domingo, 22 de janeiro de 2017

A GUERRA PCC X COMANDO VERMELHO


ZERO HORA 21 de janeiro de 2017 | N° 18748. PROA.

Estadão Conteúdo

As facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) brigam pelo domínio do tráfico de drogas nas fronteiras do Brasil. Por isso, estão em guerra: apenas nos primeiros 15 dias do ano, mais de cem presos foram brutalmente assassinados em massacres ocorridos em penitenciárias do Amazonas, de Roraima e do Rio Grande do Norte. No total, pelo menos mais 25 facções criminosas participam dessa disputa, apoiando o PCC ou o CV.

Enquanto o paulista PCC, após matar o narcotraficante Jorge Rafaat (que era o grande intermediário entre traficantes paraguaios e brasileiros), em junho de 2016, passou a dominar o tráfico de drogas e de armas na fronteira com o Paraguai, o fluminense CV, via Família do Norte (FDN), controla a fronteira com o Peru, no caminho conhecido como Rota Solimões.

De acordo com o procurador de Justiça Marcio Sérgio Christino, especialista em investigações sobre o crime organizado, PCC e CV firmaram aliança no final dos anos 1990. Naquela época, a facção paulista começou a vender drogas no Rio por “atacado” e, ao mesmo tempo, passou a investir o dinheiro do crime na expansão de atividades em outros Estados, formando parcerias com grupos locais.

– O PCC dava aos bandidos locais a estrutura e noção de organização que eles não tinham. Por isso, acabou ganhando inúmeros simpatizantes em vários Estados, enquanto o CV consolidou o domínio na maioria dos morros do Rio – diz Christino.

Com um exército de 10 mil homens – 7 mil nos presídios e 3 mil nas ruas –, o PCC se tornou a principal facção criminosa do Brasil e movimenta, segundo o Ministério Público Estadual de SP, 40 toneladas de cocaína e R$ 200 milhões por ano. Esse status, porém, trouxe inimigos dentro do crime, que são facções menores concentradas principalmente no Norte e Nordeste.

Segundo Christino, o assassinato de Rafaat, com tiros de metralhadora calibre .50 (capaz de derrubar um helicóptero), rompeu a aliança e tornou o CV dependente do PCC.

– As consequências estão aparecendo, que são os massacres nos presídios – afirma o procurador.

Para enfrentar o PCC, o CV fez alianças com facções como a FDN, que comanda o crime no Amazonas e domina a cobiçada Rota Solimões, e determinou a morte de membros do PCC em cadeias do Norte. Em contrapartida, a facção paulista ganhou mais força nas regiões Sul e Centro-Oeste, o que consolidou o domínio na fronteira com o Paraguai.

A força da FDN é estar ao lado dos três maiores produtores de cocaína do mundo: Colômbia, Peru e Bolívia. O grupo imita o modelo do CV, com o tradicional pagamento de mensalidade por parte dos afiliados. O policial civil aposentado Antônio Gelson de Oliveira Nascimento, professor da Universidade do Estado do
Amazonas, diz que, quando as lideranças começaram a ser segregadas em presídios federais, houve contato com o know-how das grandes organizações, o que permitiu o crescimento da FDN:

– Você tira o bandido perigoso do Amazonas e o coloca para dividir cela com Fernandinho Beira-Mar. O que se pode esperar desse camarada, que era inexperiente, é aprender como se faz.

sábado, 21 de janeiro de 2017

VIOLÊNCIA À MEXICANA ASSOMBRA O BRASIL



ZERO HORA 21 de janeiro de 2017 | N° 18748


HUMBERTO TREZZI



EMPODERADAS, FACÇÕES CRIMINOSAS BRASILEIRAS adotam mutilações, chacinas e outras barbáries usuais entre os cartéis de drogas do México

Cabeças cortadas e jogadas em praça pública. Massacres em presídios. Milícias contra o tráfico. Chacinas em bares e boates. Matanças sem fim nas ruas. O Brasil começa a experimentar agora barbáries que outro grande país latino-americano, o México, vivencia há pelo menos 10 anos. Tudo pautado por uma espiral de descontrole na delicada área da segurança pública. As facções do crime não se contentam agora com o varejo. Disputam o mercado brasileiro como um todo.

Os mexicanos conhecem essas desgraças desde meados da década passada. Zero Hora esteve em outubro de 2009 em Ciudad Juárez (cidade mexicana na fronteira com os Estados Unidos), na época a cidade mais violenta do Ocidente. Na frente da prefeitura local, a equipe de ZH viu cena estarrecedora: três cabeças cortadas e colocadas sobre bancos de plástico. Atrás delas, cartazes com um alerta:

– Isso é o que vai acontecer com todos que nos buscam, os seguidores de Chapo. Assinado: La Línea (apelido do Cartel de Juárez).

Era briga de cartéis, algo corriqueiro na fronteira de um dos países mais violentos das Américas. Juárez, com o mesmo tamanho de Porto Alegre (cerca de 1,5 milhão de habitantes), tinha taxa anual de 130 assassinatos por 100 mil habitantes – sete vezes mais do que a capital gaúcha apresentava, à época, uma vez que, atualmente, a metrópole vive epidemia de homicídios.

Hoje, as cabeças cortadas atormentam o cotidiano dos porto-alegrenses. Chacinas se sucedem num ritmo que preocupa especialistas como Francisco Amorim, mestre e doutorando em Sociologia, integrante do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS. Em estudo sobre violência oriunda do narcotráfico, Amorim estuda 30 cidades de 17 países. Esteve na Colômbia e acaba de voltar do México.

