quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

QUEM SÃO E COMO FUNCIONA A QUADRILHA DOS BALA NA CARA

DIÁRIO GAÚCHO 17/12/2014 | 08h48

Número 2 dos Bala na Cara tinha até olheiros para controlar sítio de Viamão. Foragido, Márcio de Oliveira Chultz, o Alemão Márcio, 34 anos, visitava a família quando foi descoberto pela polícia



Foto: Brigada Militar / Divulgação



Eduardo Torres


Considerado um dos principais articuladores da facção Bala na Cara nas ruas desde a prisão de Luís Fernando da Silva Soares Júnior, em outubro, Márcio de Oliveira Chultz, o Alemão Márcio, 34 anos, preso por volta das 21h30min de terça em um sítio de Águas Claras, em Viamão, garantia a sua segurança com um verdadeiro staff.


A ação comandada pela 1ª Delegacia de Homicídios, da Capital, com o apoio da Brigada Militar, teve que driblar até mesmo um grupo de olheiros mantidos pelo criminoso para garantir a prisão.

- Ele estava visitando a família enquanto os olheiros controlavam a movimentação nos arredores do sítio. Tivemos que agir quando eles perceberam que havia policiais na área - conta o chefe de investigação, Fernando Barreto.

Alemão foi preso quando entrava em um carro para mais uma vez fugir. Com penas a cumprir até 2038, ele deveria estar sob monitoramento eletrônico, mas havia arrebentado a tornozeleira eletrônica e era considerado foragido. Desde o ano passado, ele é investigado por pelo menos quatro assassinatos a mando dos Bala na Cara.




DIÁRIO GAÚCHO 02/09/2014 | 07h03

Quem são e como funciona a quadrilha dos Bala na Cara

Facção dos Bala na Cara é a que mais cresce nas cadeias e nas ruas da Região Metropolitana. Praticamente todas as delegacias da região investigam algum braço do grupo, mas ninguém consegue decifrar todos os caminhos da organização para eliminá-la

Eduardo Torres



"O quê? Ele não quer vim pro nosso lado? "Passa" ele, então. Nós somos Bala".

A ordem era quase trivial, mandando o comparsa matar um desafeto. Foi interceptada em uma escuta telefônica há dois anos, durante uma investigação que não evoluiu por falta de fôlego da polícia. E virou elemento fundamental para mostrar a diferença da facção dos Bala na Cara em relação a qualquer outro grupo criminoso organizado entre as cadeias do Estado. A pirâmide de poder dos Bala, diferente das facções rivais, não tem um líder único, que dite as regras.

O Denarc, todas as delegacias de homicídios da Região Metropolitana, o Deic e o Ministério Público mantêm investigações sobre a facção. Mas sempre tendo como foco algum tentáculo da organização, nunca a facção como um todo.

- Sabemos que a quadrilha nasceu na Bom Jesus e que a expansão acontece sem um líder absoluto. O tráfico pulverizado, e a forma de atuar em associação a quadrilhas locais, dificulta qualquer investigação mais precisa sobre eles - afirma o diretor de investigações do Denarc, delegado Cléber dos Santos Lima.

Bando tem pelo menos quatro líderes

A polícia estima que pelo menos quatro homens ditem as regras do bando - não necessariamente com um discurso afinado. E não são eles que dão ordens para a ponta dessa rede. Aos soldados, quem dá as cartas são os líderes de quadrilhas locais. Assim, é difícil para a polícia chegar aos mais poderosos do bando.

A forma de atuar, quase como uma franquia, se consolidou há pelo menos três anos, quando a facção ganhou respeito ao desbancar a liderança dos Manos. Mas, diferentemente do momento em que a quadrilha ficou conhecida, em 2009, dessa vez nenhum personagem ganhou notoriedade com essa ascensão.

Em vez de soldados, nas cadeias os Bala passaram a atrair sócios. Ao traficante de qualquer localidade, a facção ofereceria reforços de soldados e armas - que saem de outras regiões dominadas pelo grupo - para garantir o controle do território. Depois, o novo sócio se compromete a vender somente a droga fornecida pela facção.

Lucro é o interesse em comum

Os negócios são tratados por gerentes das galerias de cada prisão. A forma como eles se comunicam com os principais líderes ainda não está clara para as autoridades. A certeza que se tem é que a sociedade com a facção tem um único interesse: lucro. Como a grana é dividida, as investigações até hoje não esclareceram.


Ação exigiria força-tarefa

- Uma ação única para derrubar os Bala na Cara como um todo, exigiria uma força-tarefa. E, hoje, não teríamos condições de fazer isso. Também não sei qual seria a eficiência, se dentro das cadeias ainda são os presos que definem até o lugar onde vão ficar - diz o diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Cristiano Reschke.

Ainda assim, ele garante que, entre as delegacias de homicídios, há constante troca de informações sobre a presença da facção em todas as regiões da cidade. E aí, os investigadores ainda precisam driblar mais uma "cortina de fumaça".

- Sempre que o nome da facção surge em alguma investigação, o primeiro desafio é filtrar o que realmente é Bala e o que é só grife. Não podemos alimentar isso - alerta Cléber dos Santos Lima.

Leia outras notícias do dia


Facção se adapta às regras da cadeia

Quem agride mais, vive menos.

A frase é regra de convivência básica na cadeia. A negociação, mais do que o medo, sempre garantiu a permanência das principais facções nos presídios gaúchos. Os Bala, vistos como extremamente violentos mesmo com seus aliados, pareciam ter transgredido também essa norma.

Os mandamentos da facção ordenam não ter pena, ser duro com os seus traficantes e eliminar os traidores. Porém, para o juiz da Vara de Execuções Criminais, Sidinei Brzuska, há um interesse maior do que estas regras.

- Entre as facções gaúchas, não há uma ideologia. O que há é o interesse econômico. Fazem alianças por conveniência. E essa facção se adapta muito bem a esse ambiente - acredita.

Segundo ele, sobretudo no Presídio Central, há indícios de que os Bala se tornaram mais flexíveis para crescer. Uma estimativa dá conta de que a galeria dominada pela facção, que tem entre 200 e 300 presos no Pavilhão F, teria atualmente o maior faturamento.

Nas prisões do semiaberto também teriam diminuído os casos de punições com morte impostas pela quadrilha.

A estratégia estaria garantindo uma expansão nas cadeias. Pelo menos dois líderes de quadrilhas ligadas aos Bala na Zona Sul da Capital estão presos na galeria dominada pelos traficantes da Vila Maria da Conceição. Com o enfraquecimento do traficante Paulão, a facção teria se aliado aos novos comandantes do tráfico na vila da Zona Leste da cidade.

Carros viraram a nova moeda do tráfico

Se, em 2007, os Bala na Cara ganharam notoriedade pelos violentos roubos a joalherias e bancos para financiar o tráfico e a compra de armas, agora, o ramo deles mudou. E tem chamado a atenção da Delegacia de Roubos de Veículos do Deic. Pelo menos um terço dos carros recuperados este ano na Capital foram achados em bairros onde a facção domina.

Os bairros Mario Quintana, Bom Jesus e Lomba do Pinheiro estão entre os principais destinos, na cidade, de veículos roubados e furtados. Na Região Metropolitana, Viamão e Alvorada - também com forte presença dos Bala - repetem a dose.

- O roubo de carros virou uma grande moeda de troca para os traficantes. É muito menos arriscado do que roubar um banco, por exemplo - estima o delegado Juliano Ferreira.

Um ladrão de carros chegaria a ganhar em torno de R$ 1 mil para repassar o veículo ao bando que, em casos de clonagens, chega a revender o carro por R$ 10 a R$ 15 mil.

- Estamos muito atentos à organização deste grupo, agora, a partir das cadeias. É de lá que saem as ordens para os roubos - diz o delegado.

Ele afirma que há diversas investigações relacionando a facção aos roubos de veículos, inclusive com a possibilidade de que o bando tenha lucros em esquemas de desmanches e clonagens de carros posteriormente revendidos.


O tamanho dos Bala na Cara


Bom Jesus - É o berço da facção. Hoje, são hegemônicos no tráfico de drogas do bairro, e com influência sobre o Jardim Carvalho, Vila Jardim e Jardim Itu Sabará.

Serraria - A Vila dos Sargentos é, talvez, a área de domínio mais violenta da facção. Em 2009, um traficante local, reforçado pelos Bala, eliminou um antigo gerente, que devia ao bando. Sua morte, decapitado, foi considerada exemplar pelos criminosos. Da vila, sairiam os soldados que cumpririam ordens da facção para disputas do tráfico em toda a Zona Sul da Capital.

Mario Quintana -- Vila Safira é considerada pela polícia uma das principais bases da facção. Ali se concentram boa parte dos criminosos - boa parte ainda adolescentes - usados como soldados em guerras do tráfico. Atualmente não há conflito pelo domínio do tráfico neste bairro, mas as disputas são constantes com a Gangue dos Bobós, do Rubem Berta. Até 2011, os grupos eram parceiros, mas houve um racha na quadrilha.

