quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

PASSOU A HORA DE ACORDAR PARA O PROBLEMA DAS FACÇÕES

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - OS alertas sobra a violência do crime e a situação caótica e desumana nos presídios não são ouvidos por nenhum GOVERNANTE, como também não são ouvidos e nem respondidos pelos LEGISLADORES que fazem as leis e nem pelas autoridades da JUSTIÇA que aplicam as leis. Há IRRESPONSABILIDADE, LENIÊNCIA E PERMISSIVIDADE generalizadas em todos os níveis  de poder, focados apenas em interesses pessoas, partidários e corporativos. Há também muita omissão, conivência e irresponsabilidade nos órgãos da execução penal. A população foi abandonada, os presos são devolvidos ao crime, os direitos se perderam e somente as forças policiais, apesar das inúmeras dificuldades e salários baixos, é que estão enfrentando com coragem e superação, mas sempre enxugando gelo.


Beltrame: "Passou da hora de acordar para o problema das facções". Ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro diz que alertas sobre a violência do crime organizado e a situação das cadeias não vêm sendo ouvidos pelo governo federal

ZERO HORA 05/01/2017



Foto: Ricardo Duarte / Agencia RBS

Quase dez anos à frente da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, deram ao delegado federal gaúcho José Mariano Beltrame, a experiência necessária para apontar problemas e soluções para conter a violência no pais. Em junho, ele anteveu que o crime organizado avançaria pelas mãos da maior facção do pais, o PCC, que agora protagoniza uma guerra nas cadeias que tende a se espalhar pelas ruas.

Morando no Rio, mas fora do governo fluminense desde outubro, Beltrame, 59 anos, abriu uma empresa de consultoria e recentemente assumiu a presidência do Conselho de Gestão de Segurança Urbana da capital paulista. A seguir trechos da entrevista, por telefone, no qual ele defende a intervenção do Ministério da Defesa em ações de segurança e diz não ter sido ouvido pelas autoridades quando alertou para o perigo das facções.

O alerta feito pelo senhor de uma nova configuração do crime organizado no país provocou reação por parte das autoridades brasileiras?

Nenhuma. Não adiantou nada, infelizmente. Temos uma lei sueca, mas a nossa sociedade que não é sueca. Nosso nível de civilidade não condiz com isso, nem menos com a Constituição. Sei que apenas polícia não adianta, mas tem coisas que podem ser feitas, e que não são muito difíceis.

O PCC avançou com força para o Norte e Nordeste e para a Rocinha, no Rio...

Está aqui (no Rio) estrategicamente, não ostensivamente. Não é perfil deles esse tipo de atitude. Agem muito mais estourando carro-forte, assaltando banco, comandando cadeias, fazendo o comércio, aquilo que dá dinheiro. Estão na favela fornecendo a droga. Ele está aqui, como está em vários lugares do pais como logística.


O PCC vai dominar os presídios do país?

Acho que, de certa forma, já domina.

Como enfrentar as facções?
Não se pode jogar o problema para uma secretaria de segurança, para uma secretaria de administração penitenciária. O aumento da população carcerária, a maneira como os presos são tratados, isso facilita o diálogo no presídio e a organização entre eles. O sistema prisional é a verdadeira nitroglicerina (substância explosiva usada na fabricação de bombas). Tem de ter, urgente, uma inteligência prisional que retire os presos mais perigosos e os transfira para presídios federais. Esse é primeiro ponto. O segundo é construir 500 presídios no país. Qual Estado pode construir? É um problema difícil, e essa falta de horizonte nos deixa em situação delicada.

Qual reflexo da guerra das facções para a sociedade?

Vejo de maneira muito preocupante. E este é um assunto que não está na pauta do governo federal. Continua na mão dos Estados. Há necessidade de ações conjuntas, planejadas, organizadas, para mitigar esses problemas, pois acabar é muito difícil. Defendo o ingresso do Ministério da Defesa nessa luta. Não dá mais para dizer que não é minha função, que não é constitucional. Quando se quer mudar a Constituição, se muda até de madrugada. Passou da hora de acordar para esse problema (das facções). Não haverá desenvolvimento no Brasil sem segurança.