terça-feira, 17 de novembro de 2015

ARSENAL DE GUERRA DA FACÇÃO QUE DOMINA CONDOMÍNIO EM POA

DIÁRIO GAÚCHO 17/11/2015 | 08h24

Denarc derruba arsenal da quadrilha do traficante Xandi em Porto Alegre. Nove armas, incluindo um fuzil, estavam em apartamento na Avenida Ipiranga. No imóvel, alugado por Renato Gambini — preso há alguns dias —, também eram mantidos pelo menos 50kg de drogas



Armas e drogas foram encontradas em um apartamento na região central de Porto Alegre Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS


Eduardo Torres



Uma ação do Denarc revelada na manhã desta terça-feira derrubou o que a polícia considera uma espécie de depósito da quadrilha que era liderada pelo traficante Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, em Porto Alegre. Em plena Avenida Ipiranga, o bando que tem seu núcleo no Condomínio Princesa Isabel mantinha armas e drogas.


Foram apreendidas nove armas — um fuzil, seis pistolas 9mm e um revólver —, pelo menos 43kg de maconha, 5kg de crack, 2kg de cocaína e pelo menos outras 20 mil buchas de cocaína. No local, foram presos quatro homens, entre eles um conhecido como Pequeno, que era considerado pelo Denarc como o atual gerente da quadrilha.

— Temos comprovação de que esse imóvel em área nobre da cidade foi alugado há dois meses pelo Renato Gambini, que é o chefe da quadrilha desde a morte do Xandi. É uma prova inequívoca do tráfico de drogas como sustentação ao crime de lavagem de dinheiro que já investigamos no departamento — afirma o delegado Rafael Soares Pereira.

Gambini foi preso há uma semana em Porto Alegre. Ele tinha prisão preventiva desde que a Operação Laranja Mecânica foi desencadeada, em outubro. O alvo daquela ação era atacar o patrimônio da quadrilha, que resultou em um inquérito por lavagem de dinheiro. Dessa vez, o Denarc batizou a operação como Laranja Mecânica Fase Sucursal.

— O apartamento foi um local neutro que eles encontraram para retirar do condomínio a comprovação do envolvimento no tráfico de drogas. Durante a investigação conseguimos comprovar que pelo menos duas dessas armas estavam até pouco tempo circulando lá dentro do Princesa Isabel — explica o delegado.




Quatro pessoas foram presas durante operação da Polícia Civil
Foto:Ronaldo Bernardi / Agência RBS

* Diário Gaúcho

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

TRAFICANTES COM ARMA DE GUERRA QUE PERFURA AÇO BLINDADO


G1 FANTÁSTICO Edição do dia 16/08/2015


Arma apreendida com traficantes do Rio perfura aço blindado em teste. Americanos criaram o calibre ponto 50 para neutralizar ataques aéreos e destruir carros blindados em guerras no Afeganistão e no Iraque.




O Fantástico testa o poder de destruição de uma arma exclusiva das Forças Armadas que, ninguém sabe como, estava nas mãos da bandidagem. Ao prender seis líderes do tráfico de drogas, no Rio, a polícia encontrou um fuzil ponto 50. Arma de precisão incrível e que já foi utilizado para atacar carro-forte.

É uma arma de elite. Com poder de fogo descomunal.

Veja no vídeo o cartucho de um fuzil762, a arma mais utilizada pelas Forças Armadas no mundo todo. E também por bandidos nas comunidades do Rio de Janeiro. Ele é capaz de matar uma pessoa a mais de 600 metros de distância.

Agora faça a comparação com a uma munição de um fuzil ponto 50. A capacidade de destruição é proporcional. É muito maior. Para acertar um alvo a quase dois quilômetros de distância, com uma arma ponto 50, é preciso muita experiência.

Os soldados só tiveram permissão para usar a arma de guerra depois de vários anos de treinamento no comando de operações especiais do Exército, em Goiânia.

Atiradores de elite mostram o estrago que essa arma pode causar. E é bom proteger o ouvido. A placa de aço blindado, a parede de concreto. Nada é capaz de conter o impacto desse fuzil.

“O camarada que está aqui dentro não está protegido pelo concreto porque essa munição, ela é capaz de provocar dano no concreto e atingir o interior da instalação pelo estilhaçamento da própria parede”, diz o general do Exército Mauro Sinott.

Os americanos criaram o calibre ponto 50 para neutralizar ataques aéreos e destruir carros blindados em guerras no Afeganistão e no Iraque.

Na última terça-feira (11), um fuzil ponto 50 foi achado atrás da porta de uma casa, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Estava com seis traficantes, líderes de uma facção criminosa, presos em uma operação do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar.

