a vítima pelo nome, efetuando os disparos em seguida. Segundo familiares, Alfredo tinha quatro filhos e sua mulher estava grávida. O caso foi registrado na 75ª DP (Rio do Ouro).

Jardim Catarina - Policiais do 7º BPM (São Gonçalo) encontraram o corpo de um homem não identificado, na tarde de sábado, no Jardim Catarina, em São Gonçalo. Ainda não há informações sobre a causa da morte.

O cadáver apresentava sinais de decomposição e nenhum documento foi encontrado. O corpo foi localizado por uma moradora dentro de um terreno usado para o abastecimento de carros-pipa. Uma equipe do Corpo de Bombeiros recolheu o corpo para o Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó.

Execuções - Às 2h30 de sábado, o ajudante de pedreiro André Luiz Abad dos Santos, 41 anos, foi morto em frente a um bar na Rua Sá Pinto, no Morro do Martins. em Venda da Cruz. Às 4h, no Morro da Cruz, no Barro Vermelho, um corpo foi carbonizado no porta malas de um carro Agile, estacionado na Rua Egberto Magalhães. O sexo da vítima não foi identificado.

Às 5h30, o corpo de Antônio José de Souza, 72 anos, foi encontrado boiando dentro do Rio Colubandê, que corta a Estrada do Anaia, na localidade conhecida como Balanção. Todos os corpos foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, onde aguardam a liberação de parentes. Os casos serão investigados pela 73ª DP (Neves) e 74ª DP (Alcântara).

Nova Cidade - Um homem de 27 anos, foi ferido por tiros de metralhadora, na noite de sexta-feira, quando conversava com amigos na Travessa Alexandre Cruz, em um dos acessos à comunidade da Chumbada, em Nova Cidade, São Gonçalo. Após ser atingido, ele foi socorrido e levado ao Pronto Socorro de São Gonçalo. De acordo com testemunhas, quatro homens armados, um deles com metralhadora, passaram atirando pela travessa. No momento do ataque, houve correria e pânico. A vítima não conseguiu fugir a tempo e acabou atingida. O caso será investigado pela 72ª DP (Mutuá).

POLÍCIA INVESTIGA FINANÇAS PESSOAIS DO TRÁFICO

ZERO HORA 05 de dezembro de 2013 | N° 17635

CLÉVER MOREIRA E RÓGER RUFFATO | CAXIAS DO SUL

PRISÃO POR TRÁFICO. PF investiga as finanças pessoais de empresário


A Polícia Federal (PF) definiu os próximos passos da investigação que resultou na prisão preventiva do empresário de Bento Gonçalves Loreno Scarton, 73 anos, suspeito de importar drogas do traficante Aristides Ayala Elizeche, 42 anos, do Paraguai para a Serra. Com base em documentos apreendidos na casa de Scarton, agentes analisarão se há ligação entre o esquema de narcotráfico internacional, desarticulado na terça-feira, com o capital pessoal do suspeito.

Conforme o titular da PF em Caxias do Sul, delegado Noerci da Silva Melo, há quatro empresas registradas em nome do empresário, e elas serão alvo.

– Teríamos 30 dias para concluir o inquérito, mas, diante do volume de material, prorrogaremos por mais 30. Esses documentos apreendidos servirão para embasar ainda mais a relação do empresário com o traficante paraguaio, além de nos apontar alguma irregularidade com ganhos pessoais, caso haja – explica Noerci.

Uma das empresas a serem investigadas é a Gescal, do ramo moveleiro. De acordo com o que foi apurado, Scarton aproveitaria a importação de resíduos plásticos recicláveis utilizados como matéria-prima para levar à Serra cocaína e maconha em fundos falsos de caminhões. Ainda de acordo com o delegado, papéis em que constam o nome de Elizeche, já foram identificados entre o material recolhido. A PF conta também com documentos encontrados na residência dos irmãos Darci, 47anos, e Auri Fleck, 37 anos, que seriam distribuidores de drogas de Scarton na região.

Na operação, agentes apreenderam dinamite

Com a conclusão do inquérito, o empresário deve ser indiciado por tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico. Além desses crimes, os irmãos presos ainda devem responder por posse de explosivos. Na operação de terça-feira, os agentes apreenderam dinamites que seriam da dupla. Outras 10 pessoas também foram detidas preventivamente na Serra por associação para o tráfico.

Desenvolvida pela Delegacia da PF de Caxias, a Operação Antares cumpriu uma série de mandados de prisão e de busca e apreensão em Bento Gonçalves e em outros municípios gaúchos. De acordo com o delegado, o empresário de Bento e o traficante paraguaio tinham amizade por interesses comerciais ligados ao narcotráfico.




ARMAMENTO PESADO
Polícia apreende fuzis e munição de quadrilha


A Polícia Civil apresentou, ontem, armas e munições que foram apreendidas em operação realizada em Sapiranga, no Vale do Sinos. Na segunda-feira, policiais foram a uma casa no bairro Vila Nova, onde apreenderam dois fuzis, duas carabinas e mais de 1,5 mil projéteis de diversos calibres.

No local, foram presas em flagrante duas irmãs, posteriormente soltas. A maior parte da munição era de calibre 9mm, mas também foi apreendida de 7mm e calibre 12, .30 e 556.

A operação foi realizada em conjunto com o setor de Inteligência da Brigada Militar.

Segundo o titular da Delegacia de Roubos, delegado Joel Wagner, a residência estava sendo monitorada havia pelo menos dois meses, e a quadrilha detentora do material pode ser responsável por ataques, ou até o aluguel do armamento para outros bandos.

– O armamento provavelmente seria usado em ataques a carros fortes ou agências bancárias. Com esse armamento, dá para fazer uma guerra – afirma.