Morro Santana
- Vila das Laranjeiras viveu uma guerra entre o final de 2012 e o começo de 2013. A região acabou dominada pelos traficantes da Vila Safira, que surgiram como apoiadores de um dos gerentes locais.

Lomba do Pinheiro - Vila Tamanca é vista como uma das zonas de influência da facção, mas há domínios dos Bala na Cara em outros pontos do bairro. Atualmente, haveria um racha interno. Integrantes da facção estariam em desacordo com a liderança da Vila dos Sargentos.

Sarandi - Três quadrilhas disputam o controle do tráfico local. Uma delas, liderado por um traficante conhecido como Carroça, de acordo com a 3ª DHPP, teria o reforço dos Bala.

São Geraldo - A facção tomou conta dos pontos entre os bairros São Geraldo e Navegantes, entrando em enfrentamento com a facção dos Farrapos, que também domina uma galeria no Presídio Central. Nessa região da cidade, o bando também estaria controlando um esquema de prostituição.

Santa Tereza - Os Bala na Cara estariam por trás de pelo menos duas das guerras pelo controle de pontos de tráfico na Vila Cruzeiro. O grupo conhecido como V7 seria o grupo armado da facção no bairro. Eles estariam apoiando ainda o bando dos Bala de Goma.

Vila Nova
- A Vila Monte Cristo e o Campo Novo são apontados como redutos da facção na região. Integrantes da V7 e da Vila dos Sargentos estariam atuando em confrontos principalmente com traficantes da Cohab Cavalhada, que seria dominada pelos Manos.

Restinga - As gangues dos Miltons e dos Primeira são investigadas como relacionadas com os Bala na Cara. A região, porém, não se configura como um domínio sem rivais à facção pelo grande número de gangues atuando na mesma região.

Partenon - A Vila Maria da Conceição sempre foi um objetivo dos líderes dos Bala na Cara. E essa aproximação estaria acontecendo dentro do Presídio Central, desde que o tráfico na área considerada a mais lucrativa da Capital rachou. Alguns líderes ligados aos Bala estariam na galeria dominada pela Maria da Conceição.

Alvorada - Os bairros Umbu, Maria Regina e Aparecida seriam os principais pontos de atuação da facção na cidade, mas a polícia investiga a presença dos Bala em quase todas as regiões da cidade.

Cachoeirinha - O bairro Navegantes foi a primeira área tomada por uma gangue ligada aos Bala na Cara. Desde o ano passado, porém, a polícia investiga a tomada de pontos na Vila Anair e no Bairro Vista Alegre, em uma parceria com traficantes presos recentemente.

Canoas - Desde a morte de Nego Jaime, a liderança dos Bala na Cara no Bairro Mathias Velho estaria vaga, mas eles continuariam atuando na região, assim como no Bairro Guajuviras. Há suspeita de ligações da Gangue dos Bicudos, do Bairro Rio Branco, com os Bala na Cara.

Eldorado do Sul - No mês passado, a polícia desmascarou a investida da facção sobre o Delta do Jacuí, por ordem do traficante conhecido como Pequeno, a partir da Pej.

Esteio - Traficantes da Vila Pedreira teriam retomado o poder nas bocas locais com o suporte dos Bala.

Gravataí - Há pelo menos cinco anos a polícia investiga a presença dos Bala na Cara no tráfico da Vila Rica. Mais recentemente, o bando estaria por trás da guerra do tráfico no Bairro Rincão da Madalena.

Viamão - Foi uma das primeiras áreas de expansão da quadrilha, pela influência do Alemão Lico na região da Hidráulica. Regiões dos bairros Santa Cecília e Santa Isabel também teriam atuação de traficantes ligados à facção. A região seria um dos núcleos da receptação de veículos roubados da quadrilha.


Os cabeças


Presídio Central:

Deividi Vilanova dos Santos, o Zóio. Foi preso ano passado pela 2ª DHPP, apontado como mandante de homicídios na região do Bairro São Geraldo. É apontado pela polícia como gerente dos Bala na Cara entre os bairros São Geraldo e Navegantes.

André Vilmar de Souza, o Nego André. Foi indiciado pela 4ª DHPP como mandante de homicídios na Vila Cruzeiro. É considerado um dos líderes dos V7. Está preso na galeria dominada pela Vila Maria da Conceição e pode indicar a aproximação entre os dois grupos.

Pej

Wagner Nunes Rodrigues, o Minhoquinha. Seria o líder dos Bala na Cara na região do Bairro Mario Quintana. Foi preso em 2011 depois de ser indiciado por pelo menos três homicídios. Na última semana, foi indiciado com mandante de dois homicídios em Eldorado do Sul. De acordo com a polícia, Minhoquinha faria o meio de campo nas parcerias com traficantes da Região Metropolitana.

Jéferson dos Santos Lopes, o Pequeno. Tem mais de 50 anos de pena a cumprir na cadeia, com antecedentes por homicídios. Considerado pela polícia o elo dos Bala na Cara em Eldorado do Sul, mas é originalmente da Zona Norte de Porto Alegre. Ocuparia um cargo de confiança na galeria da facção na Pej

Jaime Evangelista Pires, o Nego Jaime. Foi encontrado morto em uma cela em julho. Teria cometido suicídio. Ele era o elo dos Bala na Cara no Bairro Mathias Velho, em Canoas, mas viu seu poder ruir ao ficar com dívidas com a facção

Paulo Cezar Tonatto, o Barba. É considerado um dos membros originais do bando. Indiciado por diversos homicídios cometidos no Bairro Bom Jesus. Haveria uma divergência de comando dentro da penitenciária entre as lideranças do Bom Jesus e da Zona Norte.

Pasc:

Fábio Fogassa, o Alemão Lico. É apontado pela polícia como o líder mais violento do bando. É investigado pelas delegacias de homicídio de Porto Alegre e de Viamão por ordenar crimes de dentro da prisão. Seria o principal líder da facção na Zona Sul da Capital, a partir da Vila dos Sargentos. Tem antecedentes por roubos, tráfico de drogas e formação de quadrilha. Responde na Justiça por pelo menos quatro homicídios

Luis Fernando da Silva Soares Júnior, o Júnior Perneta. É considerado o principal líder dos Bala na Cara. Natural da Bom Jesus, teria conhecido seus principais comparsas no longo período em que passou por diversas casas prisionais. Agora, está preso desde o começo do mês passado ao ser flagrado pela Polícia Federal com 20,5kg de cocaína em uma garagem do Bairro Menino Deus. Ele também já havia sido preso com drogas em Viamão, em 2010. Tem antecedentes por roubos, formação de quadrilha, tráfico e associação ao tráfico. Responde na Justiça também por pelo menos um homicídio e uma tentativa de homicídio



Diário Gaúcho

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

OS TENTÁCULOS DO PCC

 


O Estado de S.Paulo 16 Novembro 2014 | 02h 03


OPINIÃO


Tanto a expansão e a diversificação das atividades do Primeiro Comando da Capital (PCC) como as suas ligações com outros grupos criminosos no Brasil e no exterior mostram que o perigo constituído por essa organização cresce sem cessar. Desde 2006, quando aterrorizou São Paulo com uma série de ataques contra a própria polícia, o PCC vem assustando a população com a sua audácia, que não parece ter limites. Mas o seu poder, como atestam as mais recentes investigações policiais, é ainda maior do que se poderia imaginar há oito anos.

Pela primeira vez, a ligação que se suspeitava existir entre o PCC e a máfia foi confirmada por meio de denúncia do Ministério Público Federal (MPF) apresentada à Justiça no fim do mês passado. Como mostrou o Estado, o PCC se associou à N'Drangheta, o mais atuante dos quatro ramos da máfia italiana, que opera a partir da Calábria, para levar cocaína da Bolívia para Itália, Espanha e Holanda pelo Porto de Santos. Do lado brasileiro, havia 34 pessoas envolvidas no embarque da droga.

Muito mais importante que a operação que resultou na apreensão de 56 quilos de cocaína e na prisão de bandidos nela diretamente envolvidos com 230 mil foram as investigações da Polícia Federal (PF) - nas quais se baseou o MPF para sua denúncia - que permitiram desvendar a ligação entre as organizações, por meio da interceptação de mensagens trocadas entre seus integrantes.

A cooperação entre a PF e os serviços policiais especializados no combate às drogas da Itália e dos Estados Unidos, que têm maior experiência nessa área, foi fundamental para o êxito das investigações. Ela permitiu também identificar a empresa offshore, com sede no Uruguai, que era usada pelo PCC e a N'Drangheta para movimentar o dinheiro do negócio criminoso.

Poucos dias depois, outra reportagem, desta vez do jornal O Globo, apontou uma ligação criminosa ainda mais grave e preocupante do PCC, também revelada por investigações da PF, que contaram de novo com a colaboração dos Estados Unidos. O PCC e o Hezbollah, facção política e militar radical que atua no Líbano, se associaram para uma troca de favores. O PCC protege traficantes de origem libanesa presos no Brasil e ligados ao Hezbollah e este lhe paga com armas e explosivos contrabandeados.

