sábado, 20 de julho de 2013

PCC AMPLIA REDE E MONTA IMPÉRIO FINANCEIRO

CORREIO DO POVO 20/07/2013 15:15

PCC AMPLIA SUA REDE CRIMINOSA EM 20 ANOS


Polícia Federal apurou que a facção está montando um império financeiro com o narcotráfico

Fonte: Álvaro Grohmann / Correio do Povo

O envolvimento de policiais civis e militares com o Primeiro Comando da Capital (PCC), descoberto em recente investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, evidenciou o alcance dos tentáculos da facção na busca pelo monopólio no mundo do crime e infiltração na sociedade. Em 19 de julho de 2012, o promotor de Justiça do Gaeco Flávio Okamoto havia alertado, em entrevista ao Correio do Povo, sobre os planos de expansão do PCC, criado há 20 anos, visando a uma “federação do crime”. Já a Polícia Federal apurou que a facção está montando um império financeiro com o narcotráfico. Neste sentido, o combate às finanças da organização é considerado primordial. Entre janeiro e junho deste ano, a PF causou um prejuízo de R$ 50 milhões com as apreensões de cocaína do PCC.

Autora do recém-lançado livro “PCC, Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência”, pela Editora Saraiva, a socióloga Camila Caldeira Nunes Dias, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do ABC, destaca que a presença da facção em SP e outros estados é uma realidade. “O monopólio do PCC em SP produziu uma ‘pacificação’ das relações no mundo do crime, contribuindo para a redução dos homicídios, dentro e fora das prisões”, analisa.

Segundo ela, o ataque às finanças da facção é muito mais efetivo do que insistir no combate através do encarceramento ou da violência. A socióloga lembra que a organização está presente em cada estado de forma diferente. No Mato Grosso do Sul e no Paraná, observa, a atuação é “bem consistente” por estar na fronteira com a Bolívia e o Paraguai. “Em outros estados, há configurações específicas que dependem de fatores como a conformação das quadrilhas e as formas como se dá a conexão com o PCC, que pode ser conflituosa ou não”, acrescenta.

Em relação ao RS, a socióloga assinala que há grupos criminosos bem estabelecidos e por isso a entrada no PCC “não se dá de forma direta, mas muitas vezes por acordos de cooperação com grupos locais”. A pesquisadora percebe ainda que existe uma “tentativa de nacionalização e de controle da distribuição da cocaína e de maconha no Brasil”.

Facção tem perfil político-ideológico

Qual o perfil do PCC? Em sua pesquisa de quatro anos e meio nos presídios de SP, a socióloga Camila Caldeira Nunes Dias entrevistou 30 lideranças da facção. “Não somos uma organização criminosa. Somos uma organização de criminosos. Nossa finalidade é social, mas o meio é o crime”, respondeu um dos líderes. Para entender essa organização, a pesquisadora explica que não basta saber das atividades econômicas ilícitas. “Há um componente político-ideológico fundamental que passa pela experiência do encarceramento e se expressa na oposição ao Estado, visto como inimigo, sobretudo a partir da administração prisional e das polícias”, esclarece.

A autora do livro “PCC, Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência” lembra que o objetivo central de sua obra foi compreender como se deu o processo de expansão do PCC no sistema carcerário em SP e quais as transformações produzidas. “As principais conclusões dizem respeito à ampla hegemonia conquistada pelo PCC nas prisões paulistas, acompanhada de uma expansão fora das prisões, com papel destacado no mundo do crime, principalmente na economia ilícita, com destaque ao tráfico de drogas”, aponta.

De acordo com a socióloga, uma das consequências desse processo, além da monopolização das atividades ilícitas, foi a resolução e mediação de conflitos no mundo do crime, sendo obtida uma “paz imposta” a partir de normas da facção. Ela considera ainda um erro a negação da existência da facção.

“Mídia gosta de glamourizar o crime”

Autor do livro “CV-PCC – A Irmandade do Crime”, pela Editora Record, o jornalista e escritor Carlos Amorim recorda que a facção surgiu há 20 anos, em 1993, no anexo do Presídio de Taubaté, no interior de São Paulo.
A organização nasceu destinada a “resistir às péssimas condições carcerárias, por meio da organização dos detentos em torno de uma lista básica de reivindicações: melhoria das condições sanitárias; atendimento aos doentes; visitas íntimas, etc.”, afirma.