Wagner acredita também que as armas podem ter sido roubadas de um colecionador, de Igrejinha, em uma ação no início do ano.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

EMPRESÁRIO SERIA O ELO COM TRÁFICO


ZERO HORA 04 de dezembro de 2013 | N° 17634

RÓGER RUFFATO

SERRA NA ROTA

Operação da Polícia Federal prendeu ontem, em Bento Gonçalves, homem de 73 anos suspeito de integrar uma quadrilha internacional


Um empresário de 73 anos, preso ontem, em Bento Gonçalves, seria o principal elo da Serra com o tráfico internacional de entorpecentes. A suposta ligação entre o empresário e o narcotraficante Aristides Ayala Elizeche, 42 anos, sediado em Ciudad del Este, no Paraguai, era investigada há cerca de sete meses pela Polícia Federal (PF). Conforme a investigação, o homem era responsável pela importação de maconha e cocaína vindas do país vizinho e também atuava como uma espécie de avalista, ao determinar quem poderia revender a droga na Serra.

– O homem tem uma empresa de móveis e aproveitava a importação de resíduos plásticos recicláveis, que utilizava como matéria-prima, para trazer a droga em fundos falsos de caminhões. A influência dele era tanta com o traficante, a ponto de determinar quem poderia ou não revender a droga na região – detalhou o delegado da PF em Caxias, Noerci da Silva Melo.

Durante as investigações, a PF juntou imagens do empresário em visita à casa do traficante em Ciudad del Este. Ayala é um narcotraficante foragido do sistema prisional brasileiro e procurado pela Interpol. Ele também foi preso pela polícia paraguaia na manhã de ontem.

Entre os traficantes encarregados de distribuir as drogas para outros municípios da Serra estavam dois irmãos, também de Bento Gonçalves, de 47 e 37 anos. Eles faziam parte de um seleto grupo de distribuidores escolhidos a dedo pelo conterrâneo, segundo a PF.

Na casa dos traficantes também foram apreendidos meio quilo de cocaína, uma grande quantidade de armas (não catalogadas até a tarde de ontem) e oito quilos de explosivos. O delegado não descarta a hipótese do artefato ter relação com os arrombamentos a caixas eletrônicos. Um Uno e duas caminhonetes também foram apreendidos.

O empresário e os distribuidores dos entorpecentes seriam encaminhados ainda ontem ao Presídio Estadual de Bento Gonçalves, onde permanecerão à disposição da Justiça. Durante toda investigação, foram apreendidos 600 quilos de cocaína e maconha supostamente relacionadas ao bando.

A Polícia Federal não revelou os nomes dos brasileiros presos.




Cartel é derrubado


Bento Gonçalves era um dos principais destinos de cocaína e maconha fornecidas por cartéis de traficantes paraguaios. A cidade serrana foi incluída em uma série de mandados de busca e apreensão e prisões envolvendo narcotráfico internacional cumpridos na manhã de ontem pela Polícia Federal (PF). As duas operações – a Antares, feita pela delegacia de Caxias do Sul, e a Monte Alegre, realizada pela delegacia de Itajaí (SC) – repercutiram ainda no Paraná e no Paraguai.

Na Serra gaúcha, foram cumpridos pelo menos 14 mandados de prisão e 18 de busca e apreensão. Além de Bento, a operação concentrou as buscas nos municípios de Santa Tereza, Muçum, Marau e Guaporé. Apenas uma prisão requerida pela PF de Caxias deixou de ser efetuada.

– A Serra é procurada pelos grandes traficantes por ter um mercado que consome muita cocaína. Além disso, o público é exigente e compra só se for de boa qualidade (sem adição de muitas substâncias) – contextualiza o delegado da Polícia Federal em Caxias, Noerci da Silva Melo.

Já em Santa Catarina, 12 pessoas foram presas.A polícia paraguaia também cumpriu mandados e estourou um laboratório para o refino de cocaína, chefiado por Ayala.


Conexão Interior


Oque os tratados do Mercosul e o esforço diplomático não tinham conseguido, as rajadas de balas das organizações criminosas brasileiras estabelecidas no Paraguai conseguiram: unir a Polícia Federal (PF) e a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad).

As operações deflagradas nesta terça-feira são um marco no trabalho conjunto das duas forças policiais. Os bandidos, de ambos os lados, há muito a transformaram em um território comum. Em decorrência disto, as quadrilhas simplesmente se mesclaram e passaram a agir nos dois países. O auge desta situação aconteceu em 2010. Na época, o senador paraguaio Roberto Acevedo foi metralhado em uma das ruas de Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. O senador sobreviveu ao atentado.

Na avenida que separa as duas cidades, os então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o paraguaio Fernando Lugo firmaram um acordo para combater o crime. Temiam uma união entre os bandidos do Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo de radicais que se misturaram a bandidos e protegem plantadores de maconha. Um dos presos foi gerado neste ambiente: Aristide Ayala Elizeche, que constava na lista de procurados pela Interpol (foto abaixo). Ele opera um sistema criminoso que inunda as pequenas e médias cidades do RS e de Santa Catarina com drogas, armas, munições e explosivos. É a chamada Conexão Interior.

CARLOS WAGNER

sábado, 30 de novembro de 2013

BARÃO DAS DROGAS DOMINA AS VIZINHANÇAS DO GALEÃO

REVISTA VEJA 30/11/2013 - 06:00

Crime. E tudo isso bem ao lado do Galeão

Quem dita as regras nas vizinhanças do aeroporto internacional do Rio é um barão das drogas que sustenta seu império com armamento pesado e corrupção policial

Leslie Leitão



PODEROSO CHEFÃO - Fernandinho Guarabu (de camisa listrada) e seu AK-47: "Igual ao do Bin Laden"

A Ilha do Governador já foi um bairro do Rio de Janeiro exaltado pela qualidade de vida. Sobre ele escreveram, com nostalgia, Vinicius de Moraes, que lá passou a infância nos anos 1920, e Rachel de Queiroz, que morou ali duas décadas depois. Uma ilhota bem ao lado sedia a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Outra, conhecida como Galeão, é a porta de entrada dos milhões de estrangeiros que chegam à cidade pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim. Pois nessa área, onde residem 211 000 pessoas e circulam acadêmicos, estudantes e turistas, ainda hoje um reduto da classe média, quem manda e desmanda é um barão das drogas: Fernando Gomes de Freitas, 35 anos, um dos traficantes mais poderosos e sanguinários do Rio e o que há mais tempo escapa por entre os dedos da polícia - no dia 1º de dezembro faz uma década que ele se estabeleceu no comando. Temido, temperamental, sempre cercado de seguranças, Fernandinho Guarabu, seu nome de guerra, controla o transporte, o gás, a TV a cabo, os bailes funk, a religião e, claro, a vida e a morte nos seus domínios.

