quinta-feira, 31 de outubro de 2013

VEREADOR SUSPEITO DE INTEGRAR MILICIA CARIOCA

FOLHA.COM 31/10/2013 - 10h02

Polícia prende ex-vereador suspeito de integrar milícia na Baixada Fluminense

DO RIO


O ex-vereador Jonas Gonçalves da Silva, conhecido como Jonas é Nós, foi preso na manhã desta quinta-feira com outros nove suspeitos de integrar uma milícia em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Por volta das 9h30, policiais civis ainda cumpriam mais 13 mandados de prisão preventiva na região.

A operação, batizada de Capa Preta 2, visa a desarticular um dos grupos de milicianos mais violentos do Estado, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio.

"Entre as práticas criminosas estão homicídios, inclusive o de testemunhas de inquérito policial; cobrança de taxas para serviços clandestinos de segurança; a imposição da compra de cestas básicas por valores acima do mercado; tráfico de armas de fogo; agiotagem; exploração da distribuição ilícita de sinal de TV a cabo e internet; exploração de jogos de azar; prestação de serviços de transporte coletivo alternativo clandestino (vans e moto-taxis); e a venda ilegal de botijões de gás", afirma a Secretaria de Segurança, em nota.

De acordo com as investigações, a quadrilha age pelo menos desde de 2007 em bairros do município de Duque de Caxias. A polícia ainda não informou se há PMs envolvidos nos crimes. A Folha não conseguiu contato com a defesa do ex-vereador.

Participam da ação desde cedo policiais civis da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), a coordenadoria de inteligência da Polícia Militar, a Corregedoria da PM, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e a Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança.

O nome da operação é uma referência à operação Capa Preta, realizada em 2010. Na ocasião, todas as testemunhas de acusação do processo criminal foram assassinadas, com exceção do delegado titular da Draco, Alexandre Capote.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

LIGAÇÃO COM O PCC

ZERO HORA 25 de outubro de 2013 | N° 17594

Presos 35 suspeitos em quatro Estados


O Ministério Público do Mato Grosso deflagrou a Operação Ad Sumus, que cumpriu 35 de 50 mandados de prisão expedidos ontem. Do montante de acusados por envolvimento com o PCC, cinco estavam em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rondônia.

A operação foi coordenada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), que apreendeu drogas e armas. De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público, 19 suspeitos já estavam presos. O grupo foi denunciado por associação ao tráfico de drogas e formação de quadrilha. Um dos integrantes responderá por homicídio.

Conforme o Gaeco, a denúncia é resultado de investigações feitas entre março de 2012 e junho deste ano. No período, algumas prisões foram efetuadas, como a de um dos líderes do PCC no Estado, João Batista Vieira dos Santos. Na ocasião, ele estava com mais de uma tonelada de maconha.

“Parte das atividades delituosas desembocaram suas nefastas consequências em outros Estados da Federação, sobretudo Rondônia e Mato Grosso do Sul”, diz um trecho da denúncia do MP.

Facção atua desde 1999 em prisões do Mato Grosso

O Gaeco afirma que a atuação do PCC em Mato Grosso começou em 1999, quando o atual líder Marcos Willian Camacho, o Marcola, permaneceu detido por cerca de seis meses na Penitenciária Central do Estado, após ter promovido roubo de aproximadamente R$ 6 milhões da agência matriz do Banco do Brasil em Cuiabá. No mesmo ano, em 5 de junho, Marcola e outros dois presos fugiram pela porta da frente do presídio.

Desde então, o grupo vem tentando se organizar e fortalecer a facção no Estado. Segundo a denúncia, “o PCC possui estatuto próprio e regras rígidas. Cada ‘irmão’ deve contribuir com o pagamento de uma taxa mensal, esteja ele preso ou em liberdade. O dinheiro arrecadado é usado para compra de armas e drogas, além de financiar a fuga ou resgate de integrantes da facção”.

Estima-se que existam mais de cem integrantes atuando no Mato Grosso. Alguns deles, mesmos presos, continuam praticando delitos. Para se tornar integrante do “sindicato do crime”, o candidato deve ser apresentado por um membro e ser “batizado”, tendo como padrinhos três “irmãos”.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ORDEM PARA MATAR POLICIAIS E ATÉ CRIANÇAS

REDE GLOBO FANTÁSTICO, Edição do dia 20/10/2013

Facção dá ordem para matar policiais e até crianças de dentro do presídio. Escutas inéditas mostram a crueldade da quadrilha que controla os presídios de São Paulo. As conversas são assustadoras.



Ordens para cometer atentados, para matar policiais e até crianças. É assim que age a quadrilha que comanda crimes de dentro das cadeias de São Paulo.

Domingo (13), o Fantástico mostrou a estrutura desse grupo. Novos detalhes da investigação do Ministério Público revelam a extrema violência desses bandidos.

A ordem para os bandidos que estão fora das cadeias é: “Aquele que vier a mexer com a nossa família terá sua família exterminada. Vida se paga com vida e sangue se paga com sangue”.

E para matar, roubar e vender drogas, eles têm um arsenal.

Gravação 1: Nóis têm é um monte de fuzil guardado.
Gravação 2: Nóis vai regaçar tudo, tio.

Uma violência que não conhece limites: "Falou que vai matar a família nossa e as crianças”.

O Ministério Público investigou, nos últimos três anos, os chefes da quadrilha que estão presos na penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.

Lá de dentro saem as ordens para os comparsas que estão nas ruas. Todos os criminosos são obrigados a seguir um estatuto, escrito em 2011, com regras bem definidas e repassadas por celular. Quem descumpre o estatuto paga com a vida.

Gravação: O preço da traição é a morte. Toda missão destinada deve ser concluída.

Roberto Soriano tem 36 anos. Seu apelido é Tiriça. Segundo as investigações, ele elaborou o estatuto da quadrilha.

Em novembro de 2012, Tiriça foi transferido para o presídio federal de Porto Velho. Em um telefonema com um comparsa, falou que tem uma carta na manga para 2014, que só vai ter a Copa do Mundo de futebol no Brasil se os bandidos quiserem; e que, se fosse preciso, contaria com ajuda de quadrilhas do Rio de Janeiro.

O estatuto da facção paulista menciona esse tipo de parceria criminosa.

Gravação: O crime fortalecer o crime. Esta é a ideologia.

Também está no estatuto: agentes penitenciários e policiais são inimigos.

Gravação: Já mandei matar uns cinco que eu sei que tem na quebrada. Pega mãe, pega tudo, truta. Pega filho, pega todos.

Na denúncia do Ministério Público consta que, em 2009, os criminosos mataram a tiros o agente Denilson Jerônimo. O assassinato foi em frente à casa dele, em Álvares Machado, no interior de São Paulo.

Denílson trabalhava na penitenciária de Presidente Bernardes, onde é aplicado o RDD, o Regime Disciplinar Diferenciado, o mais rígido de São Paulo.

Depois do assassinato do agente, um ex-integrante da quadrilha revelou à polícia quem cometeu o crime. Em represália, a mulher do delator - chamado de "cagueta" pelos bandidos - foi morta dentro de casa, em 2010.

Ele prometeu se vingar: “Não vai respeitar as criança. Vai matar criança também. Porque parece que pegaram a pessoa, na frente da filha dele”, diz Tiriça em gravação.

A quadrilha mandou o seguinte recado: “Falar para esse cara que é o seguinte: se ele ficar com essa palhaçada, nós vai derreter a família dele inteirinha”.

O Ministério Público também investigou a recente onda de ataques contra policiais. Entre julho e dezembro de 2012, 48 PMs foram assassinados em São Paulo.

Foi confirmado que existia um "salve", ou seja, uma ordem para matar: “Se for executado um irmão,será executado dois policiais. Esta determinação deve ser acatada por toda irmandade, de todas as regiões”.

O cabo da Força Aérea Luiz Henrique Pereira, de 31 anos, foi morto em Campinas, com 29 tiros de fuzil. Ele estava à paisana em uma pizzaria. A promotoria suspeita que Luiz foi confundido com um PM. Segundo a investigação, escutas telefônicas mostram os bandidos falando tranquilamente sobre o assassinato, uma hora depois.

"Alugar casa" significa matar policial.

Gravação 1: Foi agora de pouco que nóis alugou a casa, lá.
Gravação 2: Tá bom, então, irmão. É nóis, parça.

A família do cabo da Aeronáutica não quis gravar entrevista. A mulher dele disse que, 20 dias depois da morte do marido, nasceu o segundo filho do casal e que é muito triste ver as crianças crescerem sem a presença do pai.

Até o começo de 2014, serão instalados bloqueadores de celulares nas cadeias, informou o secretário de Segurança de São Paulo.

Sobre a ameaça de ataques durante a Copa do Mundo, ele disse: “Não há motivo para alarmismo porque até agora não há nenhum elemento concreto que indique a existência de um plano real”.