Embora só desvendado agora, o acordo que permite esse intercâmbio criminoso começou a ser montado em 2006. Segundo a PF, os contatos internacionais dos traficantes libaneses "têm atendido aos interesses" do PCC, que por sua vez "viabiliza uma situação favorável aos estrangeiros dentro do sistema prisional, além de assegurar algum lucro com negociações mesmo enquanto estão presos".

Seria ingenuidade pensar que armas e explosivos fornecidos pelo Hezbollah, nesses termos, são iguais aos demais. Não são. O risco é muito grande de o PCC, nessa operação, trazer para o Brasil - tenha ou não consciência disso, pouco importa - mais do que esse arsenal, pois ela envolve tráfico de drogas cujos lucros podem financiar ações terroristas.

Internamente, o PCC também continua a crescer e investir em negócios os mais variados. Ele já deixou de ser apenas paulista, se "nacionalizou", pois está presente em 22 Estados. Foi-se o tempo em que vivia de contribuições de seus associados, fruto de ações criminosas acanhadas, dentro e fora dos presídios. O tráfico de drogas, com o qual fatura R$ 120 milhões por ano, segundo trabalho feito pelo Ministério Público de São Paulo, já é uma das suas principais fonte de renda.

O Ministério Público também acaba de denunciar à Justiça duas pessoas ligadas ao PCC acusadas de utilizar vans que integram o serviço de ônibus de São Paulo para lavar dinheiro obtido com o tráfico. Uma ligação que há muito se suspeitava existir e que agora começa a ser comprovada.

Os tentáculos do PCC, aqui e lá fora, constituem um desafio considerável para o qual as autoridades - tanto federais como estaduais, em especial as de São Paulo, que é sua base principal - ainda não encontram uma resposta à altura.

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-tentaculos-do-pcc-imp-,1593547

sábado, 18 de outubro de 2014

FEDERAIS PRENDEM LÍDER DOS BALA NA CARA POR TRAFICO INTERNACIONAL



ZH 18 de outubro de 2014 | N° 17956


EDUARDO TORRES

GOLPE NO CRIME. Federais prendem líder dos Bala na Cara

OPERAÇÃO DESMANTELA ROTA DA DROGA comandada pela facção gaúcha. Bando, que também trazia ilegalmente armas ao país, chegava a transportar 40 quilos de cocaína por semana para a Região Metropolitana desde Ciudad del Este



A movimentação da Polícia Federal (PF) em um bairro nobre da Capital, na manhã de ontem, tinha como alvo o homem apontado como um dos principais cabeças do tráfico na Região Metropolitana. Em um apartamento de luxo, adquirido há pouco tempo, Luís Fernando da Silva Soares Júnior, o Júnior Perneta, considerado o líder da facção Bala na Cara, foi preso, dando fim a oito meses de investigações contra um lucrativo esquema de tráfico internacional de drogas e armas desde o Paraguai.

A Operação Bom Jesus prendeu outras nove pessoas em Porto Alegre, Cachoeirinha, Cascavel (PR) e Foz do Iguaçu (PR). Entre elas, parte da cúpula da facção. Segundo o titular da Delegacia de Repressão a Drogas da PF, delegado Fabrício Argenta, todos eram diretamente subordinados a Júnior Perneta:

– É uma quadrilha muito capilarizada, por isso sempre é complicado uma investigação mais complexa contra eles. Mas sabíamos que tinha um núcleo hierárquico. Atacamos neste ponto.

Segundo a apuração da PF, o traficante controlava todas as operações da facção. Drogas ou armas encomendadas no Paraguai, ao menos desde o ano passado, tinham o aval dele. Em duas oportunidades, o chefão dos Bala chegou a ir a Ciudad del Este acertar as negociações.

No momento em que o material chegava a Porto Alegre, cabia a ele supervisionar e definir para onde seria distribuído. Conforme os investigadores, Júnior geralmente estava presente no momento de chegada das drogas, mas raramente encostava no entorpecente.

– Ele se fortaleceu ultimamente, comprando drogas e armas a preço de atacado e vendendo na Região Metropolitana como varejista – explica o delegado.

A estimativa é de que até 40 quilos de cocaína e crack eram trazidos por semana de Ciudad del Este à Região Metropolitana. Aqui, o produto era triplicado com aditivos e distribuído em áreas dominadas ou parceiras dos Bala na Cara. Junto, eram trazidas, de forma ilegal, pistolas fabricadas no Brasil e exportadas para o Paraguai.

Desde o começo das investigações, foram apreendidos 180 quilos de cocaína entre quatro carregamentos interceptados. Em 2013, outros três carregamentos totalizando outros 140 quilos, foram interceptados no Paraná. O último deles, em julho, resultou na prisão de Júnior, juntamente com Luís Fernando Duarte Souza, o Nando, atualmente preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Eles recebiam 20 quilos de cocaína escondidos em um carro no estacionamento de um hospital, no bairro Menino Deus.

No mês passado, o chefão foi liberado da cadeia pela Justiça por falta de provas.

– São provas que, agora, com o encerramento do inquérito, teremos bem firmadas. Acredito que ele responderá pelo crime na prisão – disse o delegado.

Na operação, também foram apreendidos quatro veículos, R$ 50 mil e uma pistola. Os envolvidos responderão por tráfico internacional de drogas e armas e associação para o tráfico. Em virtude das articulações da facção nas cadeias, a PF solicitou que eles sejam encaminhados à Pasc.



Ordem para derrubar os Manos


De acordo com o delegado Fabrício Argenta, o aumento das execuções ligadas ao tráfico de drogas na Região Metropolitana nos últimos meses não é à toa:

– A organização está em plena expansão e, por isso, em rota de colisão com outros grupos para dominar o tráfico. Eles não agem por negociação. Em geral, usam da violência e eliminam rivais.

Nessa disputa por territórios, pelo menos uma ordem de execução teria partido do Paraguai. No começo de abril, o traficante Jair de Oliveira, o Jair Cabeludo, 42 anos, suspeito de ser um dos principais braços da facção nas ruas, sofreu uma tentativa de homicídio em uma loja de autopeças, em Novo Hamburgo. O inquérito foi encerrado pela Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo sem autoria, mas com indício de que o crime havia sido cumprido pelos Bala na Cara.

A ordem teria partido de um fornecedor paraguaio, provavelmente como cobrança de dívida. O que a polícia ainda não descobriu é quem executou o crime.

Em abril, a Operação Panóptico, também da PF, revelou a rota de tráfico internacional dos Manos, coligados dos Balas, com o Paraguai. Na ocasião, 15 pessoas foram presas entre a Capital e o Vale do Sinos.

CÓDIGOS PARA IDENTIFICAR DROGAS

“Peixe” (cocaína) e “MD” (crack) eram códigos usados pelo chefão dos Bala na Cara para determinar as quantidades e quais drogas seriam enviadas para cada ponto dominado pela facção. O depósito ficvava em um sítio no bairro Vila Nova, na Zona Sul.


A ROTA DA DROGA
-A droga era encomendada diretamente pelo líder da facção a um fornecedor em Ciudad del Este, no Paraguai.
-De lá, carregamentos de até 40kg de cocaína por semana eram escondidos principalmente em tanques de combustíveis de carros pequenos e trazidos por “mulas” até a Região Metropolitana.
-A entrega acontecia em pontos movimentados da Capital. Dali, a droga partia para um sítio na Zona Sul, onde era redistribuída aos pontos de tráfico.
APREENSÕES
-Em junho, foram encontrados 70kg de cocaína e cinco pistolas em um sítio no bairro Vila Nova, no depósito do bando.
-Em julho, um dos carros carregados de cocaína foi guinchado a um posto de combustíveis da Avenida Farrapos. Foram apreendidos 30kg de cocaína.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

QUEM SÃO E COMO FUNCIONA A QUADRILHA DOS BALA NA CARA


DIÁRIO GAÚCHO 02/09/2014 | 07h03


Facção dos Bala na Cara é a que mais cresce nas cadeias e nas ruas da Região Metropolitana. Praticamente todas as delegacias da região investigam algum braço do grupo, mas ninguém consegue decifrar todos os caminhos da organização para eliminá-la

Eduardo Torres




"O quê? Ele não quer vim pro nosso lado? "Passa" ele, então. Nós somos Bala".

A ordem era quase trivial, mandando o comparsa matar um desafeto. Foi interceptada em uma escuta telefônica há dois anos, durante uma investigação que não evoluiu por falta de fôlego da polícia. E virou elemento fundamental para mostrar a diferença da facção dos Bala na Cara em relação a qualquer outro grupo criminoso organizado entre as cadeias do Estado. A pirâmide de poder dos Bala, diferente das facções rivais, não tem um líder único, que dite as regras.

O Denarc, todas as delegacias de homicídios da Região Metropolitana, o Deic e o Ministério Público mantêm investigações sobre a facção. Mas sempre tendo como foco algum tentáculo da organização, nunca a facção como um todo. 

- Sabemos que a quadrilha nasceu na Bom Jesus e que a expansão acontece sem um líder absoluto. O tráfico pulverizado, e a forma de atuar em associação a quadrilhas locais, dificulta qualquer investigação mais precisa sobre eles - afirma o diretor de investigações do Denarc, delegado Cléber dos Santos Lima.