Ele lembra que o PCC ficou mais de sete anos em silêncio, crescendo sorrateiramente e estendendo seus tentáculos por todo o sistema penal. A facção apareceria pela primeira vez em 2001 com nove rebeliões. “Quando se pergunta às autoridades sobre o PCC, a resposta é certa: isso não existe, a mídia gosta de glamourizar o crime”, constata.

Voz dos detentos cruza fronteiras
Na opinião da jornalista Fátima Souza, autora do livro “PCC — A Facção”, pela Editora Record, a organização surgiu porque os presos queriam uma voz que falasse por eles. A ideia era “montar uma espécie de sindicato” que denunciasse a situação deles. “O PCC cresceu, chegou a todos os estados brasileiros e cruzou fronteiras internacionais”, conclui.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

LÁGRIMA DA MORTE


ZERO HORA 17 de julho de 2013 | N° 17494

SÍMBOLOS DA MORTE. A cada rival executado, uma “lágrima” tatuada

Suspeita de tráfico e de homicídios, quadrilha é apontada como a mais violenta da zona sul da Capital


JOSÉ LUÍS COSTA

Policiais cercaram no amanhecer de ontem a Vila Castelo, no bairro Restinga, extremo sul da Capital, para capturar 12 suspeitos – quatro mulheres – de envolvimento em roubos, tráficos de drogas e assassinatos na Região Metropolitana. Considerado pela polícia o mais violento bando da região, o grupo se tornou temido pela agressividade e pela marca registrada no rosto de seus integrantes: a tatuagem de lágrimas abaixo dos olhos.

– Além de matar, eles se vangloriavam do que faziam. Cada gota significaria uma morte – afirma o delegado da Polícia Civil Rafael Soares Pereira.

Segundo a polícia, a quadrilha, conhecida como bonde Esquinas Kastelo, é suspeita de pelos menos 12 homicídios e tentativas de assassinatos desde o começo do ano na Restinga. Dois já estariam comprovados. Um deles foi em janeiro, quando os irmãos Diego Rogério da Silva, o Tetê, 24 anos, e Thiago Roberto Rogério da Silva, o Mamute, 26 anos, teriam executado um desafeto, Heron dos Santos Veiga, 42 anos. O assassinato seria para vingar a morte de um parente. Os irmãos negam os crimes, mas Thiago tem uma lágrima tatuada no rosto. Thiago e Tetê foram presos na semana passada.

Quadrilha não conseguiu se fixar em Eldorado do Sul

Em 21 de abril, a quadrilha foi até Eldorado do Sul, onde negociava drogas e matou um cliente, Wilian Gabriel Vargas Rodrigues, o Dé, 25 anos, condenado em 2011 a cinco anos de cadeia por tráfico.

– O Wilian era um pequeno traficante que comprava droga no bando da Restinga. Aí, o grupo foi até Eldorado, matou o Wilian para ficar com a boca de fumo da vítima – afirmou o delegado Alencar Carraro.

De acordo com o delegado, os suspeitos do crime são Tetê, Airton Luís Querche Junior, o Xuxa, 22 anos, envolvido em assaltos ao comércio, e Bruno dos Santos Oliveira, 30 anos, além de um adolescente. Eles negam o crime.

Após a morte, o bando teria roubado o Golf de Wilian e invadido a casa dele, na Vila Progresso. Além disso, teriam expulsado moradores de pelo menos quatro casebres da vizinhança para montar uma nova boca de fumo.

Dias depois, PMs apreenderam o Golf durante uma abordagem na Restinga e capturaram três comparsas do bando com duas espingardas calibre 12, uma pistola calibre 7.65 e porções de cocaína, maconha e crack.

A quadrilha não conseguiu montar a boca de fumo em Eldorado do Sul, e teria colocado placas de venda nos casebres, indicando os próprios celulares para contato. Fazendo-se passar por compradores, policiais ligaram para os quadrilheiros, descobrindo detalhes sobre a rotina deles que ajudaram na captura.