O Tribunal de Justiça de São Paulo negou o pedido do Ministério Público de prisão imediata de 175 denunciados por envolvimento com a quadrilha.

Nos próximos dias, o tribunal vai decidir se 35 presos - apontados como os chefes da facção - vão para o Regime Disciplinar Diferenciado.

“O Estado e a sociedade não estão reféns do crime organizado. O Estado tem a capacidade de reagir e, a qualquer momento, seremos também capazes desarticular de maneira sistemática toda a organização criminosa”, diz Márcio Fernando Elias Rosa, procurador-geral de Justiça de São Paulo.
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sábado, 19 de outubro de 2013

COMO DERROTAR O EXÉRCITO DO PCC

REVISTA ISTO É N° Edição: 2292 | 18.Out.13 - 20:50 | Atualizado em 19.Out.13 - 10:38

A facção criminosa que nasceu em São Paulo hoje é um problema nacional. É preciso uma ação articulada de todas as forças de segurança e do poder judiciário para combatê-la, além de endurecer as regras na prisão, como fizeram os italianos com os mafiosos

por Wilson Aquino e Michel Alecrim



No topo do organograma da maior rede de crime organizado do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), está a Sintonia Final Geral, composta pela cúpula da bandidagem. Por apenas uma letra, a denominação difere de sintonia fina, a palavra que reúne a principal alternativa, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ, de combate à poderosa máfia nascida no presídio de Taubaté, em São Paulo, nos anos 1990, que, hoje, atua em 22 das 27 unidades da federação e domina presídios no País todo, com ramificações em países como a Bolívia e o Paraguai. Em um milimétrico estudo e cruzamento de dados, o Ministério Público de São Paulo mostrou a fortaleza na qual o PCC se transformou, sob as barbas de autoridades paulistas que negligenciaram o monstro em seu nascedouro. Essa máfia, hoje, não é mais um problema só de São Paulo. Virou um problema brasileiro. E a sintonia urgente é justamente uma ação coordenada e inteligente de todos os poderes em prol de uma ampla reestruturação do sistema penitenciário e de segurança.



“A principal conclusão a que chegamos depois desse inquérito é que o PCC é uma organização nacional e, como tal, o governo federal não pode ficar fora desse problema”, diz o sociólogo Luiz Flávio Sapori, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Ele defende uma força-tarefa composta pela Polícia Federal, Receita Federal, polícias estaduais e MPs estaduais para atacar o poder de articulação e de financiamento dessa quadrilha, que fatura R$ 120 milhões por ano, basicamente com tráfico de drogas.

Uma das alternativas pode ser o fortalecimento da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), que perdeu importância estratégica. “Reduziram os investimentos e destruíram as possibilidades de se criar um sistema único de segurança pública, com um banco de dados que pudesse ser compartilhado por todos os segmentos que enfrentam o crime”, diz o antropólogo Paulo Storani, ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro.

***

Inventário do crime

As armas, os carros e a contabilidade dos bandidos

Andres Vera e Pedro Marcondes de Moura


ISTOÉ teve acesso a mais de 70 documentos da contabilidade do Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo. De relatório sobre a compra de metralhadora de guerra a levantamento da frota de carros da facção, os números revelam o lado “empresa” da organização criminosa. Maconha é “morango”. Advogado é “gravata”. Mensalidade é “cebola”. E assim segue uma infinita e confusa lista de nomes trocados que o PCC emprega, tanto nas ruas como em seus documentos internos. Nesse último caso, arquivos de Word e planilhas de Excel com o cotidiano contábil da maior facção criminosa do País. Apreendidos ao longo de operações da Polícia Militar, eles são parte importante de uma investigação de três anos conduzida pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. O vocabulário ali pode soar estranho a uma grande empresa legalizada. Os números, não.

É o que prova, por exemplo, o arsenal de 88 fuzis, 42 pistolas, quatro rifles, três metralhadoras, uma dinamite e 178 pentes de munição. Eis o balanço do “setor das ferraduras”. Trata-se do armamento de parte do PCC paulista em outubro de 2011. O poder de fogo é grande a ponto de desprezar o revólver 38, mais comum e barato, nas estatísticas “oficiais”. Na coluna dos fuzis, no entanto, a profusão de letras e números é digna de quartel militar – os modelos AK-47, AR-15 e M-16 estão entre os preferidos. No relatório do mês seguinte, novembro de 2011, o bando vai às compras: a lista ganha 12 fuzis e 25 pistolas. O PCC tem inventários de dar inveja a muita empresa legalizada. Outra planilha, também de outubro de 2011, segue os moldes de uma locadora de carros. O título é sugestivo: “setor dos pés de borracha”. São 55 carros e oito motos na frota do crime. Ao lado de Celtas e Corsas, chamam a atenção uma Cherokee blindada e um micro-ônibus. O arquivo descreve tudo. Motorista responsável, ano de fabricação, existência de documentação e estado de conservação. Sobre um Vectra GT sem documento, há uma nota de rodapé: “estava com o Dr. Rogério, foi mandado para os gravatas e o recibo não veio”. “Gravatas”, como se sabe, são os advogados que trabalham para a facção. Apenas em setembro de 2011, como mostram os documentos a que ISTOÉ teve acesso, eles receberam R$ 220 mil das mãos do PCC. Os defensores dos criminosos também têm um “setor” próprio, o “setor dos gravatas”. São parte importante do extenso universo da contabilidade da facção, ao lado das “ferraduras” e “pés de borracha”, entre outros.



No “setor do progresso”, por exemplo, é controlado todo o dinheiro do tráfico de drogas. Listadas sob o codinome de frutas (em uma planilha igualmente colorida), as drogas são o carro-chefe do faturamento. Segundo estimativa do Ministério Público, rendem R$ 8 milhões mensais ao PCC. Há também um “setor” dedicado apenas ao cigarro. Menor, mas não menos importante. A venda de maços nos presídios paulistas movimenta mais de R$ 100 mil mensais. O valor é baixo se comparado ao lucro dos entorpecentes, mas revela o poder de influência da facção nas prisões de São Paulo. Na cadeia, o cigarro representa uma importante moeda de troca entre os detentos. Um documento revela, em valores e quantidade, quanto entrou e quanto saiu de 43 prisões paulistas. A lista é grande. Vai de centros de detenção provisórios, como Osasco e Vila Prudente, até penitenciárias para detentos especiais, como a de Tremembé, no interior de São Paulo. Segundo o Ministério Público, o PCC controla 90% dos presídios de São Paulo. Por fim, há ainda o curioso “setor da cebola”. Por “cebola” entenda-se a mensalidade de R$ 600 que os integrantes devem pagar aos líderes regionais do tráfico. Novamente, o arquivo é preciso e rico em detalhes. Em um documento de novembro de 2011, a facção lista 25 nomes de grandes devedores e um montante de R$ 2 milhões não pagos. Em destaque, há a descrição de prazo de pagamento e a situação de cada um: “ainda não assumiu”, “foi preso pela Rota” ou “foi roubado em casa”. Em alguns casos, membros do grupo tentam intervir em favor de amigos ou familiares “na mira”, como mostra uma ligação telefônica interceptada pela polícia. “Onde já se viu querer cobrar uma dívida de uma criança de 13 anos? Tá com brincadeira?”, diz um traficante.

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Os documentos obtidos não revelam apenas parte da dinâmica contábil da maior organização criminosa do País em seu quartel-general, o Estado de São Paulo. Entre as planilhas de Excel reunidas pela investigação, há também mensagens trocadas entre líderes da facção e seus subordinados. São os chamados “salves”. Alguns trazem mensagens genéricas para motivar os integrantes. Frases como: “É necessário se doar em tempo de dificuldade.” Logo em seguida, o texto pede responsabilidade aos bandidos menos assíduos.

“A vida do crime sempre foi louca. Não aceitamos desculpas.”A mensagem, sem data, é assinada pela “Sintonia Final”, cúpula do PCC liderada por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Sob seu comando, o grupo atingiu mais de 11 mil integrantes e expandiu as operações para 22 Estados brasileiros. “A disciplina tem que ser seguida para o bom andamento da família”, conclamava, ainda, o comunicado da liderança criminosa. “Família”, neste caso, diz respeito a outro tipo de laço – o do crime organizado.

No entanto, talvez ainda mais urgente é eliminar a força que a facção conquistou dentro das cadeias. Graças à frouxidão dentro dos presídios, o grau de articulação entre os bandidos é imenso e, por isso, é necessária atuação conjunta de todos os Estados. Uma dos maiores autoridades em crime organizado no País, o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, ex-secretário Nacional Antidrogas (1999/2000) e fundador do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, Walter Maierovitch diz que as penitenciárias brasileiras devem adotar o mesmo rigor que os italianos para isolar mafiosos. “Lá, os presídios têm câmeras, as visitas só acontecem através de vidro e com microfone, mesmo com advogado, tudo é gravado e a polícia penitenciária é especializada, capaz de analisar todos os sinais”, explica. As medidas foram aprovadas pela Corte Europeia de Direitos Humanos, que entendeu que o rigor não representa violação de direitos fundamentais em função da grave ameaça à população e ao Estado Democrático de Direito.