– Assim como no México dos anos 2000, vivemos aqui um salto nas taxas de crimes violentos por conta de disputas, agora em nível nacional, entre grandes organizações criminosas. Estes grupos, tanto lá como aqui, agem por redes de acordo, pactos que podem durar anos ou semanas. Aí disputam violentamente rotas e pontos de venda, não apenas de entorpecentes, mas de produtos contrabandeados ou roubados. Por isso, a briga é maior nas fronteiras e em portos, como Natal e Rio de Janeiro. Ao se nacionalizarem, PCC e CV querem a hegemonia que trará, por exemplo, o controle do tráfico de cocaína para o sul da América do Sul, Brasil e ainda algumas importantes rotas aéreas e marítimas para a Europa – analisa.

O pesquisador crê que a superlotação prisional (leia mais sobre esse assunto nas páginas 24 e 25) tende a acelerar a violência. De uma progressão aritmética, os barbarismos saltaram para algo quase geométrico, nos últimos anos.

A grande diferença é que a criminalidade brasileira – incluindo a gaúcha – ainda não alcançou a penetração social da registrada no México. Ainda.


https://i2.wp.com/www.whaleoil.co.nz/wp-content/uploads/2013/03/mex-m_1697842a.jpg
By Cameron Slater on March 26, 2013 at 10:30am

A guerra dos cartéis no México


No México, vários fatores agravam em muito o crime, sobretudo nas fronteiras. Entre eles, a corrupção, que atinge amplas camadas da polícia e da política (em níveis estratosféricos), a epidemia de sequestros (aqui raros) e o tráfico de pessoas (escravizadas na tentativa de migrar para os EUA). Outra novidade mexicana é o recrutamento forçado de jovens para o crime. São levados de suas casas para trabalhar em cartéis, sem opção de dizer não.

Afora isso, os mexicanos continuam matando mais que no Brasil, só que trocaram de palco. Ciudad Juárez, que vivencia uma paz armada entre os cartéis, baixou de 130 para 34 homicídios por 100 mil habitantes/ano. A guerra agora acontece em locais turísticos, como Acapulco (banhada pelo Pacífico, cenário de filmes clássicos de Elvis Presley), cuja taxa de homicídios foi de 104 por 100 mil habitantes, no ano passado. Ou seja, maior do que em qualquer cidade brasileira. Porto Alegre, com tamanho similar a esse balneário mexicano, está longe disso: apesar da mortandade recorde, tem taxa de 41 mortes por 100 mil habitantes.

Como evitar que padrões mexicanos se consolidem no Brasil? Uma maneira é saber como o México chegou à barbárie. Cada grande Estado mexicano tem seu cartel, conta o jornalista investigativo Mártin Duran Romero, que atua em Sinaloa. Os métodos é que os diferenciam. Enquanto na região do Atlântico as facções Los Zetas (fundada por ex-forças especiais do Exército) e do Golfo primam por práticas violentíssimas (como extorsão e sequestro de comerciantes, assassinato massivo de migrantes que não pagam suborno, explosões de lojas), na região do Pacífico (cartéis de Sinaloa e Tijuana), há maior preocupação em boas relações com o empresariado, informa o especialista. Mas todos matam.

A guerra de cartéis ocorre em ciclos, desde o início da década de 80. A pior matança ocorreu a partir de 2008, quando as facções de Sinaloa e Tijuana (ambos na costa do Pacífico) começaram a disputar os despojos do Cartel de Juárez. Tudo no norte mexicano, porta de entrada para o rico mercado das drogas norte-americano. O governo federal, com dinheiro americano, enviou tropas militares para intervenção nessas regiões.

– Um erro, porque não é matando ou encarcerando líderes que se acaba com o problema. Há uma dinâmica de oferta e procura, na qual os grandes consumidores de droga são os norte-americanos – critica o professor mexicano Juan Antonio Fernandez, doutor em Sociologia pela Universidad de Vera Cruz e pesquisador de criminalidade, em entrevista a Zero Hora.

Vieram batalhas sem fim. Matou-se em território mexicano, desde 2006, quase o mesmo que em toda a guerra do Iraque.

– O governo federal mexicano subestimou o poder inusitado dos cartéis na economia, na política e na cultura. Foi um erro crer que era apenas problema de segurança. É muito mais complexo, envolve políticas públicas de saúde e raízes culturais – critica.

CARTEL DE CHAPO É FOCADO EM LAVAGEM DE DINHEIRO E CORRUPÇÃO

Adrian López, autor do livro Un País Sin Paz, sobre cartéis da droga mexicanos, diz que o cartel de Sinaloa (que tinha Chapo Guzmán, agora preso, como líder) atua aos moldes da máfia tradicional, com menos violência e mais lavagem de dinheiro e corrupção.

Algo similar ao que o Primeiro Comando da Capital (PCC, paulista) tenta agora imprimir ao submundo brasileiro – um caminho pavimentado por violência e crueldade.

López vê similaridades entre Brasil e México: países de economias emergentes, com grandes populações e sistemas democráticos em construção. “Mas me parece que a autonomia do Poder Judiciário é maior no Brasil e permite maior aplicação da Justiça, algo que não ocorre no México e que seria fundamental”, define.

Evitar que o cataclismo mexicano se repita no Brasil é difícil. Uma alternativa talvez seja conter as organizações de tráfico antes da sua propagação no aparato estatal-eleitoral-empresarial, algo que o México não conseguiu, ponderam os experts consultados por ZH.