A ofensiva de ontem envolvendo 350 policiais – 250 civis e cem PMs – foi batizada de Operação Território da Paz, por reprimir a violência em uma área onde esta instalado um Território da Paz – estrutura montada pelo governo do Estado para melhorar a segurança e as condições de vida na comunidade.

– A ação realizada hoje (ontem) demonstra a união de ambas instituições no combate à criminalidade, reforçando os princípios da Polícia Comunitária nos Territórios da Paz – destacou a delegada Shana Luft Hartz, da 16ª Delegacia da Polícia Civil (Restinga).

sábado, 13 de julho de 2013

QUADRILHA MOVIMENTAVA TONELADAS DE DROGAS PARA O RS


ZERO HORA 13 de julho de 2013 | N° 17490

FREIO NO TRÁFICO

Corte na distribuição de drogas

Polícia prendeu paraguaio responsável por trazer mais de seis toneladas de maconha e 700 quilos de cocaína por ano para o RS



Uma movimentação de mais de seis toneladas de maconha ao ano e de cerca de 60 quilos de cocaína por mês (mais de 700 quilos anuais) foi interrompida no Estado pela Polícia Civil. Traficantes que se passavam por empresários e atuavam em Canoas, na Região Metropolitana, foram presos na manhã de ontem no desfecho da Operação Mercadores. Ao mesmo tempo em que eram cumpridos os mandados de prisão em solo gaúcho, policiais barravam a origem da droga, em Foz do Iguaçu (PR).

Foi no oeste paranaense que o paraguaio Jorge Marcial Mendes Alcaraz, 41 anos, recebeu voz de prisão de uma equipe do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc). Apontado como um dos líderes da quadrilha, ele fazia a ligação do Paraguai até o Brasil, distribuindo maconha e cocaína não só para o Rio Grande do Sul, mas também para São Paulo, Minas Gerais e até o Chile.

– A prisão do Alcaraz representa uma diminuição no ingresso de drogas em larga escala. Ele era responsável pela movimentação sempre de quantidades grandes, tanto que um dos carregamentos que o Denarc conseguiu interceptar foi de mais de 200 quilos – explica o delegado Thiago Bennemann, responsável pela investigação iniciada em fevereiro.

Alcaraz, chamado pelos comparsas de Barão de Foz, camuflava a droga em caminhões e carros que faziam duas viagens mensais até o bairro Mathias Velho, onde está instalado em Canoas o programa Território da Paz. Estima-se que, em cada viagem, eram levados até 300 quilos de maconha no caminhão e 30 quilos de cocaína nos carros. Um depósito no bairro Niterói guardava os carregamentos.

– O objetivo era ir além das nossas fronteiras, porque ninguém planta a folha de coca no território brasileiro. A cocaína e a maconha em grande quantidade vêm de fora. Prendíamos os compradores gaúchos, mas não conseguíamos ir até onde a droga é realmente negociada – destacou o diretor da Divisão de Investigações do Narcotráfico, Heliomar Franco.

Os policiais coordenados pelo delegado Rodrigo Zucco conseguiram cumprir o mandado de prisão preventiva quando o paraguaio seguia de carro para o país de origem. Transportado de avião para Porto Alegre, ele desembarcou sob escolta no início da tarde. Após deixar o aeroporto Salgado Filho, foi conduzido à sede do Denarc para prestar depoimento.

LETÍCIA COSTA

Patrimônio será vasculhado

As prisões foram cumpridas a partir das 7h de ontem em Canoas, Nova Santa Rita e Foz do Iguaçu, em uma operação que reuniu 50 policiais. Conforme o Denarc, os suspeitos têm passagens pela polícia. Por causa de um acidente de trânsito envolvendo um policial minutos antes do início da ofensiva, foi dada prioridade às prisões e não aos mandados de busca e apreensão.