O conjunto de favelas colado ao segundo aeroporto mais importante do país é uma fortaleza patrulhada dia e noite por um exército armado com mais de 200 fuzis, granadas, coletes e até armamento antiaéreo plantado nos becos. Drogas são vendidas abertamente nas ruelas. O QG de Fernandinho fica no Complexo do Dendê, por onde ele perambula com seus carrões, joias e roupas de grife, dormindo cada noite em um lugar (tem sete filhos com sete mulheres) e brandindo sua arma favorita, o fuzil AK-47 - "igual ao do Bin Laden", como gosta de enfatizar. Nessa década de impunidade, colecionou catorze mandados de prisão por oito homicídios, além de tráfico de drogas, armas e extorsão. Jamais foi detido. Ele garante a liberdade na ponta da calculadora, num exemplo contundente de como a corrupção policial pode ser decisiva para a manutenção de um reinado de horror: o chefão do Dendê paga cerca de 300  000 reais por mês em propinas.

IMPUNIDADE - Bandido vestido para a guerra, com granadas, colete à prova de bala e metralhadora antiaérea (à esq.), e venda de drogas no meio da rua: território livre para o crime


​VEJA ouviu mais de uma dezena de policiais com passagem pela Ilha do Governador e deles obteve ampla confirmação do propinoduto. "Lá no batalhão a gente brinca que o Dendê é o Citibank", diz um sargento com quase uma década de experiência na área. "Os preços variam de 450 a 550 reais por dia de serviço no meio de semana, e até 1 000 no fim de semana, que é pra deixar o baile em paz", conta um soldado. Uma das mais espantosas investigações ainda em curso sobre a quadrilha indica a participação no esquema até mesmo de uma equipe do Bope, a tropa de elite carioca. Sai caro: 12 500 reais por plantão. Outra parte do pagamento vem em forma de mimos e favores. Certa vez, ao descobrir que um PM não estava conseguindo bancar a festa de 15 anos da filha, o chefão pagou a conta. Em outra ocasião, mandou entregar picanha e linguiça para um churrasco no batalhão, e assim manteve os policiais longe das ruas em um dia de ação mais ostensiva do tráfico.

Nas hostes das forças da ordem, Fernandinho conheceu aquele que é hoje um de seus homens de confiança: um ex-policial militar apelidado de Batoré, que, ainda na ativa, foi flagrado vendendo pistolas no Dendê, em 2006. Batoré acabou preso e expulso da corporação; mal saiu da cadeia, ganhou emprego fixo na favela. Por 8 000 reais semanais, administra o que parece ser o mais lucrativo negócio de Fernandinho depois das drogas e armas: o transporte alternativo. "Ele ganha dinheiro de tudo o que é comercializado dentro da ilha: varejo, máquinas caça-níqueis, mototaxistas, água, gás. Mas nada rende tanto quanto as vans e kombis", diz um inspetor da delegacia da área. Batoré dita as regras e os valores dos pedágios. "Pelo menos 600 motoristas estão pagando hoje para eles", calcula o proprietário de uma van, que também desembolsa a "taxa". Os preços semanais da extorsão variam entre 250 e 330 reais, que no fim somam cerca de 800 000 mensais. Quem se recusa a colaborar é punido com ações que vão do incêndio do veículo a sessões de tortura no morro. O conteúdo de conversas grampeadas pela polícia, às quais VEJA teve acesso, não deixa pairar dúvida sobre o pendor da gangue pela selvageria - "virar sereia", no vocabulário local, significa ter o corpo despejado na vizinha Baía de Guanabara - e sua promíscua relação com os homens da lei ("Sou parceiro", resume um agente).



LEI PRÓPRIA - No Dendê, ninguém usa capacete, para facilitar a identificação, e as vans pagam taxa: ameaças expostas em grampos



Certa aura de glamour envolve esse barão das drogas, que patrocina bailes funk capazes de atrair da Zona Sul ao Dendê, além de policiais, artistas, filhos de conselheiros do Tribunal de Contas, jovens de classe média e, claro, jogadores de futebol. Diego Souza e Vagner Love são frequentadores, mas o grande amigo de Fernandinho é outro ex-jogador rubro-negro, o atacante Lê. No último dia 20, Lê organizou uma festa-surpresa para comemorar o aniversário do chefão. A polícia acompanhou os preparativos sem mover um dedo. "Não é só por causa de propina que ele não é preso. Tem também a estatística", diz um delegado da cúpula da Polícia Civil. A estatística, no caso, é o declínio dos crimes comuns na região por ordem expressa do traficante, que, além disso, pratica um rasgado assistencialismo: dá gás, remédio, cesta básica, paga enterro, tudo para ter apoio dos moradores que mantém sob mãos de ferro. Nas cercanias do Dendê, o chefão atropela até os códigos de trânsito; nenhum motociclista deve usar capacete, para que possa ser identificado.