“Grande parte dessas armas que são apreendidas em nosso país não são fabricadas aqui. São armas que são produzidas no exterior e que de alguma forma são desviadas e contrabandeadas e acabam chegando aqui”, afirma o coronel da PM no Rio de Janeiro René Alonso.

Os Estados Unidos são o principal fabricante de armas ponto 50. Lá elas são vendidas legalmente para qualquer cidadão e custam cerca de R$ 50 mil cada. São dois modelos. A metralhadora é usada para alvos dispersos. O fuzil foi projetado para tiros de precisão.

Em 2006, um fuzil ponto 50 foi apreendido em Pernambuco. A polícia descobriu que a arma tinha saído da Romênia e entrado pelo Paraguai. Em 2009, mais dois casos. Uma metralhadora em Minas Gerais e um fuzil no Pará. Em 2010, outra metralhadora ponto 50 foi encontrada no Rio de Janeiro. No ano seguinte, também no Rio, mais duas. Em novembro de 2013, a metralhadora apareceu em São Paulo.

Em agosto do ano passado, um fuzil foi apreendido no Paraná. Quatro meses depois, outro fuzil, só que no Mato Grosso do Sul. E uma metralhadora em São Paulo. E a apreensão mais recente foi na última terça-feira.

Para o delegado que coordenou as investigações no Rio, a existência de uma arma ponto 50 mostra que a quadrilha atuava em duas formas de crime. “No tráfico de drogas, mas também com foco voltado para o roubo de cargas”, explica o delegado civil do Rio de Janeiro Fernando Albuquerque.

É este o principal objetivo de bandidos que usam a ponto 50: perfurar a blindagem de carros que transportam cargas e valores. Na segunda-feira (10), véspera da operação no Rio, outros criminosos tentaram assaltar um carro-forte em Sooretama, no Espírito Santo.

Os cofres estavam vazios e os bandidos fugiram. O que chamou atenção foi o método do ataque. O carro dos assaltantes tinha sido transformado quase que em um veículo de guerra.

Fabrício Lucindo, delegado civil do Espírito Santo: Furaram os vidros traseiros blindados do carro para a introdução do cano das armas. E colocaram uma película, um adesivo de propaganda por cima para disfarçar o furo. Então no momento que eles fizeram para ultrapassar o carro blindado eles já furaram o adesivo e botaram as armas para fora e começaram a efetuar os disparos. Eles usaram o fuzil 762, e o calibre 50 também.
Fantástico: Ponto 50?
Fabrício Lucindo: Ponto 50.

Foi assim que aconteceu quatro dias antes, em Mococa, interior de São Paulo. De dentro de um carro que parecia um tanque, bandidos assaltaram um carro-forte e mataram o motorista. No chão da rodovia, dinheiro abandonado e cartuchos calibre ponto 50.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

DEPÓSITO DE ARMAS

DIÁRIO GAÚCHO 08/06/2015 | 10h24

Líder da facção criminosa "Os Manos" usava loja como depósito de armas. Suspeito alugava armamento para outras quadrilhas da região



Foto: Cid Martins / Agência RBS


Cid Martins




Depois de prender na semana passada Jair de Oliveira, o Jair Cabeludo, 43 anos, em uma mansão avaliada em R$ 4 milhões, a Polícia Civil descobriu, nesta segunda-feira, o local utilizado por um dos líderes da facção criminosa "Os Manos" para guardar armamento no Vale do Sinos. A Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo descobriu pelo menos cinco armas e farta munição em uma loja que seria dele, no Bairro Santo Afonso. As informações são do blog Caso de Polícia.


O suspeito é investigado por ser um dos maiores traficantes de armas e drogas do Estado. Ele aluga pistolas e espingardas para quadrilhas ligadas também a sequestros de bancários e empresários no Vale do Sinos.

O delegado Enizaldo Plentz diz que duas pessoas foram presas hoje durante a ação policial. Já Jair Cabeludo, outro suspeito preso com ele semana passada e um matador de aluguel do grupo detido há alguns meses, tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça na última sexta-feira.

O depósito usado pelo grupo era uma loja de fachada que estava sem funcionar há vários dias. O local vendia produtos importados do Paraguai.


Jair Cabeludo

O suspeito, que estava em liberdade desde 2012 até ser preso na última terça-feira, já foi detido pela Polícia Rodoviária Federal em 2011 na BR-386, em Frederico Westphalen, com cerca de R$ 400 mil. No ano passado, ele foi vítima de uma emboscada em Novo Hamburgo, possivelmente dos "Bala na Cara", quando mais de 50 tiros foram desferidos contra ele e um comparsa. Os dois estavam em um veículo no bairro Santo Afonso.