Durante anos, as administrações dos governos paulistas minimizaram o poder do PCC, que ganhou musculatura, graças à ausência do Estado. “Não é possível que o governo de São Paulo conseguisse manter pacificada e estável uma população carcerária de quase 200 mil pessoas em unidades hiperlotadas, sem condições básicas de higiene, saúde nem alimentação decente”, afirma a socióloga Camila Nunes Dias, do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (USP) e autora de “PCC – Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência”.

Vista grossa ao problema permitiu que a organização se conectasse com outras facções criminosas, como o igualmente temível Comando Vermelho (CV), no Rio – e, dessa associação, o crack chegasse às bocas de fumo cariocas. “Foi o PCC que fez o Fernando Beira-Mar (chefe do CV, preso) mudar de ideia. Ele barrava o crack para evitar mortes de seus ‘soldados do tráfico’, que também são viciados”, diz Storani, ex-integrante do Bope.

O procurador de Justiça Antonio Carlos Biscaia, ex-secretário Nacional de Segurança Pública no governo Lula, afirma que a investigação do Ministério Público paulista interrompe uma cadeia criminosa muito forte. Biscaia, que ajudou a mandar para a cadeia os chefões do jogo do bicho do Rio, em 1993, acredita que o PCC tenha se ramificado para outros Estados seguindo a mesma lógica dos bicheiros: lucro alto e aliados comprados dentro do poder oficial. “O crime organizado, seja tráfico de drogas ou bicho, pratica crimes para auferir lucros e alcança o poder cooptando integrantes de instituições policiais, e outros acima”, explica. É fundamental identificar quem seriam os integrantes do crime organizado dentro do próprio Estado, ou seja, identificar quantos agentes públicos estão entre os 11 mil integrantes do PCC.



As escutas telefônicas dão pistas importantes, mas não devem ser superdimensionadas, segundo o sociólogo Ignacio Cano, membro do laboratório de análise da violência da universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-Uerj). “Não é porque uma pessoa fala alguma coisa que isso deve ser considerado verdade.” Para se ter certeza, diz, é necessária a convergência entre muitos grampos. “O suposto plano para matar o governador de São Paulo (Geraldo Alckmin) é fundamentado em evidências que não são evidentes, são frágeis”, diz o sociólogo. Gravações também registraram conversas de criminosos planejando ataques durante a Copa do Mundo, em 2014, se a cúpula da facção fosse transferida para o Regime Disciplinar Diferenciado, muito mais duro com os presos. Mais do que nunca, a sintonia fina também é necessária para saber descartar factoides e concentrar no que realmente representa perigo, os tentáculos do PCC na sociedade brasileira.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O ATAQUE AO PCC


O Estado de S.Paulo 16 de outubro de 2013 | 2h 16


OPINIÃO


Agora que a investigação do Ministério Público Estadual (MPE) escancarou o tamanho e o poder verdadeiros do Primeiro Comando da Capital (PCC) - ambos muito maiores do que deixavam entender as avaliações otimistas do governo -, é preciso iniciar o quanto antes um ataque sem trégua a essa organização criminosa, que representa um desafio intolerável à autoridade do Estado. Não se está com essa afirmação exagerando a gravidade da situação.

Prova disso é que, como se não bastasse a enorme lista de crimes cometidos por eles dentro e fora dos presídios, os bandidos ainda tiveram a audácia de planejar a morte do governador Geraldo Alckmin. É o que prova uma conversa telefônica entre líderes do PCC, em 11 de agosto de 2011: "Você sabe de tudo o que aconteceu, cara, na época em que 'nóis' decretou ele". Decretar é a gíria para executar. Quem chega a esse ponto, depois de criar "tribunais" e "leis" próprios, não conhece mais limites.

Depois de se reunir com a cúpula da segurança pública, na segunda-feira, Alckmin anunciou medidas importantes para combater o PCC, como identificação e punição de policiais que se corrompem em sua relação com essa organização e a utilização de equipamentos mais modernos e eficientes para bloquear celulares nos presídios e evitar que sejam usados pelos bandidos para planejar suas ações, como ocorre hoje. É de esperar que dessa vez o governo coloque todo o seu empenho em tornar realidade essas providências que, como se sabe, há muito tempo são indispensáveis para neutralizar o PCC.

As escutas telefônicas feitas durante a investigação do MPE mostraram que são frequentes os casos de achaques de policiais civis e militares contra bandidos bem situados na hierarquia do PCC, presos por qualquer pretexto e mantidos em delegacias até que a "negociação" se conclua. Outro exemplo de crime cometido por maus policiais é o de agentes do Deic flagrados em escuta oferecendo ao PCC arquivos de computador e pen drives apreendidos em operação que terminou com a morte de um bandido.

Como esses, há inúmeros outros casos. Por isso, o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, disse esperar que o MPE "compartilhe conosco as provas (de que dispõe)para que possamos tomar providências". Independentemente disso, estão em curso várias investigações para apurar denúncias chegadas à Secretaria. Que o crime organizado tenta corromper policiais, aqui e em qualquer parte do mundo, é coisa sabida. Se dessa vez a polícia paulista vai fazer o que fazem as boas polícias dos países desenvolvidos para combater esse mal, só o tempo dirá.

Com relação aos celulares, Alckmin disse que "já está aberto o pregão para bloqueadores (a serem instalados) em 23 presídios. Esperamos concluir o processo licitatório em novembro e em dezembro começar as instalações". Mesmo que esses equipamentos realmente produzam os resultados que deles são esperados, é preciso que essa medida seja seguida de ações enérgicas para combater a corrupção nos presídios. Agentes penitenciários venais poderão ser utilizados pelo PCC para estabelecer novas formas de comunicação, se os bloqueadores de fato funcionarem.

Uma suspeita nunca inteiramente dissipada é a de que houve tolerância com difusão de celulares nos presídios - em São Paulo e em outros Estados - para, por meio de escuta de suas conversas, saber as intenções e planos dos bandidos. Se a suspeita é procedente, a investigação do MPE leva à conclusão de que, além de ilegal, essa tática não funciona. Se o preço para mapear uma organização criminosa é tolerar que ela use um instrumento que só a fortalece, salta aos olhos que ele não vale a pena ser pago.

Acabar com os celulares nas prisões e isolar a sua cúpula no Regime Disciplinar Diferenciado - o que depende da Justiça - são medidas fundamentais para conter e desarticular o PCC. Por isso mesmo, ele vai reagir, mas o governo do Estado não pode se amedrontar. É o que promete Alckmin e se espera que cumpra.

AMEAÇA INTOLERÁVEL




ZERO HORA 16 de outubro de 2013 | N° 17585


EDITORIAIS



A anunciada retaliação de presidiários, que ameaçam espalhar violência e pavor durante a Copa como resposta a eventuais decisões da Justiça, é uma afronta não só às autoridades de segurança, mas à sociedade. Os detentos foram flagrados em escutas telefônicas feitas com autorização judicial. Pertencem ao Primeiro Comando da Capital, a maior organização criminosa do país, que há pelo menos uma década articula ações em São Paulo e outros Estados. A ameaça de promover uma Copa do Mundo do terror, caso os líderes da facção sejam transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado na prisão, exige resposta das autoridades com rigor proporcional ao do atrevimento criminoso.

Há muito, o PCC vem demonstrando que, apesar da prisão de seus líderes, continua ativo. A facção já aterrorizou São Paulo há 10 anos e em 2012 promoveu assassinatos em série de mais de cem policiais. Subestimar a ameaça é desconsiderar também outras advertências feitas pelos bandidos, entre as quais a de que o governador Geraldo Alckmin virou um dos seus alvos. A ousadia e a capacidade de organização do PCC fazem com que as conversas flagradas não sejam diálogos casuais captados pelas escutas. São claramente recados programados. Os criminosos usam o próprio grampo para que sejam ouvidos e coloquem em dúvida, entre a população, a competência dos governos diante das advertências.

É a hora da reação firme do Estado, ou a delinquência continuará colocando em xeque a ordem e as leis às vésperas da Copa. É um desafio que põe em questão também a força institucional do Ministério Público e da Justiça, já que o PCC voltou a ser notícia e a disparar alertas a partir das investigações de um grupo de promotores. Foi o MP que revelou ao país as táticas de um grupo cada vez mais ameaçador. O momento é de reconhecimento e fortalecimento das autoridades, para que suas iniciativas não sejam interrompidas por obstáculos da Justiça. O pedido de prisão em Regime Disciplinar Diferenciado é uma providência coerente com a situação criada pelos detentos. Condenados com tal grau de periculosidade, que chegam a apontar um governador como alvo, não podem ser tratados como presidiários comuns.