Os poucos policiais que já tentaram detê-lo sucumbiram à sua demonstração de força. Em 2012, o cabo Fabrício de Paula, de 39 anos, comandava uma equipe que insistia em combater o tráfico no Dendê e pagou caro por isso: o carro que dirigia foi alvejado por mais de vinte tiros de fuzil. Ele sobreviveu, mas teve o braço direito quase decepado. Sua cabeça, dizem os colegas, valia àquela altura 150 000 reais. A quadrilha não mede esforços para silenciar os inimigos. Às 3h10 da madrugada do dia 20 de junho de 2011, dez homens armados entraram em um hospital municipal a poucos quilômetros do Dendê e, sem encontrar resistência, levaram um paciente que dera entrada horas antes, ferido a bala. Resgate de comparsa? Nada disso. O rapaz filmou para a polícia a movimentação na favela. Fernandinho descobriu, mandou matá-lo, mas ele escapou ao cerco e procurou o hospital. Foi retirado de lá para ser executado.



SOCIEDADE - O parceiro Gil, que também dá ordens no Morro do Dendê (à esq.): há dez anos que a polícia faz vista grossa aos desmandos do bando


​O tráfico começou a se entranhar no cotidiano dos moradores da Ilha do Governador nos anos 1990. As disputas de território aterrorizaram a região até que, em 2003, Fernandinho tomou a bala o controle do Complexo do Dendê junto com o comparsa Gilberto de Oliveira, o Gil (também solto). "Quem manda aqui não é Fernandinho e Gil. É Jesus! O dono da favela são vocês, moradores. A gente só administra", já disparou o próprio Fernandinho diante da plateia de um abarrotado baile funk (o vídeo está no YouTube). O barão da Ilha confia tanto na impunidade que, há quatro anos, deu entrevista à revista americana New Yorker sobre o tráfico no Rio. Posou, inclusive, para foto no sofá da sala, com "Jesus Cristo" tatuado no antebraço direito. Sem aderir a nenhuma denominação, afirma "ter sido tocado pela palavra de Deus". Fechou terreiros de candomblé e umbanda e instalou alto­falantes por todo o complexo que transmitem uma oração ao cair da noite. Apaziguados os anseios espirituais, ele se sente mais à vontade para continuar fazendo o que faz há dez anos: vender drogas e armas, corromper policiais, explorar e achacar moradores e eliminar desafetos, informantes ou qualquer um que não reze pela cartilha criminosa em vigor na principal porta de entrada do Rio de Janeiro.

Ordem para castigar um motorista de van que desafiou o bando

TRAFICANTE - Faz um favor? Senta a mão na cara dele pra mim? Senta a mão bem dada, no meio da cara, e manda ele vir resolver aqui. Ele vai puxar faca pra quem aqui?
COORDENADOR DAS VANS - Não manda que eu faço mesmo...

TRAFICANTE - Eu tô te dando uma ordem. Senta a mão no meio da cara, pra ficar os cinco dedos. Pra todo mundo saber o motivo do tapa. E fala pra ele: "Vai lá em cima agora falar com quem tu quiser".

​Policial convence um dos capangas
de Fernandinho a não destruir sua van

PM - Quem tá falando é o dono da van que tá rodando o Edinho (motorista), se ligou na parada?
TRAFICANTE - Porra, que pressão, hein?!

PM - Irmão, não é pressão, não. Negócio é todo mundo trabalhar... Eu sou aqui do 17 (batalhão da região) também. Tá bom, meu parceiro.
TRAFICANTE - (...) Ninguém vai fazer nada com a tua van, não. Mas, se acontecer alguma coisa com ele, eu não quero nem saber. (...)

PM - Tranquilo, irmão. Tu me conhece, eu te conheço. É só pra tu ficar ligado e todo mundo trabalhar.




OS ÚLTIMOS CHEFÕES DA MÁFIA ITALIANA



Perfil Frederico Vasconcelos é repórter especial da Folha


FOLHA.COM 30/11/13 - 10:45

POR FREDERICO VASCONCELOS




Na próxima segunda-feira (2/12), o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) promoverá, em São Paulo, o “Encontro Nacional sobre Políticas Criminais, Penitenciárias e Experiências Internacionais”. (*)

Na ocasião, haverá o lançamento do livro “Os últimos Chefões (Gli Ultimi Padrini) – Investigações sobre o governo da Cosa Nostra (Indagin sul governo di Cosa Nostra)”, de Alessandra Dino, titular da cadeira de Sociologia Jurídica da Universidade de Palermo.

A autora será uma das palestrantes do evento, em mesa presidida por Ivette Senise Ferreira, vice-presidente da OAB-SP.

O encontro é realizado em parceria com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo; Escola Superior do Ministério Público de São Paulo; Fundação Editora Unesp, Universidade Santa Cecília e Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Giovanni Falcone.

Lançamento da Editora Unesp, o livro tem prefácio do desembargador Wálter Fanganiello Maierovitch, assessor internacional da U.E. e colaborador da revista “Narco-Mafie“. Ruy Martins Altenfelder Silva, presidente do Conselho do CIEE, e Maierovitch farão pronunciamentos na abertura.

Serão debatedoras: Valéria Diez Scarance Fernandes, da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo e do Núcleo contra a violência às mulheres; Oriana White, professora da USP, e as jornalistas Maria Lins, do Portal Terra, e Maria Zupello, da Euronews e The Economist.


Eis a sinopse do livro, publicada pela Editora Unesp:

Alessandra Dino retrata, nesta obra, o perfil e o estilo de comando dos três líderes mais recentes da Cosa Nostra e deixa claro que, contrariamente ao que muitos pensam, a organização mafiosa italiana que remonta ao século 19 está bem ativa e cada vez mais internacionalizada. O Brasil, inclusive, continua sendo um de seus destinos.

A resiliência da Cosa Nostra passa pela capacidade de adaptação de suas lideranças a novos contextos. Bernardo Provenzano, por exemplo, conseguiu manter-se por 40 anos no comando (foi capturado em 2006), graças, em particular, à sua capacidade de aliar a inerente crueldade da organização ao diálogo com as várias correntes mafiosas e políticas da Itália.

O tom conciliatório veio depois que o antecessor de Provenzano, Salvatore Riina, promoveu, entre o fim dos anos 1980 e o começo da década seguinte, uma das piores ondas de violência jamais vivida na Itália contemporânea, desencadeando uma reação do Estado que resultou em sua prisão, em 1993.