Bando tem pelo menos quatro líderes

A polícia estima que pelo menos quatro homens ditem as regras do bando - não necessariamente com um discurso afinado. E não são eles que dão ordens para a ponta dessa rede. Aos soldados, quem dá as cartas são os líderes de quadrilhas locais. Assim, é difícil para a polícia chegar aos mais poderosos do bando.

A forma de atuar, quase como uma franquia, se consolidou há pelo menos três anos, quando a facção ganhou respeito ao desbancar a liderança dos Manos. Mas, diferentemente do momento em que a quadrilha ficou conhecida, em 2009, dessa vez nenhum personagem ganhou notoriedade com essa ascensão. 

Em vez de soldados, nas cadeias os Bala passaram a atrair sócios. Ao traficante de qualquer localidade, a facção ofereceria reforços de soldados e armas - que saem de outras regiões dominadas pelo grupo - para garantir o controle do território. Depois, o novo sócio se compromete a vender somente a droga fornecida pela facção.

Lucro é o interesse em comum
Os negócios são tratados por gerentes das galerias de cada prisão. A forma como eles se comunicam com os principais líderes ainda não está clara para as autoridades. A certeza que se tem é que a sociedade com a facção tem um único interesse: lucro. Como a grana é dividida, as investigações até hoje não esclareceram.


Ação exigiria força-tarefa

- Uma ação única para derrubar os Bala na Cara como um todo, exigiria uma força-tarefa. E, hoje, não teríamos condições de fazer isso. Também não sei qual seria a eficiência, se dentro das cadeias ainda são os presos que definem até o lugar onde vão ficar - diz o diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Cristiano Reschke.

Ainda assim, ele garante que, entre as delegacias de homicídios, há constante troca de informações sobre a presença da facção em todas as regiões da cidade. E aí, os investigadores ainda precisam driblar mais uma "cortina de fumaça".

- Sempre que o nome da facção surge em alguma investigação, o primeiro desafio é filtrar o que realmente é Bala e o que é só grife. Não podemos alimentar isso - alerta Cléber dos Santos Lima.


Facção se adapta às regras da cadeia

Quem agride mais, vive menos.

A frase é regra de convivência básica na cadeia. A negociação, mais do que o medo, sempre garantiu a permanência das principais facções nos presídios gaúchos. Os Bala, vistos como extremamente violentos mesmo com seus aliados, pareciam ter transgredido também essa norma. 

Os mandamentos da facção ordenam não ter pena, ser duro com os seus traficantes e eliminar os traidores. Porém, para o juiz da Vara de Execuções Criminais, Sidinei Brzuska, há um interesse maior do que estas regras.

- Entre as facções gaúchas, não há uma ideologia. O que há é o interesse econômico. Fazem alianças por conveniência. E essa facção se adapta muito bem a esse ambiente - acredita.

Segundo ele, sobretudo no Presídio Central, há indícios de que os Bala se tornaram mais flexíveis para crescer. Uma estimativa dá conta de que a galeria dominada pela facção, que tem entre 200 e 300 presos no Pavilhão F, teria atualmente o maior faturamento.

Nas prisões do semiaberto também teriam diminuído os casos de punições com morte impostas pela quadrilha.

A estratégia estaria garantindo uma expansão nas cadeias. Pelo menos dois líderes de quadrilhas ligadas aos Bala na Zona Sul da Capital estão presos na galeria dominada pelos traficantes da Vila Maria da Conceição. Com o enfraquecimento do traficante Paulão, a facção teria se aliado aos novos comandantes do tráfico na vila da Zona Leste da cidade.

Carros viraram a nova moeda do tráfico

Se, em 2007, os Bala na Cara ganharam notoriedade pelos violentos roubos a joalherias e bancos para financiar o tráfico e a compra de armas, agora, o ramo deles mudou. E tem chamado a atenção da Delegacia de Roubos de Veículos do Deic. Pelo menos um terço dos carros recuperados este ano na Capital foram achados em bairros onde a facção domina.

Os bairros Mario Quintana, Bom Jesus e Lomba do Pinheiro estão entre os principais destinos, na cidade, de veículos roubados e furtados. Na Região Metropolitana, Viamão e Alvorada - também com forte presença dos Bala - repetem a dose.

- O roubo de carros virou uma grande moeda de troca para os traficantes. É muito menos arriscado do que roubar um banco, por exemplo - estima o delegado Juliano Ferreira.

Um ladrão de carros chegaria a ganhar em torno de R$ 1 mil para repassar o veículo ao bando que, em casos de clonagens, chega a revender o carro por R$ 10 a R$ 15 mil.

- Estamos muito atentos à organização deste grupo, agora, a partir das cadeias. É de lá que saem as ordens para os roubos - diz o delegado.

Ele afirma que há diversas investigações relacionando a facção aos roubos de veículos, inclusive com a possibilidade de que o bando tenha lucros em esquemas de desmanches e clonagens de carros posteriormente revendidos.

O tamanho dos Bala na Cara

Bom Jesus - É o berço da facção. Hoje, são hegemônicos no tráfico de drogas do bairro, e com influência sobre o Jardim Carvalho, Vila Jardim e Jardim Itu Sabará.

Serraria - A Vila dos Sargentos é, talvez, a área de domínio mais violenta da facção. Em 2009, um traficante local, reforçado pelos Bala, eliminou um antigo gerente, que devia ao bando. Sua morte, decapitado, foi considerada exemplar pelos criminosos. Da vila, sairiam os soldados que cumpririam ordens da facção para disputas do tráfico em toda a Zona Sul da Capital.

Mario Quintana -- Vila Safira é considerada pela polícia uma das principais bases da facção. Ali se concentram boa parte dos criminosos - boa parte ainda adolescentes - usados como soldados em guerras do tráfico. 

Atualmente não há conflito pelo domínio do tráfico neste bairro, mas as disputas são constantes com a Gangue dos Bobós, do Rubem Berta. Até 2011, os grupos eram parceiros, mas houve um racha na quadrilha.

Morro Santana - Vila das Laranjeiras viveu uma guerra entre o final de 2012 e o começo de 2013. A região acabou dominada pelos traficantes da Vila Safira, que surgiram como apoiadores de um dos gerentes locais.

Lomba do Pinheiro - Vila Tamanca é vista como uma das zonas de influência da facção, mas há domínios dos Bala na Cara em outros pontos do bairro. Atualmente, haveria um racha interno. Integrantes da facção estariam em desacordo com a liderança da Vila dos Sargentos.

Sarandi - Três quadrilhas disputam o controle do tráfico local. Uma delas, liderado por um traficante conhecido como Carroça, de acordo com a 3ª DHPP, teria o reforço dos Bala.

São Geraldo - A facção tomou conta dos pontos entre os bairros São Geraldo e Navegantes, entrando em enfrentamento com a facção dos Farrapos, que também domina uma galeria no Presídio Central. Nessa região da cidade, o bando também estaria controlando um esquema de prostituição.

Santa Tereza - Os Bala na Cara estariam por trás de pelo menos duas das guerras pelo controle de pontos de tráfico na Vila Cruzeiro. O grupo conhecido como V7 seria o grupo armado da facção no bairro. Eles estariam apoiando ainda o bando dos Bala de Goma.

Vila Nova - A Vila Monte Cristo e o Campo Novo são apontados como redutos da facção na região. Integrantes da V7 e da Vila dos Sargentos estariam atuando em confrontos principalmente com traficantes da Cohab Cavalhada, que seria dominada pelos Manos.

Restinga - As gangues dos Miltons e dos Primeira são investigadas como relacionadas com os Bala na Cara. A região, porém, não se configura como um domínio sem rivais à facção pelo grande número de gangues atuando na mesma região.

Partenon - A Vila Maria da Conceição sempre foi um objetivo dos líderes dos Bala na Cara. E essa aproximação estaria acontecendo dentro do Presídio Central, desde que o tráfico na área considerada a mais lucrativa da Capital rachou. Alguns líderes ligados aos Bala estariam na galeria dominada pela Maria da Conceição.

Alvorada - Os bairros Umbu, Maria Regina e Aparecida seriam os principais pontos de atuação da facção na cidade, mas a polícia investiga a presença dos Bala em quase todas as regiões da cidade.

Cachoeirinha - O bairro Navegantes foi a primeira área tomada por uma gangue ligada aos Bala na Cara. Desde o ano passado, porém, a polícia investiga a tomada de pontos na Vila Anair e no Bairro Vista Alegre, em uma parceria com traficantes presos recentemente.

Canoas - Desde a morte de Nego Jaime, a liderança dos Bala na Cara no Bairro Mathias Velho estaria vaga, mas eles continuariam atuando na região, assim como no Bairro Guajuviras. Há suspeita de ligações da Gangue dos Bicudos, do Bairro Rio Branco, com os Bala na Cara.

Eldorado do Sul - No mês passado, a polícia desmascarou a investida da facção sobre o Delta do Jacuí, por ordem do traficante conhecido como Pequeno, a partir da Pej.