A FUGA E A PRISÃO
Conhecido como “El Chapo”, em 2015, escapou da prisão de segurança máxima de Altiplano, a 90 quilômetros da Cidade do México, por meio de um túnel subterrâneo de 1,5 quilômetro de extensão. Em janeiro do ano passado, foi novamente recapturado. Na última quinta-feira, foi extraditado para os Estados Unidos.
NO MÉXICO E AQUI
Como mexicanos e brasileiros se assemelham na criminalidade
O TAMANHO DOS CARTÉIS
No México, os nove grandes cartéis fazem guerra uns contra os outros, inclusive atravessando o país (cartéis do Norte eliminando rivais no Sul, etc.). São pelo menos nove organizações com capacidade internacional de ação.
No Brasil, as brigas de facções costumam ser regionais. Existem poucos cartéis com penetração nacional e ainda menos, internacional. A guerra atual começou na fronteira Brasil-Paraguai, onde o PCC (facção criminosa paulista) mandou executar patrões do tráfico ligados ao Comando Vermelho (carioca). Desde junho, mais de 40 mortes de ligados aos dois bandos foram registradas ali. O delegado Mikail Farias, da delegacia de Polícia Civil de Amambai, no Mato Grosso do Sul, a 40 quilômetros da fronteira paraguaia, confirma que a guerra de facções, ali, é perigosa. E quase todos que morrem são iniciados no crime.
– Os tiros têm endereço certo, bala perdida é caso raro – define.
COMPRA OU ELIMINAÇÃO DE POLICIAIS E POLÍTICOS
No México, oferecer “plata o plomo” (dinheiro ou chumbo, suborno ou morte) aos políticos e policiais é sistemático. É cotidiana a eliminação de policiais e políticos que trabalham para outros (ou são suspeitos de). Governantes, policiais e até generais, convocados para combater os cartéis, foram subornados e acabaram presos. A deputada Lucero Sánchez López, de Sinaloa, foi comprovadamente eleita e apoiada pelo narcotráfico.
No Brasil, o esquema de compra de políticos é ainda embrionário, mas começa a aparecer. O Comando Vermelho, periodicamente, ordena assassinato aleatório de PMs em represália contra mortes de chefes do tráfico no Rio. Com relação à corrupção, os três últimos pleitos estaduais e municipais no Rio tiveram representantes de máfias (sobretudo milicianos) eleitos. Na Região Norte, a cooptação de autoridades também se manifesta. Interceptações telefônicas recentes da PF mostram o subsecretário de Justiça do Amazonas combinando com presidiários apoio em votos para o governador – em troca de favores nas prisões. Ele foi afastado do cargo. No RS, pelo menos um vereador de São Leopoldo foi eleito com apoio do tráfico, segundo denunciou o secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes.
PARAMILITARISMO No México, proliferam grupos paramilitares criados para defender comunidades contra os narcotraficantes. São as milícias de autodefesa. Atuam sobretudo em áreas rurais.
No Brasil, os milicianos também fazem parte da paisagem há pelo menos uma década. No Rio, chegaram a tomar comunidades inteiras, onde extorquem comerciantes e moradores para “protegê-los” contra o tráfico.
PEDAGOGIA DO TERROR
No México, jogar cabeças cortadas em frente a prédios governamentais e pendurar corpos em viadutos das principais vias são práticas que vigoram há pelo menos uma década. E também o assassinato de ativistas de direitos humanos.
No Brasil, cabeças cortadas tornaram-se rotina na guerra entre facções travada em presídios em regiões metropolitanas.
INTERVENÇÃO FEDERAL
No México, ocorre de forma permanente nos pontos-chave do conflito, com tropas policiais federais e militares no enfrentamento direto do crime e também intervenção nos Estados (na parte de repressão criminal). Em contrapartida, há também assassinato cotidiano de agentes federais e de ativistas dos direitos humanos.
No Brasil, não há intervenção federal nos Estados, salvo presença eventual da Força Nacional. A presença do Exército nas ruas é exceção. Não há assassinato sistemático de federais e nem de ativistas de direitos humanos.
CLÍNICA-GERAL DO CRIME
No México, os cartéis dominam todo o tipo de crime. O comércio de drogas é apenas um deles. O tráfico de pessoas e o contrabando de veículos são duas outras facetas muito lucrativas, assim como a corrupção política com finalidade de participação em atividades legais (como construção civil). Além disso, há o sequestro: no estado de Tamaulipas, por exemplo, a cada ano 11 pessoas num grupo de 100 mil são sequestradas, padrão sem igual na América.
No Brasil, a situação é similar. O tráfico de drogas (e armas) serve de base da receita das facções, que também aplica recursos em veículos e assaltos. A preocupação em lavar o dinheiro é menor que no México. Ainda são poucas as ligações detectadas dos chamados “colarinhos brancos” com o tráfico. Em compensação, algumas facções criminais brasileiras exibem domínio territorial, sobretudo em favelas – algo raro no México.

domingo, 8 de janeiro de 2017

27 FACÇÕES ORGANIZADAS DIVIDEM O BRASIL. PCC E CV BUSCAM ALIADOS


Crime organizado é dividido entre 27 facções em todo o país. Em guerra, PCC e Comando Vermelho buscam aliados em todo o país

Por: Estadão Conteúdo
ZERO HORA 08/01/2017 - 10h40min



Massacre em Manaus escancarou o confronto entre facções pelo domínio de rota da droga no Norte do país Foto: Divulgação / Seap

As facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) disputam o domínio do tráfico de drogas nas fronteiras do País. Por isso, estão em guerra e buscam aliados do crime em todos os Estados. Na última semana, mais de 90 presos foram brutalmente assassinados em massacres ocorridos em penitenciárias do Amazonas e de Roraima. No total, segundo autoridades que investigam o crime organizado, pelo menos mais 25 facções criminosas participam dessa disputa, apoiando o PCC ou o CV.