Jair Cabeludo, que na época estava em liberdade desde 2012, foi atingido por três disparos. A polícia investigou provável represália de rivais, que estavam inclusive com uma submetralhadora.

Em 2009, em operação da Polícia Federal e da Brigada Militar, ele também foi detido por estar com duas armas em uma residência na cidade de Novo Hamburgo. Já em 2006, escutas telefônicas revelaram conversas entre Jair Cabeludo e o traficante carioca Fernandinho Beira-Mar. Neste mesmo ano, ele havia sido preso pela polícia em Novo Hamburgo por tráfico de drogas.

*Rádio Gaúcha

sexta-feira, 1 de maio de 2015

EX-MILITAR DOS EUA É SUSPEITO DE SER MATADOR DO PGC


Resultado de imagem para Ex-militar dos EUA é preso em Viamão
ZERO HORA 01 de maio de 2015 | N° 18149

EDUARDO TORRES


CRIME ORGANIZADO. Ex-militar dos EUA é preso em Viamão


NASCIDO NO BRASIL, jovem é suspeito de atuar como matador de uma facção criminosa em Santa Catarina



Duas guarnições do 18º Batalhão da Brigada Militar que cercaram um sítio na localidade de Águas Claras, em Viamão, na noite de quarta- feira, procuravam assaltantes e homicidas de Santa Catarina, que usariam o local como esconderijo. Sem resistência, foram presos dois catarinenses e dois gaúchos, além de duas adolescentes apreendidas. Entre os detidos, uma surpresa: David Beckhauser Herold, que a polícia diz ser um ex-militar do Exército dos EUA, conhecido como Americano.

Beckhauser foi condenado por arrombamento de bancos em Santa Catarina, era procurado por homicídio e suspeito de ser matador da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC). A prisão ocorreu porque agentes do serviço reservado da PM catarinense tinham informações sobre o esconderijo.

Como Beckhauser teria passado de militar a bandido é mistério para as autoridades. Filho de brasileira com norte- americano, ele é catarinense e viveu nos EUA de 2008 a 2013. Lá, teria se engajado no Exército. No celular dele foram apreendidas fotos em uniforme de gala e em traje de combate, com um fuzil M4 acoplado a um lançador de granadas. Beckhauser teria servido no Afeganistão. Voltou a Florianópolis e, com uma quadrilha, foi condenado por arrombamento. O jovem teria sido recrutado como matador do PGC, principal facção criminosa de Santa Catarina.

DENUNCIADO POR ASSASSINATO PARA TOMAR PONTO DE TRÁFICO


O ex-militar foi denunciado pelo assassinato de um traficante, ocorrido em 26 de março de 2014. O alvo do bando foi Thiago de Oliveira, 24 anos, morto a tiros em casa, no Morro do 25, em Florianópolis. Vestidos com roupas pretas e se dizendo policiais, dois homens armados dispararam contra a residência. Oliveira e um irmão pularam a janela dos fundos, mas foram atingidos. O primeiro morreu, o outro foi ferido.

Embasado em escutas e depoimentos coletados em presídios, o Ministério Público denunciou como autores da morte André Pinto e Beckhauser, que teriam agido a mando de integrantes do PGC para tomar o ponto de tráfico de Oliveira. Há suspeita de envolvimento dele em outros crimes.

*Colaborou Diogo Vargas


A OPERAÇÃO
-Em Viamão também foram presos Jean Diniz, Rodrigo Bolvier e Carlos Góes. Todos foram encaminhados para o Presídio Central de Porto Alegre.
-Com eles foram encontrados 1,5kg de maconha e 10 comprimidos de ecstasy, celulares, joias e R$ 1,3 mil. Os PMs, comandados pelo tenente-coronel Marcelo Giusti, também apreenderam com o grupo dois veículos com placas catarinenses.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

PODER E ALIANÇAS DO TRÁFICO EXPRESSAS EM VÍDEO E LETRA DE FUNK


ZERO HORA 22/04/2015



por Eduardo Rosa e Eduardo Torres


VÍDEO: funk gravado no Central revela alianças do tráfico em Porto Alegre. Detentos fizeram vídeo sobre tomada de poder na Vila Maria da Conceição




Um vídeo gravado dentro da galeria dominada pela facção da Vila Maria da Conceição, no Presídio Central de Porto Alegre, circula entre as autoridades da segurança pública há pelo menos quatro dias. A letra de funk revela as alianças que tomaram o poder em um dos pontos de tráfico de drogas mais lucrativos da Região Metropolitana. O bando é considerado um dos mais bem armados na região.