No Estado, três suspeitos foram detidos ontem (outras duas pessoas já estavam presas). Um dos líderes da quadrilha no Estado, Adair Ferreira Gomes, 50 anos, foi encontrado em um sítio em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana. Ele comandaria duas pessoas ligadas à revenda de veículos. As prisões foram comemoradas pelo chefe de Polícia, delegado Ranolfo Vieira Júnior. Ele ressaltou a importância da repressão ao grupo considerado bem organizado.

– Não adianta só prendermos as pessoas sem descapitalizarmos a droga. No momento em que se retira o indivíduo do mundo do crime, recolhendo ao sistema penitenciário, rapidamente outro já assume. Mas não foi isso que aconteceu desta vez. Além de tirar o indivíduo, estamos mexendo no bolso deles – disse.

A operação não está finalizada. A partir das prisões, uma segunda fase irá contabilizar o patrimônio retido e identificar pessoas usadas como laranjas pela quadrilha.

OS PRESOS. Os suspeitos detidos ontem

- Jorge Marcial Mendes Alcaraz, 41 anos – Paraguaio apontado como líder da organização.
- Adair Ferreira Gomes, 50 anos – Seria o líder da quadrilha em Canoas. Coordenava a estrutura e logística de distribuição, como contato com Alcaraz e pagamento das pessoas responsáveis pelo transporte.
- Rodinei da Silva, 48 anos – Subordinado de Gomes, assumia a administração da revenda de veículos usada para lavar o dinheiro obtido com a venda da droga.
- Alberto Fernandes da Rosa, 47 anos – Subordinado de Silva na revenda de veículos.


A ORIGEM DO NOME

Por que Operação Mercadores

- O nome está ligado à forma como os integrantes da quadrilha eram vistos pela comunidade. Eles se passavam por empresários e usavam uma revenda de veículos na Avenida Rio Grande do Sul para fazer a lavagem do dinheiro.

- Sem letreiro, o estabelecimento tinha ontem 26 veículos e um caminhão. No sobrado, um dos integrantes da quadrilha foi preso.

- O destino da droga não foi o alvo da investigação, mas acredita-se que a venda era realizada para traficantes no bairro Mathias Velho e na Região Metropolitana.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O PCC SERÁ DERROTADO, DIZ MINISTRO DA JUSTIÇA


"O PCC será derrotado", diz ministro da Justiça

Em entrevista ao iG, José Eduardo Cardozo afirmou que crise de relacionamento do Planalto com governo tucano foi superada

Vasconcelo Quadros e Clarissa Oliveira - iG Brasília | 24/01/2013 18:55:10



O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse, em entrevista ao iG , que a Polícia Federal e os órgãos de segurança de São Paulo estão vencendo a guerra contra o PCC. “Vamos derrotar a organização”, afirma o ministro.

Segundo ele, com equipamentos, inteligência e ações conjuntas, as polícias estão “minando” o poder de fogo da organização que controla roubo e tráfico de dentro das cadeias, mata policiais e assombra a população paulista desde 2001.

O cerco aos criminosos está sendo feito por meio de investigações e operações nas estradas, aeroportos e, em breve, nos portos paulistas. O objetivo é enfraquecer o PCC e as demais quadrilhas que atuam também em outros Estados.

O Ministério da Justiça está ajudando a combater o uso de celulares nas cadeias e implantará no Estado seu programa de controle do crack e tratamento de viciados.

Além de uma agência de inteligência que já reúne na mesma sala policiais federais e estaduais, ainda este ano serão entregues a São Paulo equipamentos de comunicação para montar o Centro de Comando e Controle, o primeiro passo da sinergia entre os órgãos de segurança.

Cardozo sustenta que a Copa do Mundo deixará como legado “um avanço de décadas” no padrão de segurança pública. Com os equipamentos e a experiência que surgirão do evento, o governo executará a partir de São Paulo um plano nacional contra o crime cujo carro chefe será a integração das polícias.

Cardozo diz que a crise de relacionamento com o governo tucano foi superada depois do diálogo entre a presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin no ano passado.