Esteio - Traficantes da Vila Pedreira teriam retomado o poder nas bocas locais com o suporte dos Bala.

Gravataí - Há pelo menos cinco anos a polícia investiga a presença dos Bala na Cara no tráfico da Vila Rica. Mais recentemente, o bando estaria por trás da guerra do tráfico no Bairro Rincão da Madalena.

Viamão - Foi uma das primeiras áreas de expansão da quadrilha, pela influência do Alemão Lico na região da Hidráulica. Regiões dos bairros Santa Cecília e Santa Isabel também teriam atuação de traficantes ligados à facção. A região seria um dos núcleos da receptação de veículos roubados da quadrilha.

Os cabeças

Presídio Central:

Deividi Vilanova dos Santos, o Zóio. Foi preso ano passado pela 2ª DHPP, apontado como mandante de homicídios na região do Bairro São Geraldo. É apontado pela polícia como gerente dos Bala na Cara entre os bairros São Geraldo e Navegantes.

André Vilmar de Souza, o Nego André. Foi indiciado pela 4ª DHPP como mandante de homicídios na Vila Cruzeiro. É considerado um dos líderes dos V7. Está preso na galeria dominada pela Vila Maria da Conceição e pode indicar a aproximação entre os dois grupos.

Pej

Wagner Nunes Rodrigues, o Minhoquinha. Seria o líder dos Bala na Cara na região do Bairro Mario Quintana. Foi preso em 2011 depois de ser indiciado por pelo menos três homicídios. Na última semana, foi indiciado com mandante de dois homicídios em Eldorado do Sul. De acordo com a polícia, Minhoquinha faria o meio de campo nas parcerias com traficantes da Região Metropolitana.

Jéferson dos Santos Lopes, o Pequeno. Tem mais de 50 anos de pena a cumprir na cadeia, com antecedentes por homicídios. Considerado pela polícia o elo dos Bala na Cara em Eldorado do Sul, mas é originalmente da Zona Norte de Porto Alegre. Ocuparia um cargo de confiança na galeria da facção na Pej

Jaime Evangelista Pires, o Nego Jaime. Foi encontrado morto em uma cela em julho. Teria cometido suicídio. Ele era o elo dos Bala na Cara no Bairro Mathias Velho, em Canoas, mas viu seu poder ruir ao ficar com dívidas com a facção

Paulo Cezar Tonatto, o Barba. É considerado um dos membros originais do bando. Indiciado por diversos homicídios cometidos no Bairro Bom Jesus. Haveria uma divergência de comando dentro da penitenciária entre as lideranças do Bom Jesus e da Zona Norte.

Pasc:

Fábio Fogassa, o Alemão Lico. É apontado pela polícia como o líder mais violento do bando. É investigado pelas delegacias de homicídio de Porto Alegre e de Viamão por ordenar crimes de dentro da prisão. Seria o principal líder da facção na Zona Sul da Capital, a partir da Vila dos Sargentos. Tem antecedentes por roubos, tráfico de drogas e formação de quadrilha. Responde na Justiça por pelo menos quatro homicídios

Luis Fernando da Silva Soares Júnior, o Júnior Perneta. É considerado o principal líder dos Bala na Cara. Natural da Bom Jesus, teria conhecido seus principais comparsas no longo período em que passou por diversas casas prisionais. Agora, está preso desde o começo do mês passado ao ser flagrado pela Polícia Federal com 20,5kg de cocaína em uma garagem do Bairro Menino Deus. Ele também já havia sido preso com drogas em Viamão, em 2010. Tem antecedentes por roubos, formação de quadrilha, tráfico e associação ao tráfico. Responde na Justiça também por pelo menos um homicídio e uma tentativa de homicídio


DIÁRIO GAÚCHO

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

BALA NA CARA: CRUELDADE E HOMICÍDIOS BRUTAIS NAS RUAS

DIÁRIO GAÚCHO 06/08/2014 | 14h28

Carlos Wagner e Mauricio Tonetto

Grupo criminoso formado no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, busca expansão no tráfico de drogas com o emprego da violência nas ruas



Os suspeitos movimentam, em média, segundo a polícia, 5 kg de maconha, 4 kg de crack e 3 kg de cocaína em EldoradoFoto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS


Por ter na ficha criminal a morte de duas crianças, outros cinco homicídios, dez roubos e sete furtos, Jeferson dos Santos Lopes, 29 anos, o Pequeno, ocupa um lugar de destaque na organização criminosa Bala na Cara, nascida nos anos 2000 no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre. Pequeno galgou os degraus no bando pela violência e crueldade, as marcas registradas dos seus liderados.

– A função dele é abrir novos territórios. Faz isso matando os rivais, inclusive crianças – descreve o delegado Alencar Carraro, de Eldorado do Sul, que comandou a detenção de 33 pessoas na Operação Delta, a maioria dos Bala na Cara. Pequeno cumpre uma pena de 57 anos na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ).

Em maio, ele foi indiciado pela morte, com dois tiros, do menino Derick dos Santos Fernandes, de apenas dois meses, e, em abril de 2007, pela execução de Tiago da Silva Farias, seis anos. Os dois assassinatos ocorreram durante a disputa por pontos de droga. Elisandra dos Santos Lopes, 24 anos, mulher de Pequeno, foi recolhida nesta quarta-feira por participação nos homicídios.


Outra liderança da facção criminosa – Luis Fernando Soares da Silva Júnior, o Júnior Perneta – foi preso há 15 dias e levado para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). As detenções fazem parte de uma estratégia da Polícia Civil de retirar de circulação membros importantes dos Bala na Cara.

A organização, ao contrário de outras como Os Manos e Os Brasas, que ganharam força e poder dentro dos presídios, atua principalmente nas ruas e busca expansão para a Região Metropolitana.

Crédito: Ronaldo Bernardi


– Como o nome já diz, a metodologia deles é tomar o negócio na violência. Eles têm representação no Presídio Central e na PEJ, mas o que vemos é que, por conta do que fazem na rua, são proibidos de entrar nas galerias dos estabelecimentos onde eles não têm líderes – diz Gilmar Bortolotto, da Promotoria Especializada de Controle e Execução Criminal de Porto Alegre.

Guerra Civil da Bom Jesus

Os "Bala" se diferenciam do perfil dos traficantes tradicionais porque, segundo fontes policiais ouvidas por Zero Hora, pulverizam o controle das drogas entre ladrões e homicidas. Em 2009, quando foi anunciada a criação de um Território da Paz no Bom Jesus, o bairro chorava a morte de 14 pessoas, supostamente atribuídas ao bando.

– Pequeno se fez respeitar entre os bandidos pela sua crueldade – descreve o delegado Bolívar Llantada, que em 2007 era titular da Delegacia de Homicídios e hoje é do Grupamento de Operações Especiais (GOP).

Llantada combateu os Bala na Cara no auge da organização, quando ela disputava território com outras duas gangues, Os Mirandas e Os Bragés, donos da maioria das bocas de fumo do bairro Bom Jesus. Houve diversas mortes promovidas entre as quadrilhas, no episódio que ficou conhecido como Guerra Civil da Bonja.

Operação Delta

O grupo preso nesta quarta-feira em operação policial na Região Metropolitana é investigado por pelo menos 20 homicídios no último ano. De acordo com a Polícia Civil, a maioria dos 33 detidos pertence aos Bala na Cara.

O negócio da quadrilha é baseado no tráfico de drogas, e os assassinatos são para manter o poder e respeito. Os suspeitos movimentam, em média, segundo a polícia, 5 kg de maconha, 4 kg de crack e 3 kg de cocaína em Eldorado do Sul. A cidade foi escolhida para ser uma espécie de sucursal do bairro Bom Jesus.

ZERO HORA



DIÁRIO GAÚCHO 26/12/2011 | 07h24

Grupo Bala na Cara avança seu domínio

A troca no comando do crime está configurada nas cadeias gaúchas. De uma quadrilha violenta de traficantes, os Bala na Cara já teriam status de facção entres os bandidos. Bando domina galerias no Central e em Charqueadas


EDUARDO TORRES


A descoberta de 37kg de maconha enterrados no pátio de uma casa no Bairro Mathias Velho, em Canoas, na última quinta, significou, para a polícia, mais do que uma apreensão corriqueira de drogas. Foi a demonstração da consolidação de poder dos Bala na Cara na Região Metropolitana. Dentro e fora das cadeias. A polícia já tem elementos que comprovam a transformação do bando originário da Bom Jesus em uma facção organizada.

– Os Bala na Cara dominam algumas galerias dentro dos presídios gaúchos, e pode-se dizer que são uma moda entre os detentos. Diferente de outras facções já conhecidas, como Os Manos ou Os Brasas, eles não surgem de dentro para fora da cadeia. É uma ordem que vem de fora, e hoje é uma das dominantes no sistema carcerário – confirma o juiz da Vara de Execuções Criminais, Sidinei Brzuska.