A aliança incluiria dissidentes da Conceição, que traíram a antiga liderança do traficante conhecido como Paulão, criminosos da Vila Cruzeiro — atualmente com maior influência e poder de fogo centralizados na quadrilha conhecida como os V7 — e da Restinga (especialmente os criminosos ligados à Gangue dos Primeira, considerada a mais violenta do bairro da Zona Sul).

No vídeo, foram identificados pelo menos quatro integrantes desses grupos pelos apelidos: Luizinho (Restinga), Cérebro (Vila Maria da Conceição), Felipinho (Vila Cruzeiro) e Smile (Vila Cruzeiro e Restinga).


Os relatos da música coincidem com recentes confrontos nas ruas. Foram os casos de um violento tiroteio na região conhecida como Pedreira, na Vila Cruzeiro, com relatos inclusive de uso de fuzil, e da tomada dos pontos de tráfico da região conhecida como Baixada, que era um dos locais mais fortes do tráfico na Vila Maria da Conceição. A polícia trabalha com a suspeita de que o grupo esteja por trás do tiroteio que resultou na morte da menina Laura Machado Machado, de sete anos, vítima de uma bala perdida de fuzil na madrugada da última sexta-feira, no Condomínio Campos do Cristal, Bairro Vila Nova.

O Campos do Cristal seria o último reduto da facção dos Bala na Cara, rivais dos Conceição, no Bairro Vila Nova. Todas as outras comunidades vizinhas já estariam dominadas pelos traficantes dessa facção.

Confira a letra do funk

Se sem granada nós atormenta a Zona Sul, imagina com granada
O negócio que tenho para falar é o seguinte: pesado pesado é só a Conceição
Corre corre das granada, lança lança as granada
Se tu vim bater de frente, já vai tomar rajada
Lança lança as granada, corre corre das granada
Porque tomamo o poder, o Paulão não tem mais nada
Foi os tempo difícil na Maria Conceição
Tô passado com os contra, a favela em reunião
Formamos uma aliança e fechamos os aliado
Fechado com a Primeira, a Cruzeiro e a Resvalo
O bando já tá armado, é dia de correria
Juntamo nosso elenco e partimo da Paulina
Vizinhança assustada, opressão e safadeza
Peguemo a João do Rio e já tomamo a Pedreira
A guerra seguiu em frente e nós pronto pra ladaia
A equipe invadiu, nós tomamo a Baixada
A luta continuou, já invadimo a Santa Clara
Beto, filho do Paulão, e Zóio se foi pra praia
Pra finalizar os plano e pôr fim já nos problema
Nós portamo arsenal e tomamos a Paineira
Através dos armamento e um plano elaborado
Nós tomamo o nosso morro e corremo os arriado
No reforço na Restinga, no Morro da Conceição
Humildade é o lema dessa nova direção
Hoje tudo tá mudado, Zueira até de manhã
Já não tem mais opressão, é os brinde do Luan
E se tiver que ir pra luta vem que nós tá equipado
Colete e munição, pra tocar tudo pro alto
Pros corrido um recado: pra vocês não resta nada
Pros outros sejam bem-vindo à Maria Degolada
Corre corre das granada, lança lança as granada
Se tu vir bater de frente, tu já vai tomar rajada
Lança lança as granada, lança lança as granada
Seja bem-vindo à Maria Degolada
O Paulão não tem mais nada
Lança lança as granada, corre corre das granada
Tomamo poder, Paulão não tem mais nada
Caralho

*Diário Gaúcho

domingo, 12 de abril de 2015

FACÇÃO BALA NA CARA É A QUE MAIS CRESCE NAS CADEIAS E NAS RUAS



DIÁRIO GAÚCHO 02/09/2014 | 07h03


Quem são e como funciona a quadrilha dos Bala na Cara. Facção dos Bala na Cara é a que mais cresce nas cadeias e nas ruas da Região Metropolitana. Praticamente todas as delegacias da região investigam algum braço do grupo, mas ninguém consegue decifrar todos os caminhos da organização para eliminá-la


Eduardo Torres



"O quê? Ele não quer vim pro nosso lado? "Passa" ele, então. Nós somos Bala".

A ordem era quase trivial, mandando o comparsa matar um desafeto. Foi interceptada em uma escuta telefônica há dois anos, durante uma investigação que não evoluiu por falta de fôlego da polícia. E virou elemento fundamental para mostrar a diferença da facção dos Bala na Cara em relação a qualquer outro grupo criminoso organizado entre as cadeias do Estado. A pirâmide de poder dos Bala, diferente das facções rivais, não tem um líder único, que dite as regras.