Enquanto a facção paulista, após matar o narcotraficante Jorge Rafaat — que era o grande intermediário entre traficantes paraguaios e brasileiros —, em junho de 2016, passou a dominar o tráfico de drogas e de armas na fronteira com o Paraguai, o CV, via Família do Norte (FDN), controlar o tráfico na fronteira com o Peru, no caminho conhecido como Rota Solimões.


Segundo delegados e promotores, os grupos criminosos querem o controle das duas fronteiras.


De acordo com o procurador de Justiça Marcio Sérgio Christino, especialista em investigações sobre o crime organizado, PCC e CV firmaram aliança no final dos anos 1990. Naquela época, a facção paulista começou a vender drogas no Rio por "atacado" e, ao mesmo tempo, passou a investir o dinheiro do crime na expansão de atividades em outros Estados, formando parcerias com grupos locais.

— Percebemos que o PCC dava aos bandidos locais a estrutura e noção de organização que eles não tinham. Por isso, acabou ganhando inúmeros simpatizantes em vários Estados. Isso fez a facção crescer e se expandir. Enquanto o CV consolidou o domínio na maioria dos morros do Rio, principais mercados de consumo de drogas no País —, diz Christino.

Com um exército de 10 mil homens — 7 mil nos presídios e 3 mil nas ruas —, o PCC se tornou a principal facção criminosa do Brasil e movimenta, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), 40 toneladas de cocaína e R$ 200 milhões por ano.


Esse comportamento, porém, trouxe inimigos dentro do crime, que são facções menores concentradas principalmente no Norte e Nordeste.

— Os bandidos rivais de São Paulo estão em facções menores que não fazem diferença no cenário da criminalidade do Estado —, afirma Christino.


Roraima registrou o segundo massacre nas cadeias em menos de uma semana Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO CONTEÚDO

Para o procurador, com a morte de Rafaat, que foi assassinado com tiros de metralhadora calibre .50 (capaz de derrubar um helicóptero), o Comando Vermelho acabou virando dependente do PCC no tráfico na fronteira com o Paraguai.

— A partir desse momento, a aliança foi rompida. E as consequências estão aparecendo, que são os massacres nos presídios —, afirma o procurador.

Para o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o CV percebeu a necessidade de fazer alianças com outros grupos criminosos para enfrentar o PCC. O grupo do Rio então se aliou à FDN, facção que comanda o crime no Amazonas e domina a cobiçada Rota Solimões, e determinou a morte de membros do PCC em cadeias do Norte. O CV também fez aliados em outros Estados do Norte e Nordeste.

Em contrapartida, a facção paulista ganhou mais força nas regiões Sul e Sudeste do País, principalmente no Paraná e Mato Grosso, o que consolidou o domínio na fronteira com o Paraguai.

FDN enfrenta facções ligadas a PCC para crescer

Se estar ao lado dos três maiores produtores de cocaína do mundo fez a facção Família do Norte (FDN) se expandir nos últimos seis anos, o poder adquirido ainda não foi suficiente para que represente uma força dominante em toda a Amazônia. Imitar o modelo de facções como o Comando Vermelho (CV) garantiu o tradicional pagamento de mensalidade por parte dos afiliados e a FDN se estabeleceu como dominante em parte da fronteira. O grupo quer agora consolidar o domínio dessa rota, ocupando um vácuo de facções no Pará, e ter maior acesso à Bolívia, por meio de sua expansão no Acre e em Rondônia.Tudo isso não deve acontecer sem novas disputas, que podem incluir brigas nas penitenciárias, como em Manaus, que deixou 56 mortos.

Para executar seus planos, a Família terá de quebrar um "cinturão" do Primeiro Comando da Capital (PCC) que envolve o Amazonas. Em Roraima, acima, no Acre, abaixo, e no Pará, ao lado, as forças dominantes, segundo investigações policiais, são simpatizantes da organização paulista ou de grupos que se autodenominam de forma homônima.

Para ganhar força, a FDN aposta nas fronteiras, principalmente no encontro brasileiro com cidades colombianas e peruanas, na tríplice fronteira. Foi lá que a facção já desenvolveu negócios milionários e quer ter acesso a quantidades cada vez maiores de cocaína para revenda a Estados nordestinos, onde encontra um bom mercado. O Amazonas tem 2,7 mil quilômetros de fronteira.

– Amazonas é vizinho dos únicos produtores de cocaína do mundo: Colômbia, Peru e Bolívia. Nesse contexto territorial, há sinais claros do empoderamento dessa facção – disse o policial civil aposentado e professor da Universidade do Estado do Amazonas Antônio Gelson de Oliveira Nascimento.

Nascimento diz que, nas décadas passadas, havia grupos locais que se diluíam com as ações policiais. Quando as lideranças começaram a ser segregadas em presídios federais, houve contato com o know-how das grandes organizações, o que permitiu o crescimento da FDN:

– Você tira o bandido perigoso do Amazonas e o coloca para dividir cela com Fernandinho Beira-Mar. O que se pode esperar desse camarada, que era inexperiente, é aprender como se faz.