    NADA ACONTECE NAS PRISÕES QUE NÃO PASSE PELA INTERMEDIAÇÃO DO PCC


    Nada acontece nas prisões que não passe pela intermediação do PCC, diz socióloga

    Autora de livro conta como facção que nasceu em presídios se espalhou pelo País. ‘Não somos uma organização criminosa. Somos uma organização de criminosos", diz integrante

    Vasconcelo Quadros - iG São Paulo | 23/05/2013 12:22:02 - Atualizada às 23/05/2013 12:33:30


    Escrito depois de quatro anos e meio de pesquisa, o livro PCC - Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência (Editora Saraiva, 415 páginas, R$ 118,00), da socióloga Camila Caldeira Nunes Dias, da USP, mostra que o governo de São Paulo vem sendo derrotado pelo crime organizado. Consolidado depois de 20 anos de atuação, o PCC domina as prisões como força paralela ao Estado, controla a economia subterrânea alimentada pelo tráfico de drogas e está se expandindo para outras regiões do País.

    “Nada acontece nas prisões paulistas que não passe pela intermediação do PCC”, sustenta Camila, que entrevistou 32 detentos e ouviu dezenas de funcionários e dirigentes do sistema prisional paulista. Ela situa a trajetória da organização em três fases distintas para se firmar como contraponto à política prisional paulista e força econômica organizada a partir das atividades criminosas.

    A primeira fase, que ela chama de conquistas, vai de 1993 a 2001, quando o PCC, voltado para os problemas carcerários, transformou as prisões numa espécie de QG do crime, promovendo a onda de violência, com rebeliões e mortes; a segunda é a da publicização, entre 2001 e 2006, marcada por ações de impacto e que chamaram a atenção para a existência da organização; e, por último, a consolidação, entre 2006 e 2013, que representa o controle efetivo das prisões e sua expansão para fora dos muros do sistema prisional, com penetração na economia informal da cidade através de atividades criminosas.
    Divulgação
    Capa do livro PCC - Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência

    Camila sustenta que o PCC exerce o controle sobre 90% da massa carcerária paulista, de cerca de 200 mil detentos, e é gerido por uma cúpula formada por dez presos, todos eles confinados na Penitenciária de Presidente Wenceslau. Esse grupo funciona como uma espécie de conselho deliberativo, repassando às unidades prisionais as diretrizes para a solução de conflitos comuns no sistema, executadas por integrantes que se esparramam pelas 150 unidades prisionais.

    O poder de fogo da organização está na aliança e compromisso com bandidos em liberdade que, segundo ela, controlam a distribuição de drogas (cocaína, crack e maconha) e executam as ordens emitidas de dentro das prisões. Geograficamente, a estrutura segue os moldes da administração pública, com um representante, chamado na gíria criminal de “Sintonia”, responsável por cada área da cidade. O código é definido por “DDD”, seguido de um número correspondente à região de domínio de cada grupo.

    Em fase de crescimento no País, a organização já tem ramificações em Estados como Paraná, Sergipe, Bahia, Pernambuco, Ceará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, este último, de vital importância por se localizar na fronteira com Paraguai e Bolívia, passagem do grosso da cocaína que chega a capital paulista. Camila diz que parte dos lucros do tráfico é lavada em atividades como transporte alternativo, postos de gasolina e revenda de automóveis, uma clara proximidade com atividades formais que pode evoluir para relacionamento com grupos políticos através do financiamento de campanhas eleitorais.

    “O perfil do PCC não tem paralelo. É uma organização sui generis: não é um cartel, não se parece com a máfia e nem tem as características das gangues americanas tradicionais. Perguntei a um deles o que é o PCC e ele respondeu: ‘Não somos uma organização criminosa. Somos uma organização de criminosos. Nossa finalidade é social, mas o meio é o crime. É assim que a gente ajuda os mano’, disse ele. Isso quer dizer que o crime e a economia do crime não são suficientes para explicar o que é o PCC”, alerta a socióloga.

    Embora a constatação contrarie frontalmente o governo, que sequer reconhece a sigla da quadrilha, o PCC tem um apelo ideológico e uma aura de insurgência contra o estado. “O apelo dá ‘liga’. O trabalho social e ideológico é responsável pela união da massa carcerária contra o estado”, alerta. No plano da violência, o confronto armado se reflete no enfrentamento com a Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), o grupamento de choque da PM, numa relação de ódio recíproco cujo resultado são as baixas do ano passado em ambos os lados: 93 policiais militares e dezenas de criminosos, a maioria sem vínculo com a linha de frente de nenhum dos grupos, mas mortos nas recorrentes retaliações.