O Denarc, todas as delegacias de homicídios da Região Metropolitana, o Deic e o Ministério Público mantêm investigações sobre a facção. Mas sempre tendo como foco algum tentáculo da organização, nunca a facção como um todo.

- Sabemos que a quadrilha nasceu na Bom Jesus e que a expansão acontece sem um líder absoluto. O tráfico pulverizado, e a forma de atuar em associação a quadrilhas locais, dificulta qualquer investigação mais precisa sobre eles - afirma o diretor de investigações do Denarc, delegado Cléber dos Santos Lima.

Bando tem pelo menos quatro líderes

A polícia estima que pelo menos quatro homens ditem as regras do bando - não necessariamente com um discurso afinado. E não são eles que dão ordens para a ponta dessa rede. Aos soldados, quem dá as cartas são os líderes de quadrilhas locais. Assim, é difícil para a polícia chegar aos mais poderosos do bando.

A forma de atuar, quase como uma franquia, se consolidou há pelo menos três anos, quando a facção ganhou respeito ao desbancar a liderança dos Manos. Mas, diferentemente do momento em que a quadrilha ficou conhecida, em 2009, dessa vez nenhum personagem ganhou notoriedade com essa ascenção.

Em vez de soldados, nas cadeias os Bala passaram a atrair sócios. Ao traficante de qualquer localidade, a facção ofereceria reforços de soldados e armas - que saem de outras regiões dominadas pelo grupo - para garantir o controle do território. Depois, o novo sócio se compromete a vender somente a droga fornecida pela facção.

Lucro é o interesse em comum

Os negócios são tratados por gerentes das galerias de cada prisão. A forma como eles se comunicam com os principais líderes ainda não está clara para as autoridades. A certeza que se tem é que a sociedade com a facção tem um único interesse: lucro. Como a grana é dividida, as investigações até hoje não esclareceram.


Ação exigiria força-tarefa

- Uma ação única para derrubar os Bala na Cara como um todo, exigiria uma força-tarefa. E, hoje, não teríamos condições de fazer isso. Também não sei qual seria a eficiência, se dentro das cadeias ainda são os presos que definem até o lugar onde vão ficar - diz o diretor de investigações do Departamento de Homicídios, delegado Cristiano Reschke.

Ainda assim, ele garante que, entre as delegacias de homicídios, há constante troca de informações sobre a presença da facção em todas as regiões da cidade. E aí, os investigadores ainda precisam driblar mais uma "cortina de fumaça".

- Sempre que o nome da facção surge em alguma investigação, o primeiro desafio é filtrar o que realmente é Bala e o que é só grife. Não podemos alimentar isso - alerta Cléber dos Santos Lima.



Facção se adapta às regras da cadeia

Quem agride mais, vive menos.

A frase é regra de convivência básica na cadeia. A negociação, mais do que o medo, sempre garantiu a permanência das principais facções nos presídios gaúchos. Os Bala, vistos como extremamente violentos mesmo com seus aliados, pareciam ter transgredido também essa norma.

Os mandamentos da facção ordenam não ter pena, ser duro com os seus traficantes e eliminar os traidores. Porém, para o juiz da Vara de Execuções Criminais, Sidinei Brzuska, há um interesse maior do que estas regras.

- Entre as facções gaúchas, não há uma ideologia. O que há é o interesse econômico. Fazem alianças por conveniência. E essa facção se adapta muito bem a esse ambiente - acredita.

Segundo ele, sobretudo no Presídio Central, há indícios de que os Bala se tornaram mais flexíveis para crescer. Uma estimativa dá conta de que a galeria dominada pela facção, que tem entre 200 e 300 presos no Pavilhão F, teria atualmente o maior faturamento.

Nas prisões do semiaberto também teriam diminuído os casos de punições com morte impostas pela quadrilha.

A estratégia estaria garantindo uma expansão nas cadeias. Pelo menos dois líderes de quadrilhas ligadas aos Bala na Zona Sul da Capital estão presos na galeria dominada pelos traficantes da Vila Maria da Conceição. Com o enfraquecimento do traficante Paulão, a facção teria se aliado aos novos comandantes do tráfico na vila da Zona Leste da cidade.

Carros viraram a nova moeda do tráfico

Se, em 2007, os Bala na Cara ganharam notoriedade pelos violentos roubos a joalherias e bancos para financiar o tráfico e a compra de armas, agora, o ramo deles mudou. E tem chamado a atenção da Delegacia de Roubos de Veículos do Deic. Pelo menos um terço dos carros recuperados este ano na Capital foram achados em bairros onde a facção domina.