Segundo ele, as primeiras informações dos Bala na Cara na cadeia teriam chegado à Justiça há dois anos. Hoje, o grupo estaria no auge, como uma moda entre os criminosos, fortalecidos a partir do Presídio Central.

– Nenhuma facção sobrevive sem a força do Central. A partir do momento que se tem o domínio dessa área, a tendência é se sobrepor aos rivais pelo amedrontamento – diz o juiz.

A Força-Tarefa da Brigada Militar que administra o Presídio Central admite a existência das facções, mas garante que não há disputas entre elas. Nessa casa prisional, os Bala já dominariam uma galeria. Em Charqueadas, o grupo também já teria galerias na Pej e na Pasc.

A transferência de Paulo Márcio da Silva, o Maradona, para o Paraná, em abril, teria desencadeado a mudança no comando. Naquele momento, um "racha" dentro dos Bala teria causado uma série de homicídios. Agora, no entanto, as investigações do Denarc apontariam para a organização mais sólida do grupo. E de um modo diferente das organizações tradicionais.

– Não há um nome de líder. Nas ruas, eles seguem um estilo único, de se associar para dominar outras áreas – explica o delegado Rodrigo Zucco.

Nas cadeias, a forma de comando seguiria este mesmo modelo, como uma divisão por lotes de comando.

Das celas para as ruas

O fortalecimento dos Bala na Cara nas cadeias mantém as autoridades de segurança em alerta. É que o problema vai além das relações entre bandidos.

– A relação de forças entre facções se reflete diretamente nas fugas. São elas que determinam muitas vezes, pela pressão, quem pode continuar no presídio. Muitos alegam que fugiram por sofrerem ameaças. Em outros casos, as fugas são planejadas seguindo um comando das facções. No caso dos Bala na Cara, este tipo de situação não é raro – aponta Brzusca.

Nas ruas, a maior força tem reflexo na maior presença do tráfico e da disputa por ele, não raramente com mortes. Execuções entre os bairros Rubem Berta e Mario Quintana, na Zona Norte da Capital, e no Bairro Mathias Velho, em Canoas, são atribuídas diretamente à presença deste bando.

A novidade para a polícia seria a relação dos Bala também com o tráfico da Restinga. Um dos homens responsáveis pelo comando da facção nas cadeias – mais especificamente na Pasc – seria o mesmo apontado como líder de um dos três grupos em guerra desde o começo do ano na Restinga Velha. O bairro concentra o maior número de homicídios na Capital este ano. Conforme o levantamento do Diário Gaúcho, já foram 49 assassinatos na Tinga.

Territórios em expansão

Entre a tarde de quinta e a madrugada de sexta, um dos redutos do novo poder dos Bala na Cara foi o principal alvo da ação do Denarc. Sob comando dos Bala na Cara, uma guerra foi travada entre traficantes do Bairro Mathias Velho, em Canoas. A guerra teria colocado os aliados do traficante conhecido como Fabio Noia – atualmente na Pasc – no poder, com o aval dos Bala.

Na chamada Operação Contenção, os agentes encontraram 37kg de maconha enterrados no pátio de uma casa deste bairro. Foram quatro homens e uma mulher presos. Segundo o delegado Rodrigo Zucco, todos soldados dos Bala na Cara.

Outro quilo da droga, uma pistola 9mm e um revólver calibre 38 foram apreendidos em Viamão e Alvorada. Nestes lugares, os policiais encontraram a comprovação de que, nos últimos meses, a organização se consolidou. Foram apreendidos dois carros – um IX-30 e um Honda Civic – clonados, com placas do Paraná. A polícia acredita que os veículos tenham vindo daquele Estado carregados com droga.

A constatação comprovaria uma investigação revelada em agosto pelo Denarc, quando os Bala na Cara cortavam a rede criada por Maradona para abastecer com drogas a Região Metropolitana. Unindo diversos traficantes, agora esta facção estaria trazendo drogas da fronteira com o Paraguai.

QUADRO:

A história do Bala na Cara

Em 2008 a quadrilha originada no Bairro Bom Jesus começou a ganhar fama pela violência com que eliminava seus rivais.

Em 2009, um relatório da Polícia Civil mostrava que o bando, liderado por Luís Fernando da Silva Junior, o Junior, havia migrado rapidamente dos roubos para o tráfico e praticamente eliminara os dois grupos dominantes até então na Bom Jesus. A partir dali, os Bala na Cara criavam um sistema de alianças em guerras pelo tráfico em outros bairros da cidade.

A partir do final de 2010, os Bala na Cara lideram uma série de conflitos pelo tráfico no tríplice limite entre Porto Alegre, Viamão e Alvorada. O local seria ponto estratégico para armazenamento de drogas e armas do bando.

A quadrilha já tem o respeito das facções tradicionais e se torna um braço armado de Os Manos, grupo liderado por Maradona.

Em abril deste ano, Maradona vira alvo de duas ações policiais e do Ministério Público, que revelam o poder da sua facção. Ele concentraria um verdadeiro consórcio do tráfico na região a partir da Pasc. Por isso, foi transferido para o Paraná.

Com Os Manos enfraquecidos, os Bala na Cara entram em guerra pelo poder das cadeias. Entre julho e setembro, uma série de homicídios são relacionados a esse "racha" na quadrilha.

Agora, os Bala na Cara já seriam comandantes de alas nos presídios gaúchos, o que lhes daria a grandeza de facção no mundo do crime. Diferente dos seus antecessores, eles não teriam um líder único e centralizador.

O que é uma facção

Uma facção alia criminosos de bandos unidos dentro da cadeia. Dentro desta organização, os bandidos criam suas próprias relações de poder e convivência. No Estado, há muitos anos as galerias estariam divididas entre Os Manos, Os Brasas e Os Abertos. Agora, os Bala na Cara têm suas galerias.

Quando saem do presídio, os criminosos devem lealdade à organização. Roubos ou o dinheiro do tráfico têm parte revertida ao benefício dos detentos e suas famílias. Em geral, o comando destes grupos parte da cela para a rua. Entre os Bala, muitas vezes a relação é invertida.

A presença

Nas cadeias: a terceira galeria do Pavilhão F, no Presídio Central; a primeira e a terceira galerias na Pej; duas galerias na Pasc; uma galeria no Instituto Penal Mariante; um setor na CSE, da Fase.

Nas ruas: Bom Jesus, Rubem Berta, Mario Quintana, Restinga, Serraria, Cohab Cavalhada (Porto Alegre); Alvorada, Viamão, Guaíba, Canoas.



DIÁRIO GAÚCHO 30/05/2013 | 08h19

Com matadores de aluguel, facção dos Bala na Cara vira "firma do tráfico" na Região Metropolitana. Em posição de comando nos principais presídios do Estado, líderes colocam em prática o seu método empresarial de mandar no tráfico

Eduardo Torres


Diante dos policiais, o guri de 14 anos, pequeno e magrinho, falava de assassinatos com naturalidade. Contabiliza na sua lista ao menos três vítimas desde que entrou para a criminalidade, aos oito anos. Mas, para a polícia, foram mais.

Desde o começo do mês, estava com um grupo de bandidos em um apartamento no Bairro Mathias Velho, em Canoas, com a missão exclusiva de matar. Nem conhece direito aquela região. Pudera, veio da Vila Safira, no Bairro Mario Quintana, Zona Norte da Capital, a mando dos Bala na Cara.

- Onde me mandam, eu vou lá e mato - resumiu.

Facção quer crescer

Antes de ser levado para a Fase, o matador foi enfático: estava ali sob ordens do tráfico, e depois voltaria à sua base, esperando outra missão.

Personagens como ele seriam a ponta do projeto de crescimento dos Bala na Cara, alçados, desde 2011, à importância de facção nos presídios gaúchos. A quadrilha está presente em praticamente todas as guerras do tráfico na Região Metropolitana.

"São os agiotas do crime"

A investigação da Delegacia de Homicídios de Canoas é encarada como o fio condutor para entender como agem os Bala na Cara.

- Eles se tornaram agiotas do crime. O envio de matadores para "limpar a área" é parte desse pacote de serviços. Sabemos que a ordem parte da cadeia e vamos atrás dos líderes - garante o delegado Marco Guns.

Socorro a patrões em declínio

Com seus principais articuladores em posições de liderança nas galerias da Pasc, Pej e Presídio Central, os Bala na Cara teriam se tornado o socorro de patrões da droga decadentes. São traficantes endividados, tentando reerguer seus antigos domínios.

- Os Bala na Cara compram as dívidas desse criminoso, mas ele fica condicionado a comprar drogas exclusivo deles e dar parte dos lucros para a facção. Em troca, recebe armas e, quando precisa se livrar de devedores, desafetos ou há guerras pelas bocas, os matadores chegam na vila a mando dos Bala - diz um policial de Canoas.

Prisão em Canoas revela o método dos Bala na Cara

A polícia de Canoas teve a primeira pista do plano de retomada do tráfico no Bairro Mathias Velho, em Canoas, com o suporte dos Bala, em dezembro do ano passado. Naquela época, a Brigada Militar prendeu, por porte ilegal de armas, dois homens de Porto Alegre que circulavam de carro pelo bairro. O detalhe estava no histórico dos dois: um, apontado como gerente do tráfico no Bairro Bom Jesus, o outro, como matador no Bairro Mario Quintana.