Por mais que o governo federal se esforce para garantir a segurança da Copa, como mostrou ampla reportagem de Zero Hora, não basta que o Executivo atue com determinação em defesa da normalidade no evento. Os ameaçados não são apenas os participantes da Copa, mas toda a população. Espera-se por isso que a elogiável ação do MP seja reforçada por decisões da Justiça que afastem quaisquer concessões aos bandidos.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Só num país onde os poderes são fracos, as leis são condescendentes e a justiça criminal é assistemática, morosa e inoperante que proporciona a bandidos presos tamanha insolência, ousadia e prepotência para produzir ameaças contra a soberania e o estado de direito.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

PCC PREPARA ATAQUES ATÉ NA COPA

O ESTADO DE S.PAULO, 14 de outubro de 2013 | 22h 50

Marcelo Godoy

PCC prepara ataques até na Copa e Comando-Geral põe PMs em alerta. Escutas recentes revelam que facção criminosa articula retaliação caso cúpula seja levada para isolamento de Presidente Bernardes; ameaça já foi relatada por promotor ao Comando do Exército

O Primeiro Comando da Capital (PCC) prepara novos ataques caso a cúpula seja transferida para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) da Penitenciária de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo. Diante das novas ameaças do bando, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira, pôs a corporação em estado de alerta.

As ameaças da facção se estendem a 2014, quando os bandidos prometem uma "Copa do Mundo do terror" e ataques nas eleições. Os planos dos criminosos foram interceptados em telefonemas recentes flagrados pela inteligência da polícia. Os bandidos afirmam que vão fazer uma greve branca nos presídios se a liderança do PCC for transferida para o RDD. Também dizem que, em caso de reação do governo paulista à greve, criminosos nas ruas vão atacar.

"Passei uma mensagem aos meus homens para que eles redobrem a atenção no atendimento das ocorrências, quando estacionam os carros e no caminho para casa", afirmou Meira. Em 2012, depois de a facção ordenar ataques a policiais, 106 PMs foram assassinados.

As novas ordens do crime surgiram depois de a defesa de criminosos como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, o chefão do PCC, ter acesso aos detalhes da megainvestigação realizada por três anos contra o crime organizado - e revelada pelo Estado na sexta. Grande parte do mapeamento foi feita com a colaboração de PMs.

As orientações saíram por meio de telefonemas dados pelos líderes que estão na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no oeste paulista. "O clima é muito tenso na região. Eles estão transmitindo as ordens pelos celulares porque querem que a gente saiba", afirmou um dos 23 promotores dos Grupos de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaecos) do Estado que assinaram a denúncia contra os 175 acusados de pertencem à organização criminosa.

A inteligência policial verificou também que o bando tomou precauções para o caso de toda a cúpula ser isolada no RDD de Presidente Bernardes. Marcola e os demais integrantes da Sintonia Final Geral escolheram substitutos que devem assumir os negócios da organização criminosa. Tudo isso para que o tráfico de drogas não seja prejudicado.

Durante a greve branca, os líderes do PCC querem impedir a inclusão de novos detentos na cadeia. Pretendem se recursar a serem fechados nas celas, ficando livres nos pátios. Também paralisariam o trabalho nas prisões onde existem oficiais. Em caso de intervenção do Grupo de Intervenção Rápida (GIR), da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) ou da Tropa de Choque, os detentos da facção pretendem começar atentados nas ruas.

De acordo com a inteligência policial, funcionários dos presídios também foram informados por presidiários sobre as supostas intenções da facção. O conteúdo dessas novas escutas não faz parte da denúncia apresentada pelos promotores.

Pressão. As ameaças do crime organizado contra o Estado surgem no momento em que o Poder Judiciário analisa dois recursos apresentados pelo Ministério Público Estadual (MPE) contra as decisões de juízes que negaram a transferência da cúpula da facção para o RDD e a decretação da prisão de todos os 175 acusados - 16 deles tiveram a denúncia rejeitada.

Na semana passada, um dos promotores do caso relatou no Gabinete de Gestão Integrada (GGI), no Comando Militar do Sudeste, do Exército, a ameaça feita pelo PCC para os eventos de 2014. A expansão das atividades da facção criaria novos riscos. "A facção sabe que teremos muitos turistas aqui durante a Copa", afirmou o promotor.


/ COLABOROU BRUNO RIBEIRO

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CONTABILIDADE DO TRÁFICO POR CELULAR NA PRISÃO

G1 - 14/10/2013 11h06

Chefes de facção fazem contabilidade do tráfico por celular na prisão, diz MP. Escuta mostra que presos chegam a pagar R$ 25 mil por celular. Batalhão da PM monitora presídios e não percebeu uso de telefones.

Do G1 São Paulo





Gravações feitas pelo Ministério Público de São Paulo revelam que os chefes da facção que age dentro e fora dos presídios paulistas chegam a pagar R$ 25 mil por um celular e que utilizam o aparelho para fazer a contabilidade do tráfico de drogas.

Os celulares são usados para controlar, por exemplo, o faturamento da compra e venda de drogas em cada região do Estado. O monitoramento da polícia não mostra como aparelhos entram nos presídios. As informações são do Fantástico.

Um dos diálogos gravados na Penitenciária Dois de Presidente Venceslau, interior de São Paulo, mostra um preso relatando quanto gastou em um celular:

Billi: Mano, sabe quanto eu já mandei nessa caminhada aí?
Abel: Hã?
Billi: 25 (mil) mano
Abel: Cada um?
Billi: Cada um, mano.

A escuta faz parte de investigação que levou o MP a pedir a prisão preventiva de 175 integrantes da facção e a transferência de 35 presos para o RDD.

Os trabalhos foram conduzidos por 23 promotores e começaram em março de 2010. Além das escutas, foram reunidos documentos, depoimentos de testemunhas e informações sobre apreensões de centenas de quilos de drogas.

A partir da investigação, os promotores mapearam a estrutura da quadrilha, na qual apontam como chefe Marco Willians Camacho, o Marcola, que está preso faz sete anos. Os promotores também descobriram que a facção controla 169 mil presos e atua em 90% dos presídios paulistas. Fora dos presídios, a facção vende drogas e negocia compra de armas, e mata quem atrapalha os planos da facção.

A denúncia com os pedidos de prisão foi oferecida à Justiça pelo MP há um mês, em 11 de setembro. O pedido foi negado pelo juiz de Presidente Venceslau. O MP recorreu da decisão no Tribunal de Justiça.

Mensalidade
A investigação do Ministério Público também mostra que quem se associa à facção e está fora do presídio, deve pagar mensalidade de R$ 650, como revelou o Fantástico.

O dinheiro abastece o caixa do crime e ajuda a financiar o tráfico de drogas. Em uma conversa gravada pelo MP, os bandidos falam da distribuição, e reclamam da queda nas vendas. Durante a investigação, a polícia apreendeu quase cinco toneladas de drogas e oitenta e duas armas. Em 2011, dezenove fuzis, sete pistolas, e granadas foram descobertos num terreno em Cajamar, na Grande São Paulo.

O prejuízo com a perda do arsenal foi comunicado aos chefes da quadrilha dentro de presidente Venceslau e, de lá eles tomaram a decisão: espalhar e esconder outro arsenal de mais 32 fuzis em várias regiões do estado.

Plano de fuga

As escutas feitas pelo Ministério Público de São Paulo também revelam que a facção criminosa planejava há dois anos uma fuga em massa. Em uma das gravações, dois presos falam sobre os preparativos. Eles chamam a Penitenciária de Presidente Venceslau de “cachorro quente” ou “hot dog”.

O serviço de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) confirmou neste sábado (12) ter descoberto um plano de invasão da penitenciária II de Presidente Venceslau para libertar chefes da quadrilha. Os presos comentaram que no próximo dia 24 iriam para casa.

Segundo a polícia, na manhã deste sábado (12), seis presos ligados à quadrilha que comanda os crimes de dentro dos presídios fugiram da Penitenciária de Pacaembu, no interior de São Paulo. Eles foram perseguidos pela Polícia Militar e perderam o controle do veículo que usavam na fuga. Três fugitivos foram recapturados. Outros três detentos escaparam. A cidade de Pacaembu fica na região do presídio de Presidente Venceslau, onde estão os chefes do bando.