Os bairros Mario Quintana, Bom Jesus e Lomba do Pinheiro estão entre os principais destinos, na cidade, de veículos roubados e furtados. Na Região Metropolitana, Viamão e Alvorada - também com forte presença dos Bala - repetem a dose.

- O roubo de carros virou uma grande moeda de troca para os traficantes. É muito menos arriscado do que roubar um banco, por exemplo - estima o delegado Juliano Ferreira.

Um ladrão de carros chegaria a ganhar em torno de R$ 1 mil para repassar o veículo ao bando que, em casos de clonagens, chega a revender o carro por R$ 10 a R$ 15 mil.

- Estamos muito atentos à organização deste grupo, agora, a partir das cadeias. É de lá que saem as ordens para os roubos - diz o delegado.

Ele afirma que há diversas investigações relacionando a facção aos roubos de veículos, inclusive com a possibilidade de que o bando tenha lucros em esquemas de desmanches e clonagens de carros posteriormente revendidos.


O tamanho dos Bala na Cara


Bom Jesus
- É o berço da facção. Hoje, são hegemônicos no tráfico de drogas do bairro, e com influência sobre o Jardim Carvalho, Vila Jardim e Jardim Itu Sabará.

Serraria - A Vila dos Sargentos é, talvez, a área de domínio mais violenta da facção. Em 2009, um traficante local, reforçado pelos Bala, eliminou um antigo gerente, que devia ao bando. Sua morte, decapitado, foi considerada exemplar pelos criminosos. Da vila, sairiam os soldados que cumpririam ordens da facção para disputas do tráfico em toda a Zona Sul da Capital.

Mario Quintana -- Vila Safira é considerada pela polícia uma das principais bases da facção. Ali se concentram boa parte dos criminosos - boa parte ainda adolescentes - usados como soldados em guerras do tráfico. Atualmente não há conflito pelo domínio do tráfico neste bairro, mas as disputas são constantes com a Gangue dos Bobós, do Rubem Berta. Até 2011, os grupos eram parceiros, mas houve um racha na quadrilha.

Morro Santana - Vila das Laranjeiras viveu uma guerra entre o final de 2012 e o começo de 2013. A região acabou dominada pelos traficantes da Vila Safira, que surgiram como apoiadores de um dos gerentes locais.

Lomba do Pinheiro - Vila Tamanca é vista como uma das zonas de influência da facção, mas há domínios dos Bala na Cara em outros pontos do bairro. Atualmente, haveria um racha interno. Integrantes da facção estariam em desacordo com a liderança da Vila dos Sargentos.

Sarandi - Três quadrilhas disputam o controle do tráfico local. Uma delas, liderado por um traficante conhecido como Carroça, de acordo com a 3ª DHPP, teria o reforço dos Bala.

São Geraldo - A facção tomou conta dos pontos entre os bairros São Geraldo e Navegantes, entrando em enfrentamento com a facção dos Farrapos, que também domina uma galeria no Presídio Central. Nessa região da cidade, o bando também estaria controlando um esquema de prostituição.

Santa Tereza
- Os Bala na Cara estariam por trás de pelo menos duas das guerras pelo controle de pontos de tráfico na Vila Cruzeiro. O grupo conhecido como V7 seria o grupo armado da facção no bairro. Eles estariam apoiando ainda o bando dos Bala de Goma.

Vila Nova - A Vila Monte Cristo e o Campo Novo são apontados como redutos da facção na região. Integrantes da V7 e da Vila dos Sargentos estariam atuando em confrontos principalmente com traficantes da Cohab Cavalhada, que seria dominada pelos Manos.

Restinga - As gangues dos Miltons e dos Primeira são investigadas como relacionadas com os Bala na Cara. A região, porém, não se configura como um domínio sem rivais à facção pelo grande número de gangues atuando na mesma região.

Partenon - A Vila Maria da Conceição sempre foi um objetivo dos líderes dos Bala na Cara. E essa aproximação estaria acontecendo dentro do Presídio Central, desde que o tráfico na área considerada a mais lucrativa da Capital rachou. Alguns líderes ligados aos Bala estariam na galeria dominada pela Maria da Conceição.

Alvorada - Os bairros Umbu, Maria Regina e Aparecida seriam os principais pontos de atuação da facção na cidade, mas a polícia investiga a presença dos Bala em quase todas as regiões da cidade.

Cachoeirinha - O bairro Navegantes foi a primeira área tomada por uma gangue ligada aos Bala na Cara. Desde o ano passado, porém, a polícia investiga a tomada de pontos na Vila Anair e no Bairro Vista Alegre, em uma parceria com traficantes presos recentemente.