Este ano, no começo de maio, a investigação deslanchou. Os matadores dos Bala erraram o alvo. A ordem era executar um pequeno traficante que teria traído o "contratante" dos Bala, comprando drogas de outro fornecedor. Porém, mataram um comparsa dele. Dênis Antônio da Silva Prado, 18 anos, foi morto com um tiro na cabeça no dia 6 de maio.

- Essa "falha" forçou eles a mudarem o método. Antes, sabíamos que o pessoal vinha até a Mathias, cumpria a ordem e voltava. Agora, estavam até procurando casas para alugar. Provavelmente se estabeleceriam aqui, depois de cumprirem a ordem de execução - diz um policial.

Matadores ficaram na cidade

Sábado passado, o grupo, que permaneceu na cidade, tentou matar o traficante. Na segunda, a Operação Contundência apreendeu quatro adolescentes entre 14 e 17 anos, um jovem de 18 anos e um casal de 30 anos em um apartamento na Rua Santo Ângelo. Com eles, foram apreendidos dois revólveres calibre 38, um calibre 32, além de uma pistola .40.

Os três adolescentes - um deles, o guri de 14 anos - e o jovem vinham do Bairro Mario Quintana, na Capital.

"Os invisíveis"

O trunfo das parcerias da facção está na "invisibilidade". As informações sobre homicídios até chegam à polícia, todos sabem quem supostamente mandou cometer os crimes. Sabem também que os Bala na Cara estão no meio. Mas testemunhas são incapazes de reconhecer quem comete os crimes.

- Nossa grande dificuldade é sempre identificar quem atirou, porque são pessoas desconhecidas na vila - aponta Marco Guns.

No crime, desde os oito anos

O guri de 14 anos apreendido em Canoas, é um dos dez filhos de uma família pobre da Vila Safira, no Bairro Mario Quintana, Zona Norte da Capital. Chegou a ajudar o pai no trabalho de flanelinha, mas o viu morrer antes de completar 30 anos, corroído por crack e cachaça. Aos oito anos, como ele mesmo descreve, "colou com uma gurizada do crime". Aos 14, já adquiriu prestígio de matador entre os Bala na Cara. É a ele que os gerentes recorrem no momento de cumprir as ordens do comando.

- Eu gosto é de ver o sangue ainda quentinho, escorrendo dos caras, sabe. Tenho sangue nos olhos - gabava-se o guri no depoimento prestado à Delegacia de Homicídios, de Canoas, na segunda-feira.

Ele saiu do verdadeiro criatório de soldados da facção, com o perfil procurado e protegido pelos líderes.

- Eu nem conheço trabalhador, também não mexo com família. Só mato vagabundo. Eles me dão o que tem que dar por isso, eu mato, e pronto. Não sou mais soldadinho - disse, garantindo que já matou outros antes do crime do dia 6 de maio, no Mathias Velho. Em todas as vezes anteriores, revelou, "alguém abraçou a bronca".

Adolescentes matam para ganhar prestígio

A suspeita da polícia é de que os soldados desse exército do tráfico saem do Bom Jesus, Mario Quintana, Vila Esqueleto, Vila Mapa e Vila dos Sargentos - locais de Porto Alegre onde os Bala já conseguiram construir bases mais sólidas. São os principais comandados para missões nas áreas aliadas. Matam, segundo os investigadores de Canoas, pelo prestígio dentro da organização.

- Imagine o caso desse menino, sem nenhuma perspectiva, que ganhou uma pistola. O pagamento para ele é esse status entre os criminosos - resume o delegado Marco Antônio Guns.


DIÁRIO GAÚCHO

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O PCC E OS ÔNIBUS


O Estado de S.Paulo 29 de maio de 2014 | 2h 09


EDITORIAL




É da maior importância a investigação conduzida pela Polícia Civil para determinar se existe ou não ligação do Primeiro Comando da Capital (PCC) com os perueiros, que são um dos pilares do serviço de ônibus da capital paulista. Isso deveria ter sido feito há mais tempo, porque a suspeita já é antiga e porque é evidente o risco para a segurança pública e o serviço de transporte da cidade de uma possível infiltração nele daquela organização criminosa que, comandada de dentro dos presídios, continua a expandir suas atividades aqui fora.

O que chamou a atenção para o caso foi a informação de que, durante diligência feita em março para apurar a presença de integrantes do PCC em ataques a ônibus em São Paulo, a polícia constatou que o deputado estadual Luiz Moura (PT), ligado ao secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, estava presente em reunião da qual participavam nove suspeitos de pertencer àquela organização.

Moura negou que sua presença ali tivesse qualquer conotação criminosa - ele não estava entre as 42 pessoas levadas ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) para prestar esclarecimentos -, mas isso não impediu que a direção do PT em São Paulo formasse uma comissão para ouvir suas explicações a respeito das suspeitas que envolvem seu nome. Se nem seu próprio partido se deu por satisfeito com sua negativa pura e simples, nada mais natural que a população também queira saber mais a respeito.

É claro que a eventual confirmação da ligação de Moura com elementos do PCC daria outra dimensão ao caso, mas independentemente disso ele é grave o suficiente para merecer atenção da polícia. Que há algo no mínimo estranho na reunião, realizada na sede da cooperativa de perueiros Transcooper, parece claro. Basta dizer que, além dos nove suspeitos de ligação com o PCC, ali estava - e foi detido - Carlos Roberto Maia, conhecido como Carlinhos Alfaiate, "famoso ladrão de banco dos anos 1990", segundo a polícia. Outros têm "vida pregressa negativa, com passagens por crimes contra o patrimônio". São companhia nada recomendável, para dizer o mínimo.

A polícia suspeita que integrantes do PCC sejam donos de micro-ônibus e vans colocados em nomes de "laranjas". Por isso, vai investigar quem são os perueiros registrados na Prefeitura e no nome de quem estão os veículos. Assim, poderá verificar se eles têm como justificar a propriedade de micro-ônibus e vans das cooperativas que integram o sistema de transporte público.

Esse é um bom negócio. Os perueiros são pagos pela Prefeitura com base no que arrecadam diariamente e, dependendo na linha, recebem até R$ 1,2 mil por dia. De acordo com a São Paulo Transportes (SPTrans), empresa que gerencia o serviço de ônibus, o proprietário de cada veículo recebe em média R$ 25,7 mil por mês. Não faltam atrativos para ao mesmo tempo obter lucro e lavar dinheiro do PCC.

Os indícios de que o crime organizado vê um rico filão para seus "negócios" nas cooperativas de perueiros são muitos e fortes. É um setor ainda novo - ao contrário do dos ônibus, já ocupado há muito por empresas consolidadas - e, portanto, vulnerável a aventureiros. E a reunião descoberta pela polícia só reforça a impressão de que eles não perderam tempo.

Outro forte e inquietante indício está nos incêndios criminosos de ônibus, que não param de crescer. Desde o início do ano, foram 76 veículos incendiados, bem mais do que o total de 2013 (66). Casos de micro-ônibus e vans são, ao contrário, raríssimos. Por que, justamente nesses que compõem o setor que seria objeto da cobiça do PCC ninguém toca? Como o serviço que eles prestam não é melhor do que o dos ônibus, não estão sendo poupados pela sua qualidade.

A polícia precisa esclarecer essas dúvidas o quanto antes e, se confirmadas suas suspeitas, agir com o máximo rigor. O controle de uma parte importante do serviço de ônibus da maior cidade do País pelo PCC - que mais uma vez demonstraria que sua ousadia não conhece limites - é inaceitável.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

PRISÃO DO LÍDER DOS BALA NA CARA

DIÁRIO GAÚCHO 15/05/2014 | 10h01

Líder dos Bala na Cara é preso na Capital. Rafael Telles da Silva, o Sapo, 26 anos, foi preso na noite de terça-feira com outros três homens, em um Fox com placas clonadas no Bairro Sarandi



Rafael Telles da Silva, o Sapo, gerente do tráfico da facção Bala na Cara foi preso no Bairro SarandiFoto: divulgação / Brigada Militar/Divulgação


Carlos Ismael Moreira


O homem apontado com o principal articulador das ações da facção Bala na Cara foi preso em flagrante na noite de terça-feira, em Porto Alegre. Rafael Telles da Silva, o Sapo, 26 anos, seria o gerente de tráfico do bando. Ele e outros três homens foram capturados por PMs do 20º BPM, em um Fox branco com placas clonadas, parado em uma abordagem de rotina na Rua Osmar Gomes, no Bairro Sarandi, por volta das 20h30.

Com os quatro, os PMs ainda apreenderam cerca de R$ 14 mil. O quarteto foi levado para a 3ª DPPA, para registro do flagrante. De lá, foram encaminhados para o Presídio Central.