Hoje a Cosa Nostra seria dirigida principalmente por Matteo Messina Denaro. Foragido da polícia há mais de dez anos, o atual chefão parece ter assimilado perfeitamente as oportunidades trazidas pela globalização econômica, em que são tênues os limites entre o lícito e o ilícito. Com a leniência do meio político e empresarial, ele “investe” em ramos variados, como o turismo, a construção civil e a distribuição de alimentos no mercado internacional. Ao mesmo tempo, trata de cuidar da imagem, ao que tudo indica com auxílio de um consultor, para passar a ideia de que por trás do capo há um simples ser humano, cheio de dúvidas e angústias.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

PCC NO RS

CORREIO DO POVO Q4/11/2013 13:26

Polícia identifica 61 pessoas ligadas ao PCC no RS

Vinte e seis foram presos nesta quinta na operação Pirâmide



Um plano da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) para se infiltrar cada vez mais nos presídios gaúchos, além de assumir o tráfico de drogas, foi desarticulado na operação Pirâmide da Polícia Civil. Houve a identificação de 61 integrantes da organização criminosa em atividade no Rio Grande do Sul, sendo que 26 deles receberam as ordens de prisão na manhã desta quinta-feira.

Desse total, 21 são apenados recolhidos em Ijuí, Uruguaiana, Carazinho, Passo Fundo, Santa Maria, Guaíba, Porto Alegre, São Luiz Gonzaga e Charqueadas, além de um em Petrolina, em Pernambuco, e outro em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Outros 14 criminosos foram detidos durante os 11 meses de investigação. Dois suspeitos permanecem foragidos.

A ação foi coordenada pelo delegado Emerson Wendt, do Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos (GIE) da Polícia Civil, e teve apoio da Susepe e da Brigada Militar. Mais de 690 policiais civis e militares, além de agentes penitenciários, foram mobilizados em 80 viaturas. Celulares, drogas, veículos e documentos foram apreendidos. Os mandados judiciais foram cumpridos também em Erechim, Alvorada e Torres.

Segundo o delegado, o objetivo da operação Pirâmide foi impedir mais uma vez a tentativa da organização criminosa em se instalar com força no RS, sobretudo no sistema carcerário a partir do recrutamento de detentos e ainda na montagem de uma rede de narcotráfico, cuja primeira meta seria abrir duas “lojas”, como são chamadas as bocas de fumo. “Eles estavam começando”, avaliou.

Ao longo das investigações mais de meia tonelada de drogas foram interceptadas no Rio Grande do Sul e até no Mato Grosso do Sul como se fossem apreensões de rotina para não despertar suspeitas. De acordo com o titular do GIE, o inquérito aberto soma cerca de 7 mil páginas. Mais de mil relatórios, com dados e informações, foram analisados nas investigações.

Fonte: Correio do Povo

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

VEREADOR SUSPEITO DE INTEGRAR MILICIA CARIOCA

FOLHA.COM 31/10/2013 - 10h02

Polícia prende ex-vereador suspeito de integrar milícia na Baixada Fluminense

DO RIO


O ex-vereador Jonas Gonçalves da Silva, conhecido como Jonas é Nós, foi preso na manhã desta quinta-feira com outros nove suspeitos de integrar uma milícia em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Por volta das 9h30, policiais civis ainda cumpriam mais 13 mandados de prisão preventiva na região.

A operação, batizada de Capa Preta 2, visa a desarticular um dos grupos de milicianos mais violentos do Estado, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio.

"Entre as práticas criminosas estão homicídios, inclusive o de testemunhas de inquérito policial; cobrança de taxas para serviços clandestinos de segurança; a imposição da compra de cestas básicas por valores acima do mercado; tráfico de armas de fogo; agiotagem; exploração da distribuição ilícita de sinal de TV a cabo e internet; exploração de jogos de azar; prestação de serviços de transporte coletivo alternativo clandestino (vans e moto-taxis); e a venda ilegal de botijões de gás", afirma a Secretaria de Segurança, em nota.

De acordo com as investigações, a quadrilha age pelo menos desde de 2007 em bairros do município de Duque de Caxias. A polícia ainda não informou se há PMs envolvidos nos crimes. A Folha não conseguiu contato com a defesa do ex-vereador.

Participam da ação desde cedo policiais civis da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), a coordenadoria de inteligência da Polícia Militar, a Corregedoria da PM, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e a Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança.

O nome da operação é uma referência à operação Capa Preta, realizada em 2010. Na ocasião, todas as testemunhas de acusação do processo criminal foram assassinadas, com exceção do delegado titular da Draco, Alexandre Capote.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

LIGAÇÃO COM O PCC

ZERO HORA 25 de outubro de 2013 | N° 17594

Presos 35 suspeitos em quatro Estados


O Ministério Público do Mato Grosso deflagrou a Operação Ad Sumus, que cumpriu 35 de 50 mandados de prisão expedidos ontem. Do montante de acusados por envolvimento com o PCC, cinco estavam em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rondônia.

A operação foi coordenada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), que apreendeu drogas e armas. De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público, 19 suspeitos já estavam presos. O grupo foi denunciado por associação ao tráfico de drogas e formação de quadrilha. Um dos integrantes responderá por homicídio.

Conforme o Gaeco, a denúncia é resultado de investigações feitas entre março de 2012 e junho deste ano. No período, algumas prisões foram efetuadas, como a de um dos líderes do PCC no Estado, João Batista Vieira dos Santos. Na ocasião, ele estava com mais de uma tonelada de maconha.

“Parte das atividades delituosas desembocaram suas nefastas consequências em outros Estados da Federação, sobretudo Rondônia e Mato Grosso do Sul”, diz um trecho da denúncia do MP.