    Segundo a socióloga, a decisão do governo em colocar a Rota para com bater o PCC foi desastrosa. Os episódios do ano passado mostraram, segundo ela, que a organização não mistura sua atuação dentro das cadeias com ações de rua.

    Dentro das prisões, por exemplo, há cinco anos reina uma paz negociada, mantida pelo poder de força da organização e sob o olhar cômodo do aparato estatal. Uma das últimas rebeliões que se tem notícia ocorreu em Iaras, em 2008. E assim mesmo foi autorizada porque o comando do PCC, diante a reivindicação pelo motim, “reconheceu” que a direção da cadeia estava agindo com arbitrariedade contra alguns presos.

    “A guerra do PCC contra a PM em 2012 foi fora do sistema prisional. Os presídios vivem atualmente uma fase de acomodação, sem a violência de outros períodos. É um equilíbrio precário, mas significa que o PCC tem o controle e o exerce plenamente na mediação dos conflitos internos. É como se o estado a ele tivesse delegado essa função”, afirma Camila.



      POLÍCIA FEDERAL ATACA FINANÇAS DO PCC


      Por Vasconcelo Quadros - iG São Paulo | 10/07/2013 06:01

      Apreensões de toneladas de cocaína criaram prejuízos de 50 milhões de reais para a facção criminosa em seis meses



      A Polícia Federal descobriu que o Primeiro Comando da Capital (PCC), a organização que controla os presídios, vem erguendo um verdadeiro império financeiro através do tráfico de cocaína em São Paulo. O maior sintoma desse poderio pode ser medido pela estatística: em seis meses de investigação, entre janeiro e junho deste ano, foram apreendidas sete toneladas e meia de cocaína no estado cujo valor de atacado no mercado das drogas _ onde o preço médio é de R$ 10 mil o quilo _ chega a R$ 75 milhões.

      Prejuízo: Polícias batem dois recordes de apreensões de cocaína do PCCAE
      Incrições que ligam os criminosos ao PCC foram pichadas em um dos cômodos da casa incendiada

      Como parte da droga apreendida é a pasta base da cocaína, comercializada a um valor menor que o do cloridrato _ quando ela está pronta para o consumo _, o rombo nas finanças da organização só na perda do “produto” que alimenta a organização é estimado em cerca de R$ 50 milhões.

      Isso significa dizer que as quadrilhas envolvidas com a compra e distribuição no atacado movimentam finanças equivalentes ao capital de giro de empresas de médio porte. Em cada operação, além das prisões, a polícia tem apreendido e confiscado todos os bens em poder dos criminosos, o que aumenta os prejuízos.

      “O que move a quadrilha são negócios”, afirma o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Troncon Filho.

      Desde que o Ministério da Justiça e o governo paulista fecharam um acordo de cooperação, iniciado em novembro do ano passado, os órgãos policiais centraram foco para combater o PCC naquilo que é vital para sua existência: as finanças, minadas através das apreensões de drogas.

      Também estão quebrando o fluxo financeiro alimentado pela lavagem de dinheiro e as ações violentas fora das prisões que, só no ano passado, como consequência da guerra entre PCC e Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) resultaram na morte de dezenas de criminosos e mais de noventa policiais militares.

      Até o final do ano passado, mesmo diante do evidente avanço da organização no controle dos presídios, o governador Geraldo Alckmin e os órgãos de segurança paulistas (Secretaria de Segurança e Secretaria de Administração Penitenciária) procuraram negar a existência do PCC.

      Em 20 anos, no entanto, a quadrilha se expandiu de tal forma que atualmente não só detém a maior fatia do mercado do tráfico de drogas, como também estendeu seus tentáculos lavando dinheiro no crime em atividades legais (como o transporte) e se infiltrando discretamente nas estruturas políticas de municípios da Grande São Paulo.HÉLIO TORCHI/AE/AE
      Armas apreendidas nem blitz em SP

      Representante da Polícia Federal na força tarefa organizada com a criação da Agência de Atuação Integrada _ grupo de inteligência onde têm assento também as polícias militar, civil e rodoviária federal, as secretarias de Segurança e de Administração Penitenciária, Receita, Banco Central e outros órgãos de controle _, o delegado Roberto Troncon alerta que o PCC não deve ser mitificado e nem ignorado. A quadrilha tem poder financeiro e de fogo e se infiltrou na política penitenciária.

      “A pregação de que tudo é em prol da causa carcerária é papo furado”, afirma o superintendente da PF. “Eles têm capilaridade dentro dos presídios, mas seus líderes estão presos em estabelecimentos de segurança máxima. Mesmo assim, por uma questão de legalidade, não é possível mantê-los em completa incomunicabilidade. A quadrilha alimenta-se de criminosos iniciantes, cooptáveis, mas sua influência é exercida mais pela mística do que pela realidade. No topo, os líderes são capitalistas e se utilizam do discurso contra o sistema carcerário para tocar seus negócios criminosos”, afirma o superintendente da PF.

      A organização, segundo ele, tem o poder concentrado em dez líderes, conhecidos como “torres” _ todos eles cumprindo as penas mais longas do país em presídios paulistas _, presta uma espécie de serviço social aos detentos, mas cobra um alto preço a ser pago em forma de ações quando estes retornam às ruas. Para ele, é falsa a pregação ideológica por trás das ações assistencialistas nos presídios.

      O caso mais exemplar da contrapartida exigida dos investimentos em operações de tráfico foi a matança de policiais, no ano passado, ordenada pela cúpula como retaliação as ações da Rota, mas executada pelo “baixo clero”, os criminosos que estão na base da organização, conhecidos na gíria como “piolhos”, envolvidos no varejo do tráfico.

      O homem forte ainda é Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso atualmente na Penitenciária de Presidente Venceslau, o homem que dá a última palavra nas decisões mais importante. O PCC controla cerca de 90% da população carcerária paulista, estimada em 200 mil detentos, mas seus líderes gerenciam esquemas distintos, cada um com sua “filial”, com investimentos e cobrança de resultados.

      Nessas relações financeiras que permeiam o crime organizado a garantia é a palavra que, uma vez rompida, paga-se com a vida. É isso que explica, segundo a polícia, a eventual alternância entre o tráfico e os crimes contra o patrimônio: sempre que a polícia impõe algum prejuízo de monta ao grupo em grandes apreensões, descapitalizado, o perdedor parte para um grande assalto a banco ou carro forte para devolver o dinheiro emprestado. “Não tem título protestado”, diz o delegado.

      Firmado no dia 12 de novembro do ano passado, depois da demissão do ex-secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto durante choque com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o acordo que gerou a agência de inteligência integrada mudou a política de repressão ao PCC. Os confrontos ostensivos passaram a ser precedidos de ações de inteligência voltadas para a economia da quadrilha.

      No combate ao tráfico os resultados podem ser percebidos na apreensão recorde no primeiro semestre de 2013, sempre com grandes volumes apreendidos de cocaína: 1.079 quilos em janeiro, 975 em fevereiro, 1.146 em março, 810 em abril, 1.886 em maio e algo em torno de 1.700 em junho. O que dá ares surreais é que as operações são ordenadas ou geridas de dentro das cadeias.

      Como o PCC tem capilaridade nacional e as operações de tráfico têm sempre estrutura em outros estados e nos países produtores de cocaína (a Bolívia é o maior exportador da droga que chega ao Brasil), as investigações desencadeadas em São Paulo também têm reflexos no montante de cerca de 17 toneladas apreendidas no país, em cuja estatística estão incluídas as sete toneladas e meia confiscadas em São Paulo.

      A integração entre os órgãos de segurança, possível depois que a presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin, finalmente, se entenderam numa ação comum para atacar o crime organizado, é a novidade mais saudável na política de segurança do país. Com ela as polícias aperfeiçoaram a repressão. “Estamos descapitalizando e desmantelando o crime organizado”, afirma o delegado Troncon.