Condenado a 14 anos e três meses de reclusão por homicídio qualificado, Sapo ganhou o direito de progressão para o regime semiaberto em outubro do ano passado. A Justiça, porém, determinou que ele desse sequência ao cumprimento da pena em casa, por falta de vagas no semiaberto. Antes, ele já havia passado pela Penitenciária Estadual do Jacuí (Pej) e pela Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), instituições onde cumpriu seis anos e quatro meses do total de sua condenação.

Mesmo antes de ganhar as ruas, Sapo sempre teve papel importante na facção. Ele é um dos líderes desde o começo dos Bala na Cara, em 2007, quando o bando que comandava algumas bocas de fumo no Bairro Bom Jesus passou a chamar a atenção da polícia. Em 2009, o nome dele já aparecia em um relatório confidencial sobre o bando, que circulava pelo alto escalão da Segurança no Estado.

No documento, revelado à época pelo Diário Gaúcho, Sapo aparecia como o encarregado de gerenciar, de dentro da Pej - onde estava recolhido - a distribuição da droga e o comércio nas bocas da quadrilha.

Facção cresceu

A partir de 2007, quando surgiram, os Bala derrubaram as gangues rivais no Bom Jesus e passaram a dominar a área. Com ataques a bancos e joalherias, o bando cresceu. Passou a se organizar como uma espécie de franquia, financiando armas e soldados para outras gangues na Região Metropolitana que, em troca, passavam a vender a droga dos Bala.

Sapo seria um dos líderes de todo o esquema, ao lado de pelo menos um comparsa, Fábio Fogassa, o Alemão Lico, 36 anos, que atualmente está preso na Pasc e acumula uma pena total de 46 anos e seis meses de condenações por roubo, tentativa de homicídio e homicídio.

Denarc não comenta

O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) admite a existência de investigações sobre os Bala na Cara como quadrilha de tráfico na Região Metropolitana, mas evita comentar qualquer detalhe sobre o bando.

- Existe organização? Existe. Mas eu não valorizo a ação desses criminosos mais do que as de quaisquer outros. Daqui a pouco, criamos um PCC, como em São Paulo - declarou o diretor da Divisão de Investigações do Denarc, delegado Cleber Lima.

Morte por um boné

A ficha criminal de Sapo acumula diversas ocorrências por roubo, lesão corporal, furto e um homicídio, pelo qual foi condenado. O assassinato foi cometido em março de 2007, dentro da Fundação de Assistência Social (Fasc) da Capital. Acompanhado de outros dois comparsas, Rafael entrou na instituição e matou a tiros Edilson Lorenço de Oliveira.

O crime teria sido motivado por uma vingança. Quatro anos antes do crime, um primo de Sapo teria tentado roubar o boné de Edilson, que reagiu e bateu no ladrão. A partir daí, Edilson teria ficado jurado de morte.

Condenado a 14 anos e três meses de prisão, Sapo começou a cumprir a pena em regime fechado na Pej. Em agosto de 2012, foi transferido para a Pasc, mas retornou à Pej em dezembro. Em maio do ano passado, voltou para a Pasc e, em outubro, progrediu para o semiaberto, com o direito de cumprir o restante da pena em casa. Levado ontem para o Presídio Central, deve regredir para o regime fechado.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

COM TRIBUNAIS DO CRIME, FACÇÃO EXERCE SEU PODER

R7 5/5/2014 às 00h15

Especialistas falam como é o júri do PCC nas favelas paulista



A Casa de Detenção, no Complexo do Carandiru, onde ocorreu o primeiro tribunal do crime, em 1993Itamar Miranda/Estadão Conteúdo/05.10.1992

O domínio do PCC em regiões da cidade não apenas inibe as rondas policiais, mas também rege a relação entre os moradores. Os chamados tribunais do crime julgam e punem erros de procedimento de pessoas ligadas ou não à facção.

O jornalista e escritor Percival de Souza, comentarista da Rede Record, é um dos maiores estudiosos da estrutura do crime organizado no País. No seu livro Sindicato do Crime – PCC e outros grupos, ele explica como funcionam os tribunais.

Um “irmão” (forma como se tratam os integrantes do PCC) pode ser julgado, entre outras coisas, por permitir apreensões de drogas, prisões e mortes de integrantes; denunciar parceiros ou operações do grupo à polícia, negar suporte exigido pela organização à família de componentes e cometer violência física ou sexual gratuita em comunidades onde funcionam partes da organização.

O jornalista detalha:

— O PCC tem essas regras definidas num estatuto. Há o comando central, do qual fazem parte Marcola, Júlio Cesar Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, e outros líderes supremos. Essa cúpula define as situações em que serão montados os tribunais de escalões inferiores e superiores, formados por integrantes chamados por eles de “disciplinas”.

As penitenciárias, no vocabulário do grupo, são as “faculdades”. A explicação: nelas o PCC “ministra cursos” para ensinar práticas criminosas como transportar drogas em grande quantidade e explodir caixas eletrônicos.

Percival enumera os delitos mais comuns julgados pelos tribunais:

— No formato, os tribunais de disciplina reproduzem o modelo da sociedade. Há o acusado, o acusador, a possibilidade de defesa, a comissão julgadora e, por fim, a pena. Com uma diferença em relação à vida real: quase não há absolvição. Praticamente todos são condenados. As penas podem ir do afastamento temporário ou definitivo dos negócios do PCC (basicamente tráfico de drogas em grande escala, roubo a bancos, explosões de caixas eletrônicos e assalto a grandes empresas) à execução do acusado.

Percival de Souza acrescenta dois pontos curiosos:

— Os líderes do PCC não acreditam ou consideram que os setores de inteligência da polícia sejam capazes de identificar uma operação bem planejada e executada sem erros pelo grupo. Para eles, se a casa caiu é porque houve ação de dedo-duro ou falha grave. Logo, a punição deve existir.

Primeira jornalista a relatar a existência da facção criminosa, Fatima Souza, autora do livro PCC, A Facção, afirma que o primeiro tribuna aconteceu dentro da Casa de Detenção, no Complexo do Carandiru, em 1996.

Ela afirma que o tribunal é formado por onze jurados. No caso, as principais lideranças da facção na região. Os jurados podem estar presentes ou falarem por meio de telefones celulares ou rádio.

— A maior parte das condenações a morte ocorreu por causa de desvio de dinheiro da facção.

Segundo Fatima, o fato de os tribunais terem se estendido para além das muralhas dos presídios fez com que pessoas que vivem nas comunidades onde a facção atua passassem também a procurar as lideranças do crime organizado para resolver pequenas questões.

— Houve um caso em uma comunidade do Jaguaré em que, após um incêndio, os integrantes da facção foram procurados para que os assistentes sociais da prefeitura não deixassem o local antes de terminar o cadastramento, o que de fato aconteceu.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

MEXICAN DRUG LORD

A título de curiosidade, armas/dinheiro e etc encontrados dentro de uma mansão de um Chefe do Tráfico mexicano. A coleção de armas deixa qualquer museu no chinelo, e a quantidade de dinheiro deixa o Bill Gates com inveja. 

Mexican Drug Lord home after being raided

FONTE: http://imgur.com/a/DYU2e

There was a matched pair of these found.

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.357 Magnum semi-automatics with solid gold grips.

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This guy had a better gun collection that most legitimate museums do.

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Just a quaint little villa in the hills - Drug money bought it all!

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Man-made cave and hot tub inside the home.

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A collection of exotic animals - which were cared for in the grandest fashion, by the way.

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8 Lions were on the property.

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A very rare Tiger.

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The back yard pool.

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Exotic art collection - some of which was illegal to own - some stolen.

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More guns than you could ever imagine!

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This pile of cash before it was counted was estimated to be approximately 18 Billion Dollars!

This pile of cash before it was counted was estimated to be approximately 18 Billion Dollars!
After it was counted it turned out to be a little more than 22 Billion Dollars!

From another angle.

From another angle.

Guns were hidden all over the house, along with ample ammo, just in case of trouble.

Guns were hidden all over the house, along with ample ammo, just in case of trouble.

Stacks of cash were found in every nook and cranny...

Stacks of cash were found in every nook and cranny...
This case is filled with 100 dollar Bills estimated to be 1/2 a million dollars and no doubt headed out to make another drug deal with perhaps the Columbia ns.

18 plastic bins filled with 100 dollar bills were found...

18 plastic bins filled with 100 dollar bills were found...

Another cabinet stack tight with cash - all 100's.

Another cabinet stack tight with cash - all 100's.

More 100's.

More 100's.
Each of these stacks of 100's holds USD250,000 (a quarter of a million US dollars)! They also had millions in Columbia n money and Mexican Pesos, although they preferred American dollars for the most part.

There were even stacks of Chinese Yuan found in one closet.

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More Gold machine guns and pistols - most were never fired, just held for collection value.

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The money and valuables found in this one house alone, would be enough to pay for health insurance for every man woman and child in the USA for 12 years! It is estimated to be approximately 27 more of these houses in Mexico alone. Not to mention the ones in other countries who are enriching themselves in the drug trade. These people have so much money, they make the Arab oil sheiks look like welfare recipients. Their money can buy politicians, cops, judges, whatever they need they just throw down stacks of cash and it is theirs! This is why the drug problem is so difficult to fight.