Canoas - Desde a morte de Nego Jaime, a liderança dos Bala na Cara no Bairro Mathias Velho estaria vaga, mas eles continuariam atuando na região, assim como no Bairro Guajuviras. Há suspeita de ligações da Gangue dos Bicudos, do Bairro Rio Branco, com os Bala na Cara.

Eldorado do Sul - No mês passado, a polícia desmascarou a investida da facção sobre o Delta do Jacuí, por ordem do traficante conhecido como Pequeno, a partir da Pej.

Esteio - Traficantes da Vila Pedreira teriam retomado o poder nas bocas locais com o suporte dos Bala.

Gravataí - Há pelo menos cinco anos a polícia investiga a presença dos Bala na Cara no tráfico da Vila Rica. Mais recentemente, o bando estaria por trás da guerra do tráfico no Bairro Rincão da Madalena.

Viamão - Foi uma das primeiras áreas de expansão da quadrilha, pela influência do Alemão Lico na região da Hidráulica. Regiões dos bairros Santa Cecília e Santa Isabel também teriam atuação de traficantes ligados à facção. A região seria um dos núcleos da receptação de veículos roubados da quadrilha.


Os cabeças


Presídio Central:

Deividi Vilanova dos Santos, o Zóio. Foi preso ano passado pela 2ª DHPP, apontado como mandante de homicídios na região do Bairro São Geraldo. É apontado pela polícia como gerente dos Bala na Cara entre os bairros São Geraldo e Navegantes.

André Vilmar de Souza, o Nego André. Foi indiciado pela 4ª DHPP como mandante de homicídios na Vila Cruzeiro. É considerado um dos líderes dos V7. Está preso na galeria dominada pela Vila Maria da Conceição e pode indicar a aproximação entre os dois grupos.

Pej

Wagner Nunes Rodrigues, o Minhoquinha. Seria o líder dos Bala na Cara na região do Bairro Mario Quintana. Foi preso em 2011 depois de ser indiciado por pelo menos três homicídios. Na última semana, foi indiciado com mandante de dois homicídios em Eldorado do Sul. De acordo com a polícia, Minhoquinha faria o meio de campo nas parcerias com traficantes da Região Metropolitana.

Jéferson dos Santos Lopes, o Pequeno. Tem mais de 50 anos de pena a cumprir na cadeia, com antecedentes por homicídios. Considerado pela polícia o elo dos Bala na Cara em Eldorado do Sul, mas é originalmente da Zona Norte de Porto Alegre. Ocuparia um cargo de confiança na galeria da facção na Pej

Jaime Evangelista Pires, o Nego Jaime.
Foi encontrado morto em uma cela em julho. Teria cometido suicídio. Ele era o elo dos Bala na Cara no Bairro Mathias Velho, em Canoas, mas viu seu poder ruir ao ficar com dívidas com a facção

Paulo Cezar Tonatto, o Barba. É considerado um dos membros originais do bando. Indiciado por diversos homicídios cometidos no Bairro Bom Jesus. Haveria uma divergência de comando dentro da penitenciária entre as lideranças do Bom Jesus e da Zona Norte.

Pasc:

Fábio Fogassa, o Alemão Lico. É apontado pela polícia como o líder mais violento do bando. É investigado pelas delegacias de homicídio de Porto Alegre e de Viamão por ordenar crimes de dentro da prisão. Seria o principal líder da facção na Zona Sul da Capital, a partir da Vila dos Sargentos. Tem antecedentes por roubos, tráfico de drogas e formação de quadrilha. Responde na Justiça por pelo menos quatro homicídios Luis Fernando da Silva Soares Júnior, o Júnior Perneta. É considerado o principal líder dos Bala na Cara. Natural da Bom Jesus, teria conhecido seus principais comparsas no longo período em que passou por diversas casas prisionais. Agora, está preso desde o começo do mês passado ao ser flagrado pela Polícia Federal com 20,5kg de cocaína em uma garagem do Bairro Menino Deus. Ele também já havia sido preso com drogas em Viamão, em 2010. Tem antecedentes por roubos, formação de quadrilha, tráfico e associação ao tráfico. Responde na Justiça também por pelo menos um homicídio e uma tentativa de homicídio

quarta-feira, 25 de março de 2015

CARTILHA DOS MANOS



ZERO HORA 25 de março de 2015 | N° 18112

EDUARDO TORRES


OS MANOS. Cartilha reúne regras de facção criminosa


PAGAMENTO DE MENSALIDADE de R$ 200 é uma das exigências que estão expressas nas páginas em que o estatuto do grupo foi registrado



O estatuto da facção criminosa Os Manos, descoberto a partir de escutas telefônicas divulgadas no começo do mês passado, foi revelado ontem pelo Ministério Público. Depois de analisar o material apreendido na Operação Kommunication, no dia 9 de fevereiro, o promotor Ricardo Herbstrith revelou quatro papéis impressos, recolhidos com os criminosos no dia da ação, com o título “Constituição dos Manos”.