POLICIAIS FLAGRADOS AJUDANDO TRAFICANTES DE FACÇÃO DE SP

G1 FANTÁSTICO 14/10/2013 11h01

Policiais são pegos em grampos ajudando traficantes de facção de SP. Escutas telefônicas mostram agentes colaborando em troca de propina.. MP cobra investigação; secretaria tenta identificar e punir culpados.
Do G1 São Paulo

Gravações telefônicas autorizadas pela Justiça mostram policiais colaborando com traficantes de drogas de uma facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas em troca de propina. Os grampos foram solicitados pelo Ministério Público (MP) de São Paulo, que há três anos montou uma megaoperação para combater a quadrilha que também é responsável por orquestrar atentados contras as forças de segurança do estado. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (14) pelo Bom Dia Brasil.

Nas interceptações telefônicas feitas em celulares, um criminoso que está nas ruas pergunta a um policial militar qual o valor da propina para soltar uma traficante presa na capital. Em outra conversa, um PM oferece ajuda para transportar a droga usando motos da própria corporação.

As escutas fazem parte de uma investigação sobre a quadrilha, que segundo o MP controla 90% dos presídios de São Paulo. No mês passado, os promotores denunciaram 175 acusados à Justiça e pediram o isolamento dos 35 principais chefes do bando no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Todos os pedidos foram negados. O Ministério Público já entrou com recurso.

A Promotoria pretende enviar essas provas para a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP). O intuito dos promotores é o de que as corregedorias das policias Civil e Militar tentem identificar os policiais que foram flagrados conversando com os criminosos. Por meio de nota, a SSP informou que aguarda os relatórios do MP para que as corregedorias punam os culpados.

PM flagrado em conversa
Numa das gravações feitas com autorização da Justiça um traficante da facção que atua nas ruas, identificado como Boy, tenta negociar com um PM a libertação de uma traficante que foi presa dentro de um ônibus, na cidade de São Paulo, quando transportava cocaína para a quadrilha.
Boy: E aí? E a menina aí, tem ideia [propina] ou não?
PM: Não, ela já tinha sido presa já, né? Foi a Rocam [Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas] que pegou ela.
Boy: É?
PM: Alguém caguetou que ela tava dentro do busão.
As investigações revelam ainda que um policial militar usou um celular da corporação para conversar com o traficante. E que ele falava de dentro de uma delegacia do Morumbi, na Zona Sul da capital, onde localizou a mulher presa, a pedido da quadrilha. Na conversa o PM ainda ofereceu ajuda pra transportar drogas.
PM: Eu sou PM também, só que como eu..., a caminhada é outra, tem outra ideia pra trocar. Eu colei nela [na traficante], já sei que a lojinha [ponto de venda] é dela. E já deixei uma linha direta aí pra quando ela quiser fazer um transporte [de droga], fazer uma coisa segura e com quem confia entendeu?
Boy: Hã, hã...
PM: Tem os menino que trabalha com isso aí. É PM também. Vai de motinha. Entrega lá, recebe e vai embora.
As gravações registraram mais uma conversa do criminoso. Desta vez ele foi flagrado  acertando o pagamento de propina para outro policial militar.
Carlão PM: E aí? To descendo aí
Boy: Tá bom, o menino tá lá [com o dinheiro]  em frente onde eu fico lá, entendeu? De dia.
Carlão PM: Beleza, perto do mercadinho lá?
Boy: É.
Carlão PM: Beleza então.
Em outro grampo, um preso conhecido como Tuta, que é um dos chefes da quadrilha, é alertado sobre a movimentação da Força Tática da Polícia Militar, em torno de um ponto de venda de drogas. Quem o avisa é Boy, criminoso que atua nas ruas. As interceptações telefônicas foram feitas em celulares usados pelos policiais e bandidos. É de dentro dos presídios do interior paulista que  os criminosos comandam o tráfico de drogas, por telefone celular.
Boy: Só tá meio estranho aqui com os fiscal [policiais] entendeu?
Tuta: Os caras de moto, né?
Boy: De moto e daquela grande, sabe?
Tuta: Sei.
Boy: Daquela perua grande.
Tuta: Sei.
Boy: Então, ele não usa aquele boné. Usa aquele gorrinho

Na sequência, Boy,  o traficante solto, reclama que vinha pagando propina regularmente.
Boy: Eu passei para aqueles fiscal [PM] que nóis paga aqui, que é o seguinte: se eles não resolver esse negócio aí, não tem a mensalidade [propina] deles. Inclusive essa semana eu não mandei nada ainda, entendeu?

O que diz o governo de São Paulo
Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP), informou que o secretário da pasta, Fernando Grella, considera que "policial envolvido com criminoso não é policial, mas bandido. Deve ser expulso do serviço público e punido de acordo com seu crime".
O comunicado também afirma que, por determinação do secretário, as corregedorias das polícias Civil e Militar vão usar as informações obtidas pelo Ministério Público para apurar os fatos e punir os culpados. "Para isso, a SSP aguarda o compartilhamento oficial do conteúdo da investigação, o que tem de ser feito por determinação judicial.” O processo corre em segredo de Justiça.

QUADRILHA DE SP SE ESPALHA POR TODO O BRASIL E CHEGA A OUTROS PAÍSES DA AL

G1 FANTÁSTICO - 13/10/2013 23h30

Quadrilha de SP se espalha por todo o país e chega à Bolívia e ao Paraguai. Investigação do Ministério Público de São Paulo revelou a estrutura e o dia a dia da maior organização criminosa do país.



Esta semana, uma investigação do Ministério Público de São Paulo revelou a estrutura e o dia a dia da maior organização criminosa do país. Foram três anos analisando escutas telefônicas, documentos e depoimentos de testemunhas e os promotores descobriram que o grupo que age dentro e fora dos presídios paulistas não está só em São Paulo. Já se espalhou para todos os estados do Brasil. O Fantástico mostra detalhes inéditos dessa grande investigação contra o crime organizado.

É em uma sala de um batalhão da Policia Militar da região de Presidente Prudente que cinco penitenciárias, onde estão os presos mais perigosos de São Paulo, são monitoradas 24 horas por dia. O vigia eletrônico não perde nenhum movimento em volta da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, que detém os chefes da quadrilha que comanda o crime no estado.

A câmera percorre o lado de fora da muralha, a estrada que passa perto do presídio, a portaria, o pátio e até as janelas das celas. Mas ela não conseguiu perceber como telefones celulares foram parar nas mãos dos detentos.

Presos pagam caro para ter telefone

Na P2 de Venceslau, presos pagam caro para ter um telefone.

Billi: Mano, sabe quanto eu já mandei nessa caminhada aí?
Abel: Hã?
Billi: 25 (mil) mano
Abel: Cada um?
Billi: Cada um, mano.

A gravação de conversas telefônicas foi a principal ferramenta de uma investigação que durou três anos.

No fim do mês passado, os promotores denunciaram 175 suspeitos à Justiça e pediram o isolamento de 35 deles no RDD: o Regime Disciplinar Diferenciado.

O Fantástico mostra para que os celulares são usados pelos chefes do crime organizado, de dentro das prisões. Eles servem para controlar, por exemplo, o faturamento do tráfico de drogas, em cada região de São Paulo.

Prata: Deixa eu falar pra você, melhorou. Marca aí, capital, 423 (mil). Baixada melhorou também, 287, já melhorou.
Pescoço: Mas ainda tá deixando a desejar, mas tá legal. Mas aí capital bombou, hein mano.

Segundo a investigação, a quadrilha vende e também compra drogas; e em grandes quantidades.

Soriano: Vai chegar 30 chip grande (300 quilos de cocaína).

Bandidos se tornaram responsáveis pelo recebimento, armazenamento e pela mistura usada para aumentar as vendas e o lucro do tráfico.

Associados ao bando pagam mensalidade

Quem se associa ao bando e está fora da cadeia paga mensalidade. O dinheiro abastece o caixa do crime e ajuda a financiar o tráfico de drogas.

Em outra conversa, os bandidos falam da distribuição, e reclamam da queda nas vendas.

Abel: No fim do ano, deu o problema do Natal. Agora, ele já tinha previsto isso também devido ao carnaval. Vai normalizar depois do carnaval.

Durante as investigações, a polícia apreendeu quase cinco toneladas de drogas e 82 armas. Em 2011, 19 fuzis, sete pistolas e granadas foram descobertos enterrados em um terreno em Cajamar, na Grande São Paulo. O prejuízo com a perda do arsenal foi comunicado aos chefes da quadrilha em Presidente Venceslau e, de lá eles tomaram a decisão: espalhar e esconder outro arsenal de 32 fuzis em várias regiões do estado.

Soriano: A gente tava trocando uma ideia do quê, deixar cinco em cada quebrada grande: norte, sul, leste e oeste. Entendeu, irmão?
Jagunço: Sim, senhor
Soriano: Norte, sul, leste e oeste, 25. Três na baixada, 28. Dois no ABC, 30. Tem um no centro já, manda mais um pro centro, vai ficar 32. Fora o de vocês aí, entendeu?

Quadrilha controla 90% das prisões de São Paulo

Outra conclusão da investigação: a quadrilha controla 90% das prisões de São Paulo. E também está espalhada por todo o país. São seis mil bandidos presos e 1,8 mil em liberdade.

A presença dos membros da facção é mais forte no Sul e no Nordeste. Mas eles também estão no Norte, Centro-Oeste e no restante do Sudeste .

Os bandidos ainda ocupam postos na Bolívia e no Paraguai, em um chamado plano de expansão.

Abel: Nosso entendimento fica da seguinte forma, irmão. A gente tem que fazer um trabalho lá (no Paraguai) agora, viu meu irmão, pra ganhar um espaço.

Durante os três anos, todos os planos eram ouvidos pelos promotores e informados às autoridades da segurança pública.

Ao todo, 144 bandidos foram presos em flagrante durante a investigação.

A segurança foi reforçada na região de Presidente Prudente.

Soriano: Tá acontecendo alguma coisa. Tá estranho o barato. Choque prá caramba na muralha, dois pombos (helicópteros). Rodearam a muralha, de dez em dez metros, três caras com dois escudos, entendeu irmão?

Planos para assassinar Geraldo Alckmin são descobertos

O governador Geraldo Alckmin virou alvo dos presos. Dois planos de assassinato foram descobertos. O último há apenas 40 dias.

LH: Depois que esse Governador entrou aí o bagulho ficou doido mesmo. Na época que nós decretou ele.

“Nós não vamos retroceder um milímetro. O que nós vamos é fortalecer o trabalho da segurança pública", afirmou Geraldo Alckmin.

Os chefes da quadrilha, que estão presos, ficaram sabendo de parte da investigação. Em um documento, um juiz de Presidente Venceslau informa Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o principal chefe do grupo, que ele não seria transferido para o presídio de Presidente Bernardes, onde ficaria incomunicável.

Os bandidos também foram flagrados preparando uma fuga. Eles pretendiam invadir a penitenciária de Venceslau e libertar os presos. Para isso usariam fuzis. Em uma escuta eles chamam a penitenciária de hot-dog.

Soriano: Ô Judeu, chegou oito (fuzis) ali, ta sabendo? Nós tamo vendo pro velho hot-dog, entendeu?
Judeu: Esses outros oito que ia encostar, qual que é? Você sabe qual que é?
Soriano: Esse aí é o AR (AR 15).

Segundo a polícia, o plano de fuga seria colocado em prática no próximo dia 24. Como foi descoberto, batalhões de elite da PM paulista reforçaram o patrulhamento de Presidente Venceslau e das cidades vizinhas.

Com a divulgação da investigação, o comandante da PM de São Paulo, Benedito Roberto Meira, mandou uma mensagem pelo rádio a todos os policiais com um pedido de cautela.

Benedito Roberto Meira, comandante da PM: Solicito a todos que redobrem a atenção durante o deslocamento, estacionamento e atendimento de ocorrências. Muito obrigado.

domingo, 13 de outubro de 2013

PLANO DE INVASÃO DE PENITENCIÁRIA E FUGA EM MASSA

G1 SP - 12/10/2013 21h36

Escutas mostram que facção criminosa planejava fuga em massa. Gravações do MP revelam plano para libertar chefes da quadrilha.. Ação incluiria invasão à Penitenciária de Presidente Venceslau.

Do G1 São Paulo




Novas escutas gravadas pelo Ministério Público de São Paulo revelam que a facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas planejava há dois anos uma fuga em massa. Em uma das escutas, feita com autorização da Justiça, dois presos falam sobre os preparativos. Eles chamam a Penitenciária de Presidente Venceslau de “cachorro quente” ou “hot dog”. As informações são do Jornal Nacional.

O serviço de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) confirmou neste sábado (12) ter descoberto um plano de invasão da penitenciária II de Presidente Venceslau para libertar chefes da quadrilha. Os presos comentaram que no próximo dia 24 iriam para casa.

Segundo a polícia, na manhã deste sábado (12), seis presos ligados à quadrilha que comanda os crimes de dentro dos presídios fugiram da Penitenciária de Pacaembu, no interior de São Paulo. Eles foram perseguidos pela Polícia Militar e perderam o controle do veículo que usavam na fuga. Três fugitivos foram recapturados. Outros três detentos escaparam. A cidade de Pacaembu fica na região do presídio de Presidente Venceslau, onde estão os chefes do bando.

STF
Novas escutas gravadas pelo Ministério Público de São Paulo revelam que a facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas tentou entrar na política e se aproximar do Supremo Tribunal Federal (STF). As informações são do Jornal Hoje.

O Ministério Público (MP) flagrou um dos detentos conversando com a advogada Lucy de Lima sobre audiência com um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). "Eu escrevi um testamento pra assessora dele, pra conseguir que ela agendasse”, afirmou a advogada na gravação.

Segundo o Ministério Público, a advogada se referia ao ministro Cezar Peluso, que na época era presidente do STF. Vinte dias depois, o preso voltou a falar com a advogada. "Felipe, acabei de vim (SIC) do homem", disse. "Ele perguntou pra onde aquele amigo do Felipe quer ir. Eu falei aquela (penitenciária) lá de Sorocaba, sabe? Mas ele falou pra falar pra qual quer ir", disse.

A escuta faz parte de uma megainvestigação de três anos na qual o Ministério Público aponta que a cúpula da facção criminosa comanda, de dentro dos presídios paulistas, o tráfico de drogas e armas, além de ordenar a morte de autoridades, inimigos e policiais. Como resultado da apuração, os promotores pediram a prisão preventiva de 175 integrantes da facção e a transferência de 35 presos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), sistema em que o nível de isolamento do preso é maior. A investigação foi divulgada na sexta-feira (11) pelo jornal "O Estado de S. Paulo".


Na edição deste sábado (12), o jornal revelou que outra advogada, Maria Carolina Marrara de Matos, disse a outro peso que o irmão dela foi chamado para trabalhar no gabinete do ministro Ricardo Lewandowski e que pretendia usar o irmão para defender interesses da organização criminosa. Ela afirma que há uma “perseguição" no Tribunal de Justiça de São Paulo e que pensa em uma estratégia para um pedido coletivo no STF.

”Tem meu irmão, que foi chamado para trabalhar com um ministro, o Lewandowski, eu até estava pensando nisso hoje até pra juntar vários pedidos que foram negados", disse.

A organização também tentou se infiltrar na Assembleia Legislativa de São Paulo. Em uma conversa gravada, dois presos discutiram o apoio a uma candidata. A facção planejava ainda invadir o presidio de Presidente Venceslau para liberar integrantes. Em uma conversa, dois presos conversam sobre a compra de oito fuzis que seriam usados no resgate.

A assessoria do ministro Ricardo Lewandowsky afirmou que ele nunca foi procurado pela advogada Maria Carolina Marrara de Matos e que ele soube que havia um currículo do irmão da advogada no tribunal quando foi procurado pela imprensa. A equipe de reportagem tentou contato com a advogada e com o ministro Cezar Peluso, mas não obteve retorno.

A advogada Lucy de Lima admitiu que defende o preso Edilson Borges Nogueira, a pedido dos familiares dele, e que pediu ao ministro Ayres de Britto o julgamento do habeas corpus do preso, mas ele não julgou o mérito. Ela negou que tenha conversado por telefone com o preso.

Governador

Também dentro da penitenciária de Presidente Venceslau, a investigação detectou um plano para matar o governador Geraldo Alckmin. A ameaça foi feita há 40 dias. Um bilhete escrito por um preso foi interceptado e repassado aos promotores. O bilhete é um dos indícios de que Alckmin é alvo da facção. Em outra gravação, dois integrantes da facção, LH e Tiquinho, chegam a falar que "decretaram" o governador.

“Depois que esse governador entrou aí o bagulho ficou doido mesmo. Você sabe de tudo o que aconteceu, cara, na época que nois (SIC) decretou ele (governador), então, hoje em dia, secretário de segurança pública, secretário de administração, comandante dos vermes (PM), estão todos contra nois", afirmou LH. A gravação foi feita há dois anos.

Alckmin afirmou neste sábado (12) em Aparecida, no interior de São Paulo, que nada mudou em sua segurança. Ele esteve na cidade para acompanhar uma missa. Quem também vive sob constante ameaça, segundo a investigação do MP, é o coordenador das unidades prisionais do oeste do Estado, Roberto Medina.

Crítica
O Ministério Público de São Paulo criticou a decisão da Justiça de rejeitar a denúncia contra 14 dos 175 acusados de integrarem a facção criminosa. Documento obtido pelo G1 mostra que os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, criticaram a decisão judicial que negou ainda os pedidos de prisões preventivas e de mandados de buscas e apreensões contra parte dos denunciados.

O juiz assessor da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Rodrigo Capez, disse nesta sexta-feira que a denúncia contra 175 suspeitos foi parcialmente negada porque o pedido foi "genérico" e a conduta de cada suspeito não foi suficientemente individualizada pelos promotores.

Por causa da rejeição, a Promotoria informa, em documento redigido na segunda-feira (7), que entrou com recurso “visando a reforma da decisão, com o recebimento integral da denúncia, além do deferimento da decretação da prisão preventiva dos denunciados e a expedição de mandados de busca e apreensão na residência deles”. “O jovem magistrado de primeiro grau não agiu com acerto”, diz o documento.

O MP alega que as prisões e mandados se fazem necessários porque a facção oferece grande perigo à população. O MP cita que a facção é responsável pelas rebeliões em presídios em 2001, atentados em 2006, com mortos e prejuízos financeiros, e a onda de ataques em 2012, com mortes de policiais militares de São Paulo. A conclusão da Promotoria é de que a organização criminosa é "armada, de caráter permanente, destinada à prática do tráfico de drogas e de inúmeros outros delitos”.

O juiz Rodrigo Capez garantiu que não houve intimidação contra o magistrado que negou as prisões e os mandados de busca e apreensão. "Eu posso assegurar que nenhum magistrado se sente intimidado. Isso já faz parte da profissão. O juiz responsável pelo RDD [Regime Disciplinar Diferenciado] tem plena consciência da gravidade das funções que ele exercesse e da repercussão das decisões que ele toma", afirmou Capez.

Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola,
considerado o chefe da facção criminosa que age de
dentro dos presídios paulistas (Foto: Arquivo/G1)

Entenda o caso

Os promotores pediram a prisão preventiva de 175 integrantes da facção e a transferência de 35 presos para o RDD. Os trabalhos foram conduzidos por 23 promotores e começaram em março de 2010. Além das escutas, foram reunidos documentos, depoimentos de testemunhas e informações sobre apreensões de centenas de quilos de drogas.

A denúncia com os pedidos de prisão foi oferecida à Justiça pelo MP há um mês, em 11 de setembro. O pedido foi negado pelo juiz de Presidente Venceslau. O MP recorreu da decisão no Tribunal de Justiça.

A partir da investigação, os promotores mapearam a estrutura da quadrilha, na qual apontam como chefe Marco Willians Camacho, o Marcola, que está preso faz sete anos. Os promotores também descobriram que a facção controla 169 mil presos e atua em 90% dos presídios paulistas. Fora dos presídios, a facção vende drogas e negocia compra de armas, e mata quem atrapalha os planos da facção.

RDD

A Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo disse que pediu a internação de 35 presidiários do Centro de Readaptação de Presidente Bernardes para o regime disciplinar diferenciado, o RDD, mas o pedido foi negado pela autoridade judiciária. O Tribunal de Justiça não se pronunciou sobre o tema.

O advogado de Marcola, Roberto Parentoni, informou que ainda não teve acesso ao conteúdo da denúncia feita pelo Ministério Público Estadual contra seu cliente, e que, por isso, não pode se pronunciar.

sábado, 12 de outubro de 2013

COMANDO BUSCAVA LUGAR NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

Grampo mostra tentativa de mobilizar até visitas e fazer 'panfletagem' em favor de uma advogada e candidata

12 de outubro de 2013 | 2h 03

O Estado de S.Paulo



A maior facção do crime organizado do País quer entrar para a política. A cúpula planejou a eleição de uma deputada estadual em São Paulo - a candidata seria uma advogada cujo nome não foi identificado. Quem trata do plano de obter uma vaga na Assembleia Legislativa paulista é Roberto Soriano, o Tiriça, número 4 na hierarquia da organização criminosa.

A articulação do grupo envolveu as eleições de 2010. No dia 29 de julho, o bandido conhecido como Francisco Tiago Augusto Bobo, o Cérebro, diz no telefone que recebeu uma ordem para organizar a facção e fazer campanha para o candidato do PCC. O assunto deve ser tratado em todo o sistema prisional e a ordem da cúpula era evitar que se falasse a respeito dele em telefonemas, provavelmente para evitar que a candidatura apoiada pela facção fosse cassada pela Justiça Eleitoral. Além dos presos, a facção queria mobilizar as visitas, a fim "organizar a panfletagem".

"Essa caminhada (missão) é o seguinte: tem uma gravata (advogada) que está se elegendo (será candidata) e pediu nosso apoio e o apoio vai ser dado. Em cima desse apoio, se ela ganhar, vai ser doado metade das cadeiras lá", revelou o bandido. No dia 3 de agosto, às 15h12, outro criminoso - Fabiano da Silva - recebeu uma comunicação da cúpula da facção.

Tratava-se de um "salve" (mensagem) dirigido "às unidades masculinas e femininas onde se encontram presos que ainda não estão condenados", no qual os bandidos diziam que tinham de exercer o seu direito de votar. De fato, os chamados presos provisórios têm direito a voto. A facção pediu aos presos que tivessem o direito, mas que se estivessem sendo impedidos de votar escrevessem ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Brito, manifestando seu desejo de votar. O "salve" era assinado pela "Sintonia dos Gravatas", o departamento jurídico da facção criminosa.

Favelas. Além dos votos no sistema e dos parentes de presos, o PCC espera contar com a votação de moradores de comunidades carentes em que atuam integrantes da facção criminosa. Soriano, o Tiriça, afirma que "vai fazer aquele apoio na favela".

Desde 2002, a facção procura entrar na política. Três candidaturas já foram impugnadas pela Justiça Eleitoral com base em pedidos do MPE - por suposta ligação do candidato com os integrantes da facção. / M.G.

PCC: MATAR HOJE É A MAIOR BUROCRACIA

FOLHA.COM 12/10/2013 - 04h01

'Matar hoje é a maior burocracia', diz chefe do PCC em gravação


DE SÃO PAULO
DO "AGORA"


Em um dos grampos telefônicos, Marcos Herbas Camacho, o Marcola, chefe do PCC, diz para um colega que a facção influencia nas estatísticas de criminalidade.

"Sabe o pior? É que há dez anos todo mundo matava todo mundo por nada... Hoje pra matar alguém é a maior burocracia [estatuto do PCC teria disciplinado condutas]. Os homicídios caíram não sei quantos por cento. Aí eu vejo o governador chegar lá e falar que foi ele", disse, em março de 2011.

A Promotoria também constatou que o PCC reservou parte do dinheiro do tráfico de drogas para presentear crianças no Natal.

Em novembro de 2011, dois membros da facção combinam a compra de mil celulares para os filhos dos integrantes do grupo.


Editoria de arte/Folhapress




PCC TENTOU SE INFILTRAR NO STF

REVISTA VEJA 12/10/2013 - 09:23

Crime. Investivação do MP revela que PCC tentou se infiltrar no STF. Ação foi detectada em 2010 e envolveu articulação entre criminosos e advogados


STF reforça segurança antes da sessão do julgamento do mensalão (Marcello Casal Jr./ABr)

O crime organizado quer influenciar as decisões do Supremo Tribunal Federal e se infiltrar na corte. É o que demonstram as interceptações telefônicas feitas pelo Ministério Público. A ação dos bandidos foi detectada pela primeira vez em 2010 e envolveu uma articulação entre pelo menos dois integrantes da Sintonia Final Geral, a cúpula da facção, e advogados que trabalhariam para a Sintonia dos Gravatas, o departamento jurídico do PCC.

No dia 28 de agosto de 2010, à 0h46, Daniel Vinícius Canônico, o Cego, conversou com uma advogada identificada pelo MPE como Maria Carolina Marrara de Matos. Ele reclama de que dificilmente um benefício legal é concedido aos detentos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde está a maior parte da cúpula da facção.

A advogada revela então o plano de reunir diversos recursos negados pela Justiça de São Paulo aos integrantes da facção, como pedidos de concessão do regime semiaberto. Diz a Cego que o "irmão" dela "foi chamado para trabalhar com um ministro, o (Ricardo) Lewandowski".

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo procurou entre os funcionários do gabinete do ministro algum que tivesse o mesmo sobrenome. Não encontrou. Também procurou a advogada nesta sexta-feira. Ela negou que conhecesse alguém no STF. Disse que seu irmão não trabalha lá. "A acusação é um absurdo e eu tenho como provar", disse.

No telefonema, Cego pede que a advogada faça o que propõe e ela afirma que vai a Brasília falar com o ministro. Não há nenhuma indicação na investigação de que a conversa realmente tenha ocorrido.

Em 15 de setembro de 2010, os investigadores surpreenderam um dos maiores traficantes do PCC, Edilson Borges Nogueira, o Biroska, pedindo para sua mulher que procurasse uma advogada identificada como Lucy de Lima. A advogada devia contatar um político de Diadema, no Grande ABCD, para que ajudasse a obter benefícios no cumprimento de sua pena.