Para ele, "ignorar a proteção das fronteiras é subestimar o crime organizado".

Para consolidar o escoamento da sua mercadoria para o Nordeste, a Família poderá bater de frente com o Primeiro Comando do Norte (PCN), expressão do PCC fundado no Pará. O PCN encontra dificuldades para aumentar sua influência nas cadeias, pois não consegue afirmar seu poder em mercados consumidores crescentes de drogas, como Altamira e Marabá.

– No Pará vimos uma migração para o interior diante de um crescimento demográfico significativo – disse Aiala Colares, pesquisador da Universidade do Estado do Pará. Colares destaca que no Estado ainda funcionam grupos autônomos, como a Equipe Rex, que domina o Complexo Penitenciário de Americano, na região de Belém.

Já no Acre, a chegada do PCC, segundo a professora da Universidade Federal (UFAC) Marisol de Paula Reis Brandt, deu-se pela localização da fronteira com a Bolívia. Aliada ao Bonde dos 13, a organização paulista disseminou o expertise em gestão criminosa, com direito a estatuto, cadastro e mensalidade. O Bonde dos 13, porém, já passou a enfrentar a dissidência de criminosos, alimentando o ciclo de disputas e acirrando a tensão dentro e fora das cadeias.


PCC aprofunda aliança com facção na Rocinha


A Polícia Civil fluminense identificou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) aprofunda, desde o ano passado, uma aliança com a Amigo dos Amigos (ADA), facção carioca menor que a majoritária Comando Vermelho (CV) no domínio do tráfico de drogas.

O PCC quebrou o acordo de cooperação de mais de 20 anos com o CV no ano passado. Em outubro, a facção paulista oficializou a união com a ADA, o que levou a mudanças no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio.Segundo o promotor André Guilherme de Freitas, da execução penal do Ministério Público, após o rompimento cem criminosos do PCC que estão em unidades cariocas pediram para mudar de galeria. Eles estavam espalhados por prédios dominados pelo Comando Vermelho e emitiram um "seguro" (pedido de segurança) para serem transferidos para a galeria B7 da Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho, conhecida como Bangu 4. Ali ficam os detentos ligados à ADA, menor que o CV.

Freitas considera que a mudança pode ter facilitado o trabalho de integração das duas facções.

– Agora, eles estão juntos, o que facilita a tomada de decisões e de estratégia para expandir o controle do tráfico. Tenho informações de que bandidos da ADA já migraram para o PCC. Eles oferecem uma logística organizada, disciplinada, coisa que a ADA não tem. O CV enterra dinheiro no chão, a ADA briga entre si – disse.

Apesar de dominar menos comunidades no Rio que o CV, a ADA controla pontos importantes do tráfico, como a Rocinha, na zona sul, e o Complexo da Pedreira, com 11 favelas, na zona norte. A polícia estima que 60% das comunidades do Estado sejam dominadas pelo CV, e os outros 40% estejam divididos entre ADA, Terceiro Comando Puro (TCP) e milícias.

A Rocinha é controlada pela ADA desde 2004. O delegado titular da 11ª Delegacia de Polícia (Rocinha), Antonio Ricardo, disse ao Estado que ainda não há registros oficiais de bandidos do PCC no local. Atualmente, a favela é controlada por Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157 (artigo do Código Penal que qualifica o roubo). O Disque-Denúncia oferece recompensa de R$ 30 mil para quem fornecer informações sobre o criminoso. Antes de Rogério, o líder era Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, principal traficante da facção, preso em 2011.

A Polícia Civil de São Paulo apurou que integrantes do PCC estão morando na Rocinha para ajudar a gerenciar o tráfico de drogas na favela. Estão também, segundo as investigações, reforçando a segurança. Há informação de que a facção paulista mandou 14 fuzis para a ADA no segundo semestre de 2016 para ajudar na luta contra o CV.

Para o procurador de Justiça Marcio Sérgio Christino, que investiga o PCC há mais de 20 anos, a tomada da Rocinha é o primeiro passo da intenção da facção paulista de ampliar a participação no tráfico de drogas no Estado.

– A guerra com o CV é por motivo exclusivamente comercial: o lucro de drogas.

Ligações telefônicas interceptadas por policiais mostraram que a facção paulista já teria conseguido "batizar" pelo menos 90 criminosos no Rio e teria penetrado em municípios da Baixada Fluminense, Regiões Serrana e dos Lagos e Norte Fluminense. O trabalho de cooptação é feito de dentro das prisões de outros Estados, por conferências via celular. – Estamos com o tabuleiro montado dentro do Rio – diz um áudio.

sábado, 7 de janeiro de 2017

OS DONOS DO CRIME


REVISTA ISTO É, 06.01.2017 nº 2456
Quem são e como se organizam os chefes das facções criminosas que controlam os complexos penitenciários brasileiros e ameaçam levar uma guerra sangrenta para as ruas do País






Eles espalham terror, impõem sua lei nos presídios e têm poder semelhante aos grandes grupos de mafiosos. Ao longo dos últimos trinta anos, se tornaram conhecidos e temidos pela população brasileira. As facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) cresceram em importância não só nos estados onde surgiram, mas em todo o País. As atividades dos grupos, inicialmente concentradas nos complexos prisionais, venceram as muralhas das penitenciárias e ganharam as ruas em ações cinematográficas. Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, à frente do CV, e Marcos Willians Hermes Camacho, o Marcola, à frente do PCC, se tornaram homens procurados internacionalmente e ganharam notoriedade continental. Nem o mais pessimista especialista em segurança pública poderia prever tamanha expansão desse tipo de organização criminosa. Expansão esta que só tende a crescer, ancorada na omissão do Estado.