Facção atua desde 1999 em prisões do Mato Grosso

O Gaeco afirma que a atuação do PCC em Mato Grosso começou em 1999, quando o atual líder Marcos Willian Camacho, o Marcola, permaneceu detido por cerca de seis meses na Penitenciária Central do Estado, após ter promovido roubo de aproximadamente R$ 6 milhões da agência matriz do Banco do Brasil em Cuiabá. No mesmo ano, em 5 de junho, Marcola e outros dois presos fugiram pela porta da frente do presídio.

Desde então, o grupo vem tentando se organizar e fortalecer a facção no Estado. Segundo a denúncia, “o PCC possui estatuto próprio e regras rígidas. Cada ‘irmão’ deve contribuir com o pagamento de uma taxa mensal, esteja ele preso ou em liberdade. O dinheiro arrecadado é usado para compra de armas e drogas, além de financiar a fuga ou resgate de integrantes da facção”.

Estima-se que existam mais de cem integrantes atuando no Mato Grosso. Alguns deles, mesmos presos, continuam praticando delitos. Para se tornar integrante do “sindicato do crime”, o candidato deve ser apresentado por um membro e ser “batizado”, tendo como padrinhos três “irmãos”.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ORDEM PARA MATAR POLICIAIS E ATÉ CRIANÇAS

REDE GLOBO FANTÁSTICO, Edição do dia 20/10/2013

Facção dá ordem para matar policiais e até crianças de dentro do presídio. Escutas inéditas mostram a crueldade da quadrilha que controla os presídios de São Paulo. As conversas são assustadoras.



Ordens para cometer atentados, para matar policiais e até crianças. É assim que age a quadrilha que comanda crimes de dentro das cadeias de São Paulo.

Domingo (13), o Fantástico mostrou a estrutura desse grupo. Novos detalhes da investigação do Ministério Público revelam a extrema violência desses bandidos.

A ordem para os bandidos que estão fora das cadeias é: “Aquele que vier a mexer com a nossa família terá sua família exterminada. Vida se paga com vida e sangue se paga com sangue”.

E para matar, roubar e vender drogas, eles têm um arsenal.

Gravação 1: Nóis têm é um monte de fuzil guardado.
Gravação 2: Nóis vai regaçar tudo, tio.

Uma violência que não conhece limites: "Falou que vai matar a família nossa e as crianças”.

O Ministério Público investigou, nos últimos três anos, os chefes da quadrilha que estão presos na penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.

Lá de dentro saem as ordens para os comparsas que estão nas ruas. Todos os criminosos são obrigados a seguir um estatuto, escrito em 2011, com regras bem definidas e repassadas por celular. Quem descumpre o estatuto paga com a vida.

Gravação: O preço da traição é a morte. Toda missão destinada deve ser concluída.

Roberto Soriano tem 36 anos. Seu apelido é Tiriça. Segundo as investigações, ele elaborou o estatuto da quadrilha.

Em novembro de 2012, Tiriça foi transferido para o presídio federal de Porto Velho. Em um telefonema com um comparsa, falou que tem uma carta na manga para 2014, que só vai ter a Copa do Mundo de futebol no Brasil se os bandidos quiserem; e que, se fosse preciso, contaria com ajuda de quadrilhas do Rio de Janeiro.

O estatuto da facção paulista menciona esse tipo de parceria criminosa.

Gravação: O crime fortalecer o crime. Esta é a ideologia.

Também está no estatuto: agentes penitenciários e policiais são inimigos.

Gravação: Já mandei matar uns cinco que eu sei que tem na quebrada. Pega mãe, pega tudo, truta. Pega filho, pega todos.

Na denúncia do Ministério Público consta que, em 2009, os criminosos mataram a tiros o agente Denilson Jerônimo. O assassinato foi em frente à casa dele, em Álvares Machado, no interior de São Paulo.

Denílson trabalhava na penitenciária de Presidente Bernardes, onde é aplicado o RDD, o Regime Disciplinar Diferenciado, o mais rígido de São Paulo.

Depois do assassinato do agente, um ex-integrante da quadrilha revelou à polícia quem cometeu o crime. Em represália, a mulher do delator - chamado de "cagueta" pelos bandidos - foi morta dentro de casa, em 2010.

Ele prometeu se vingar: “Não vai respeitar as criança. Vai matar criança também. Porque parece que pegaram a pessoa, na frente da filha dele”, diz Tiriça em gravação.

A quadrilha mandou o seguinte recado: “Falar para esse cara que é o seguinte: se ele ficar com essa palhaçada, nós vai derreter a família dele inteirinha”.

O Ministério Público também investigou a recente onda de ataques contra policiais. Entre julho e dezembro de 2012, 48 PMs foram assassinados em São Paulo.

Foi confirmado que existia um "salve", ou seja, uma ordem para matar: “Se for executado um irmão,será executado dois policiais. Esta determinação deve ser acatada por toda irmandade, de todas as regiões”.

O cabo da Força Aérea Luiz Henrique Pereira, de 31 anos, foi morto em Campinas, com 29 tiros de fuzil. Ele estava à paisana em uma pizzaria. A promotoria suspeita que Luiz foi confundido com um PM. Segundo a investigação, escutas telefônicas mostram os bandidos falando tranquilamente sobre o assassinato, uma hora depois.

"Alugar casa" significa matar policial.

Gravação 1: Foi agora de pouco que nóis alugou a casa, lá.
Gravação 2: Tá bom, então, irmão. É nóis, parça.

A família do cabo da Aeronáutica não quis gravar entrevista. A mulher dele disse que, 20 dias depois da morte do marido, nasceu o segundo filho do casal e que é muito triste ver as crianças crescerem sem a presença do pai.

Até o começo de 2014, serão instalados bloqueadores de celulares nas cadeias, informou o secretário de Segurança de São Paulo.

Sobre a ameaça de ataques durante a Copa do Mundo, ele disse: “Não há motivo para alarmismo porque até agora não há nenhum elemento concreto que indique a existência de um plano real”.

O Tribunal de Justiça de São Paulo negou o pedido do Ministério Público de prisão imediata de 175 denunciados por envolvimento com a quadrilha.

Nos próximos dias, o tribunal vai decidir se 35 presos - apontados como os chefes da facção - vão para o Regime Disciplinar Diferenciado.

“O Estado e a sociedade não estão reféns do crime organizado. O Estado tem a capacidade de reagir e, a qualquer momento, seremos também capazes desarticular de maneira sistemática toda a organização criminosa”, diz Márcio Fernando Elias Rosa, procurador-geral de Justiça de São Paulo.
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sábado, 19 de outubro de 2013

COMO DERROTAR O EXÉRCITO DO PCC

REVISTA ISTO É N° Edição: 2292 | 18.Out.13 - 20:50 | Atualizado em 19.Out.13 - 10:38

A facção criminosa que nasceu em São Paulo hoje é um problema nacional. É preciso uma ação articulada de todas as forças de segurança e do poder judiciário para combatê-la, além de endurecer as regras na prisão, como fizeram os italianos com os mafiosos

por Wilson Aquino e Michel Alecrim



No topo do organograma da maior rede de crime organizado do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), está a Sintonia Final Geral, composta pela cúpula da bandidagem. Por apenas uma letra, a denominação difere de sintonia fina, a palavra que reúne a principal alternativa, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ, de combate à poderosa máfia nascida no presídio de Taubaté, em São Paulo, nos anos 1990, que, hoje, atua em 22 das 27 unidades da federação e domina presídios no País todo, com ramificações em países como a Bolívia e o Paraguai. Em um milimétrico estudo e cruzamento de dados, o Ministério Público de São Paulo mostrou a fortaleza na qual o PCC se transformou, sob as barbas de autoridades paulistas que negligenciaram o monstro em seu nascedouro. Essa máfia, hoje, não é mais um problema só de São Paulo. Virou um problema brasileiro. E a sintonia urgente é justamente uma ação coordenada e inteligente de todos os poderes em prol de uma ampla reestruturação do sistema penitenciário e de segurança.



“A principal conclusão a que chegamos depois desse inquérito é que o PCC é uma organização nacional e, como tal, o governo federal não pode ficar fora desse problema”, diz o sociólogo Luiz Flávio Sapori, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Ele defende uma força-tarefa composta pela Polícia Federal, Receita Federal, polícias estaduais e MPs estaduais para atacar o poder de articulação e de financiamento dessa quadrilha, que fatura R$ 120 milhões por ano, basicamente com tráfico de drogas.

Uma das alternativas pode ser o fortalecimento da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), que perdeu importância estratégica. “Reduziram os investimentos e destruíram as possibilidades de se criar um sistema único de segurança pública, com um banco de dados que pudesse ser compartilhado por todos os segmentos que enfrentam o crime”, diz o antropólogo Paulo Storani, ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro.

***

Inventário do crime

As armas, os carros e a contabilidade dos bandidos

Andres Vera e Pedro Marcondes de Moura


ISTOÉ teve acesso a mais de 70 documentos da contabilidade do Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo. De relatório sobre a compra de metralhadora de guerra a levantamento da frota de carros da facção, os números revelam o lado “empresa” da organização criminosa. Maconha é “morango”. Advogado é “gravata”. Mensalidade é “cebola”. E assim segue uma infinita e confusa lista de nomes trocados que o PCC emprega, tanto nas ruas como em seus documentos internos. Nesse último caso, arquivos de Word e planilhas de Excel com o cotidiano contábil da maior facção criminosa do País. Apreendidos ao longo de operações da Polícia Militar, eles são parte importante de uma investigação de três anos conduzida pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. O vocabulário ali pode soar estranho a uma grande empresa legalizada. Os números, não.

É o que prova, por exemplo, o arsenal de 88 fuzis, 42 pistolas, quatro rifles, três metralhadoras, uma dinamite e 178 pentes de munição. Eis o balanço do “setor das ferraduras”. Trata-se do armamento de parte do PCC paulista em outubro de 2011. O poder de fogo é grande a ponto de desprezar o revólver 38, mais comum e barato, nas estatísticas “oficiais”. Na coluna dos fuzis, no entanto, a profusão de letras e números é digna de quartel militar – os modelos AK-47, AR-15 e M-16 estão entre os preferidos. No relatório do mês seguinte, novembro de 2011, o bando vai às compras: a lista ganha 12 fuzis e 25 pistolas. O PCC tem inventários de dar inveja a muita empresa legalizada. Outra planilha, também de outubro de 2011, segue os moldes de uma locadora de carros. O título é sugestivo: “setor dos pés de borracha”. São 55 carros e oito motos na frota do crime. Ao lado de Celtas e Corsas, chamam a atenção uma Cherokee blindada e um micro-ônibus. O arquivo descreve tudo. Motorista responsável, ano de fabricação, existência de documentação e estado de conservação. Sobre um Vectra GT sem documento, há uma nota de rodapé: “estava com o Dr. Rogério, foi mandado para os gravatas e o recibo não veio”. “Gravatas”, como se sabe, são os advogados que trabalham para a facção. Apenas em setembro de 2011, como mostram os documentos a que ISTOÉ teve acesso, eles receberam R$ 220 mil das mãos do PCC. Os defensores dos criminosos também têm um “setor” próprio, o “setor dos gravatas”. São parte importante do extenso universo da contabilidade da facção, ao lado das “ferraduras” e “pés de borracha”, entre outros.



No “setor do progresso”, por exemplo, é controlado todo o dinheiro do tráfico de drogas. Listadas sob o codinome de frutas (em uma planilha igualmente colorida), as drogas são o carro-chefe do faturamento. Segundo estimativa do Ministério Público, rendem R$ 8 milhões mensais ao PCC. Há também um “setor” dedicado apenas ao cigarro. Menor, mas não menos importante. A venda de maços nos presídios paulistas movimenta mais de R$ 100 mil mensais. O valor é baixo se comparado ao lucro dos entorpecentes, mas revela o poder de influência da facção nas prisões de São Paulo. Na cadeia, o cigarro representa uma importante moeda de troca entre os detentos. Um documento revela, em valores e quantidade, quanto entrou e quanto saiu de 43 prisões paulistas. A lista é grande. Vai de centros de detenção provisórios, como Osasco e Vila Prudente, até penitenciárias para detentos especiais, como a de Tremembé, no interior de São Paulo. Segundo o Ministério Público, o PCC controla 90% dos presídios de São Paulo. Por fim, há ainda o curioso “setor da cebola”. Por “cebola” entenda-se a mensalidade de R$ 600 que os integrantes devem pagar aos líderes regionais do tráfico. Novamente, o arquivo é preciso e rico em detalhes. Em um documento de novembro de 2011, a facção lista 25 nomes de grandes devedores e um montante de R$ 2 milhões não pagos. Em destaque, há a descrição de prazo de pagamento e a situação de cada um: “ainda não assumiu”, “foi preso pela Rota” ou “foi roubado em casa”. Em alguns casos, membros do grupo tentam intervir em favor de amigos ou familiares “na mira”, como mostra uma ligação telefônica interceptada pela polícia. “Onde já se viu querer cobrar uma dívida de uma criança de 13 anos? Tá com brincadeira?”, diz um traficante.

***

Os documentos obtidos não revelam apenas parte da dinâmica contábil da maior organização criminosa do País em seu quartel-general, o Estado de São Paulo. Entre as planilhas de Excel reunidas pela investigação, há também mensagens trocadas entre líderes da facção e seus subordinados. São os chamados “salves”. Alguns trazem mensagens genéricas para motivar os integrantes. Frases como: “É necessário se doar em tempo de dificuldade.” Logo em seguida, o texto pede responsabilidade aos bandidos menos assíduos.

“A vida do crime sempre foi louca. Não aceitamos desculpas.”A mensagem, sem data, é assinada pela “Sintonia Final”, cúpula do PCC liderada por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Sob seu comando, o grupo atingiu mais de 11 mil integrantes e expandiu as operações para 22 Estados brasileiros. “A disciplina tem que ser seguida para o bom andamento da família”, conclamava, ainda, o comunicado da liderança criminosa. “Família”, neste caso, diz respeito a outro tipo de laço – o do crime organizado.

No entanto, talvez ainda mais urgente é eliminar a força que a facção conquistou dentro das cadeias. Graças à frouxidão dentro dos presídios, o grau de articulação entre os bandidos é imenso e, por isso, é necessária atuação conjunta de todos os Estados. Uma dos maiores autoridades em crime organizado no País, o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, ex-secretário Nacional Antidrogas (1999/2000) e fundador do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, Walter Maierovitch diz que as penitenciárias brasileiras devem adotar o mesmo rigor que os italianos para isolar mafiosos. “Lá, os presídios têm câmeras, as visitas só acontecem através de vidro e com microfone, mesmo com advogado, tudo é gravado e a polícia penitenciária é especializada, capaz de analisar todos os sinais”, explica. As medidas foram aprovadas pela Corte Europeia de Direitos Humanos, que entendeu que o rigor não representa violação de direitos fundamentais em função da grave ameaça à população e ao Estado Democrático de Direito.



Durante anos, as administrações dos governos paulistas minimizaram o poder do PCC, que ganhou musculatura, graças à ausência do Estado. “Não é possível que o governo de São Paulo conseguisse manter pacificada e estável uma população carcerária de quase 200 mil pessoas em unidades hiperlotadas, sem condições básicas de higiene, saúde nem alimentação decente”, afirma a socióloga Camila Nunes Dias, do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (USP) e autora de “PCC – Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência”.

Vista grossa ao problema permitiu que a organização se conectasse com outras facções criminosas, como o igualmente temível Comando Vermelho (CV), no Rio – e, dessa associação, o crack chegasse às bocas de fumo cariocas. “Foi o PCC que fez o Fernando Beira-Mar (chefe do CV, preso) mudar de ideia. Ele barrava o crack para evitar mortes de seus ‘soldados do tráfico’, que também são viciados”, diz Storani, ex-integrante do Bope.

O procurador de Justiça Antonio Carlos Biscaia, ex-secretário Nacional de Segurança Pública no governo Lula, afirma que a investigação do Ministério Público paulista interrompe uma cadeia criminosa muito forte. Biscaia, que ajudou a mandar para a cadeia os chefões do jogo do bicho do Rio, em 1993, acredita que o PCC tenha se ramificado para outros Estados seguindo a mesma lógica dos bicheiros: lucro alto e aliados comprados dentro do poder oficial. “O crime organizado, seja tráfico de drogas ou bicho, pratica crimes para auferir lucros e alcança o poder cooptando integrantes de instituições policiais, e outros acima”, explica. É fundamental identificar quem seriam os integrantes do crime organizado dentro do próprio Estado, ou seja, identificar quantos agentes públicos estão entre os 11 mil integrantes do PCC.



As escutas telefônicas dão pistas importantes, mas não devem ser superdimensionadas, segundo o sociólogo Ignacio Cano, membro do laboratório de análise da violência da universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-Uerj). “Não é porque uma pessoa fala alguma coisa que isso deve ser considerado verdade.” Para se ter certeza, diz, é necessária a convergência entre muitos grampos. “O suposto plano para matar o governador de São Paulo (Geraldo Alckmin) é fundamentado em evidências que não são evidentes, são frágeis”, diz o sociólogo. Gravações também registraram conversas de criminosos planejando ataques durante a Copa do Mundo, em 2014, se a cúpula da facção fosse transferida para o Regime Disciplinar Diferenciado, muito mais duro com os presos. Mais do que nunca, a sintonia fina também é necessária para saber descartar factoides e concentrar no que realmente representa perigo, os tentáculos do PCC na sociedade brasileira.