O político era um vereador da cidade — Manoel Eduardo Marinho, o Maninho (PT). Maninho disse que teve contato com Biroska apenas quando era criança, pois o pai dele ("Seu Nonô") era guarda da prefeitura de Diadema e o irmão é metalúrgico. Maninho militou no sindicato dos metalúrgicos. "Repudio o PCC, mas gosto muito de seu Nonô." Maninho negou que tenha sido procurado pela advogada.

Biroska queria que o vereador testemunhasse em seu favor. A investigação não detectou se o político foi contactado pelo PCC. Biroska é o chefe do tráfico em Diadema. Dias antes (24 de agosto), Biroska conversa com uma mulher identificada como a advogada Lucy. Ela trata do recurso que está tentando para ajudar seu cliente e afirma que vai se encontrar com um ministro do STF. Ela quer tratar de um habeas corpus cujo relator, segundo o MPE, era Joaquim Barbosa — o ministro negou o habeas corpus.

A reportagem procurou ainda a advogada Lucy e deixou recado no telefone celular. Nenhuma das advogadas foi denunciada pelo MPE. A tentativa de influenciar os tribunais superiores teria como objetivo vencer as resistências encontradas pelos bandidos para a concessão de benefícios.

(Com Estadão Conteúdo)

PCC PLANEJAVA MATAR GOVERNADOR


ZERO HORA 12 de outubro de 2013 | N° 17581
CRIME ORGANIZADO. PCC planejava matar governador Alckmin

Ministério Público de São Paulo denunciou 175 pessoas ligadas ao grupo



A maior organização criminosa do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), com sede em São Paulo, planejava, entre outros crimes, a morte do governador paulista, Geraldo Alckmin. Em reportagem, o jornal Estado de S.Paulo conta que o Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo denunciou 175 pessoas e pediu à Justiça a internação de 32 presos no Regime Disciplinar Diferenciado – entre eles, toda a cúpula da facção, hoje detida na penitenciária paulista Presidente Venceslau.

A denúncia, diz o jornal, é fruto de três anos e meio de investigações do Grupo Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). As provas revelam os esquemas do PCC. Os promotores reuniram escutas, documentos e depoimentos.

As gravações mostram que, pelo menos desde 2011, a facção planeja matar o governador de São Paulo. O Estadão teve acesso a uma interceptação telefônica na qual um dos líderes conversa com dois outros integrantes da facção. De repente, surge a revelação. O líder diz que o tráfico mantido pela facção está passando por dificuldades. E afirma:

– Depois que esse governador (Alckmin) entrou aí o bagulho ficou doido mesmo. Você sabe de tudo o que aconteceu, cara, na época que “nois” decretou ele (governador).

Em escutas recentes, a ordem de matar o governador foi novamente mencionada por membros do PCC.

Sobre as ameças, Alckmin disse:

– Não vamos nos intimidar. É nosso dever zelar pelo interesse público.

O governador falou ainda que vai trabalhar para “fortalecer ainda mais o Regime Disciplinar Diferenciado”.

– Nós temos as mais fortes penitenciárias do país aqui no Estado. Os índices de criminalidade estão em queda, fruto exatamente desse trabalho, que vai ser fortalecido – complementou Alckmin.

Facção teria 21 membros em cadeias do Rio Grande do Sul

O levantamento descoberto pelo MP de São Paulo aponta que o PCC teria 21 membros no Rio Grande do Sul. A informação faz soar novamente um alerta dado há pelo menos oito anos, sobre a entrada do grupo criminoso mais organizado do país nas cadeias do Estado.

A polícia confirma que alguns batismos já teriam acontecido em prisões do Interior, mas garante que, até agora, o grupo não teria se firmado no Estado.


Regulador de mortes

O chefão do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi flagrado duas vezes ao telefone.

O homem condenado pelos ataques à polícia em 2006 e pelo assassinato em março de 2003 do juiz Antonio José Machado Dias, da Vara de Execuções Penais de Presidente Prudente, orgulha-se de ter abolido o crack das cadeias de São Paulo.

– Ninguém usa na prisão – diz Marcola para um dos subordinados.

O bandido também afirma que, hoje, “para matar alguém é a maior burocracia”, referindo-se às normas impostas pela facção. Por elas, quando um bandido tem alguma queixa contra um desafeto deve se dirigir a um tribunal do PCC. Neles, o faltoso pode ser desde repreendido até executado. Mas a sentença de morte tem de ser referendada pelo “comando”. E, indiretamente, atribui ao regulamento a queda no número de homicídios no Estado.

– Então quer dizer, os homicídios caíram não sei quantos por cento, e aí eu vejo o governador chegar lá e falar que foi ele – reclama Marcola.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

INVESTIGAÇÃO DO MPE-SP DENUNCIA 175 MEMBROS DO PCC


CORREIO DO POVO 11/10/2013 09:25

Investigação sobre crime organizado denuncia 175 membros do PCC. Promotores do MPE trabalharam três anos e meio na apuração do caso


Depois de três anos e meio de investigação, o Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo concluiu o maior mapeamento da história do crime organizado no País, com um raio X do Primeiro Comando da Capital (PCC). Por fim, denunciou 175 acusados e pediu à Justiça a internação de 32 no Regime Disciplinar Diferenciado - entre eles, toda a cúpula, hoje presa em Presidente Venceslau.

As provas reunidas pelos promotores do Grupo Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) permitiram à construção de um retrato inédito e profundo da maior organização criminosa do País. Durante três anos e meio, os promotores reuniram escutas telefônicas, documentos, depoimentos de testemunhas e apreensões de drogas e de armas.

O Estado teve acesso aos documentos e a milhares de áudios que formam o maior arquivo até hoje reunido sobre o crime organizado no País. O MPE flagrou toda a cúpula da facção em uma rotina interminável de crimes. Ela ordena assassinatos, encomenda armas e toneladas de cocaína e maconha. Há planos de resgate de presos e de atentados contra policiais militares e autoridades. O bando faz lobby e planeja desembarcar na política.

Presente em 22 estados do País e em três países (Brasil, Bolívia e Paraguai), a "Família" domina 90% dos presídios de São Paulo. Lucra cerca de R$ 8 milhões por mês com o tráfico de drogas e outros R$ 2 milhões com sua loteria e com as contribuições feitas por seus integrantes - o faturamento anual de R$ 120 milhões a tornaria uma empresa de médio porte. Esse número não inclui os negócios particulares dos integrantes, o que pode fazer o total arrecadado por criminosos dobrar.

A principal atividade é desenvolvida pela facção é tráfico de drogas. Chamado de Progresso, prevê ações no atacado e no varejo. No último, a facção reunia centenas de pontos de venda de droga espalhados pelo País. Eles são chamados de "FM". No caso da cocaína, os bandidos mantêm um produto de primeira linha, o "100%" e o "ML", que é a droga batizada, de segunda linha. A maconha é designada nas conversas com o nome de Bob Esponja. A droga do PCC vem do Paraguai e da Bolívia.

Os três principais fornecedores de drogas para o PCC seriam os traficante paraguaio Carlos Antonio Caballero, o Capilo, e os brasileiros Claudio Marcos Almeida, o Django, Rodrigo Felício, o Tiquinho, e Wilson Roberto Cuba, o Rabugento.

Arsenal

O grupo tem um arsenal de uma centena de fuzis em uma reserva de armas e R$ 7 milhões enterrados em partes iguais em sete imóveis comprados pela facção. Ao todo, o grupo tem 6 mil integrantes atrás das grades e 1,6 mil em liberdade em São Paulo. Esse número sobre para 3.582 em outros estados - somando os membros ativos e inativos, além dos punidos e os que não têm mais cargos ou participação em atividades mantidas pela facção.

A denúncia do MPE foi assinada por 23 promotores de Justiça de todo os Gaecos de São Paulo. O MPE fez ainda um pedido à Justiça de que seja decretada prisão preventiva de 112 dos acusados. Todos os suspeitos listados pelo MPE foram flagrados conversando em telefones celulares, encomendando centenas de quilos de cocaína, toneladas de maconha, fuzis, pistolas, lança-granadas e determinando a morte de desafetos, traidores e suspeitos de terem desviado dinheiro da Família. Deixam, assim, claro que atuam segundo o princípio de que "o crime fortalece o crime".

Dezenas de telefonemas relatando pagamento de propinas, principalmente a policiais civis, mas também a PMs, fazem parte da investigação.A Justiça de Presidente Prudente se negou a decretar a prisão de todos os acusados, sob o argumento de que seria necessário analisar mais detidamente as acusações. O mesmo argumento foi usado pela Vara das Execuções Criminais, que indeferiu o pedido de liminar feito pelo MPE para internar toda a cúpula da facção no RDD da Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Bernardes. O juiz Tiago Papaterra decidiu verificar caso a caso a situação dos detentos, antes de interná-los. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.



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