Na semana passada, o Brasil foi apresentado, de forma traumática, a mais uma representante desta seara podre da sociedade brasileira . A “Família do Norte”, conhecida pela sigla FDN, dominou o noticiário nacional e internacional depois de comandar a execução de 56 presos ligados ao PCC durante rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, no Amazonas (leia reportagem na página 56). Foi o maior massacre dentro de uma prisão desde 1992, quando a Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, foi invadida durante uma briga e 111 detentos foram mortos. Em vídeo feito por um detento na parte interna do Compaj, entre corpos decapitados e muito sangue, vê-se uma bandeira da organização criminosa. “É FDN que comanda, porra!”, desafia o preso que empunha a flâmula, sem se preocupar em esconder o rosto.

 
MISSÃO Bandeira do PCC pela paz não faz mais sentido; dinheiro é a força que move a facção

A FORÇA DA FACÇÃO

A FDN surgiu em 2006 da aliança entre dois ex-rivais do mundo do tráfico de Manaus. José Roberto Fernandes Barbosa, conhecido como “Compensa”, controlava a venda de drogas na região Oeste da cidade, enquanto Gelson Carnaúba, o “G”, dominava a região Sul. Presos, ambos cumpriram pena em presídios federais, onde tiveram contato com membros do CV e do PCC, e de lá voltaram determinados (ou orientados), segundo a Polícia Federal, a estruturarem uma operação nos moldes das facções do eixo Rio-São Paulo. Não demorou para o negócio decolar.

Em pouco tempo, a dupla dominou quase toda a rota “Solimões”, na região da fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, e passou a escoar grandes quantidades de cocaína para vender em Manaus, distribuir pelo Brasil e exportar para a Europa. Já em 2006, Barbosa aparece em vídeo durante sua própria festa de aniversário, organizada para mais de duzentos convidados, em um luxuoso buffet de Manaus. Durante os parabéns, é visto rodeado por amigos em cerimônia que lembra o beija-mão dos mafiosos italianos. Cada convidado que o abraça entrega uma joia de ouro – seja anel, pulseira, relógio ou colar. Sorridente, o criminoso bate palma e posa para foto. Também em 2006, Barbosa funda o “Compensão”, time de futebol que viria a se tornar uma das mais populares equipes amazonenses na categoria “amador”. Pesadamente financiado, o time foi campeão duas vezes em sua categoria e até hoje amedronta adversários, que dizem temer as ameaças que frequentemente vêm das arquibancadas.

Mesmo com a detenção de Barbosa, em setembro de 2009, a arrecadação da FDN continuou a crescer. Os negócios nessa época iam tão bem que os cerca de R$ 1 milhão em receita mensal passou a bancar não só a operação do grupo, mas também os honorários de um time de nove advogados dedicados exclusivamente ao bando. À época, Barbosa e seus comparsas já respondiam por crimes como evasão de divisas, tortura, sequestro, lavagem de dinheiro, homicídio, corrupção de autoridades, e tráfico internacional de drogas e armas. Mas foi a partir do momento em que Barbosa foi preso que a FDN deslanchou. Na cadeia, mas com mordomias (leia quadro), sem muito o que fazer e protegido por seus aliados, o traficante pôde se dedicar aos negócios. Foi com Barbosa detido que a facção colocou no ar seu sistema digital de compra e venda de drogas e de monitoramento das ruas do tráfico. Foi também nesse período que reformulou o processo de seleção de novos membros. Agora, os integrantes devem passar por uma rigorosa peneira com participação de filiados de vários escalões.


EX-ALIADOS CV e PCC já foram parceiros nos negócios e comandaram rebeliões pelo Brasil


PROFISSIONAIS

Atualmente, a FDN é a terceira maior facção criminosa do País. O grupo nunca escondeu que, nesse esforço organizacional, suas inspirações foram o Comando Vermelho (CV) e, fundamentalmente, o Primeiro Comando da Capital (PCC), hoje seu maior rival. No Brasil, não há exemplo maior de estruturação e planejamento do crime do que o PCC. Criado em 1993 no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, a 130km de São Paulo, o grupo surgiu com estatuto próprio e missão clara: “combater a opressão dentro do sistema prisional paulista”. Os anos se passaram e a missão parece se resumir a ganhar dinheiro. A facção tem hoje mais de 22 mil membros espalhados por praticamente todos os estados do País (leia quadro). À frente da potência que virou o PCC está Marcos Willians Hermes Camacho, o Marcola. Preso por roubo a bancos desde 1999, ele comanda com mão de ferro a estrutura fortemente hierarquizada que é a facção.

Com Marcola, o PCC expandiu e diversificou seus negócios, tidos como muito dependentes do tráfico de drogas até o final dos anos 1990. Hoje, sabe-se que possui times de futebol na Zona Leste de São Paulo. Também é proprietário de companhias de ônibus, forma advogados e teria feito um prefeito na Grande São Paulo. É dono de uma refinaria clandestina em Boituva, no interior de São Paulo, que, durante anos, desviou óleo da Petrobras, o refinou e o revendeu em uma rede de postos de gasolina, também de sua propriedade. E ajuda a operacionalizar a ocupação de terras na região metropolitana de São Paulo para depois exigir 25% das habitações construídas nos terrenos invadidos. Os imóveis são mais tarde entregues às famílias de detentos que estão desamparados.

Hoje, estima-se que o PCC tenha uma receita anual bruta de cerca de R$ 300 milhões – o equivalente à operação de uma indústria como a Caloi, que fabrica bicicletas desde 1948. Muito do dinheiro foi reinvestido na facção. Parte, porém, ficou para o conforto de Marcola e família. A mulher do traficante, por exemplo, costuma ser levada para visitá-lo por um motorista particular a bordo de uma Toyota SW4, carro que não custa menos de R$ 150 mil. Já Marcola, vaidoso, esbanja com cremes e procedimentos de beleza. Recentemente, pediu à Justiça autorização para fazer um tratamento de botox dentro da cadeia. O pedido foi negado.





EXPANSÃO E MEDO

Embora hoje menos poderoso do que foi nas décadas de 1980 e 1990, o Comando Vermelho (CV) ainda impõe respeito. Fundado no Rio de Janeiro, o grupo surgiu em 1973 e foi pioneiro entre as facções criminosas brasileiras. Sob a liderança de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, o CV dominou mais de 80% do tráfico da cidade e espalhou terror com roubos a banco e violência. Beira-Mar ganhou fama no Exterior graças à visibilidade do Rio de Janeiro e tentou dar início a um processo de diversificação dos negócios do grupo já na década de 1990 – antes, portanto, do PCC. A iniciativa, porém, foi interrompida por sua prisão, em 2001, na Colômbia. Desorganizada, a facção perdeu relevância. Hoje, porém, tenta crescer no País com alianças como a feita com a FDN.



Entre especialistas de segurança pública, é sabido que organizações criminosas surgem e crescem onde o Estado não se faz presente. Hoje, as facções cresceram de tal forma que há quem argumente que já não faz mais sentido falar em “poder paralelo” quando se está referindo a elas, mas sim em “poder de fato”. Em São Paulo, sabe-se que coube ao PCC mediar o acordo que promete acabar com as brigas entre as torcidas organizadas. Com isso, o grupo espera aumentar o público nos jogos, lançar um time e faturar com a nova atividade. Ainda na capital paulista, sabe-se que o PCC também trabalha para acabar com as cracolândias. Para o grupo, a droga não é comercialmente viável.

O espaço ocupado por esses bandidos profissionalmente organizados só foi possível porque há um vácuo na política penitenciária do Estado. E ele permanecerá, e se estenderá, se não forem tomadas providências pelo poder público. A guerra que se anuncia a partir do ataque da semana passada não será curta. “A reação do PCC já começou”, diz o padre Valdir Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Recebi ligações de familiares de presos que alertaram para o que está por vir”, afirma. Enquanto nada for feito, Beira-Mar, Marcola e Compensão continuarão apavorando o Brasil.

Quem é quem


Marcola – Marcos Willians Herbas Camacho
Líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcola, 48 anos, nasceu na Vila Yolanda, em Osasco (SP). Órfão de mãe, não conheceu o pai e já roubava aos 9 anos, no Centro de São Paulo. Sua primeira condenação foi em 1987 por assalto à mão armada. Só foi preso em 1999 por participar de dois roubos a banco e cumpre pena em presídio de segurança máxima em Presidente Venceslau

Fernandinho Beira-Mar – Luiz Fernando da Costa
Nascido em Duque de Caxias (RJ), Fernandinho Beira-Mar, 49, foi criado na favela Beira-Mar e é líder do Comando Vermelho (CV). Aos 20 anos, foi preso por furtar armas do Exército. Cumpriu pena, voltou à favela e tornou-se líder do tráfico. Para fugir da polícia, já se refugiou no Paraguai e se aliou às FARC. Foi preso em 2001 e cumpre pena de 200 anos em Porto Velho (RO) e

Zé Roberto da Compensa – José Roberto Fernandes Barbosa
Compensa, 44 anos, fundou a facção Família do Norte (FDN), de Manaus. Aos 12 anos iniciou a vida no crime e já foi preso quatro vezes. Compensa é o elo dos traficantes do Peru e da Colômbia com o Brasil. Já esteve preso em Porto Velho (RO) e Catanduvas (PR). Durante uma fuga, em 2013, matou dois comparsas que se aliaram ao PCC. Cumpre pena em Catanduvas (SC).

A TRAJETÓRIA DAS FACÇÕES

Saiba quando surgiram, quantos membros possuem e quanto arrecadam anualmente as maiores facções do País

Primeiro Comando da Capital (PCC)
• 1993 é o ano em que a organização criminosa surgiu, no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, no Vale do Paraíba
• 7 mil é a quantidade de integrantes do PCC em São Paulo
• 20 a 22 mil são os membros do grupo fora de São Paulo
• R$ 300 milhões é quanto o PCC arrecada anualmente

Comando Vermelho (CV)
• 1979 foi ao ano em que o CV foi criado, na prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ)
• 3 a 8 mil é a quantidade de integrantes no Rio de Janeiro
• 16 mil são os membros do grupo fora do estado fluminense
• R$ 57,6 milhões* é quanto o CV arrecada anualmente

Família do Norte (FDN)
• 2006 foi ao ano em que Gelson Carnaúba, o Mano G, e Zé Roberto Compensa, voltaram para Manaus após passarem um tempo cumprindo pena em presídios federais e decidiram criar a FDN para conter o PCC
• 200 mil é a quantidade de membros cadastrados em um sistema informatizado e com senhas
• R$ 6-12 milhões é quanto arrecada anualmente


Marcola, Beira-Mar e Compensa têm vida diferente da de outros homens presos


LUXO Cela no Compeja era para visitas íntimas

Os líderes das três maiores facções do País são tratados de forma diferente nos presídios. E não é com mais rigidez, como se espera. Pelo contrário. Marcola, do PCC, pode receber, de suas visitas, creme hidratante, condicionador e outros produtos para cuidados pessoais. Normalmente, esses itens só podem ser entregues pelo correio e são revistados. Até o final do ano passado, Marcola tinha um dermatologista com quem fazia consultas. O médico chegou a pedir autorização para a aplicação de botox. O pedido foi negado. O chefe do PCC também pode receber visitas íntimas, vive em uma cela espaçosa sozinho e pode até pedir pizza. Em maio de 2015, Fernandinho Beira-Mar viajou de helicóptero de Porto Velho (RO) ao Rio de Janeiro para acompanhar um processo. Os gastos com o transporte e com os honorários ficaram em, pelo menos, R$ 120 mil. Ele recebe produtos para cuidados pessoais, visitas íntimas e até o ansiolítico Rivotril, para insônia. Zé Roberto Compensa também tem suas mordomias. De dentro da cela, tocou o time de futebol da FDN, tem direito a visitas íntimas, ônibus especial para transporte próprio e de parentes, tolerância acima da média na cadeia, além de vigilância praticamente inexistente.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

PASSOU A HORA DE ACORDAR PARA O PROBLEMA DAS FACÇÕES

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - OS alertas sobra a violência do crime e a situação caótica e desumana nos presídios não são ouvidos por nenhum GOVERNANTE, como também não são ouvidos e nem respondidos pelos LEGISLADORES que fazem as leis e nem pelas autoridades da JUSTIÇA que aplicam as leis. Há IRRESPONSABILIDADE, LENIÊNCIA E PERMISSIVIDADE generalizadas em todos os níveis  de poder, focados apenas em interesses pessoas, partidários e corporativos. Há também muita omissão, conivência e irresponsabilidade nos órgãos da execução penal. A população foi abandonada, os presos são devolvidos ao crime, os direitos se perderam e somente as forças policiais, apesar das inúmeras dificuldades e salários baixos, é que estão enfrentando com coragem e superação, mas sempre enxugando gelo.


Beltrame: "Passou da hora de acordar para o problema das facções". Ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro diz que alertas sobre a violência do crime organizado e a situação das cadeias não vêm sendo ouvidos pelo governo federal

ZERO HORA 05/01/2017



Foto: Ricardo Duarte / Agencia RBS

Quase dez anos à frente da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, deram ao delegado federal gaúcho José Mariano Beltrame, a experiência necessária para apontar problemas e soluções para conter a violência no pais. Em junho, ele anteveu que o crime organizado avançaria pelas mãos da maior facção do pais, o PCC, que agora protagoniza uma guerra nas cadeias que tende a se espalhar pelas ruas.

Morando no Rio, mas fora do governo fluminense desde outubro, Beltrame, 59 anos, abriu uma empresa de consultoria e recentemente assumiu a presidência do Conselho de Gestão de Segurança Urbana da capital paulista. A seguir trechos da entrevista, por telefone, no qual ele defende a intervenção do Ministério da Defesa em ações de segurança e diz não ter sido ouvido pelas autoridades quando alertou para o perigo das facções.

O alerta feito pelo senhor de uma nova configuração do crime organizado no país provocou reação por parte das autoridades brasileiras?

Nenhuma. Não adiantou nada, infelizmente. Temos uma lei sueca, mas a nossa sociedade que não é sueca. Nosso nível de civilidade não condiz com isso, nem menos com a Constituição. Sei que apenas polícia não adianta, mas tem coisas que podem ser feitas, e que não são muito difíceis.

O PCC avançou com força para o Norte e Nordeste e para a Rocinha, no Rio...

Está aqui (no Rio) estrategicamente, não ostensivamente. Não é perfil deles esse tipo de atitude. Agem muito mais estourando carro-forte, assaltando banco, comandando cadeias, fazendo o comércio, aquilo que dá dinheiro. Estão na favela fornecendo a droga. Ele está aqui, como está em vários lugares do pais como logística.


O PCC vai dominar os presídios do país?

Acho que, de certa forma, já domina.

Como enfrentar as facções?
Não se pode jogar o problema para uma secretaria de segurança, para uma secretaria de administração penitenciária. O aumento da população carcerária, a maneira como os presos são tratados, isso facilita o diálogo no presídio e a organização entre eles. O sistema prisional é a verdadeira nitroglicerina (substância explosiva usada na fabricação de bombas). Tem de ter, urgente, uma inteligência prisional que retire os presos mais perigosos e os transfira para presídios federais. Esse é primeiro ponto. O segundo é construir 500 presídios no país. Qual Estado pode construir? É um problema difícil, e essa falta de horizonte nos deixa em situação delicada.

Qual reflexo da guerra das facções para a sociedade?

Vejo de maneira muito preocupante. E este é um assunto que não está na pauta do governo federal. Continua na mão dos Estados. Há necessidade de ações conjuntas, planejadas, organizadas, para mitigar esses problemas, pois acabar é muito difícil. Defendo o ingresso do Ministério da Defesa nessa luta. Não dá mais para dizer que não é minha função, que não é constitucional. Quando se quer mudar a Constituição, se muda até de madrugada. Passou da hora de acordar para esse problema (das facções). Não haverá desenvolvimento no Brasil sem segurança.