Cópias do estatuto, acompanhadas de relatório da investigação, foram encaminhadas às varas de execução de Porto Alegre e da Região Metropolitana, responsáveis pela fiscalização dos presídios. Nas penitenciárias da região, a facção comanda pelo menos oito galerias e é considerada hegemônica no Vale do Sinos.

O principal item do estatuto é a mensalidade de R$ 200, cobrada dos membros da facção para bancar advogados, ajudar famílias de presos e comprar armas. Em uma interceptação telefônica, um criminoso é gravado explicando que uma das metas é comprar fuzis e garantir a proteção de qualquer ponto de tráfico aliado.

O documento apreendido também demonstra os primeiros passos para criar uma espécie de marca da facção, amedrontar os adversários e garantir proteção mútua. Em cada ponto controlado pelo grupo estavam previstas pichações com o nome da facção Os Manos ou com o código 14.18.12, referências a artigos do Código Penal que mencionam tráfico e formação de quadrilha. A Operação Kommunication foi a segunda investida do Ministério Público realizada desde 2014 para estrangular o poder da facção.


AS NORMAS DO BANDO
O CONTROLE
Veja trechos do material impresso divulgado pelo MP, em transcrição literal
“Cada espaço que existe a facção dos Manos terá um responsável pelo caderno. Estarão à disposição de todos integrantes da facção de quanto tem, quantos estão contribuindo e quais são os integrantes beneficiados.”
“O caderno será passado a limpo todo dia 5 de cada mês. Os integrantes que receberem esse benefício estarão cientes que estarão à disposição da facção para o que for preciso na rua. Se não quiser compromisso com a facção na rua, a facção respeita, mas terá que reembolsar todas as despesas gastas com ele. “
NO SEMIABERTO
“O integrante que ir para o semiaberto e não quiser fugir terá apoio... desde que segure o espaço para os que venham a chegar.”
FORA DO PRESÍDIO
“Todo o integrante que estiver na rua terá a obrigação de deixar algum contato ou endereço de familiar para ser achado quando a facção precisar.”
PROBLEMAS INTERNOS
“Em caso de punição de um integrante, o caso será analisado por todos os que tem direito de dar o seu aval e sua opinião para que no final possamos chegar a uma decisão justa e correta. Em uma questão mal resolvida, o presidente dará o seu aval decisivo.”
“Não devemos deixar que os presos que convivem em nossas galerias fiquem falando mal um do outro, pois através destes maus comentários poderá ser criado um problema mais tarde. Se tiver algo para falar de alguém que faça parte da facção, deverá ir direto ao responsável pela galeria.”

terça-feira, 24 de março de 2015

ESTATUTO DA FACÇÃO GAÚCHA OS MANOS

ZERO HORA  24/03/2015 | 10h06


por Eduardo Torres


MP revela detalhes do "estatuto" da facção Os Manos. Material impresso apreendido na Operação Kommunication, no começo de fevereiro, estabelece as regras para os integrantes da facção que domina parte dos presídios gaúchos




Estatuto dos Manos doi descoberto pelo MP após cumprimento de mandado Foto: Reprodução / Ministério Público RS


"Todo integrante que estiver definitivamente com a facção estará por livre espontânea vontade ciente que estará em compromisso com essas regras". Assim começa o texto contido em quatro folhas impressas com o título "Constituição dos Manos". As regras básicas estabelecidas no documento são a contribuição de R$ 200 mensais por integrante da facção e a divulgação da marca do grupo, simbolizada pelos números "14-18-12".

O material foi divulgado na manhã dessa terça-feira pelo Ministério Público, depois da análise do que havia sido apreendido no começo de fevereiro, durante a Operação Kommunication, que foi a segunda ofensiva contra a organização criminosa nas cadeias gaúchas.

A "vaquinha" já havia sido revelada em escutas no dia daquela ação. Conforme a apuração do MP, o dinheiro serviria para contratação de advogados, auxílio às famílias de presos aliados e principalmente a compra de armas.

De acordo com o promotor Ricardo Herbstrith, todas as informações coletadas a partir do documento serão reunidas em um relatório a ser entregue às varas de execuções criminais de Porto Alegre e Região Metropolitana, responsáveis pelo controle dos presídios.




Operação Kommunication cumpriu 10 mandados de prisão preventiva, sendo cinco de criminosos que já estavam na Pasc: