SÍMBOLOS DA MORTE. A cada rival executado, uma “lágrima” tatuada
Suspeita de tráfico e de homicídios, quadrilha é apontada como a mais violenta da zona sul da Capital
JOSÉ LUÍS COSTA
Policiais cercaram no amanhecer de ontem a Vila Castelo, no bairro Restinga, extremo sul da Capital, para capturar 12 suspeitos – quatro mulheres – de envolvimento em roubos, tráficos de drogas e assassinatos na Região Metropolitana. Considerado pela polícia o mais violento bando da região, o grupo se tornou temido pela agressividade e pela marca registrada no rosto de seus integrantes: a tatuagem de lágrimas abaixo dos olhos.
– Além de matar, eles se vangloriavam do que faziam. Cada gota significaria uma morte – afirma o delegado da Polícia Civil Rafael Soares Pereira.
Segundo a polícia, a quadrilha, conhecida como bonde Esquinas Kastelo, é suspeita de pelos menos 12 homicídios e tentativas de assassinatos desde o começo do ano na Restinga. Dois já estariam comprovados. Um deles foi em janeiro, quando os irmãos Diego Rogério da Silva, o Tetê, 24 anos, e Thiago Roberto Rogério da Silva, o Mamute, 26 anos, teriam executado um desafeto, Heron dos Santos Veiga, 42 anos. O assassinato seria para vingar a morte de um parente. Os irmãos negam os crimes, mas Thiago tem uma lágrima tatuada no rosto. Thiago e Tetê foram presos na semana passada.
Quadrilha não conseguiu se fixar em Eldorado do Sul
Em 21 de abril, a quadrilha foi até Eldorado do Sul, onde negociava drogas e matou um cliente, Wilian Gabriel Vargas Rodrigues, o Dé, 25 anos, condenado em 2011 a cinco anos de cadeia por tráfico.
– O Wilian era um pequeno traficante que comprava droga no bando da Restinga. Aí, o grupo foi até Eldorado, matou o Wilian para ficar com a boca de fumo da vítima – afirmou o delegado Alencar Carraro.
De acordo com o delegado, os suspeitos do crime são Tetê, Airton Luís Querche Junior, o Xuxa, 22 anos, envolvido em assaltos ao comércio, e Bruno dos Santos Oliveira, 30 anos, além de um adolescente. Eles negam o crime.
Após a morte, o bando teria roubado o Golf de Wilian e invadido a casa dele, na Vila Progresso. Além disso, teriam expulsado moradores de pelo menos quatro casebres da vizinhança para montar uma nova boca de fumo.
Dias depois, PMs apreenderam o Golf durante uma abordagem na Restinga e capturaram três comparsas do bando com duas espingardas calibre 12, uma pistola calibre 7.65 e porções de cocaína, maconha e crack.
A quadrilha não conseguiu montar a boca de fumo em Eldorado do Sul, e teria colocado placas de venda nos casebres, indicando os próprios celulares para contato. Fazendo-se passar por compradores, policiais ligaram para os quadrilheiros, descobrindo detalhes sobre a rotina deles que ajudaram na captura.
A ofensiva de ontem envolvendo 350 policiais – 250 civis e cem PMs – foi batizada de Operação Território da Paz, por reprimir a violência em uma área onde esta instalado um Território da Paz – estrutura montada pelo governo do Estado para melhorar a segurança e as condições de vida na comunidade.
– A ação realizada hoje (ontem) demonstra a união de ambas instituições no combate à criminalidade, reforçando os princípios da Polícia Comunitária nos Territórios da Paz – destacou a delegada Shana Luft Hartz, da 16ª Delegacia da Polícia Civil (Restinga).